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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

TERCEIRA PARTE DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

TERCEIRA PARTE - A VIDA EM CRISTO

INTRODUÇO
1691 "Cristão, reconhece a tua dignidade. Por participares agora da natureza divina, não
te degeneres, retornando à decadência de tua vida passada. Lembra-te da Cabeça a que
pertences e do Corpo de que és membro. Lembra-te de que foste arrancado do poder das
trevas e transferido para a luz e o Reino de Deus."'
1692 O Símbolo da fé professou a grandeza dos dons de Deus ao homem na obra de sua
criaço e, mais ainda, pela redenço e santificaço. O que a fé confessa os sacramentos
comunicam: pelos "sacramentos que os fizeram renascer", os cristãos se tornaram “filhos de Deus”
(1Jo 3,1), "participantes da natureza divina" (Pd 1,4). Reconhecendo na fé sua nova dignidade,
os cristãos são chamados a levar a partir de então uma "vida digna do Evangelho de Cristo".
Pelos sacramentos e pela oraço, recebem a graça de Cristo e os dons de seu Espírito, que os
tomam capazes disso.
1693 Jesus Cristo sempre fez o que era do agrado do Pai. Sempre viveu em perfeita
comunhão com Ele. Também os discípulos são convidados a viver sob o olhar do Pai, "que vê o
que esta oculto" (Mt 6,6), para se tomarem "perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito" Mt
5,48).
1694 Incorporados a Cristo pelo Batismo, os cristãos estão "mortos para o pecado e
vivos para Deus em Cristo Jesus", participando assim da vida do Ressuscitado. Seguindo a Cris-to
e em união com ele, podem procurar "tornar-se imitadores de Deus como filhos amados e andar
no amor", conformando seus pensamentos, palavras e açes aos "sentimentos de Cristo to Jesus
e seguindo seus exemplos".
1695 "Justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus" (1Cor
5,11), “santificados... chamados a ser santos”, os cristãos se tornaram "templo do Espírito Santo"
(1Cor 6,19). Esse "Espírito do Filho" os ensina a orar ao Pai e, tendo-se tornado vida deles, os faz
agir para carregarem em si "os frutos do Espírito" pela caridade operante. Curando as feridas do
pecado, o Espírito Santo nos "renova pela transformaço espiritual de nossa mente", ele nos
ilumina e fortifica para vivermos como "filhos da luz" (Ef 5,8), na "bondade, justiça e verdade" em
todas as coisas (Ef 5,9).
1696 O caminho de Cristo "conduz à vida", um caminho contrário “leva à perdiço”. A
parábola evangélica dos dois caminhos está sempre presente na catequese da Igreja. Significa
a importância das decisões morais para nossa salvaço. "Há dois caminhos, um da vida e outro
da morte; mas entre os dois há grande diferença.
1697 Importa, na catequese, revelar com toda clareza a alegria e as exigências do
caminho de Cristo. A catequese da “vida nova” (Rm 6,4) em Cristo será:


ü uma catequese do Espírito Santo, Mestre interior da vida segundo Cristo, doce
hóspede e amigo que inspira, conduz, retifica e fortifica esta vida;
ü uma catequese da graça, pois é pela graça que somos salvos, e é pela graça que
nossas obras podem produzir frutos para a vida eterna;
ü uma catequese das bem-aventuranças, pois o caminho de Cristo se resume às bem-
aventuranças, único caminho para a felicidade eterna, à qual o coraço do homem aspira;
ü uma catequese do pecado e do perdão, pois, sem reconhecer-se pecador, o homem
não pode conhecer a verdade sobre si mesmo, condiço do reto agir, e sem a oferta do perdão
não poderia suportar essa verdade;
ü uma catequese das virtudes humanas, que faz abraçar beleza e a atr aço das retas
disposiçes em vista do bem;
ü uma catequese das virtudes cristãs da fé, esperança e caridade, que se inspira com
prodigalidade no exemplo dos santos;
ü uma catequese do duplo mandamento da caridade desenvolvido no Decálogo;
ü uma catequese eclesial, pois é nos múltiplos intercâmbios dos "bens espirituais" na
"comunhão dos santos" que a vida cristã pode crescer, desenvolver-se e comunicar -se.
1698 A referência primeira e última dessa catequese será sempre Jesus Cristo, que é "o
caminho, a verdade e a vida" (Jo 14,6). Contemplando-o na fé, os fiéis podem esperar que Cristo
realize neles suas promessas e, amando-o com o amor com que Ele os amou, façam as obras
que correspondem à sua dignidade:
Peço que considereis que Jesus Cristo nosso Senhor é vossa verdadeira Cabeça e que vós
sois um de seus membros. Ele é para vós o que a Cabeça é para os membros; tudo o que é dele
é vosso, seu espírito, coraço, corpo, alma e todas as suas faculdades, e deveis fazer uso disso
como coisa vossa para servir, louvar, amar e glorificar a Deus. Vós sois em relaço a Ele o que os
membros são em relaço à cabeça. Assim, Ele deseja ardentemente fazer uso de tudo o que
está em vós para o ser-viço e a glória de seu Pai, como coisa sua.
Para mim , viver é Cristo (Fl 1,21)

PRIMEIRA SEÇO
A VOCAÇO DO HOMEM:
A VIDA NO ESPÍRITO
1699 A vida no Espírito realiza a vocaço do homem (capítulo I) Constitui-se de caridade
divina e de solidariedade humana (capítulo II). É concedida de graça como uma Salvaço
(capítulo III)

CAPÍTULO I
A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
1700 A dignidade da pessoa humana se fundamenta em sua criaço à imagem e
semelhança de Deus (artigo 1); realiza-se em sua vocaço à bem-aventurança divina (artigo 2).
Cabe ao ser humano a livre iniciativa de sua realizaço (artigo 3). Por seus atos deliberados
(artigo 4), a pessoa humana se conforma ou não ao bem prometido por Deus e atestado por sua
consciência moral (artigo 5). As pessoas humanas se edificam e crescem interiormente: fazem de
toda sua vida sensível e espiritual matéria de crescimento (artigo 6). Com a ajuda da graça,
crescem na virtude (artigo 7), evitam o pecado e, se o tiverem cometido, voltam como o filho
pródigo, para a misericórdia de nosso Pai do Céus (artigo 8). Chegam, assim, à perfeiço da
caridade.



ARTIGO 1
O HOMEM IMAGEM DE DEUS
1701 "Novo Adão, na mesma revelaço do mistério do Pai e de seu amor, Cristo
manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe descobre a sua altíssima vocaço.” Em
Cristo, "imagem do ( Deus invisível" (Cl 1,15), foi o homem criado à "imagem e semelhança" do
Criador. Em Cristo, redentor e salvador, a imagem divina, deformada no homem pelo primeiro
pecado, foi restaurada em sua beleza original e enobrecida pela graça de Deus.
1702 A imagem divina está presente em cada pessoa. Resplandece na comunhão das
pessoas, à semelhança da unidade das pessoas divinas entre si (cf. capítulo II).
1703 Dotada de alma "espiritual e imortal", a pessoa humana é "a única criatura na terra
que Deus quis por si mesma". Desde sua concepço, é destinada à bem-aventurança eterna.
1704 A pessoa humana participa da luz e da força do Espírito divino. Pela razão, é capaz
de compreender a ordem das coisas estabelecida pelo Criador. Por sua vontade, ela é capaz
de ir, por si, ao encontro de seu verdadeiro bem. Encontra sua perfeiço na "busca e no amor da
verdade e do bem".
1705 Em virtude de sua alma e de seus poderes espirituais de inteligência e vontade, o
homem é dotado de liberdade, "sinal eminente da imagem de Deus"
1706 Por sua razão, o homem conhece a voz de Deus, que o insta a "fazer o bem e a
evitar o mal". Cada qual é obrigado a seguir esta lei que ressoa na consciência e se cumpre no
amor a Deus e ao próximo. O exercício da vida moral atesta a dignidade da pessoa.
1707 "Instigado pelo Maligno, desde o inicio da história o homem abusou da própria
liberdade." Sucumbiu à tentaço e praticou o mal. Conserva o desejo do bem, mas sua natureza
traz a ferida do pecado original. Tornou -se inclinado ao mal e sujeito ao erro:
O homem está dividido em si mesmo. Por esta razão, toda a vida humana, individual e
coletiva, apresenta-se como uma luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas.
1708 Por sua paixão, Cristo livrou-nos de Satanás e do pecado. Ele nos mereceu a vida
nova no Espírito Santo. Sua graça restaura o que o pecado deteriorou em nós.
1709 Quem crê em Cristo torna-se filho de Deus. Esta adoço filial o transforma,
propiciando-lhe seguir o exemplo de Cristo. Ela torna-o capaz de agir corretamente e de praticar
o Em união com seu Salvador, o discípulo alcança a perfeiço da caridade, a santidade.
Amadurecida na graça, a vida moral desabrocha em vida eterna na glória do céu.

RESUMINDO
1710 "Cristo manifesta plenamente o homem ao próprio homem lhe descobre sua
altíssima vocaço."
1711 Dotada de alma espiritual, inteligência e vontade, a pessoa humana, desde sua
concepço, é ordenada para Deus e destinada à bem-aventurança eterna. Busca sua
perfeiço na "procura e no amor da verdade e do bem"
1712 A verdadeira liberdade é no homem "sinal eminente da imagem de Deus"
1713 O homem é obrigado a seguir a lei moral que o chama a fazer o bem e evitar o
mal". Esta lei ressoa em sua consciência.
1714 O homem, ferido em sua natureza pelo pecado original, está sujeito ao erro e
inclinado ao mal no exercício de sua liberdade.
1715 Quem crê em Cristo tem a vida nova no Espírito Santo. A vida moral, desenvolvida e
amadurecida na graça, deve completar -se na glória do céu.



ARTIGO 2
NOSSA VOCAÇO À BEM -AVENTURANÇA

I. AS BEM -AVENTURANÇAS
1716 As Bem-Aventuranças estão no cerne da pregaço de Jesus. Seu anúncio retoma as
promessas feitas ao povo eleito desde Abraão. Jesus as completa, ordenando-as não mais
simples bem-estar gozoso na terra, mas ao Reino dos Céus:
Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.
Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados.
Bem-aventurados os que tem fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os rnisericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coraço, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos
Céus.
Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem
todo o mal contra vós por causa de mim.
Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus (Mt 5,3-12a).

1717 As bem-aventuranças traçam a imagem de Cristo e descrevem sua caridade;
exprimem a vocaço dos fiéis associados à glória de sua Paixão e Ressurreiço; iluminam as
açes e atitudes características da vida cristã; são promessas paradoxais que sustentam a
esperança nas tribulaçes; anunciam as bênços e recompensas já obscuramente adquiridas
pelos discípulos; são iniciadas na vida da Virgem Maria e de todos os santos.

II. O DESEJO DE FELICIDADE
1718 As Bem-Aventuranças respondem ao desejo natural de felicidade. Este desejo é de
origem divina: Deus o colocou no coraço do homem, a fim de atraí-lo a si, pois só ele pode
satisfazê-lo.
Todos certamente queremos viver felizes, e não existe no gênero humano pessoa que não
concorde com esta proposiço, mesmo antes de ser formulada por inteiro.
Então, como vos hei de procurar, Senhor? Visto que, procurando a vós, meu Deus, eu
procuro a vida bem-aventurada, fazei que vos procure para que minha alma viva, pois meu
corpo vive de minha alma, e minha alma vive de vós.

SÓ DEUS SATISFAZ
1719 As Bem-Aventuranças desvendam o objetivo da existência humana, o fim último dos
atos humanos. Deus nos chama à sua própria bem-aventurança. Este chamado se dirige a cada
um pessoalmente, mas também a toda a Igreja, povo novo formado por aqueles que acolheram
a promessa e nela vivem na fé.



III. A BEM-AVENTURANÇA CRISTÃ
1720 O Novo Testamento usa várias expressões para caracterizar a bem-aventurança à
qual Deus chama o homem: a vinda do (Reino de Deus; a visão de Deus[: "Bem-aventurados os
puros de coraço, porque verão a Deus" (Mt 5,8); entrada na alegria do Senhor; entrada no
repouso de Deus:
Aí descansaremos e veremos, veremos e amaremos, amaremos e louvaremos. Eis a
essência do fim sem fim. E que outro fim mais nosso que chegarmos ao reino que não terá fim?
1721 Deus nos colocou no mundo para conhecê-lo, servi-lo e amá -lo e, assim, chegar
ao paraíso. A bem-aventurança nos faz participar da natureza divina (l Pd 1,4) e da vida eterna.
Com ela, o homem entra na glória de Cristo e no gozo da vida trinitária.
1722 Tal Bem-Aventurança ultrapassa a inteligência e as forças exclusivamente humanas.
Resulta de um dom gratuito de Deu. É por isso que se diz ser sobrenatural, como também a graça
que dispõe o homem a entrar no gozo divino.
"Bem-aventurados os puros de coraço, porque verão a Deus." Por certo, de acordo com
sua grandeza e glória indizível, "ninguém verá a Deus e viverá", pois o Pai é inacessível; mas,
devido a seu amor, sua bondade para com os homens e sua onipotência, chega até a
conceder àqueles que o amam o privilégio de ver a Deus... "pois o que é impossível aos homens
é possível a Deus."
1723 A prometida bem-aventurança nos coloca diante de escolhas morais decisivas.
Convida-nos a purificar nosso coraço de seus maus instintos e a procurar o amor de Deus acima
de tudo. Ensina que a verdadeira felicidade não está nas riquezas ou no bem-estar, nem na
glória humana ou no poder, nem em qualquer obra humana, por mais útil que seja, como as
ciências, a técnica e as artes, nem em outra criatura qualquer, mas apenas em Deus, fonte de
todo bem e de todo amor.
A riqueza é o grande deus atual; a ela prestam homenagem instintiva a multidão e toda a
massa dos homens. Medem a felicidade pelo tamanho da fortuna e, segundo a. fortuna, medem
também a honradez... Tudo isto provém da convicço de que, tendo riqueza, tudo se consegue.
A riqueza é, pois, um dos ídolos atuais, da mesma forma que a fama... A fama, o fato de alguém
ser conhecido e fazer estardalhaço na sociedade (o que poderíamos chamar de notoriedade
da imprensa), chegou a ser considerada um bem em si mesma, um sumo bem, um objeto,
também ela, de verdadeira veneraço.
1724 O Decálogo, o Sermão da Montanha e a catequese apostólica nos descrevem os
caminhos que levam ao Reino dos Céus. Neles nos engajamos, passo a passo, pelas açes de
todos os dias, sustentados pela graça do Espírito Santo. Fecundados pela Palavra de Cristo,
daremos, aos poucos, frutos na Igreja para a glória de Deus.

RESUMINDO
1725 As bem-aventuranças retomam e completam as promessas de Deus desde Abraão,
ordenando-as para o Reino dos Céus. Respondem ao desejo de felicidade que Deus colocou no
co-raço do homem.
1726 As bem-aventuranças nos ensinam o fim último ao qual Deus nos chama: o Reino, a
visão de Deus, a participaço na natureza divina, a vida eterna, a filiaço divina, o repouso em
Deus.
1727 A bem-aventurança da vida eterna é um dom gratuito de Deus; ela é sobrenatural
como a graça que a ela conduz.
1728 As bem-aventuranças nos deixam diante de escolhas decisivas com relaço aos
bens terrenos; purificam nosso coraço para que aprendamos a amar a Deus sobre todas as
coisas.


1729 A bem-aventurança do Céu determina os critérios de discernimento no uso dos bens
terrestres, de acordo com a Lei de Deus.




ARTIGO 3
A LIBERDADE DO HOMEM

1730 Deus criou o homem dotado de razão e lhe conferiu dignidade de uma pessoa
agraciada com a iniciativa e o domínio de seus atos. "Deus deixou o homem nas mãos de sua
própria decisão" (Eclo 15,14), para que pudesse ele mesmo procurar seu Criador e, aderindo
livremente a Ele, chegar à plena e feliz perfeiço.
O homem é dotado de razão e por isso é semelhante a Deus: foi criado livre e senhor de
seus atos.

I. LIBERDADE E RESPONSABILIDADE
1731. A liberdade é o poder, baseado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de
fazer isto ou aquilo, portanto, de praticar atos deliberados. Pelo livre-arbítrio, cada qual dispõe
sobre si mesmo. A liberdade é, no homem, uma força de crescimento e amadurecimento na
verdade e na bondade. A liberdade alcança sua perfeiço quando está ordenada para Deus,
nossa bem-aventurança.
1732 Enquanto não se tiver fixado definitivamente em seu bem último, que é Deus, a
liberdade comporta a possibilidade de escolher entre o bem e o mal, portanto, de crescer em
perfeiço ou de definhar e pecar. Ela caracteriza os atos propriamente humanos. Toma-se fonte
de louvor ou repreensão, de mérito ou demérito.
1733 Quanto mais pratica o bem, mais a pessoa se toma livre. Não há verdadeira
liberdade a não ser a serviço do bem e da justiça. A escolha da desobediência e do mal é um
abuso de liberdade e conduz à "escravidão do pecado".
1734 A liberdade torna o homem responsável por seus atos, na medida em que forem
voluntários. O progresso na virtude, o conhecimento do bem e a ascese aumentam o domínio
da vontade sobre seus atos.
1735 A imputabilidade e a responsabilidade de uma aço podem ficar diminuídas ou
suprimidas pela ignorância, inadvertência, violência, medo, hábitos, afeiçes imoderadas e
outros fatores psíquicos ou sociais.
1736 Todo ato diretamente querido é imputável a seu autor:
Assim, o Senhor pergunta a Adão, após o pecado no jardim: "O que fizeste?" (Gn 3,13). O
mesmo pergunta a Caim. A mesma pergunta faz o profeta Natã ao rei Davi, após o adultério
com a mulher de Urias e o assassinato deste.
Uma aço pode ser indiretamente voluntária quando resulta de uma negligência quanto
a alguma coisa que deveríamos saber ou fazer, por exemplo, um acidente ocorrido por
ignorância do código de trânsito.
1737 Um efeito pode ser tolerado sem ser querido pelo agente, por exemplo, o
esgotamento da mãe à cabeceira de seu filho doente. O efeito ruim não é imputável se não foi
querido nem como fim nem como meio de aço, como poderia ser o caso de morte sofrida por
alguém quando tentava socorrer uma pessoa em perigo. Para que o efeito ruim seja imputável,
é preciso que seja previsível e que o agente tenha a possibilidade de evitá-lo, como, por
exemplo, no caso de um homicídio cometido por motorista embriagado.
1738 A liberdade se exerce no relacionamento entre os seres humanos. Toda pessoa
humana, criada à imagem de Deus, tem o direito natural de ser reconhecida como ser livre e
responsável. Todos devem a cada um esta obrigaço de respeito. O direito ao exercício da
liberdade é uma exigência inseparável da dignidade da pessoa humana, sobretudo em matéria


moral e religiosa. Este direito deve ser reconhecido civilmente e protegido nos limites do bem
comum e da ordem pública.

II. A LIBERDADE HUMANA NA ECONOMIA D A SALVAÇO
1739 Liberdade e pecado. A liberdade do homem é finita e falível. De fato, o homem
falhou. Pecou livremente. Recusando o projeto do amor de Deus, enganou-se a si mesmo,
tornou-se escravo do pecado. Esta primeira alienaço gerou outras, em grande número. Desde
suas origens, a história comprova os infortúnios e opressões nascidos do coraço do homem por
causa do mau uso da liberdade.
1740 Ameaças à liberdade. O exercício da liberdade não implica o direito de dizer e fazer
tudo. É falso pretender que “o homem, sujeito da liberdade, baste a si mesmo, tendo por fim a
satisfaço de seu próprio interesse no gozo dos bens terrenos. Por sua vez, as condiçes de
ordem econômica e social, política e cultural requeridas para um justo exercício da liberdade
são muitas vezes desprezadas e violadas. Estas situaçes de cegueira e injustiça prejudicam a
vida moral e levam tanto os fortes como os fracos à tentaço de pecar contra a caridade.
Fugindo da lei moral, o homem prejudica sua própria liberdade, acorrenta-se a si mesmo, rompe
a fraternidade com seus semelhantes e rebela-se contra a verdade divina.
1741 Liberdade e salvaço. Por sua gloriosa cruz, Cristo obteve a salvaço de todos os
homens. Resgatou-os do pecado que os mantinha na escravidão. "É para a liberdade que Cristo
nos libertou" (Gl 5,1). Nele comungamos da "verdade que nos torna livres". O Espírito Santo nos foi
dado e, como ensina o apóstolo, "onde se acha o Espírito do Senhor, aí está a liberdade" (2 Cor
3,17). Desde agora participamos da "liberdade da glória dos filhos de Deus".
1742 Liberdade e graça. A graça de Cristo não entra em concorrência com nossa
liberdade quando esta corresponde ao sentido da verdade e do bem que Deus colocou no
coraço do homem. Ao contrário, como a experiência cristã o atesta, -sobretudo na oraço,
quanto mais dóceis formos aos impulsos da graça, tanto mais crescem nossa liberdade intima e
nossa segurança nas provaçes e diante das pressões e coaçes do mundo externo. Pela obra
da graça, o Espírito Santo nos educa à liberdade espiritual, para fazer de nós livres colaboradores
de sua obra na Igreja e no mundo.
"Deus de poder e misericórdia, afastai de nós todo obstáculo, para que, inteiramente
disponíveis, nos dediquemos a vosso serviço."

RESUMINDO

1743 "Deus deixou o homem nas mãos de sua própria decisão" (Eclo 15,14), para que
pudesse livremente aderir a seu Criador e chegar, assim, à feliz perfeiço.
1744 A liberdade é o poder de agir ou não agir, praticando, então, a pessoa atos
deliberados. Ela alcança a perfeiço de seu ato quando está ordenada para Deus, o sumo Bem.
1745 A liberdade caracteriza os atos propriamente humanos. Torna o ser humano
responsável pelos atos dos quais é voluntariamente autor. Seu agir deliberado é algo
propriamente seu.
1746 A imputabilidade ou responsabilidade de uma aço pode ser diminuída ou
suprimida pela ignorância, violência, medo e outros fatores psíquicos ou sociais.
1747 O direito ao exercício da liberdade é uma exigência inseparável da dignidade do
homem, sobretudo em matéria religiosa e moral. Mas o exercício da liberdade não implica o
suposto direito de tudo dizer e fazer.
1748 "É para a liberdade que Cristo nos libertou" (Gl 5,1).



ARTIGO 4
A MORALIDADE DOS ATOS HUMANOS

1749 A liberdade faz do homem um sujeito moral. Quando age de forma deliberada, o
homem é, per assim dizer, o pai de seus atos. Os atos humanos, isto é, livremente escolhidos após
um juízo da consciência, são qualificáveis moralmente. São bons ou maus.

I. AS FONTES DA MORALIDADE
1750 A moralidade dos atos humanos depende:
ü do objeto escolhido;
ü do fim visado ou da intenço;
ü das circunstâncias da aço.
1751 O objeto, a intenço e as circunstâncias constituem as "fontes" ou elementos
constitutivos da moralidade dos atos humanos. O objeto escolhido é um bem para o qual se
dirige deliberadamente a vontade. É a matéria de um ato humano. O objeto escolhido
especifica moralmente o ato de querer, conforme razão o reconheça e julgue estar de acordo
ou não com o bem verdadeiro. As regras objetivas da moralidade enunciam a ordem racional
do bem e do mal, atestada pela consciência.
1752 Perante o objeto, a intenço se coloca do lado do sujeito agente. Pelo fato de
ater-se à fonte voluntária da aço e determiná-la pelo objetivo, a intenço é um elemento
essencial na qualificaço moral da aço. A finalidade é o primeiro termo da intenço e designa
a meta visada na aço. A intenço é um movimento da vontade em direço ao objetivo; ela diz
respeito ao fim visado pela ação. É a meta do bem que se espera da aço praticada. Não se
limita à direço de nossas açes singulares, mas pode orientar para um mesmo objetivo açes
múltiplas; pode orientar toda vida para o fim último. Por exemplo, um serviço prestado tem por
fim ajudar o próximo, mas pode também ser inspirado pelo amor a Deus, fim último de todas as
nossas açes. Uma mesma aço também pode ser inspirada por várias intençes, como, por
exemplo, prestar um serviço para obter um favor ou para vangloriar -se.
1753 Uma intenço boa (por exemplo, ajudar o próximo) não torna bom nem justo um
comportamento desordenado em si mesmo (como a mentira e a maledicência). O fim não
justifica os meios. Assim, não se pode justificar a condenaço de um inocente como meio
legítimo de salvar o povo. Por sua vez, acrescentada uma intenço má (como, por exemplo, a
vanglória), o ato em si bom (como a esmola) torna-se mau.
1754 As circunstâncias, incluídas as conseqüncias, são os elementos secundários de um
ato moral. Contribuem para agra-var ou diminuir a bondade ou maldade moral dos atos
humanos (por exemplo, o montante de um furto). Podem também atenuar ou aumentar a
responsabilidade do agente (agir, por exemplo, por temor da morte). As circunstâncias não
podem por si modificar a qualidade moral dos próprios atos, não podem tomar boa ou justa uma
aço má em si.

II. ATOS BONS E ATOS MAUS
1755 O ato moralmente bom supõe a bondade do objeto, da finalidade e das
circunstâncias. Uma finalidade má corrompe a aço, mesmo que seu objeto seja bom em si
(como, por exemplo, rezar e jejuar "para ser visto pelos homens").


O objeto da escolha por si só pode viciar o conjunto de determinado agir. Existem
comportamentos concretos - como a fornicaço - cuja escolha é sempre errônea, pois
escolhêlos significa uma desordem da vontade, isto é, um mal moral.
1756 É errado, pois, julgar a moralidade dos atos humanos considerando só a intenço
que os inspira ou as circunstâncias (meio ambiente, pressão social, constrangimento ou
necessidade de agir etc.) que compõem o quadro. Existem atos que por si mesmos e em si
mesmos, independentemente das circunstâncias e intençes, são sempre gravemente ilícitos, em
virtude de seu objeto: a blasfêmia e o perjúrio, o homicídio e o adultério. Não é permitido praticar
um mal para que dele resulte um bem.

RESUMINDO
1757 O objeto, a intenço e as circunstâncias constituem as três “fontes" da moralidade
dos atos humanos.
1758 O objeto escolhido especifica moralmente o ato do querer conforme a razão o
reconheça e julgue bom ou mau.
1759 “Não se pode justificar uma aço má, embora feita com boa intenço.” O fim não
justifica os meios.
1760 O ato moralmente bom supõe, ao mesmo tempo, a bondade do objeto, da
finalidade e das circunstâncias.
1761 Existem comportamentos concretos cuja escolha é sempre errônea, porque
escolhê-los significa uma desordem da vontade de, isto é, um mal moral. Não é permitido fazer o
mal para que daí resulte um bem.

ARTIGO 5
A MORALIDADE DAS PAIXÕES

1762 O ser humano se ordena para a bem-aventurança por meio de seus atos
deliberados: as paixões ou sentimentos que experimenta podem dispô-lo e contribuir para isso.

I. AS PAIXÕES
1763 O termo "paixões" pertence ao patrimônio cristão. Os sentimentos ou paixões
designam as emoçes ou movimentos da sensibilidade que inclinam alguém a agir ou não agir
em vista do que é experimentado ou imaginado como bom ou mau.
1764 As paixões são componentes naturais do psiquismo humanos; constituem o lugar
de passagem e garantem a ligaço entre a vida sensível e a vida do espírito. Nosso Senhor
indica o coraço do homem como a fonte de onde brota o movimento das paixões.
1765 As paixões são numerosas. A paixão mais fundamental é o amor provocado pela
atraço do bem. O amor causa o desejo do bem ausente e a esperança de consegui-lo. Este
movimento se completa no prazer e na alegria do bem possuído. A percepço do mal provoca
ódio, aversão e medo do mal que está por chegar. Este movimento se completa na tristeza do
mal presente ou na cólera que a ele se opõe.
1766 "Amar é querer algo de bom para alguém." Todos os demais afetos têm sua fonte
no movimento original do coraço do homem para o bem. Só existe o bem que é amado. "As
paixões são más se o amor é mau, boas se o amor é bom."



II. PAIXÕES E VIDA MORAL
1767 Em si mesmas, as paixões não são boas nem más. Só recebem qualificaço moral
na medida em que dependem efetiva-mente da razão e da vontade. As paixões são chamadas
voluntárias "ou porque são comandadas pela vontade ou porque a vontade não lhes opõe
obstáculo". Faz parte da perfeiço do bem moral ou humano que as paixões sejam reguladas
pela razão.
1768 Os grandes sentimentos não determinam a moralidade nem a santidade das
pessoas; são reservatório inesgotável das imagens e afeiçes em que se exprime a vida moral. As
paixões são moralmente boas quando contribuem para uma aço boa, e más quando se dá o
contrário. A vontade reta ordena para o bem e para a bem-aventurança os movimentos
sensíveis que ela assume; a vontade má sucumbe às paixões desordenadas e as exacerba. As
emoçes e sentimentos podem ser assumidos em virtudes ou pervertidos em vícios.
1769 Na vida cristã, o próprio Espírito Santo realiza sua obra mobilizando o ser inteiro,
inclusive suas dores, medos e tristezas, como aparece na Agonia e Paixão do Senhor. Em Cris-to,
os sentimentos humanos podem receber sua consumaço na caridade e na bem-aventurança
divina.
1770 A perfeiço moral consiste em que o homem não seja movido ao bem
exclusivamente por sua vontade, ma s também por seu apetite sensível, segundo a palavra do
Salmo: "Meu coraço e minha carne exultam pelo Deus vivo" (Sl 84,3).

RESUMINDO
1771 O termo "paixões" designa as afeiçes ou os sentimentos. Por meio de suas
emoçes, o homem pressente o bem e suspeita da presença do mal.
1772 As principais paixões são o amor, o ódio, o desejo, o medo, a alegria, a tristeza e a
cólera.
1773 Nas paixões, como movimentos da sensibilidade, não há bem ou mal moral. Mas,
enquanto dependem da razão e da vontade, há nelas bem ou mal moral.
1774 As emoçes e os sentimentos podem ser assumidos em virtudes ou pervertidos em
vícios.
1775 A perfeiço do bem moral consiste em que o homem não seja movido ao bem
exclusivamente pela vontade, mas também pelo "coraço".

ARTIGO 6
A CONSCIÊNCIA MORAL

1776 “Na intimidade da consciência, o homem descobre uma lei. Ele não a dá a si
mesmo. Mas a ela deve obedecer. Chamando-o sempre a amar e fazer o bem e a evitar o mal,
no momento oportuno a voz desta lei ressoa no íntimo de seu coraço... É uma lei inscrita por
Deus no coraço do homem.. A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem,
onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa sua voz. "

I. O JUÍZO DA CONSCIÊNCIA
1777 Presente no coraço da pessoa, a consciência moral lhe impõe, no momento
oportuno, fazer o bem e evitar o mal. Julga, portanto, as escolhas concretas, aprovando as boas
e denunciando as más. Atesta a autoridade da verdade referente ao Bem supremo, de quem a


pessoa humana recebe a atraço e acolhe os mandamentos. Quando escuta a consciência
moral, o homem prudente pode ouvir a Deus, que fala.
1778 A consciência moral é um julgamento da razão pelo qual a pessoa humana
reconhece a qualidade moral de um ato concreto que vai planejar, que está a ponto de
executar ou que já praticou. Em tudo o que diz e faz, o homem é obrigado a seguir fielmente o
que sabe ser justo e correto. E pelo julgamento de sua consciência que o homem percebe e
reconhece as prescriçes da lei divina:
A consciência é uma lei de nosso espírito que ultrapassa nosso espírito, nos faz imposiçes,
significa responsabilidade e dever, temor e esperança... E a mensageira daquele que, no mundo
da natureza bem como no mundo da graça, nos fala através de um véu, nos instrui e nos
governa. A consciência é o primeiro de todos os vigários de Cristo.
1779 É importante que cada qual esteja bastante presente a si mesmo para ouvir e
seguir a voz de sua consciência. Esta exigência de interioridade é muito necessária, pelo fato de
a vida nos deixar freqüentemente em situaçes que nos afastam:
Volta à tua consciência, interroga-a... Voltai, irmãos, ao interior e em tudo o que fizerdes
atentai para a testemunha, Deus.
1780 A dignidade da pessoa humana implica e exige a retidão da consciência moral. A
consciência moral compreende a percepço dos princípios da moralidade ("sindérese"), sua
aplicaço a circunstâncias determinadas por um discernimento prático das razões e dos bens e,
finalmente, o juízo feito sobre atos concretos a praticar ou já praticados. A verdade sobre o bem
moral, declarada na lei da razão, é reconhecida prática e concretamente pelo juízo prudente
da consciência. Chamamos de prudente o homem que faz suas opçes de acordo com este
juízo.
1781 A consciência permite assumir a responsabilidade dos atos praticados. Se o homem
comete o mal, o julgamento justo da consciência pode continuar nele como testemunho da
verdade universal do bem e ao mesmo tempo da malícia de sua escolha singular. O veredicto
do juízo de consciência continua sendo um penhor de esperança e misericórdia. Atestando a
falta cometida lembra a necessidade de pedir perdão, de praticar novamente o bem e de
cultivar sem cessar a virtude com a graça de Deus.
Diante dele tranqüilizaremos nosso coraço, se nosso coraço nos acusa, porque Deus é
maior que nosso coraço e conhece todas as coisas (1 Jo 3,19-20).
1782 O homem tem o direito de agir com consciência e liberdade, a fim de tomar
pessoalmente as decisões morais. "O homem não pode ser forçado a agir contra a própria
consciência. Mas também não há de ser impedido de proceder segundo a consciência,
sobretudo em matéria religiosa."

II. A FORMAÇO DA CONSCIÊNCIA
1783 A consciência deve ser educada e o juízo moral, esclarecido. Uma consciência
bem formada é reta e verídica. Formula seus julgamentos seguindo a razão, de acordo com o
bem verdadeiro querido pela sabedoria do Criador. A educaço da consciência e indispensável
aos seres humanos submetidos a influências negativas e tentados pelo pecado a preferir seu
julgamento próprio e a recusar os ensinamentos autorizados.
1784 A educaço da consciência é uma tarefa de toda a vida. Desde os primeiros
anos, alerta a criança para o conhecimento e a prática da lei interior reconhecida pela
consciência moral. Uma educaço prudente ensina a virtude, preserva ou cura do medo, do
egoísmo e do orgulho, dos sentimentos de culpabilidade e dos movimentos de complacência,
nascidos da fraqueza e das faltas humanas. A educaço da consciência garante a liberdade e
gera a paz do coraço.


1785 Na formaço da consciência, a Palavra de Deus é a luz de nosso caminho; é
preciso que a assimilemos na fé e na oraço e a ponhamos em prática. É preciso ainda que
examinemos nossa consciência, confrontando-nos com a Cruz do Senhor. Somos assistidos pelos
dons do Espírito Santo, ajudados pelo testemunho e conselhos dos outros e guiados pelo
ensinamento autorizado da Igreja.

III. ESCOLHER SEGUNDO A CONSCIÊNCIA
1786 Posta diante de uma escolha moral, a consciência pode emitir um julgamento
correto, de acordo com a razão e a lei divina, ou, ao contrário, um julgamento errôneo, que se
afasta da razão e da lei divina.
1787 Às vezes o homem depara com situaçes que tornam o juízo moral menos seguro e
a decisão difícil. Mas ele deverá semp re procurar o que é justo e bom e discernir a vontade de
Deus expressa na lei divina.
1788 Para tanto, o homem deve se esforçar por interpretar os dados da experiência e os
sinais dos tempos graças à virtude da prudência, aos conselhos de pessoas avisadas e à ajuda
do Espírito Santo e de seus dons.
1789 Algumas regras se aplicam a todos os casos:
ü Nunca é permitido praticar um mal para que daí resulte um bem.
ü A "regra de ouro": "Tudo aquilo que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a
eles".
ü A caridade respeita sempre o próximo e sua consciência: "Pecando contra vossos
irmãos e ferindo sua consciência... pecais contra Cristo" (1 Cor 8,12). "E bom se abster... de tudo o
que seja causa de tropeço, de queda ou enfraquecimento para teu irmão" (Rm 14,21).

IV. O JUÍZO ERRÔNEO
1790 O ser humano deve sempre obedecer ao juízo certo de sua consciência. Se agisse
deliberadamente contra este último, estaria condenando a si mesmo. Mas pode acontecer que
a consciência moral esteja na ignorância e faça juízos errôneos sobre atos a praticar ou já
praticados.
1791 Muitas vezes esta ignorância pode ser imputada à responsabilidade pessoal. É o que
acontece "quando o homem não se preocupa suficientemente com a procura da verdade e do
bem, e a consciência pouco a pouco, pelo hábito do pecado, se torna quase obcecada".
Neste caso, a pessoa é culpável pelo mal que comete.
1792 A ignorância de Cristo e de seu Evangelho, os maus exemplos de outros, o servilismo
às paixões, a pretensão de uma mal-entendida autonomia da consciência, a recusa da
autoridade da Igreja e de seus ensinamentos, a falta de conversão ou de caridade podem estar
na origem dos desvios do julgamento na conduta moral.
1793 Se - ao contrário - a ignorância for invencível ou o julgamento errôneo não for da
responsabilidade do sujeito moral, o mal cometido pela pessoa não lhe poderá ser imputado.
Mas nem por isso deixa de ser um mal, uma privaço, uma desordem. É preciso trabalhar, pois,
para corrigir a consciência moral de seus erros.
1794 A consciência boa e pura é esclarecida pela fé verdadeira, pois a caridade
procede ao mesmo tempo "de um coraço puro de uma boa consciência e de uma fé sem
hipocrisia" (l Tm 1,5).
"Quanto mais prevalece a consciência reta, tanto mais as pessoas e os grupos se afastam
de um arbítrio cego e se esforçam por conformar-se às normas objetivas da moralidade[a28] ."



RESUMINDO
1795 "A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde ele está
sozinho com Deus e onde ressoa sua voz. "
1796 A consciência moral é um julgamento da razão pelo qual a pessoa humana
reconhece a qualidade moral de um ato concreto.
1797 Para o homem que cometeu o mal, o veredicto de sua cons-ciência permanece
um penhor de conversão e de esperança.
1798 Uma consciência bem formada é reta e verídica. Formula seus julgamentos
seguindo a razão, de acordo com o bem verdadeiro querido pela sabedoria do Criador. Cada
qual deve usar os meios adequados para formar sua consciência.
1799 Colocada diante de uma escolha moral, a consciência pode emitir um julgamento
correto de acordo com a razão e a lei divina ou, ao contrário, um julgamento errôneo, que se
afasta da razão e da lei divina.
1800 O ser humano deve obedecer sempre ao julgamento certo de sua consciência.
1801 A consciência moral pode estar na ignorância ou fazer julga-mentos errôneos. Essa
ignorância e esses erros nem sempre são isentos de culpa.
1802 A Palavra de Deus é luz para nossos passos. É preciso que a assimilemos na fé e na
oraço e a coloquemos em pratica. Assim se forma a consciência moral.

ARTIGO 7
AS VIRTUDES

1803 "Ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, tudo o que
há de louvável, honroso, virtuoso ou de qualquer modo mereça louvor" (Fl 4,8).
A virtude é uma disposiço habitual e firme para fazer o bem. Permite à pessoa não só
praticar atos bons, mas dar o melhor de si. Com todas as suas forças sensíveis e espirituais, a
pessoa virtuosa tende ao bem, procura-o e escolhe-o na prática.
"O objetivo da vida virtuosa é tornar -se semelhante a Deus."

I AS VIRTUDES HUMANAS
1804 As virtudes humanas são atitudes firmes, disposiçes estáveis, perfeiçes habituais da
inteligência e da vontade que regulam nossos atos, ordenando nossas paixões e guiando-nos
segundo a razão e a fé. Propiciam, assim, facilidade, domínio e alegria para levar uma vida
moralmente boa. Pessoa virtuosa é aquela que livremente pratica o bem.
As virtudes morais são adquiridas humanamente. São os frutos e os germes de atos
moralmente bons; dispõem todas as forças do ser humano para entrar em comunhão com o
amor divino.

DISTINÇO DAS VIRTUDES CARDEAIS
1805 Quatro virtudes têm um papel de "dobradiça" (que, em latim, se diz "cardo,
cardinis"). Por esta razão são chamadas “cardeais": todas as outras se agrupam em torno delas.
São a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança. "Ama -se a retidão? As virtudes são seus
frutos; ela ensina a temperança e a prudência a justiça e a fortaleza" (Sb 8,7). Estas virtudes são
louvadas em numerosas passagens da Escritura sob outros nomes.


1806 A prudência é a virtude que dispõe a razão prática a discernir, em qualquer
circunstância, nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo. "O
homem sagaz discerne os seus passos" (Pr 14,15). "Sede prudentes e sóbrios para entregardes às
oraçes" (1 Pd 4,7). A prudência é a "regra certa da aço", escreve Sto. Tomás citando
Aristóteles. Não se confunde com a timidez ou o medo, nem com a duplicidade ou dissimulaço.
E chamada "auriga virtutum" ("cocheiro", isto é "portadora das virtudes"), porque, conduz as
outras virtudes, indicando -lhes a regra e a medida. E a prudência que guia imediatamente o
juízo da consciência. O homem prudente decide e ordena sua conduta seguindo este juízo.
Graças a esta virtude, aplicamos sem erro os princípios morais aos casos particulares e superamos
as dúvidas sobre o bem a praticar e o mal a evitar.
1807 A justiça é a virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a
Deus e ao próximo o que lhes é devido. A justiça para com Deus chama-se "virtude de religião".
Para com os homens, ela nos dispõe a respeitar os direitos de cada um e a estabelecer nas
relaçes humanas a harmonia que pro-move a equidade em prol das pessoas e do bem
comum. O homem justo, muitas vezes mencionado nas Escrituras, distingue-se pela correço
habitual de seus pensamentos e pela retidão de sua conduta para com o próximo. "Não
favoreças o pobre, nem prestigies o poderoso. Julga o próximo conforme a justiça" (Lv 19,15).
"Senhores, dai aos vossos servos o justo e eqüitativo, sabendo que vós tendes um Senhor no céu"
(Cl 4,1).
1808 A fortaleza é a virtude moral que dá segurança nas dificuldades, firmeza e
constância na procura do bem. Ela firma a resoluço de resistir às tentaçes e superar os
obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza nos torna capazes de vencer o medo, inclusive
da morte, de suportar a provaço e as perseguiçes. Dispõe a pessoa a aceitar até a renúncia e
o sacrifício de sua vida para defender uma causa justa. "Minha força e meu canto é o Senhor" (Sl
118,14). "No mundo tereis tribulaçes, mas tende coragem: eu venci o mundo" (Jo 16,33).
1809 A temperança é a virtude moral que modera a atraço pelos prazeres e procura o
equilíbrio no uso dos bens criados. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os
desejos dentro dos limites da honestidade. A pessoa temperante orienta para o bem seus
apetites sensíveis, guarda uma santa discriço e "não se deixa levar a seguir as paixões do
coraço[a38] ". A temperança é muitas vezes louvada no Antigo Testamento: "Não te deixes
levar por tuas paixões e re-freia os teus desejos" (Eclo 18,30). No Novo Testamento, é chamada de
"moderaço" ou "sobriedade". Devemos "viver com moderaço, justiça e piedade neste mundo"
(Tt 2,12).
Viver bem não é outra coisa senão amar a Deus de todo o coraço, de toda a alma e em
toda forma de agir. Dedicar -lhe um amor integral (pela temperança) que nenhum infortúnio
poderá abalar (o que depende da fortaleza), que obedece exclusivamente a Ele (e nisto
consiste a justiça), que vela para discernir todas as coisas com receio de deixar -se surpreender
pelo ardil e pela mentira (e isto é a prudência).

As VIRTUDES E A GRAÇA
1810 As virtudes humanas adquiridas pela educaço, por atos deliberados e por uma
perseverança sempre retomada com esforço são purificadas e elevadas pela graça divina. Com
o auxílio de Deus, forjam o caráter e facilitam a prática do bem. O homem virtuoso sente-se feliz
em praticá-las.
1811 Não é fácil para o homem ferido pelo pecado manter o equilíbrio moral. O dom da
salvaço, trazida por Cristo, nos concede a graça necessária para perseverar na conquista das
virtudes. Cada um deve sempre pedir esta graça de luz e de fortaleza, recorrer aos sacramentos,
cooperar com o Espírito Santo, seguir seus apelos de amar o bem e evitar o mal.

II . AS VIRTUDES TEOLOGAIS


1812 As virtudes humanas se fundam nas virtudes teologais que adaptam as faculdades
do homem para que possa participar da natureza divina. Pois as virtudes teologais se referem
diretamente a Deus. Dispõem os cristãos a viver em relaço com a Santíssima Trindade e têm a
Deus Uno e Trino por origem, motivo e objeto.
1813 As virtudes teologais fundamentam, animam e caracterizam o agir moral do cristão.
Informam e vivificam todas as virtudes morais. São infundidas por Deus na alma dos fiéis para
torná-los capazes de agir como seus filhos e merecer a vida eterna. São o penhor da presença e
da aço do Espírito Santo nas faculdades do ser humano. Há três virtudes teologais: a fé, a
esperança e a caridade.

A FÉ
1814 A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que nos disse e
revelou, e que a Santa Igreja nos propõe para crer, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, "o
homem livremente se entrega todo a Deus. Por isso o fiel procura conhecer e fazer a vontade de
Deus. "O justo viverá da fé" (Rm 1,17). A fé viva "age pela caridade" (Gl 5,6).
1815 O dom da fé permanece naquele que não pecou contra ela. Mas "é morta a fé
sem obras" (Tg 2,26): privada da esperança e do amor, a fé não une plenamente o fiel a Cristo e
não faz dele um membro vivo de seu Corpo.
1816 O discípulo de Cristo não deve apenas guardar a fé e nela vi-ver, mas também
professá-la, testemunhá-la com firmeza e difundi-la: "Todos devem estar prontos a confessar
Cristo perante os homens e segui-lo no caminho da Cruz, entre perseguiçes que nunca faltam à
Igreja. O serviço e o testemunho da fé são requisitos da salvaço: "Todo aquele que se declarar
por mim diante dos homens também eu me declararei por ele diante de meu Pai que está nos
céus. Aquele, porém, que me renegar diante dos homens também o renegarei diante de meu
Pai que está nos céus" (Mt 10,32-33).

A ESPERANÇA
1817 A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o
Reino dos Céus e a Vida Eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos
não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo. "Continuemos a afirmar nossa
esperança, porque é fiel quem fez a promessa" (Hb 10,23). "Este Espírito que ele ricamente
derramou sobre nós, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que fôssemos justificados
por sua graça e nos tornássemos herdeiros da esperança da vida eterna" (Tt 3,6-7).
1818 A virtude da esperança responde à aspiraço de felicidade colocada por Deus no
coraço de todo homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens;
purifica-as, para ordená-las ao Reino dos Céus; protege contra o desânimo; dá alento em todo
esmorecimento; dilata o coraço na expectativa da bem-aventurança eterna. O impulso da
esperança preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade.
1819 A esperança cristã retoma e realiza a esperança do povo eleito, que tem sua
origem e modelo na esperança de Abraão, cumulada em Isaac, das promessas de Deus, e
purificada pela prova do sacrifício. "Ele, contra toda a esperança, acreditou na esperança de
tornar -se pai de muitos povos" (Rm 4,18).
1820 A esperança cristã se manifesta desde o inicio da pregaço de Jesus no anúncio
das bem-aventuranças. As bem-aventuranças elevam nossa esperança ao céu, como para a
nova Terra prometida; traçam o caminho por meio das provaço reservadas aos discípulos de
Jesus. Mas, pelos méritos de Jesus Cristo e de sua Paixão, Deus nos guarda na "esperança que
não decepciona" (Rm 5,5). A esperança é a "âncora da alma) segura e firme, "penetrando...
onde Jesus entrou por nós, como precursor" (Hb 6,19-20). Também é uma arma que nos protege
no combate da salvaço: "Revestidos da couraça da fé e da caridade e do capacete da


esperança da salvaço" (l Ts 5,8) Ela nos traz alegria mesmo na provaço: "alegrando-vos na
esperança, perseverando na tribulaço" (Rm 12,12). Ela se exprime e se alimenta na oraço,
especialmente no Pai-Nosso resumo de tudo o que a esperança nos faz desejar.
1821 Podemos esperar, pois, a glória do céu prometida por Deus aos que o amam e
fazem sua vontade. Em qualquer circunstância, cada qual deve esperar, com a graça de Deus,
"perseverar até o fim" e alcançar a alegria do céu comi recompensa eterna de Deus pelas boas
obras praticadas com graça de Cristo. Na esperança, a Igreja pede que "todos ó homens sejam
salvos" (1Tm 2,4). Ela aspira a estar unida a Cristo, seu Esposo, na glória do céu.
Espera, ó minha alma, espera. Ignoras o dia e a hora. Vigia cuidadosamente, tudo passa
com rapidez, ainda que tua impaciência torne duvidoso o que é certo, e longo um tempo bem
curto. Considera que, quanto mais pelejares, mais provarás o amor que tens a teu Deus e mais te
alegrarás um dia com teu Bem-Amado numa felicidade e num êxtase que não poderão jamais
terminar.

A CARIDADE
1822 A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas,
por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.
1823 Jesus fez da caridade o novo mandamento. Amando os seus "até o fim" (Jo 13,1),
manifesta o amor do Pai que Ele recebe. Amando-se uns aos outros, os discípulos imitam o amor
de Jesus que eles também recebem. Por isso diz Jesus: "Assim como o Pai me amou, também eu
vos amei. Permanecei em meu amor" (Jo 15,9). E ainda: "Este é o meu preceito: Amai-vos uns aos
outros como eu vos amei" (Jo 15,12).
1824 Fruto do Espírito e da plenitude da lei, a caridade guarda os mandamentos de Deus
e de seu Cristo: "Permanecei em meu amor. Se observais os meus mandamentos, permanecereis
no meu amor" (Jo 15,9-10).
1825 Cristo morreu por nosso amor quando éramos ainda "inimigos" (Rm 5,10). O Senhor
exige que amemos, como Ele, mesmo os nossos inimigos, que nos tornemos o próximo do mais
afastado, que amemos como Ele as crianças e os pobres.
O apóstolo S. Paulo traçou um quadro incomparável da caridade: "A caridade é
paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho.
Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor.
Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo
espera, tudo suporta" (l Cor 13,4-7).
1826 Diz ainda o apóstolo: "Se não tivesse a caridade, nada seria...". E tudo o que é
privilégio, serviço e mesmo virtude... "se não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria". A
caridade superior a todas as virtudes. E a primeira das virtudes teologais "Permanecem fé,
esperança, caridade, estas três coisas. A maior delas, porém, é a caridade" (1 Cor 13,13).
1827 O exercício de todas as virtudes é animado e inspirado pela caridade, que é o
"vinculo da perfeiço" (Cl 3,14); é a forma das virtudes, articulando-as e ordenando-as entre si; é
fonte e termo de sua prática cristã. A caridade assegura purifica nossa capacidade humana de
amar, elevando-a à feiço sobrenatural do amor divino.
1828 A prática da vida moral, animada pela caridade, dá ao cristão a liberdade
espiritual dos filhos de Deus. Já não está diante de Deus como escravo em temor servil, nem
como mercenário à espera do pagamento, mas como um filho que responde ao amor daquele
"que nos amou primeiro" (1 Jo 4,19): Ou nos afastamos do mal por medo do castigo, estando
assim na posiço do escravo; ou buscamos o atrativo da recompensa, assemelhando-nos aos
mercenários; ou é pelo bem em si mo e por amor de quem manda que nós obedecemos... e
estaremos então na posiço de filhos.


1829 A caridade tem como frutos a alegria, a paz e a misericórdia exige a beneficência
e a correço fraterna; é benevolência; suscita a reciprocidade; é desinteressada e liberal; é
amizade e comunhão: A finalidade de todas as nossas obras é o amor. Este é o fim, é para
alcanç-lo que corremos, é para ele que corremos; uma vez chegados, é nele que
repousaremos.

III. OS DONS E FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO
1830 A vida moral dos cristãos é sustentada pelos dons do Espírito Santo. Estes são
disposiçes permanentes que tornam o homem dócil para seguir os impulsos do mesmo Espírito.
1831 Os sete dons do Espírito Santo são: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza,
ciência, piedade e temor de Deus. Em plenitude, pertencem a Cristo, Filho de Davi . Completam
e levam ã perfeiço as virtudes daqueles que os recebem. Tornam os fiéis dóceis para obedecer
prontamente às inspiraçes divinas.
Que o teu bom espírito me conduza por uma terra aplanada (Sl 143,10)
Todos os que são conduzidos pelo Espírito Santo são filhos de Deus são filhos de Deus...
Filhos e, portanto, herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo (Rm 8,14.17).
1832 Os frutos do Espírito são perfeiçes que o Espírito Santo forma em nós como
primícias da glória eterna. A Tradiço da Igreja enumera doze: "caridade, alegria, paz,
paciência, longanimidade, bondade, benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência
e castidade" (Gl 5,22-23 vulg.).

RESUMINDO
1833 A virtude é uma disposiço habitual e firme de fazer o bem.
1834 As virtudes humanas são disposiçes estáveis da inteligência e da vontade que,
regulam nossos atos, ordenando nossas paixões e guiando-nos segundo a razão e a fé. Podem
ser agrupadas em torno de quatro virtudes cardeais: a prudência, a justiça, a fortaleza e a
temperança.
1835 A prudência dispõe a razão prática a discernir, em qualquer circunstância, nosso
verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo.
1836 A justiça consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que
lhes é devido.
1837 A fortaleza garante, nas dificuldades, a firmeza e a constância na busca do bem.
1838 A temperança modera a atraço dos prazeres sensíveis e pro-cura o equilíbrio no
uso dos bens criados.
1839 As virtudes morais crescem pela educaço, pelos atos deliberados e pela
perseverança no esforço. A graça divina purifica e as eleva.
1840 As virtudes teologais dispõem os cristãos a viver em relaço com a Santíssima
Trindade. Têm a Deus por origem, motivo e objeto, Deus conhecido pela fé, esperado e amado
por casa de si mesmo.
1841 Há três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade[a82] . Estas informam e
vivificam todas as virtudes morais.
1842 Pela fé, nós cremos em Deus e em tudo o que Ele nos revelou e que a Santa Igreja
nos propõe para crer.
1843 Pela esperança, desejamos e aguardamos de Deus, com firme confiança, a vida
eterna e as graças para merecê-la.


1844 Pela caridade, amamos a Deus sobre todas as coisas e a nosso próximo como a
nós mesmos por amor a Deus. Ela é o "vínculo da perfeiço" (Cl 3,14) e a forma de todas as
virtudes.
1845 Os sete dons do Espírito Santo concedidos ao cristão sabedoria, inteligência,
conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus.

ARTIGO 8
O PECADO

I. A MISERICÓRDIA E O PECADO
1846 O Ev angelho é a revelaço, em Jesus Cristo, da misericórdia de Deus para com os
pecadores[a84] . O anjo anuncia a José: "Tu chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará
seu povo de seus pecados" (Mt 1,21). O mesmo se dá com a Eucaristia, sacramento da
redenção: "Isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos, para
remissão dos pecados" (Mt 26,28).
1847 "Deus nos criou sem nós, mas não quis salvar-nos sem nós." Acolher sua misericórdia
exige de nossa parte a confissão de nossas faltas. "Se dissermos: 'Não temos pecado',
enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos nossos pecados,
Ele, que é fiel e justo, perdoará nossos pecados e nos purificará de toda injustiça" (1Jo 1,8-9).
1848 Como afirma S. Paulo: "Onde avultou o pecado, a graça superabundou" (Rm 5,20).
Mas, para realizar seu trabalho, deve a graça descobrir o pecado, a fim de converter nosso
coraço e nos conferir "a justiça para a vida eterna, por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor" (Rm
5,21). Como o médico que examina a ferida antes de curá-la, assim Deus, por sua palavra e por
seu Espírito, projeta uma luz viva sobre o pecado.
A conversão requer que se lance luz sobre o pecado; ela contém em si mesma o
julgamento interior da consciência. Pode -se ver nisso a prova da aço do Espírito de verdade no
mais íntimo do homem, e isso se torna ao mesmo tempo o início de um novo dom da graça e do
amor: "Recebei o Espírito Santo". Assim, nesta aço de "lançar luz sobre o pecado" descobrimos
um duplo dom: o dom da verdade da consciência e o dom da certeza da redenço. O Espírito
de verdade é o Consolador.

II. A DEFINIÇO DO PECADO
1849 O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a cons-ciência reta; é uma falta
ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a
certos bens. Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana. Foi definido como
"uma palavra, um ato ou um desejo contrários à lei eterna".
1850 O pecado é ofensa a Deus: "Pequei contra ti, contra ti somente; pratiquei o que é
mau aos teus olhos" (Sl 51,6). O pecado ergue-se contra o amor de Deus por nós e desvia dele os
nossos coraçes. Como o primeiro pecado, é uma desobediência, uma revolta contra Deus, por
vontade de tornar-se "como deuses", conhecendo e determinando o bem e o mal (Gn 3,5). O
pecado é, portanto, "amor de si mesmo até o desprezo de Deus". Por essa exaltaço orgulhosa
de si, o pecado é diametralmente contrário à obediência de Jesus, que realiza a salvaço.
1851 É justamente na paixão, em que a misericórdia de Cristo vai vencê-lo, que o
pecado manifesta o grau mais alto de sua violência e de sua multiplicidade: incredulidade, ódio
assassino, rejeiço e zombarias da parte dos chefes e do povo, covardia de Pilatos e crueldade
dos soldados, traiço de Judas, tão dura para Jesus, negaço de Pedro e abandono da parte
dos discípulos. Mas, na própria hora das trevas e do príncipe deste mundo, o sacrifício de Cristo
se toma secretamente a fonte de onde brotará inesgotavelmente o perdão de nossos pecados.



III. A DIVERSIDADE DOS PECADOS
1852 A variedade dos pecados é grande. As Escrituras nos fornecem várias listas. A Carta
aos gálatas opõe as obras da carne ao fruto do Espírito: "As obras da carne são manifestas:
fornicaço, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódio, rixas, ciúmes, ira, discussões,
discórdia, divisões, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais
eu vos previno, como já vos preveni: os que tais coisas praticam não herdarão o Reino de Deus"
(Gl 5,19-21)".
1853 Pode-se distinguir os pecados segundo seu objeto, como em todo ato humano, ou
segundo as virtudes a que se opõem, por excesso ou por defeito, ou segundo os mandamentos
que eles contrariam. Pode -se também classificá-los conforme dizem respeito a Deus, ao próximo
ou a si mesmo; pode-se dividi-los em pecados espirituais e carnais, ou ainda em pecados por
pensamento, palavra, aço ou omissão. A raiz do pecado está no coraço do homem, em sua
livre vontade, segundo o ensinamento do Senhor: "Com efeito, é do coraço que procedem más
inclinaçes, assassínios, adultérios, prostituiçes, roubos, falsos testemunhos e difamaçes. São
estas as coisas que tomam o homem impuro" (Mt 15,19-20). No coraço reside também a
caridade, princípio das obras boas e puras, que o pecado fere.

IV. A GRAVIDADE DO PECADO: PECADO MORTAL E VENIAL
1854 Convém avaliar os pecados segundo sua gravidade. Perceptível já na Escritura, a
distinço entre pecado mortal e pecado venial se impôs na tradiço da Igreja. A experiência
humana a corrobora.
1855 O pecado mortal destrói a caridade no coraço do homem por uma infraço
grave da lei de Deus; desvia o homem de Deus, que é seu fim último e sua bem-aventurança,
preferindo um bem inferior.
O pecado venial deixa subsistir a caridade, embora a ofenda e fira.
1856 O pecado mortal, atacando em nós o princípio vital, que é a caridade, exige uma
nova iniciativa da misericórdia de Deus e uma conversão do coraço, que se realiza
normalmente no sacramento da Reconciliaço:
Quando a vontade se volta para uma coisa contrária â caridade pela qual estamos
ordenados ao fim último, há no pecado, por seu próprio objeto, matéria para ser mortal... quer
seja contra o amor a Deus, como a blasfêmia, o perjúrio etc., quer seja contra o amor ao
próximo, como o homicídio, o adultério etc. Por outro lado, quando a vontade do pecador se
dirige às vezes a um objeto que contém em si uma desordem, mas não é contrário ao amor a
Deus e ao próximo, como por exemplo palavra ociosa, riso supérfluo etc., tais pecados são
veniais'.
1857 Para que um pecado, seja mortal requerem-se três condiçes ao mesmo tempo: "E
pecado mortal todo pecado que tem como objeto uma matéria grave, e que é cometido com
plena consciência e deliberadamente".
1858 A matéria grave é precisada pelos Dez mandamentos, segundo a resposta de
Jesus ao jovem rico: "Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso
testemunho, não dó fraudes ninguém, honra teu pai e tua mãe" (Mc 10,19). A gravidade dos
pecados é maior ou menor: um assassinato é mais grave que um roubo. A qualidade das
pessoas lesadas é levada também em consideraço. A Violência exercida contra os pais é em
mais grave que contra um estranho.
1859 O pecado mortal requer pleno conhecimento e pleno consentimento. Pressupõe o
conhecimento do caráter pecaminoso do ato, de sua oposiço à lei de Deus. Envolve também
um consentimento suficientemente deliberado para ser uma escolha pessoal. A ignorância


afetada e o endurecimento do coraço não diminuem, antes aumentam, o caráter voluntário
do pecado.
1860 A ignorância involuntária pode diminuir ou até escusar a imputabilidade de uma
falta grave, mas supõe-se que ninguém ignora os princípios da lei moral inscritos na consciência
de todo ser humano. Os impulsos da sensibilidade, as paixões podem igualmente reduzir o
caráter voluntário e livre da falta, como também pressões exteriores e perturbaçes patológicas.
O pecado por malícia, por opço deliberada do mal, é o mais grave.
1861 O pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade humana, como o
próprio amor. Acarreta a perda da caridade e a privaço da graça santificante, isto é, do
estado de graça. Se este estado não for recuperado mediante o arrependimento e o perdão de
Deus, causa a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna no inferno, já que nossa liberdade
tem o poder de fazer opçes para sempre, sem regresso. No entanto, mesmo podendo julgar
que um ato é em si falta grave, devemos confiar o julgamento sobre as pessoas à justiça e à
misericórdia de Deus.
1862 Comete-se um pecado venial quando não se observa, em matéria leve, a medida
prescrita pela lei moral, ou então quando se desobedece à lei moral em matéria grave, mas sem
pleno conhecimento ou sem pleno consentimento.
1863 O pecado venial enfraquece a caridade; traduz uma afeiço desordenada pelos
bens criados; impede o progresso da alma no exercício das virtudes e a prática do bem moral;
merece penas temporais. O pecado venial deliberado e que fica sem arrependimento dispõe-
nos pouco a pouco a cometer o pecado mortal. Mas o pecado venial não quebra a aliança
com Deus. É humanamente reparável com a graça de Deus. "Não priva da graça santificante,
da amizade com Deus, da caridade nem, por conseguinte, da bem-aventurança eterna."
O homem não pode, enquanto está na carne, evitar todos os pecados, pelo menos os
pecados leves. Mas esses pecados que chama-mos leves, não os consideras insignificantes: se os
consideras insignificantes ao pesá-los, treme ao contá-los. Um grande número de objetos leves
faz uma grande massa; um grande número de gotas enche um rio; um grande número de grãos
faz um montão. Qual é então nossa esperança? Antes de tudo, a confissão...
1864 "Todo pecado, toda blasfêmia será perdoada aos homens, mas a blasfêmia contra
o Espírito não será perdoada" (Mt 12,31. Pelo contrário, quem a profere é culpado de um pecado
eterno. A misericórdia de Deus não tem limites, mas quem se recusa deliberadamente a acolher
a misericórdia de Deus pelo arrependimento rejeita o perdão de seus pecados e a salvaço
oferecida pelo Espírito Santo. Semelhante endurecimento pode levar à impenitência final e à
perdiço eterna.

V. A PROLIFERAÇO DO PECADO
1865 O pecado cria uma propensão ao pecado; gera o vício pela repetiço dos
mesmos atos. Disso resultam inclinaçes perversas que obscurecem a consciência e corrompem
a avaliaço concreta do bem e do mal. Assim, o pecado tende a reproduzir-se e a reforçar -se,
mas não consegue destruir o senso moral até a raiz.
1866 Os vícios podem ser classificados segundo as virtudes que contrariam, ou ainda
ligados aos pecados capitais que a experiência cristã distinguiu seguindo S. João Cassiano e S.
Gregório Magno. São chamados capitais porque geram outros pecados, outros vícios. São o
orgulho, a avareza, inveja, a ira, a impureza, a gula, a preguiça ou acídia.
1867 A tradiço catequética lembra também que existem “pecados que bradam ao
céu". Bradam ao céu o sangue de Abel, o pecado dos sodomitas; o clamor do povo oprimido no
Egito[a121] ; a queixa do estrangeiro, da viúva e do órfão; a injustiça contra o assalariado.
1868 O pecado é um ato pessoal. Além disso, temos responsabilidade nos pecados
cometidos por outros, quando neles cooperamos:


ü participando neles direta e voluntar iamente;
ü mandando, aconselhando, louvando ou aprovando esses pecados;
ü não os revelando ou não os impedindo, quando a somos obrigados;
ü protegendo os que fazem o mal.
1869 Assim, o pecado toma os homens cúmplices uns dos outros, faz reinar entre eles a
concupiscência, a violência e a injustiça. Os pecados provocam situaçes sociais e instituiçes
contrárias à bondade divina. As "estruturas de pecado" são a expressão e o efeito dos pecados
pessoais. Induzem suas vítimas a cometer, por sua vez, o mal. Em sentido analógico, constituem
um "pecado social".

RESUMINDO
1870 "Deus encerrou todos na desobediência, para a todos fazer misericórdia" (Rm 11,32).
1871 O pecado é "uma palavra, um ato ou um desejo contrário à lei eterna". É uma
ofensa a Deus. Insurge-se contra Deus numa desobediência contrária à obediência de Cristo.
1872 O pecado é um ato contrário à razão. Fere a natureza do homem e ofende a
solidariedade humana.
1873 A raiz de todos os pecados está no coraço do homem. As espécies e a gravidade
dos mesmos medem-se principalmente segundo seu objeto.
1874 Escolher deliberadamente, isto é, sabendo e querendo, uma coisa gravemente
contrária à lei divina e ao fim último do homem é cometer pecado mortal. Este destrói em nós a
caridade, sem a qual é impossível a bem-aventurança eterna. Caso não haja arrependimento, o
pecado mortal acarreta a morte eterna.
1875 O pecado venial constitui uma desordem moral reparável pela caridade, que ele
deixa subsistir em nós.
1876 A repetiço dos pecados, mesmo veniais, produz os vícios, entre os quais avultam
os pecados capitais.

A COMUNIDADE HUMANA

1877 A vocaço da humanidade consiste em manifestar a imagem de Deus e ser
transformada à imagem do Filho único do Pai. Esta vocaço implica uma dimensão pessoal, pois
cada um é chamado a entrar na Bem-Aventurança divina, mas concerne também ao conjunto
da comunidade humana.

ARTIGO I
A PESSOA E A SOCIEDADE

I. O CARÁTER COMUNITÁRIO DA VOCAÇO HUMANA
1878 Todos os homens são chamados ao mesmo fim, o próprio Deus. Existe certa
semelhança entre a unidade das pessoas divinas e a fraternidade que os homens devem
estabelecer entre si, na verdade e no amor. O amor ao próximo é inseparável do amor a Deus.
1879 A pessoa humana tem necessidade de vida social. Esta não constitui para ela algo
acrescentado, mas é uma exigência de sua natureza. Mediante o intercâmbio com os outros, a


reciprocidade dos serviços e o diálogo com seus irmãos, o homem desenvolve as próprias
virtualidades; responde, assim, à sua vocaço.
1880 Uma sociedade é um conjunto de pessoas ligadas de maneira orgânica por um
princípio de unidade que ultrapassa cada uma delas. Assembléia ao mesmo tempo visível e
espiritual, uma sociedade perdura no tempo; ela recolhe o passado e prepara o futuro. Por ela,
cada homem é constituído "herdeiro", recebe "talentos" que enriquecem sua identidade e com
os quais deve produzir frutos. Com justa razão, deve cada qual dedicar -se às comunidades de
que faz parte e respeitar as autoridades encarregadas do bem comum.
1881 Cada comunidade se define por seu fim e obedece, por conseguinte, a regras
específicas, mas "a pessoa humana é e deve ser o princípio, sujeito e fim de todas as instituiçes
sociais".
1882 Certas sociedades, como a família e a cidade, correspondem mais
imediatamente à natureza do homem. São-lhe necessárias. A fim de favorecer a participaço
do maior número na vida social, é preciso encorajar a criaço de associaçes e instituiçes de
livre escolha, "com fins econômicos, culturais, sociais, esportivos, recreativos, profissionais,
políticos, tanto no âmbito interno das comunidades políticas como no plano mundial". Esta
“socializaço" exprime, igualmente, a tendência natural que impele os seres humanos a se
associarem para atingir objetivos que ultrapassam as capacidades individuais. Desenvolve as
qualidades da pessoa, particularmente seu espírito de iniciativa e responsabilidade. Ajuda a
garantir seus direitos.
1883 A socializaço apresenta também perigos. Uma intervenço muito acentuada do
Estado pode ameaçar a liberdade e iniciativa pessoais. A doutrina da Igreja elaborou o
chamado princípio de subsidiariedade. Segundo este princípio, "uma sociedade de ordem
superior não deve interferir na vida interna de uma sociedade inferior, privando-a de suas
competências, mas deve, antes, apoiá-la em caso de necessidade e ajudá-la a coordenar sua
aço com as dos outros elementos que compõem a sociedade, tendo em vista o bem comum".
1884 Deus não quis reter só para si o exercício de todos os poderes. Confia a cada
criatura as funçes que esta é capaz de exercer, segundo as capacidades da própria natureza.
Este modo de governo deve ser imitado na vida social. O comportamento de Deus no governo
do mundo, que demonstra tão grande consideraço pela liberdade humana, deveria inspirar a
sabedoria dos que governam as comunidades humanas. Estes de-vem comportar -se como
ministros da providência divina.
1885 O princípio de subsidiariedade opõe-se a todas as formas de coletivismo; traça os
limites da intervenço do Estado; tem em vista harmonizar as relaçes entre os indivíduos e as
sociedades; tende a instaurar uma verdadeira ordem internacional.

II. A CONVERSÃO E A SOCIEDADE
1886 A sociedade é indispensável à realizaço da vocaço humana. Para alcançar este
objetivo, é necessário que seja respeitada a justa hierarquia dos valores que "subordina as
necessidades materiais e instintivas às interiores e espirituais.
A convivência humana deve ser considerada como realidade eminentemente espiritual,
intercomunicaço de conhecimentos à luz da verdade, exercício de direitos e cumprimentos de
deveres, incentivo e apelo aos bens morais, gozo comum do belo em todas as suas legítimas
expressões, disponibilidade permanente para comunicar a outrem o melhor de si mesmo e
aspiraço comum a um constante enriquecimento espiritual. Tais são os valores que devem
animar e orientar a atividade cultural, a vida econômica, a organizaço social, os movimentos e
os regimes políticos, a legislaço e todas as outras expressões da vida social em contínua
evoluço.
1887 A inversão dos meios e dos fins, que acaba por conferir valor de fim último àquilo que
não passa de meio para segui-lo, ou por considerar as pessoas como meros meios em vista de


um fim, produz estruturas injustas, que "tornam árdua e praticamente impossível uma conduta
cristã conforme mandamentos do Divino Legislador"
1888 É preciso, então, apelar às capacidades espirituais e morais da pessoa e à exigência
permanente de sua conversão interior, a fim de obter mudanças sociais que estejam realmente a
seu serviço. A prioridade reconhecida à conversão do coraço não elimina absolutamente,
antes impõe, a obrigaço de trazer instituiçes e às condiçes de vida, quando estas provocam
o pecado, o saneamento conveniente, para que sejam conformes às normas da justiça e
favoreçam o bem, em vez de pôr-lhe obstáculos.
1889 Sem o auxílio da graça, os homens seriam incapazes de "discernir a senda
freqüentemente estreita entre a covardia que cede ao mal e a violência que, na ilusão de o
estar combatendo, ainda o agrava mais". É o caminho da caridade, quer dizer, do amor a Deus
e ao próximo. A caridade representa o maior mandamento social. Respeita o outro e seus
direitos. Exige a prática da justiça, e só ela nos torna capazes de praticá-la. Inspira uma vida de
autodoaço: "Quem procurar ganhar sua vida vai perdê -la, e quem a perder vai conservá-la" (Lc
17,33).

RESUMINDO
1890 Existe certa semelhança entre a unidade das pessoas divinas e a fraternidade que
os homens devem estabelecer entre si.
1891 Para desenvolver-se em conformidade com sua natureza, em a pessoa humana
necessidade da vida social. Certas sociedades, como a família e a cidade, correspondem mais
imediata-mente à natureza do homem.
1892 "A pessoa humana é e deve ser o princípio, sujeito e fim de todas as instituiçes
sociais. É preciso fomentar uma ampla participaço em associaçes e instituiçes de livre
escolha.
1894 Segundo o princípio de subsidiariedade, nem o Estado nem qualquer outra
sociedade mais ampla devem substituir a iniciativa e a responsabilidade das pessoas e dos
órgãos intermediários.
1895 A sociedade deve favorecer o exercício das virtudes, não pôr-lhe obstáculos.
Deve inspirá-la uma justa hierarquia de valores.
1896 Onde o pecado perverte o clima social, é preciso apelar à conversão dos
coraçes e à graça de Deus. A caridade impele a justas reformas. Não existe soluço da
questão social fora do Evangelho.

ARTIGO 2
A PARTICIPAÇO NA VIDA SOCIAL

I. A AUTORIDADE
1897 "A sociedade humana não estará bem constituída nem será fecunda a não ser
que lhe presida uma autoridade legítima que salvaguarde as instituiçes e dedique o necessário
trabalho e esforço ao bem comum."
Chama-se "autoridade" a qualidade em virtude da qual pessoas ou instituiçes fazem leis e
dão ordens a homens, e esperam obediência da parte deles.
1898 Toda comunidade humana tem necessidade de uma autoridade que a dirija[a30]
. Tal autoridade encontra seu fundamento na natureza humana. É necessária à unidade da
cidade. Seu papel consiste em assegurar enquanto possível o bem comum da sociedade.


1899 A autoridade exigida pela ordem moral emana de Deus: "Todo homem se submeta
às autoridades constituídas, pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem
foram estabelecidas por Deus. De modo que aquele que se revolta contra a autoridade opõe-se
à ordem estabelecida por Deus. E os que se opõem atrairão sobre si a condenaço" (Rm l3,l-2).
1900 O dever da obediência impõe a todos prestar à autoridade as honras a ela
devidas e cercar de respeito e, conforme seu mérito de gratidão e benevolência as pessoas
investidas de autoridade.
Deve-se ao papa S. Clemente de Roma a mais antiga oraço Igreja pela autoridade
política:
"Concedei-lhes, Senhor, a saúde, a paz, a concórdia, a estabilidade para que exerçam
sem entraves a soberania que lhes concedestes. Sois vós, Mestre, rei celeste dos séculos, quem
dá aos filhos dos homens glória, honra e poder sobre as coisas da terra. Dirigi, Senhor, seu
conselho segundo o que é bom, segundo o que é agradável a vossos olhos, a fim de que,
exercendo com piedade, na paz e mansidão, o poder que lhes destes, Nos encontrem propício.
1901 Se, por um lado, a autoridade remete a uma ordem fixada por Deus, por outro, são
entregues à livre vontade dos cidadãos a escolha do regime e a designaço dos governantes.
1902 A diversidade dos regimes políticos é moralmente admissível, contanto que
concorram para o bem legítimo da comunidade que os adota. Os regimes cuja natureza é
contrária à lei natural, à ordem pública e aos direitos fundamentais das pessoas não podem
realizar o bem comum das naçes às quais são impostos. A autoridade não adquire de si mesma
sua legitimidade moral. Não deve comportar -se de maneira despótica, mas agir para o bem
comum, como uma "força moral fundada na liberdade e no senso de responsabilidade":
A legislaço humana não goza do caráter de lei senão na medida em que se conforma à
justa razão; de onde se vê que ela recebe seu vigor da lei eterna. Na medida em que ela se
afastasse da razão seria necessário declará-la injusta, pois não realizaria a noço de lei; seria
antes uma forma de violência.
1903 A autoridade só será exercida legitimamente se procurar o bem comum do grupo
em questão e se, para atingi-lo empregar meios moralmente lícitos. Se acontecer de os dirigentes
promulgarem leis injustas ou tomarem medidas contrárias à ordem moral, estas disposiçes não
poderão obrigar as consciências. "Neste caso, a própria autoridade deixa de existir degenerando
em abuso do poder."
1904 "É preferível que cada poder seja equilibrado por outros poderes e outras esferas
de competência que o mantenham em seu justo limite. Este e o principio do 'estado de direito',
no qual é soberana a lei, e não a vontade arbitrária dos homens."

II. O BEM COMUM
1905 Em conformidade com a natureza social do homem, o bem de cada um está
necessariamente relacionado com o bem comum. Este só pode ser definido em referência à
pessoa humana:
Não vivais isolados, retirados em vós mesmos como se já estivésseis justificados, mas já
estivésseis justificados, mas reuni-vos para procurar juntos o que é o interesse comum.
1906 Por bem comum é preciso entender "o conjunto daquelas condiçes da vida
social que permitem aos grupos e a cada um de seus membros atingirem de maneira mais
completa e desembaraçadamente a própria perfeiço. O bem comum interessa à vida de
todos. Exige a prudência da parte de cada um e mais ainda da parte dos que exercem a
autoridade. Comporta ele três elementos essenciais.
1907 Supõe, em primeiro lugar, o respeito pela pessoa como tal. Em nome do bem
comum, os poderes públicos são obrigados a respeitar os direitos fundamentais e inalienáveis da
pessoa humana. A Sociedade é obrigada a Permitir que cada um de seus membros realize sua


vocaço. Em particular, o bem comum consiste nas condiçes para exercer as liberdades
naturais indispensáveis ao desabrochar da vocaço humana: "Tais são o direito de agir segundo
a norma reta de sua consciência, o direito á proteço da vida particular e à justa liberdade,
também em matéria religiosa".
1908 Em segundo lugar, o bem comum exige o bem-estar social e o desenvolvimento do
próprio grupo o desenvolvimento é o resumo de todos os deveres sociais. E claro, cabe à
autoridade servir de árbitro, em nome do bem comum, entre os diversos interesses particulares.
Mas ela deve tornar acessível a cada um aquilo de que precisa para levar uma vida
verdadeiramente humana: alimento, vestuário, saúde, trabalho, educaço e cultura, informaço
conveniente, direito de fundar um lar etc.
1909 Por fim, o bem comum envolve a paz, isto é, uma ordem justa duradoura e segura.
Supõe, portanto, que a autoridade assegure, por meios honestos, a segurança da sociedade e a
de seus membros, fundamentando o direito à legítima defesa pessoal e coletiva.
1910 Se cada comunidade humana possui um bem comum que lhe permite reconhecer-
se como tal, é na comunidade política que encontramos sua realizaço mais completa. Cabe
ao Estado defender e promover o bem comum da sociedade civil, dos cidadãos e dos
organismos intermediários.
1911 As dependências humanas se intensificam. Estendem-se aos poucos à terra inteira.
A unidade da família humana, reunindo seres que gozam de uma dignidade natural igual,
implica um bem comum universal. Este exige uma organizaço da comunidade das naçes
capaz de "atender às várias necessidades dos homens, tanto no campo da vida social
(alimentaço, saúde, educaço...) como em certas condiçes particulares que podem surgir cá
ou lá, tais como a necessidade (...) de acudir aos sofrimentos dos refugiados (...),ou de ajudar os
emigrantes e suas famílias”.
1912 O bem comum está sempre orientado ao progresso das pessoas: "A organizaço
das coisas deve subordinar-se à ordem das pessoas e não ao contrário”. Esta ordem tem por
base a verdade, edifica-se na justiça, é vivificada pelo amor.

III. RESPONSABILIDADE E PARTICIPAÇO
1913 A participaço é o envolvimento voluntário e generoso da pessoa nas relaçes
sociais. É necessário que todos participem cada um conforme o lugar que ocupa e o papel que
desempenha, na promoço do bem comum. Este dever é inerente à dignidade da pessoa
humana.
1914 A participaço se realiza, antes de tudo, assumindo os setores pelos quais se tem a
responsabilidade pessoal: pelo cuidado na educaço da prole, por um trabalho consciencioso,
o homem participa no bem dos outros e da sociedade.
1915 Os cidadãos devem, na medida do possível, tomar parte ativa na vida pública. As
modalidades de tal participaço podem variar de um pais para outro ou de uma cultura para
outra. "Deve-se louvar a maneira de proceder daquelas naçes em que a maior parte dos
cidadãos, com autêntica liberdade, participa da vida pública."
1916 A participaço de todos na realizaço do bem comum implica, como todo dever
ético, uma conversão sempre renovada dos parceiros sociais. A fraude e outros subterfúgios
pelos quais alguns escapam às malhas da lei e às prescriçes do dever social devem ser
firmemente condenados, por serem incompatíveis com as exigências da justiça. É necessário
ocupar -se do florescimento das instituiçes que possam melhorar as condiçes da vida humana.
1917 Cabe aos que exercem a funço de autoridade fortalecer os valores que atraem a
confiança dos membros do grupo e os incitam a se colocar a serviço dos semelhantes. A
participaço começa pela educaço e pela cultura. "Podemos pensar com razão em depositar


o futuro da humanidade nas mãos daqueles que são capazes de transmitir às geraçes do
amanhã razões de viver e de esperar."

RESUMINDO
1918 “Não há autoridade que não venha de Deus, e as existentes foram instituídas por
Deus" (Rm 13,1).
1919 Toda comunidade humana tem necessidade de uma autoridade para se manter e
desenvolver.
1920 "É evidente que a comunidade política e a autoridade pública se fundamentam na
natureza humana, e por isso pertencem à ordem predeterminada por Deus."
1921 A autoridade é exercida de maneira legítima se estiver ligada à busca do bem
comum da sociedade. Para atingi-lo, deve utilizar meios moralmente aceitáveis.
1922 É legítima a diversidade dos regimes políticos, contanto que concorram para o bem
da comunidade.
1923 A autoridade política deve desenvolver-se dentro dos limites da ordem moral e
garantir as condiçes para o exercício da liberdade.
1924 O bem comum compreende "o conjunto daquelas condiçes da vida social que
permitem aos grupos e a cada um de seus membros atingirem de maneira mais completa e
desembaraçadamente a própria perfeiço"
1925 O bem comum comporta três elementos essenciais: o respeito e a promoço dos
direitos fundamentais da pessoa; a prosperidade ou o desenvolvimento dos bens espirituais e
temporais da sociedade; a paz e a segurança do grupo e de seus membros.
1926 A dignidade da pessoa humana implica a procura do bem comum. Cada pessoa
deve preocupar -se em suscitar e conservar as instituiçes que aprimoram as condiçes da vida
humana.
1927 Cabe ao Estado defender e promover o bem comum da sociedade civil. O bem
comum de toda a família humana pede uma organizaço da sociedade internacional.

ARTIGO 3
A JUSTIÇA SOCIAL

1928 A sociedade garante a justiça social quando realiza as condiçes que permitem às
associaçes e a cada membro seu obter o que lhes é devido conforme sua natureza e sua
vocaço. A justiça social está ligada ao bem comum e ao exercício da autoridade.

I. O RESPEITO À PESSOA HUMANA
1929 Só se pode conseguir a justiça social no respeito à dignidade transcendente do
homem. A pessoa representa o fim último da sociedade, que por sua vez lhe está ordenada.
A defesa e a promoço da dignidade da pessoa humana nos foram confiadas pelo
Criador. Em todas as circunstâncias da história, os homens e as mulheres são rigorosamente
responsáveis e obrigados a esse dever.
1930 O respeito à pessoa humana implica que se respeitem os direitos que decorrem de
sua dignidade de criatura. Esses direitos são anteriores à sociedade e se lhe impõem. São eles
que fundam a legitimidade moral de toda autoridade; conculcando-os ou recusando-se a
reconhecê-los em sua lei positiva, uma sociedade mina sua própria legitimidade moral. Sem esse


respeito, uma autoridade só pode apoiar-se na força ou na violência para obter a obediência
de seus súditos. Cabe à Igreja lembrar esses direitos aos homens de boa vontade e distingui -los
das reivindicaçes abusivas ou falsas.
1931 O respeito pela pessoa humana passa pelo respeito deste princípio: "Que cada um
respeite o próximo, sem exceço, como 'outro eu', levando em consideraço antes de tudo sua
vida e os meios necessários para mantê-la dignamente". Nenhuma lei seria capaz, por si só, de
fazer desaparecer os temores, os preconceitos, as atitudes de orgulho e egoísmo que constituem
obstáculos para o estabelecimento de sociedades verdadeiramente fraternas. Esses
comportamentos só podem cessar com a caridade, que vê em cada homem um "próximo", um
irmão.
1932 O dever de tomar-se o próximo do outro e servi-lo ativamente se torna ainda mais
urgente quando este se acha mais carente, em qualquer setor que seja. "Todas as vezes que
fizestes a um destes meus irmãos menores, a mim o fizestes" (Mt 25,40).
1933 Este mesmo dever se estende àqueles que pensam ou agem diferentemente de
nós. A doutrina de Cristo vai até o ponto de exigir o perdão das ofensas. Estende o mandamento
do amor, que é o da nova lei, a todos os inimigos. A libertaço no espírito do Evangelho é
incompatível com o ódio ao inimigo, como pessoas mas não com o ódio ao mal que este
pratica, como inimigo.

II. IGUALDADE E DIFERENÇAS ENTRE OS HOMENS
1934 Criados à imagem do Deus único, dotados de uma mesma alma racional, todos os
homens têm a mesma natureza e a mesma origem. Resgatados pelo sacrifício de Cristo, todos
são convidados a participar na mesma felicidade divina; todos gozam, portanto, de igual
dignidade.
1935 A igualdade entre os homens diz respeito essencialmente à sua dignidade pessoal
e aos direitos que daí decorrem.
Qualquer forma de discriminaço nos direitos fundamentais da pessoa, seja (essa
discriminaço) social ou cultural, ou que se fundamente no sexo, na raça, na cor, na condiço
social, na língua ou na religião deve ser superada e eliminada, porque contrária ao plano de
Deus[a79] .
1936 Quando nasce, o homem não dispõe de tudo aquilo que é necessário ao
desenvolvimento de sua vida corporal e espiritual. Precisa dos outros. Aparecem diferenças
ligadas à idade, às capacidades físicas, às aptidões intelectuais ou morais, aos intercâmbios de
que cada um pôde se beneficiar, à distribuiço das riquezas. Os "talentos" não são distribuídos de
maneira igual.
1937 Essas diferenças pertencem ao plano de Deus; Ele quer que cada um receba do
outro aquilo que precisa e que os que dispõem de "talentos" específicos comuniquem seus
benefícios aos que deles precisam. As diferenças estimulam e muitas vezes obrigam as pessoas à
magnanimidade, à benevolência e à partilha; (essas diferenças) motivam as culturas a se
enriquecerem urnas às outras.
Eu não dou todas as virtudes na mesma medida a cada um (...) Existem virtudes que eu
distribuo desta maneira, ora a um ora a outro. (...) A este a caridade; a outro a justiça; a este a
humildade, àquele uma fé viva. (...) Distribuí muitas graças e virtudes, espirituais e temporais, com
tal diversidade que a ninguém por si só concedi todo o necessário, para serdes obrigados a usar
de caridade uns para com os outros. (...) Quis que todos tivessem necessidade uns dos outros e
fossem meus ministros na distribuiço das graças e liberalidades que de mim receberam.
1938 Existem também desigualdades iníquas que atingem milhões de homens e mulheres
e se acham em contradiço aberta com o Evangelho:


A igual dignidade das pessoas postula que se chegue a condiçes de vida mais justas e
mais humanas. Pois as excessivas desigualdades econômicas e sociais entre os membros e povos
da única família humana provocam escândalo e são contrárias à justiça social, à eqüidade, à
dignidade da pessoa humana e à paz social e internacional.

III. A SOLIDARIEDADE HUMANA
1939 O princípio da solidariedade, enunciado ainda sob o nome de ou "caridade
social'', é uma exigência direta da fraternidade humana e cristã:
Um erro, "hoje amplamente difundido, é o esquecimento desta lei da solidariedade
humana e da caridade, ditada e imposta tanto pela comunidade de origem e pela igualdade
da natureza racional em todos os homens, seja qual for o povo a que pertençam, como também
pelo sacrifício redentor oferecido por Jesus Cristo no altar da cruz a seu Pai celeste, em prol da
humanidade pecadora”
1940 A solidariedade se manifesta antes de mais nada na distribuiço dos bens e na
remuneraço do trabalho. Supõe também o esforço em favor de uma ordem social mais justa,
na qual as tensões possam ser mais bem resolvidas e os conflitos encontrem mais facilmente sua
soluço por consenso.
1941 Os problemas sócio econômicos só podem ser resolvidos com o auxílio de todas as
formas de solidariedade: solidariedade dos pobres entre si, dos ricos e dos pobres, dos
trabalhadores entre si, dos empregadores e dos empregados na empresa, solidariedade entre as
naçes e entre os povos. A solidariedade internacional é uma exigência de ordem moral. Em
parte, é da solidariedade que depende a paz mundial.
1942 A virtude da solidariedade vai além dos bens materiais. Difundindo os bens
espirituais da fé, a Igreja favoreceu também o desenvolvimento dos bens temporais, aos quais
muitas vezes abriu novos caminhos. Assim foi-se verificando, ao longo dos séculos, a palavra do
Senhor: "Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas serão
acrescentadas" (Mt 6,33):
Há dois mil anos vive e persevera na alma da Igreja este sentimento que levou e ainda
leva as almas ao heroísmo caritativo dos monges agricultores, dos libertadores de escravos, dos
tratam dos enfermos, dos mensageiros de fé, de civilizaço, ciência a todas as geraçes e a
todos os povos, em vista de criar condiçes sociais capazes de possibilitar a todos uma vida
digna do homem e do cristão.

RESUMINDO
1943 A sociedade garante a justiça social realizando as condiçes que permitam às
associaçes e a cada um obter o que lhes é devido.
1944 O respeito pela pessoa humana considera o outro como um "outro eu mesmo".
Supõe o respeito pelos direitos fundamentais que decorrem da dignidade intrínseca da pessoa.
1945 A igualdade entre os homens assenta sobre sua dignidade pessoal e sobre os
direitos que daí decorrem.
1946 As diferenças entre as pessoas pertencem ao plano de Deus, o qual quer que
todos nós tenhamos necessidade uns dos outros. Essas diferenças devem estimular a caridade.
1947 A dignidade igual das pessoas humanas exige o esforço para reduzir as
desigualdades sociais e econômicas excessivas e leva ao desaparecimento das desigualdades
iníquas.
1948 A solidariedade é uma virtude eminentemente cristã que pratica a partilha dos
bens espirituais mais ainda que dos materiais.



CAPÍTULO III.
A SALVAÇO DE DEUS: A LEI E A GRAÇA

1949 Chamado à felicidade, mas ferido pelo pecado, o homem tem necessidade da
salvaço de Deus. O socorro divino lhe é dado, em Cristo, pela lei que o dirige e na graça que o
sustenta:
Trabalhai para vossa salvaço com temor e tremor, pois é Deus quem, segundo a sua
vontade, realiza em vós o querer e o fazer (Fl 2,12-13).

ARTIGO I
A LEI MORAL

1950 A lei moral é obra da Sabedoria divina. Pode -se definir a lei moral, no sentido
bíblico, como uma instruço paterna, uma pedagogia divina. Ela prescreve ao homem os
caminhos, as regras de comportamento que levam à felicidade prometida; proscreve os
caminhos do mal, que desviam de Deus e de seu amor. E ao mesmo tempo firme em seus
preceitos e amorosa em suas promessas.
1951 A lei é uma regra de comportamento promulgada pela autoridade competente
em vista do bem comum. A lei moral supõe a ordem racional estabelecida entre as criaturas,
para seu bem e em vista de seu fim, pelo poder, pela sabedoria e pela bondade do Criador.
Toda lei encontra na lei eterna sua verdade primeira e última. A lei é revelada e estabelecida
pela razão como una participaço na providência do Deus vivo, Criador e Redentor de todos. "A
esta ordenaço da razão dá-se o nome de lei":
Apenas o homem, entre todos os seres vivos, pode gloriar-se de ter sido digno de receber
de Deus uma lei. Animal dotado de razão, capaz de entendimento e discernimento, regulará sua
conduta dispondo de liberdade e de razão, na submissão àquele que tudo lhe confiou.
1952 As expressões da lei moral variam muito, e todas se acham coordenadas entre si: a
lei eterna, fonte, em Deus, de todas as leis; a lei natural; a lei revelada, compreendendo a Lei
Antiga e a Nova Lei (ou Lei evangélica); enfim, as leis civis e eclesiásticas.
1953 A lei moral encontra em Cristo sua plenitude e sua unidade. Jesus Cristo em pessoa
é o caminho da perfeiço. Ele é o fim da lei, pois só ele ensina e dá a justiça de Deus. "Porque a
finalidade da lei é Cristo, para a justificaço de todo o que crê" (Rm 10,4).

I. A LEI MORAL NATURAL
1954 O homem participa da sabedoria e da bondade do Cria-dor, que lhe confere o
domínio de seus atos e a capacidade de se governar em vista da verdade e do bem. A lei
natural ex-prime o sentido moral original, que permite ao homem discernir, pela razão, o que é o
bem e o mal, a verdade e a mentira.
A lei natural se acha escrita e gravada na alma de todos e de cada um dos homens,
porque ela é a razão humana ordenando fazer o bem e proibindo pecar. (...) Mas esta
prescriço da razão não poderia ter força de lei se não fosse a voz e o intérprete de uma razão
mais alta, à qual nosso espírito e nossa liberdade devem submeter-se.
1955 A lei "divina e natural" mostra ao homem o caminho a seguir para praticar o bem e
atingir seu fim. A lei natural enuncia os preceitos primeiros e essenciais que regem a vida moral.
Tem como esteio a aspiraço e a submissão a Deus, fonte e juiz de todo bem, assim como sentir


o outro como igual a si mesmo. Está exposta, em seus principais preceitos, no Decálogo. Essa lei é
denominada natural não em referência à natureza dos seres irracionais, mas porque a razão que
a promulga pertence, como algo próprio, à natureza humana:
Onde é, então, que se acham inscritas estas regras, senão no livro desta luz que se chama
a verdade? Aí está escrita toda a lei justa, dali ela passa para o coraço do homem que cumpre
a justiça, não que emigre para ele, mas sim deixando ai a sua marca, à maneira de um sinete
que de um anel passa para a cera, mas sem deixar o anel.
lei natural outra coisa não é senão a luz da inteligência posta em nós por Deus. Por ela,
conhecemos o que se deve fazer e o que se deve evitar. Esta luz ou esta lei, deu-a Deus a
criaço.
1956 Presente no coraço de cada homem e estabelecida pela razão, a lei natural é
universal em seus preceitos, e sua autoridade se estende a todos os homens. Ela exprime a
dignidade da pessoa e determina a base de seus direitos e de seus deveres fundamentais:
Existe, sem dúvida, uma verdadeira lei: é a reta razão. Conforme à natureza, difundida em
todos os homens, ela é imutável e eterna; suas ordens chamam ao dever; suas proibiçes
afastam do pecado. (...) E um sacrilégio substituí-la por uma lei contrária; é proibido não aplicar
uma de suas disposiçes; quanto a ab-rogá4a inteiramente, ninguém tem a possibilidade de
fazê-lo.
1957 A aplicaço da lei natural varia muito. Pode exigir uma reflexão adaptada à
multiplicidade das condiçes de vida, conforme os lugares, as épocas e as circunstâncias.
Todavia, na diversidade das culturas, a lei natural permanece como uma regra que liga entre si
os homens e lhes impõe, para além das inevitáveis diferenças, princípios comuns.
1958 A lei natural é imutável e permanente através das varias açes da história; ela
subsiste sob o fluxo das idéias e dos costumes e constitui a base para seu progresso. As regras que
a exprimem permanecem substancialmente válidas. Mesmo que alguém negue até os seus
princípios, não é possível destruí-la nem arrancá-la do coraço do homem. Sempre torna a
ressurgir na vida dos indivíduos e das sociedades:
O roubo é certamente punido por vossa lei, Senhor, e pela lei escrita no coraço do
homem, (lei) que nem mesmo a iniqüidade consegue apagar.
1959 Obra excelente do Criador, a lei natural fornece os fundamentos sólidos sobre os
quais pode o homem construir o edifício das regras morais que orientarão suas opçes. Ela
assenta igualmente a base moral indispensável para a construço da comunidade dos homens.
Proporciona, enfim, a base necessária à lei civil que se relaciona com ela, seja por uma reflexão
que tira as conclusões de seus princípios, seja por adiçes de natureza positiva e jurídica.
1960 Os preceitos da lei natural não são percebidos por todos de maneira clara e
imediata. Na atual situaço, a graça e a revelaço nos são necessárias, como pecadores que
somos, para que as verdades religiosas e morais possam ser conhecidas "por todos e sem
dificuldade, com firme certeza e sem mistura de erro". A lei natural propicia à lei revelada e à
graça um fundamento preparado por Deus e em concordância com a obra do Espírito.

II. A LEI ANTIGA
1961 Deus, nosso criador e nosso redentor, escolheu para si Israel como seu povo e lhe
revelou sua Lei, preparando, assim, a vinda de Cristo. A Lei de Moisés exprime diversas verdades
naturalmente acessíveis à razão. Estas se acham declaradas e autenticadas no interior da
aliança da salvaço.
1962 A Lei Antiga é o primeiro estágio da Lei revelaço. Suas prescriçes morais estão
resumidas nos Dez Mandamentos. Os preceitos do Decálogo assentam as bases da vocaço do
homem, feito à imagem de Deus; proíbem aquilo que é contrário ao amor de Deus e do próximo


e prescrevem o que lhe é essencial. O Decálogo é uma luz oferecida à consciência de todo
homem, para lhe manifestar o chamamento e os caminhos de Deus e protegê-lo do mal:
Deus escreveu nas tábuas da lei aquilo que os homens não conseguiam ler em seus
coraçes.
1963 Segundo tradiço cristã, a lei santa, espiritual e boa ainda é imperfeita. Como um
pedagogo, ela mostra o que se deve fazer, mas não dá por si mesma a força, a graça do Espírito
para cumpri-la. Por causa do pecado que não pode tirar, é ainda uma lei de servidão. Conforme
S. Paulo, ela tem principalmente como funço denunciar e manifestar o pecado que forma uma
"lei de concupiscência” no coraço do homem. No entanto, a lei permanece como a primeira
etapa no caminho do Reino. Prepara e dispõe o povo eleito e cada cristão à conversão e à fé
no Deus salvador. Oferece um ensinamento que subsiste para todo o sempre, como a Palavra de
Deus.
1964 A Lei Antiga é uma preparaço para o Evangelho. "A lei é profecia e pedagogia
das realidades futuras.” Profetiza e pressagia a obra da libertaço do pecado, que se realizará
com Cristo, e fornece ao Novo Testamento as imagens, os "tipos", os símbolos, para exprimir a
vida segundo o Espírito. A Lei se completa, enfim, pelo ensinamento dos livros sapienciais e dos
profetas que a Orientam para a nova aliança e o Reino dos Céus.
Houve (...), sob o regime da Antiga Aliança, pessoas que possuíam a caridade e a graça
do Espírito Santo e aspiravam sobretudo às promessas espirituais e eternas, e deste modo se
ligavam à nova lei. Inversamente, existem também sob a nova aliança homens carnais, ainda
longe da perfeiço da nova Lei. Para os estimular às obras virtuosas, foram necessários o temor
do castigo e diversas promessas temporais, até sob a Nova Aliança. Em todo caso, mesmo que a
Lei Antiga prescreves se a caridade, ela não dava o Espírito Santo pelo qual "o amor de Deus
derramado em nossos coraçes" (Rm 5,5).

III. A NOVA LEI OU LEI EVANGÉLICA
1965 A Nova Lei ou Lei evangélica é a perfeiço, na terra, da lei divina, natural e
revelada. Ela é a obra do Cristo e se exprime particularmente no Sermão da Montanha. E
também obra do Espírito Santo e, por ele, vem a ser a lei interior da caridade: "Concluirei com a
casa de Israel uma nova aliança. (...) Colocarei minhas leis em sua mente e as inscreverei em seu
coraço; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo" (Hb 8,8.10).
1966 A Nova Lei é a graça do Espírito Santo dada aos fiéis pela fé em Cristo. É operante
pela caridade, serve-se do Sermão do Senhor para nos ensinar o que é preciso fazer e dos
sacramentos para nos comunicar a graça de fazê-lo.
Aquele que quiser meditar com piedade e perspicácia o Sermão que Nosso Senhor
pronunciou no monte, tal como o lemos no Evangelho de São Mateus, aí encontrará, sem
sombra de dúvida, a carta magna da vida cristã. (...) Este Sermão contém todos os preceitos
apropriados para guiar a vida cristã.
1967 A Lei evangélica "dá pleno cumprimento" à Lei Antiga, afina-a, ultrapassa-a e
aperfeiçoa-a. Nas "bem-aventuranças”, ela realiza plenamente as promessas divinas, elevando-
as e ordenando-as ao "Reino dos Céus". Dirige-se àqueles que se mostram dispostos a acolher
com fé esta esperança nova - os pobres, os humildes, os aflitos, os de coraço puro, os
perseguidos por causa de Cristo -, traçando assim os surpreendentes caminhos do Reino.
1968 A Lei evangélica dá pleno cumprimento aos mandamentos da Lei. O Sermão do
Senhor, longe de abolir ou desvalorizar as prescriçes morais da Lei Antiga, dela haure as
virtualidades ocultas, faz surgir novas exigências e revela sua verdade divina e humana. Não lhe
acrescenta novos preceitos exteriores, mas vai até o ponto de reformar a raiz dos atos, o
coraço, onde o homem faz a opço entre o puro e o impuro, onde se formam a fé, a
esperança e a caridade e, com elas, as outras virtudes. O Evangelho, deste modo, leva a lei à


plenitude, imitando a perfeiço do Pai celeste, pelo perdão dos inimigos e pela oraço pelos
perseguidores, seguindo o modelo da divina generosidade.
1969 A Nova Lei pratica os atos da religião - a esmola, a oraço e o jejum -, ordenando-
os ao "Pai que vê no segredo", em contraste com o desejo "de ser visto pelos homens". Sua
oraço é o “Pai-Nosso.”
1970 A Lei evangélica comporta a opço decisiva entre "os dois caminhos" e a prática
das palavras do Senhor; r esume-se na regra de ouro: "Tudo aquilo, portanto, que quereis que os
homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a lei e os profetas" (Mt 7,12).
Toda a Lei evangélica se compendia no "mandamento novo" de Jesus, de nos amarmos
uns aos outros como Ele nos amou.
1971 Ao sermão do Senhor convém acrescentar a catequese moral dos ensinamentos
apostólicos, como Rm 12-15; 1 Cor 12-13; Cl 3-4; Ef 4-6 etc. Esta doutrina transmite o ensinamento
do Senhor com a autoridade dos Apóstolos, particularmente pela exposiço das virtudes que
decorrem da fé em Cristo e são animadas pela caridade, o principal dom do Espírito Santo. "Que
vosso amor seja sem hipocrisia (...) com amor fraterno, tendo carinho uns para com os outros (...)
alegrando-vos na esperança, perseverando na tribulaço, assíduos na oraço, tomando parte
nas necessidades dos santos, buscando proporcionar a hospitalidade" (Rm 12,9-13). Esta
catequese também nos ensina a tratar os casos de consciência à luz de nossa relaço com
Cristo e a Igreja.
1972 A Nova Lei é também denominada lei de amor, porque ela leva a agir pelo amor
infundido pelo Espírito Santo e não pelo temor; uma lei de graça, por conferir a força da graça
para agir por meio da fé e dos sacramentos; uma lei de liberdade, pois nos liberta das
observância rituais e jurídicas da Antiga Lei, nos inclina a agir espontaneamente sob o impulso da
caridade, enfim, nos faz passar do estado de servo, não sabe o que seu senhor faz”, para o de
amigo de Cristo, “porque tudo o que eu ouvi de meu Pai eu vos dei a conhecer (Jo 15,15), ou
ainda para o de filho-herdeiro.
1973 Além de seus preceitos, a Nova Lei comporta também os conselhos evangélicos. A
distinço tradicional entre os mandamentos de Deus e os conselhos evangélicos se estabelece
em relação à caridade, perfeiço da vida cristã. Os preceitos se destinam a afastar tudo o que é
incompatível com a caridade. Os conselhos têm como meta afastar o que, mesmo sem lhe ser
contrário, pode constituir um obstáculo para o desenvolvimento da caridade.
1974 Os conselhos evangélicos manifestam a plenitude viva da caridade que jamais se
mostra satisfeita, por não poder dar mais. Atestam seu dinamismo e solicitam nossa prontidão
espiritual. A perfeiço da Nova Lei consiste essencialmente preceitos do amor a Deus e ao
próximo. Os conselhos indicam caminhos mais diretos, meios mais fáceis, e devem ser praticados
conforme a vocaço de cada um:
(Deus) não quer que cada pessoa observe todos os conselhos mas apenas aqueles que
são convenientes, conforme a diversidade das pessoas, dos tempos, das ocasiões e das forças,
com o exige a caridade; pois ela, como a rainha de todas as virtudes, de todos os
mandamentos, de todos os conselhos, em suma, de todas as leis e de todas as açes cristãs, a
todos e todas dá seu grau, sua ordem, o tempo e o valor.

RESUMINDO
1975 Segundo a Escritura, a lei é uma instruço paterna de Deus que prescreve ao
homem os caminhos que levam à felicidade prometida e proscreve os caminhos do mal.
1976 "A lei é uma ordenaço da razão para o bem comum, promulgada por aquele a
quem cabe o governo da comunidade"
1977 Cristo é a finalidade da 1ei. Somente Ele ensina e concede a justiça de Deus.


1978 A lei natural é uma participaço na sabedoria e na bondade de Deus, pelo
homem formado à imagem de seu criador. A lei natural exprime a dignidade da pessoa humana
e constitui a base de seus direitos e deveres fundamentais.
1979 A lei natural é imutável, permanente através da história. As regras que a exprimem
são substancialmente sempre válidas. Ela é uma base necessária para a edificaço das regras
morais e para a lei civil.
1980 A Antiga Lei é o primeiro estágio da Lei revelada. Suas prescriçes morais se acham
resumidas nos Dez Mandamentos.
1981 A Lei de Moisés contém diversas verdades naturalmente acessíveis à razão. Deus as
revelou porque os homens não as conseguiam ler em seu coraço.
1982 A Antiga Lei é uma preparaço para o Evangelho.
1983 A Nova Lei é a graça do Espírito Santo, recebida pela fé em Cristo, operando pela
caridade. Exprime-se particularmente no Sermão do Senhor na montanha e usa os sacramentos
para comunicar -nos a graça.
1984 A Lei evangélica leva a pleno cumprimento, ultrapassa e conduz à perfeiço a
Antiga Lei: suas promessas, por meio das Bem-Aventuranças do Reino dos Céus; seus
mandamentos, por meio da transformaço da fonte de suas açes, ou seja, o coraço.
1985 A Nova Lei é uma lei de amor, uma lei de graça, uma lei de liberdade.
1986 Além de seus preceitos, a Nova Lei comporta os conselhos evangélicos. "De modo
especial favorecem igualmente a santidade da Igreja os múltiplos conselhos que no Evangelho
Senhor propõe à observância de seus discípulos.”

ARTIGO 2
GRAÇA E JUSTIFICAÇO

I. A JUSTIFICAÇO
1987 A graça do Espírito Santo tem o poder de nos justificar, isto é, purificar-nos de nossos
pecados e comunicar -nos “a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo e pelo batismo.
Mas, se morremos com Cristo, temos fé de que também viveremos com Ele, sabendo que
Cristo, uma vez ressuscitado dentre os mortos, já não morre, a morte não tem mais domínio sobre
Ele. Porque, morrendo, Ele morreu para o pecado uma vez por todas; vivendo, Ele vive para
Deus. Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus
(Rm 6,8-11).
1988 Pelo poder do Espírito Santo, participamos da Paixão de Cristo, morrendo para o
pecado, e da ressurreiço, nascendo para uma vida nova; somos os membros de seu Corpo,
que é a Igreja , os sarmentos enxertados na Videira, que é Ele mesmo:
Pelo Espírito, temos parte com Deus. (...) Pela participaço Espírito, nós nos tornamos
participantes da natureza divina. (...) Por isso, aqueles em quem o Espírito habita são divinizados.
1989 A primeira obra da graça do Espírito Santo é a conversão que opera a justificaço
segundo o anúncio de Jesus no princípio do Evangelho: "Arrependei-vos (convertei-vos), porque
está próximo o Reino dos Céus" (Mt 4,17). Sob a moço da graça, o homem se volta para Deus e
se aparta do pecado, acolhendo, assim, o perdão e a justiça do alto. "A justificaço comporta a
remissão dos pecados, a santificaço e a renovaço do homem interior.”
1990 A justificaço aparta o homem do pecado, que contradiz o amor de Deus, e lhe
purifica o coraço. A justificaço ocorre graças à iniciativa da misericórdia de Deus, que oferece


o perdão. A justificaço reconcilia o homem com Deus; liberta-o da servidão do pecado e o
cura.
1991 A justificaço é, ao mesmo tempo, o acolhimento da justiça de Deus pela fé em
Jesus Cristo. A justiça designa aqui a retidão do amor divino. Com a justificaço, a fé, a
esperança e a caridade se derramam em nossos coraçes e é-nos concedida a obediência à
vontade divina.
1992 A justificaço nos foi merecida pela paixão de Cristo, que se ofereceu na cruz
como hóstia viva, santa e agradável a Deus, e cujo sangue se tornou instrumento de propiciaço
pelos pecados de toda a humanidade. A justificaço é concedida pelo Batismo, sacramento da
fé. Toma-nos conformes à justiça de Deus, que nos faz interiormente justos pelo poder de sua
misericórdia. Tem como alvo a glória de Deus e de Cristo, e o dom da vida eterna:
Agora, porém, independentemente da lei, se manifestou a justiça de Deus, testemunhada
pela lei e pelos profetas, justiça de Deus que opera pela fé em Jesus Cristo, em favor de todos os
que crêem pois não há diferença, sendo que todos pecaram e todos estão privados da glória de
Deus e são justificados gratuitamente, por sua graça, em virtude da redenço realizada em
Cristo Jesus. Deus o expôs como instrumento de propiciaço, por seu próprio sangue, mediante a
fé. Ele queria assim manifestar sua justiça, pelo fato de ter deixado sem puniço os pecados de
outrora, no tempo da paciência de Deus; ele queria manifestar sua justiça no tempo presente,
para mostrar -se justo e para justificar aquele que tem fé em Jesus (Rm 3,21-26).
1993 A justificaço estabelece a colaboraço entre a graça de Deus e a liberdade do
homem. Do lado humano, ela se exprime no assentimento da fé à palavra de Deus, que convida
o homem à conversão, e na cooperaço da caridade, no impulso do Espírito Santo, que o
previne e guarda.
Quando Deus toca o coraço do homem pela iluminaço do Espírito Santo, o homem
não é insensível a tal inspiraço, que pode, aliás, rejeitar; e, no entanto, ele não pode tampouco,
sem a graça divina, chegar pela vontade livre à justiça diante dele.
1994 A justificaço é a obra mais excelente do amor de Deus, manifestado em Cristo
Jesus e concedido pelo Espírito Santo. Sto. Agostinho pensa que "a justificação do ímpio é uma
obra maior que a criaço dos céus e da terra", pois "os céus e a terra passarão, ao passo que a
salvaço e a justificaço dos eleitos permanecerão para sempre". Pensa até que a justificaço
dos pecadores é uma obra maior que a criaço dos anjos na justiça, pelo fato de testemunhar
uma misericórdia maior.
1995 O Espírito Santo é o mestre interior. Gerando "o homem interior , a justificaço
implica a santificaço de todo o ser:
Como outrora entregastes vossos membros à escravidão da imp ureza e da desordem
para viver desregradamente, assim entregai agora vossos membros a serviço da justiça, para a
santificaço. (...) Mas agora, libertos do pecado e postos a serviço de Deus, tendes, como fruto,
a santificaço, e o fim é a vida eterna (Rm 6,19-22).

II. A GRAÇA
1996 Nossa justificaço vem da graça de Deus. A graça é favor, o socorro gratuito que
Deus nos dá para responder a seu convite: tomar-nos filhos de Deus, filhos adotivos participantes
da natureza divina, da Vida Eterna.
1997 A graça é uma participaço na vida divina; introduz-nos na intimidade da vida
trinitária. Pelo Batismo, o cristão tem parte na graça de Cristo, cabeça da Igreja. Como "filho
adotivo", pode doravante chamar a Deus de "Pai", em união com o Filho único. Recebe a vida
do Espírito, que nele infunde a caridade e forma a Igreja.
1998 Esta vocaço para a vida eterna é sobrenatural. Depende integralmente da
iniciativa gratuita de Deus, pois apenas Ele pode se revelar e dar-se a si mesmo. Esta vocaço


ultrapassa as capacidades da inteligência e as forças da vontade do homem, como também
de qualquer criatura.
1999 A graça de Cristo é o dom gratuito que Deus nos faz de sua vida infundida pelo
Espírito Santo em nossa alma, para curá-la do pecado e santificá-la; trata-se da graça
santificante ou deificante, recebida no Batismo. Em nós, ela é a fonte da obra santificadora:
Se alguém está em Cristo, é nova criatura. Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez
uma realidade nova. Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou consigo por Cristo (2Cor 5,17-
18).
2000 A graça santificante é um dom habitual, uma disposiço estável e sobrenatural
para aperfeiçoar a própria alma e torná-la capaz de viver com Deus, agir por seu amor. Deve-se
distinguir a graça habitual, disposiço permanente para viver e agir conforme o chamado divino,
e as graças atuais, que designam as intervençes divinas, quer na origem da conversão, quer no
decorrer da obra da santificaço.
2001 A preparaço do homem para acolher a graça é já uma obra da graça. Esta é
necessária para suscitar e manter nossa colaboraço na justificaço pela fé e na santificaço
pela caridade. Deus acaba em nós aquilo que Ele mesmo começou, "pois começa, com sua
intervenço, fazendo com que nós queiramos e acaba cooperando com as moçes de nossa
vontade já convertida":
Sem dúvida, operamos também nós, mas o fazemos cooperando com Deus, que opera
predispondo-nos com a sua misericórdia. E o faz para nos curar, e nos acompanhará para que,
quando já curados, sejamos vivificados; predispõe-nos para que sejamos chamados e
acompanha-nos para que sejamos glorificados; predispõe-nos para que vivamos segundo a
piedade e segue-nos para que, com Ele, vivamos para todo o sempre, pois sem Ele nada
podemos fazer.
2002 A livre iniciativa de Deus pede a livre resposta do homem pois Deus criou o homem
à sua imagem, conferindo-lhe, com a liberdade, o poder de conhecê-Lo e amá-Lo. A alma só
pode entrar livremente na comunhão do amor. Deus toca imediatamente e move diretamente o
coraço do homem. Ele colocou no homem uma aspiraço à verdade e ao bem que somente
Ele pode satisfazer plenamente. As promessas da "vida eterna" respondem, além de a toda a
nossa esperança, a esta aspiraço:
Se Vós, ao cabo de vossas obras excelentes (...) repousastes no sétimo dia, foi para nos
dizer de antemão pela voz de vosso livro que, ao cabo de nossas obras ("que são muito boas",
pelo fato mesmo de terdes sido Vós que no-las destes), também nós no sábado da vida eterna
em Vós repousaremos.
2003 A graça é antes de tudo e principalmente o dom do Espírito que nos justifica e nos
santifica. Mas a graça compreende igualmente os dons que o Espírito nos concede, para nos a
associar à sua obra, para nos tornar capazes de colaborar com a salvaço dos outros e com o
crescimento do corpo de Cristo, a Igreja. São as graças sacramentais dons próprios dos
diferentes sacramentos. São, além disso, as graças especiais, chamadas também "carismas",
segundo a palavra grega empregada por S. Paulo e que significa favor, dom gratuito,
benefício[a36] . Seja qual for seu caráter, às vezes extraordinário, como o dom dos milagres ou
das línguas, os carismas se ordenam à graça santificante e têm como meta o bem comum da
Igreja. Acham-se a serviço da caridade, que edifica a Igreja.
2004 Entre as graças especiais, convém mencionar as graças de estado, que
acompanham o exercício das responsabilidades da vida cristã e dos ministérios no seio da Igreja:
Tendo, porém, dons diferentes, segundo a graça que nos foi dada, aquele que tem o dom
da profecia, que o exerça segundo a proporço de nossa fé; aquele que tem o dom do serviço,
que o exerça servindo; quem tem o dom do ensino, ensinando; quem tem o dom da exortaço,
exortando. Aquele que distribui seus bens, que o faça com simplicidade; aquele que preside,
com diligência; aquele que exerce misericórdia, com alegria (Rm 12,6-8).


2005 Sendo de ordem sobrenatural, a graça escapa à nossa experiência e só pode ser
conhecida pela fé. Não podemos, portanto, nos basear em nossos sentimentos ou em nossas
obras para dai deduzir que estamos justificados e salvos. No entanto, segundo a palavra do
Senhor: "É pelos seus frutos que os reconhecereis" (Mt 7,20), a consideraço dos benefícios de
Deus em nossa vida e na dos santos nos oferece uma garantia de que a graça está operando
em nós e nos incita a uma fé sempre maior e a uma atitude de pobreza confiante:
Acha-se uma das mais belas ilustraçes desta atitude na resposta de Sta. Joana d'Arc a
uma pergunta capciosa de seus juizes eclesiásticos: "Interrogada se sabe se está na graça de
Deus, responde: “Se não estou, que Deus me queira pôr nela; se estou, que Deus nela me
conserve”.

III. O MÉRITO
Na assembléia dos santos, vós sois glorificados e, coroando os seus méritos, exaltais os
vossos próprios dons.
2006 O termo "mérito" designa, em geral, a retribuiço devida por uma comunidade ou
uma sociedade à aço de um de seus membros, sentida como boa ou má, digna de
recompensa ou castigo. O mérito se relaciona com a virtude da justiça, em conformidade com o
princípio da igualdade que a rege.
2007 Diante de Deus, em sentido estritamente jurídico, não mérito da parte do homem.
Entre Ele e nós a diferença é infinita, pois dele tudo recebemos, dele, que é nosso criador.
2008 O mérito do homem diante de Deus, na vida cristã, provém do fato de que Deus
livremente determinou associar o homem à obra de sua graça. A aço paternal de Deus vem
em primeiro lugar por seu impulso, e o livre agir do homem, em segundo lugar, colaborando com
Ele, de sorte que os méritos das boas obras devem -ser atribuídos à graça de Deus,
primeiramente, e só em segundo lugar ao fiel. O próprio mérito do homem cabe, aliás, a Deus
pois suas boas açes procedem, em Cristo, das inspiraçes do auxilio do Espírito Santo.
2009 A adoço filial, tomando-nos participantes, por graça, da natureza divina, pode
conferir-nos, segundo a justiça gratuita de Deus, um verdadeiro mérito. Trata-se de um direito por
graça, o pleno direito amor, que nos toma "co-herdeiros" de Cristo e dignos de obter “a herança
prometida da vida eterna. Os méritos de nossas boas obras são dons da bondade divina. "A
graça veio primeiro; agora se entrega aquilo que é devido. (...)Os méritos são dons de Deus."
2010 Como a iniciativa pertence a Deus na ordem da graça, ninguém pode merecer a
graça primeira, na origem da versão, do perdão e da justificaço. Sob a moço do Espírito Santo
e da caridade, podemos em seguida merecer para nós mesmos e para os outros as graças úteis
à nossa santificaço crescimento da graça e da caridade, e também para ganhar a vida
eterna. Os próprios bens temporais, como a saúde, a amizade, podem ser merecidos segundo a
sabedoria divina. Essas graças e esses bens são o objeto da oraço cristã. Esta atende à nossa
necessidade da graça para as açes meritórias.
2011 A caridade de Cristo em nós constitui a fonte de todos os nossos méritos diante de
Deus. A graça, unindo-nos a Cristo com amor ativo, assegura a qualidade sobrenatural de nossos
atos e, por conseguinte, seu mérito (desses nossos atos) diante de Deus, como também diante
dos homens. Os santos sempre tiveram viva consciência de que seus méritos eram pura graça.
Após o exílio terrestre, espero ir deleitar-me de vós na Pátria, mas não quero acumular
méritos para o céu, quero trabalhar somente por vosso amor. (...). Ao entardecer desta vida,
comparecerei diante de vós com as mãos vazias, pois não vos peço, Senhor, que contabilizeis as
minhas obras. Todas as nossas justiças têm manchas a vossos olhos. Quero, portanto, revestir-me
de vossa própria justiça e receber de vosso amor a posse eterna de vós mesmo...

IV. A SANTIDADE CRISTÃ


2012 "E nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam. (...)
Porque os que de antemão Ele conheceu, esses também predestinou a serem conformes à
imagem de seu Filho, a fim de ser Ele o primogênito entre muitos irmãos. E os que predestinou,
também os chamou, e os que chamou, também os justificou, e os que justificou, também os
glorificou" (Rm 8,28-30).
2013 "Todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da
vida cristã e à perfeiço da caridade." Todos são chamados à santidade: "Deveis ser perfeitos
como o vosso Pai celeste é perfeito" (Mt 5,48):
Com o fim de conseguir esta perfeiço, façam os fiéis uso das forças recebidas (...), a fim
de que, cumprindo em tudo a vontade do Pai, se dediquem inteiramente à glória de Deus e ao
serviço do próximo. Assim, a santidade do povo de Deus se expandirá em abundantes frutos,
como se demonstra luminosamente na história da Igreja pela vida de tantos santos.
2014 O progresso espiritual tende à união sempre mais íntima com Cristo. Esta união
recebe o nome de "mística", pois ela participa no mistério de Cristo pelos sacramentos "os santos
mistérios" e, nele, no mistério da Santíssima Trindade, Deus nos chama a todos a esta íntima união
com Ele, mesmos que graças especiais ou sinais extraordinários desta vida mística sejam
concedidos apenas a alguns, em vista de manifestar o dom gratuito feito a todos.
2015 O caminho da perfeiço passa pela cruz. Não existe santidade sem renúncia e
sem combate espiritual. O progresso espiritual envolve ascese e mortificaço, que levam
gradualmente a viver na paz e na alegria das bem-aventuranças:
Aquele que vai subindo jamais cessa de progredir de começo em começo, por começos
que não têm fim. Aquele que jamais cessa de desejar aquilo que já conhece.
2016 Os filhos da Santa Igreja, nossa Mãe, esperam justamente a graça da
perseverança final e a recompensa de Deus, seu Pai pelas boas obras realizadas com sua graça,
em comunhão com Jesus. Observando a mesma regra de vida, os fiéis cristãos partilham "a feliz
esperança" daqueles que a misericórdia divina reúne na "Cidade santa, uma Jerusalém nova
que desce do céu de junto de Deus, preparada como uma esposa" (Ap 21,2).

RESUMINDO
2017 A graça do Espírito Santo nos dá a justiça de Deus. Unindo-nos pela fé e pelo
Batismo à Paixão e à Ressurreiço de Cristo, o Espírito nos faz participar de sua vida.
2018 A justificaço, como a conversão, apresenta duas faces. Sob a moço da graça,
o homem se volta para Deus e se afasta do pecado, acolhendo, assim, o perdão e a justiça que
vêm do alto.
2019 A justificaço comporta a remissão dos pecados, a santificaço e a renovaço do
homem interior.
2020 A justificaço nos foi merecida pela Paixão de Cristo e nos é concedida por meio
do Batismo. Faz-nos conformes à justiça de Deus, que nos torna justos. Tem como meta a glória
de Deus e de Cristo e o dom da Vida Eterna. É a obra mais excelente da misericórdia de Deus.
2021 A graça é o auxílio que Deus nos concede para responder à nossa vocaço de
nos tornar seus filhos adotivos. Ela nos introduz na intimidade da vida trinitária.
2022 A iniciativa divina na obra da graça precede, prepara e suscita a livre resposta do
homem. A graça responde às aspiraçes profundas da liberdade humana; chama-a a cooperar
consigo e a aperfeiçoa.
2023 A graça santificante é o dom gratuito que Deus nos faz de sua vida, infundida pelo
Espírito Santo em nossa alma, para curá-la do pecado e santificá-la.
2024 A graça santificante nos faz "agradáveis a Deus". Os carismas, graças especiais do
Espírito Santo, são ordenados à graça santificante e têm como alvo o bem comum da Igreja.


Deus opera também por graças atuais múltiplas, que se distinguem da graça habitual,
permanente em nós.
2025 Nosso mérito em face de Deus consiste apenas em seguir seu livre desígnio de
associar o homem à obra de sua graça. O mérito pertence à graça de Deus em primeiro lugar, à
colaboraço do homem em segundo lugar. Cabe a Deus o mérito humano.
2026 A graça do Espírito Santo, em virtude de nossa filiaço adotiva, pode conferir-nos
um verdadeiro mérito segundo a justiça gratuita de Deus. A caridade constitui, em nós, a fonte
principal do mérito diante de Deus.
2027 Ninguém pode merecer a graça primeira que se acha na origem da conversão.
Sob a moço do Espírito Santo, podemos merecer, para nós mesmos e para os outros, todas as
graças Úteis para chegar à vida eterna, como também os bens temporais necessários.
2028 "O apelo à plenitude da vida cristã e à perfeiço da caridade. Se dirige a todos os
fiéis cristãos[a61] . "A perfeiço cristã só tem um limite: ser ilimitada."
2029 "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me" (Mt
16,24).

ARTIGO 3
A IGREJA, MÃE E EDUCADORA

2030 É em Igreja, em comunhão com todos os batizados, que o cristão realiza sua
vocaço. Da Igreja recebe a palavra de Deus, que contém os ensinamentos da “lei de Cristo”.
Da Igreja recebe a graça dos sacramentos, que o sustenta "no caminho". Da Igreja aprende o
exemplo da santidade; reconhece a figura e a fonte (da Igreja) em Maria, a Virgem Santíssima;
discerne-a no testemunho autêntico daqueles que a vivem, descobre-a na tradiço espiritual e
na longa história dos santos que o precederam que a Liturgia celebra no ritmo do Santoral.
2031 A vida moral é um culto espiritual. "Oferecemos nossos corpos como hóstia viva,
santa e agradável a Deus", no seio do corpo de Cristo que formamos, e em comunhão com a
oferta de sua Eucaristia. Na Liturgia e na celebraço dos sacramentos, oraço e doutrina se
conjugam com a graça de Cristo, para iluminar e alimentar o agir cristão. Como o conjunto da
vida cristã, da mesma forma a vida moral encontra sua fonte e seu ponto culminante no
sacrifício eucarístico.

I. VIDA MORAL E MAGISTÉRIO DA IGREJA
2032 A Igreja, "coluna e sustentáculo da verdade" 1 Tm 3,15) "recebeu dos Apóstolos o
solene mandamento de Cristo de pregar a verdade da salvaço”. "Compete à Igreja anunciar
sempre e por toda parte os princípios morais, mesmo referentes à ordem social, e pronunciar -se a
respeito de qualquer questão humana, enquanto o exigirem os direitos fundamentais da pessoa
ou a salvaço das almas."
2033 O magistério dos pastores da Igreja em matéria moral se exerce ordinariamente na
catequese e na pregaço, com o auxílio das obras dos teólogos e dos autores espirituais. Assim
se foi transmitindo, de geraço em geraço, sob a égide e a vigilância dos pastores, o "depósit o"
da moral cristã, composto de um conjunto característico de regras, mandamentos e virtudes que
procedem da fé em Cristo e são vivificados pela caridade. Esta catequese tem tradicionalmente
tomado por base, ao lado do "Credo" e do "Pai-nosso", o Decálogo, que enuncia os princípios da
vida moral, válidos para todos os homens.
2034 O romano pontífice e os Bispos "são os doutores autênticos dotados da autoridade
de Cristo, que pregam ao povo a eles confiado a fé que deve ser crida e praticada". O


magistério ordinário e universal do Papa e dos Bispos em comunhão com ele ensina aos fiéis a
verdade em que se deve crer; a caridade que se deve praticar, a felicidade que se deve
esperar.
2035 O grau supremo da participaço na autoridade de Cristo é assegurado pelo
carisma da infalibilidade. Esta tem a mesma extensão que o depósito da revelaço divina;
estende -se ainda a todos os elementos de doutrina, incluindo a moral, sem os quais as verdades
salutares da fé não podem ser preservadas, expostas ou observadas.
2036 A autoridade do magistério se estende também aos preceitos específicos da lei
natural, porque sua observância, exigida pelo Criador, é necessária para a salvaço.
Recordando as prescriçes da lei natural, o magistério da Igreja exerce parte essencial de sua
funço profética de anunciar aos homens o que (os homens) são de verdade e recordar-lhes o
que devem ser diante de Deus.
2037 A lei de Deus confiada à Igreja é ensinada aos fiéis como caminho de vida e
verdade. Os fiéis têm, portanto, o dir eito de ser instruídos nos preceitos divinos salvíficos que
purificam o juízo e, com a graça, curam a razão humana ferida. Têm o dever de observar as
constituiçes e os decretos promulgados pela legitima autoridade da Igreja. Mesmo que sejam
disciplinares, tais determinaçes exigem a docilidade na caridade.
2038 Na obra de ensinar e aplicar a moral cristã, a Igreja necessita do devotamento dos
pastores, da ciência dos teólogos, da contribuiço de todos os cristãos e dos homens de boa
vontade. A fé e a prática do Evangelho proporcionam a cada fiel uma experiência da vida "em
Cristo" que o ilumina e o torna capaz de apreciar as realidades divinas e humanas segundo o
Espírito de Deus. Assim é que o Espírito Santo pode servir-se dos mais humildes para iluminar os
sábios e os constituídos na dignidade mais alta.
2039 Os ministérios devem ser exercidos em um espírito de serviço fraterno e dedicaço à
Igreja, em nome do Senhor. Ao mesmo tempo, a consciência de cada fiel, em seu julgamento
moral sobre seus atos pessoais, deve evitar encerrar-se em uma consideraço individual. Do
melhor modo possível ela deve abrir-se à consideraço do bem de todos, tal como se exprime
na lei moral, natural e revelada, e por conseguinte na lei da Igreja e no ensino autorizado do
magistério sobre questões morais. Não convém opor a consciência pessoal e a razão à lei moral
ou ao magistério da Igreja.
2040 Assim se pode desenvolver entre os fiéis cristãos um verdadeiro espírito filial para
com a Igreja. Ele é o resultado normal do crescimento da graça batismal, que nos gerou no seio
Igreja e nos fez membros do Corpo de Cristo. Em sua solicitude materna, a Igreja nos concede a
misericórdia de Deus, que triunfa sobre todos os nossos pecados e age de modo especial no
sacramento da Reconciliaço. Como mãe solícita, ela nos prodigaliza também em sua Liturgia,
dia após dia, o alimento da Palavra e da Eucaristia do Senhor.

II. OS MANDAMENTOS DA IGREJA
2041 Os mandamentos da Igreja situam-se nesta linha de uma vida moral ligada à vida
litúrgica e que dela se alimenta. O caráter obrigatória dessas leis positivas promulgadas pelas
autoridades pastorais tem como fim garantir aos fiéis o mínimo indispensável no espírito de
oraço e no esforço moral, no crescimento do amor de Deus e do próximo.
2042 O primeiro mandamento da Igreja ("Participar da missa inteira nos domingos e outras
festas de guarda e abster-se de ocupaçes de trabalho") ordena aos fiéis que santifiquem o dia
em que se comemora a ressurreiço do Senhor e as festas litúrgicas em honra dos mistérios do
Senhor, da santíssima Virgem Maria e dos santos, em primeiro lugar participando da celebraço
eucarística, em que se reúne a comunidade cristã, e se abstendo de trabalhos e negócios que
possam impedir tal santificaço desses dias.


O segundo mandamento ("Confessar -se ao menos uma vez por ano") assegura a
preparaço para a Eucaristia pela recepço do sacramento da Reconciliaço, que continua a
obra de conversão e perdão do Batismo.
O terceiro mandamento ("Receber o sacramento da Eucaristia ao menos pela Páscoa da
ressurreiço") garante um mínimo na recepço do Corpo e do Sangue do Senhor em ligaço
com as festas pascais, origem e centro da Liturgia Cristã.
2043 O quarto mandamento ("Jejuar e abster-se de carne, conforme manda a Santa
Mãe Igreja") determina os tempos de ascese e penitência que nos preparam para as festas
litúrgicas; contribuem para nos fazer adquirir o domínio sobre nossos instintos e a liberdade de
coraço.
O quinto mandamento ("Ajudar a Igreja em suas necessidades") recorda aos fiéis que
devem ir ao encontro das necessidades materiais da Igreja, cada um conforme as próprias
possibilidades.

III. VIDA MORAL E TESTEMUNHO MISSIONÁRIO
2044 A fidelidade dos batizados é condiço primordial para o anúncio do Evangelho e
para a missão da Igreja no mundo. Para manifestar diante dos homens sua força de verdade e
de irradiaço, a mensagem da salvaço deve ser autenticada pelo testemunho de vida dos
cristãos: "O próprio testemunho da vida cristã e as boas obras feitas em espírito sobrenatural
possuem a força de atrair os homens para a fé e para Deus.
2045 Por serem os membros do Corpo cuja Cabeça é Cristo os cristãos contribuem, pela
constância de suas convicço de seus costumes, para a edificaço da Igreja. A Igreja aumenta,
cresce e se desenvolve pela santidade de seus fiéis até que "alcancemos todos nós (...) o estado
de homem perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo" (Ef 4,13).
2046 Por sua vida segundo Cristo, os cristãos apressam a vinda do Reino de Deus, do
"Reino da justiça, da verdade e da paz". Nem por isso se descuidam de suas obrigaçes
terrestres; fiéis a seu Senhor e Mestre, eles as cumprem com dão, paciência e amor.

RESUMINDO
2047 A vida moral é um culto espiritual. O agir cristão se nutre da Liturgia e da celebraço
dos sacramentos.
2048 Os mandamentos da Igreja se referem à vida moral e cristã unida à Liturgia, e dela se
alimentam.
2049 O Magistério dos pastores da Igreja em matéria moral se exerce ordinariamente na
catequese e na pregaço, tendo como base o Decálogo, que enuncia os princípios da vida
válidos para todos os homens.
2050 O romano pontífice e os bispos, como doutores autênticos, pregam ao povo de Deus
a fé que deve ser crida e praticada nos costumes. Cabe-lhes igualmente pronunciar-se sobre as
questões morais que caem dentro do âmbito da lei natural e da razão.
2051 A infalibilidade do magistério dos pastores se estende a todos os elementos de
doutrina, incluindo a moral. Sem esses elementos, as verdades salutares da fé não podem ser
guardadas, expostas ou observadas.

OS DEZ MANDAMENTOS

Êxodo 20,2-17
Deuteronômio 5,6-21 Fórmula catequética




Eu sou o Senhor, teu Deus, que
te fez sair da terra do Egito, da
casa da servidão.
Eu sou o Senhor, teu Deus, aquele
que te fez
sair da terra do Egito, da casa da
servidão.
Não terás outros deuses diante
de mim.
Não terás outros deuses além de
mim...
Amar a Deus sobre todas
as coisas.
Não farás para ti imagem
esculpida de nada que se
assemelhe ao que existe lá em
cima, nos céus, ou embaixo da
terra, ou nas águas que estão
debaixo da terra.


Não te prostrarás diante esses
deuses e não os servirás, porque
eu, o Senhor, teu Deus, sou um
Deus ciumento, que puno a
iniqüidade dos pais nos filhos,
até a terceira e quarta geraço
dos que me odeiam, e faço
misericórdia até a milésima
geraço àqueles que me amam
e guardam meus
mandamentos.


Não tomar seu Santo
Nome em vão.


Não pronunciarás em vão o nome
do Senhor
teu Deus...

Não pronunciarás em vão o
nome do Senhor, teu Deus,
porque o Senhor não deixará
impune aquele que pronunciar
em vão O seu nome.
Lembra-te do dia do Sábado
para santificá-lo.
Guardarás o dia de sábado para
santificá-lo.
Guardar domingos e
festas de guarda


Trabalharás durante seis dias, e
farás todas as tuas obras. O
sétimo dia, porém, é o sábado
do Senhor, teu Deus. Não farás
nenhum trabalho, nem tu, nem
teu filho, nem tua filha, nem teu
escravo, nem tua escrava, nem
teu animal, nem o estrangeiro
que está em tuas portas. Porque
em seis dias o Senhor fez o céu,
a terra, o mar e tudo o que eles
contêm, mas repousou no
sétimo dia; por isso o Senhor
abençoou o dia do sábado e o
santificou.

Honra teu pai e tua mãe, para
que se prolonguem os teus dias
na terra que o Senhor, teu Deus,
te dá.
Honrar teu pai e tua mãe... Honra pai e mãe.

Não matarás.
Não matarás.
Não matar.
Não pecar contra a
castidade.

Não cometerás adultério. Não cometerás adultério.






Não roubarás.
Não roubarás.
Não furtar.
Não apresentarás um falso
testemunho contra o teu
próximo.
Não apresentarás um falso
testemunho contra o teu próximo.
Não levantar falso
testemunho.
Não cobiçarás a casa de teu
próximo, não desejarás sua
mulher, nem seu servo, nem sua
serva, nem seu boi, nem seu
jumento, nem coisa alguma que
pertença a teu próximo.
Não cobiçar ás a mulher de teu
próximo.



Não desejarás coisa alguma que
pertença a teu próximo.
Não desejar a mulher do
próximo.



Não cobiçar as coisas
alheias.

SEGUNDA SEÇO
OS DEZ MANDAMENTOS

Mestre, que devo fazer...?"
2052 "Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?" Ao jovem que lhe faz esta
pergunta, Jesus responde primeiro invocando a necessidade de reconhecer a Deus como "o
único bom", com o bem por excelência e como a fonte de todo bem. Depois, Jesus diz: "Se
queres entrar para a Vida, guarda os mandamentos". E cita ao seu interlocutor os preceitos que
se referem ao amor do próximo: "Não matarás, não adulterarás, não roubarás, não levantarás
falso testemunho, honra pai e mãe". Finalmente, Jesus resume estes mandamentos de maneira
positiva: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mt 19,16-19).
2053 A esta primeira resposta é acrescentada uma segunda: "Se queres ser perfeito, vai,
vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me" (Mt
19,21). Esta não anula a primeira. O seguimento de Jesus Cristo inclui o cumprimento dos
mandamentos. A Lei não foi abolida, mas o homem é convidado a reencontrá-la na pessoa de
seu Mestre, que é o cumprimento perfeito dela. Nos três Evangelhos sinópticos, o apelo de Jesus
dirigido ao jovem rico, de segui-lo na obediência do discípulo e na observância dos preceitos, é
relacionado com o convite à pobreza e à castidade. Os conselhos evangélicos são indissociáveis
dos mandamentos.
2054 Jesus, com efeito, retomou os Dez Mandamentos, mas manifestou a força do Espírito
em aço na letra deles. Pregou a "justiça que supera a dos escribas e fariseus", como também a
dos pagãos. Desenvolveu todas as exigências dos mandamentos. "Ouvistes que foi dito aos
antigos: 'não matarás'... Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encolerizar contra seu irmão
terá de responder no tribunal" (Mt 5,21-22).
2055 Quando lhe é feita a pergunta: "Qual é o maior mandamento da lei?" (Mt 22,36),
Jesus responde: "Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coraço, de toda a tua alma e de
todo o teu entendimento. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a
esse: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e
os profetas" (Mt 22,37-40). O Decálogo deve ser interpretado à luz desse duplo e único
mandamento da caridade, plenitude da lei:
Os preceitos - não cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás e todos
os outros - se resumem nesta sentença: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. A caridade não
pratica o mal contra o próximo. Portanto, a caridade é a plenitude da lei (Rm 13,9-10).

O DECÁLOGO NA SAGRADA ESCRITURA


2056 A palavra "Decálogo" significa literalmente "dez palavras (Ex 34,28; Dt 4,13; 10,4).
Deus revelou essas "dez palavras" a seu povo no monte sagrado. Ele as escreveu "com seu
dedo”, à diferença de outros preceitos escritos por Moisés[. São palavras de Deus de modo
eminente. Foram transmitidas no livro do Êxodo e no do Deuteronômio. Desde o Antigo
Testamento, os livros sagrados se referem às "dez palavras". Mas é em Jesus Crista na nova
aliança, que será revelado seu sentido pleno.
2057 O Decálogo deve ser entendido em primeiro lugar no contexto do êxodo, que é o
grande acontecimento libertador de Deus no centro da Antiga Aliança. Formulados como
mandamentos negativos (proibiçes), ou à maneira de mandamento positivos (como: "Honra teu
pai e tua mãe"), as "dez palavras indicam as condiçes de uma vida liberta da escravidão do
pecado. O Decálogo é um caminho de vida:
Se amares teu Deus, se andares em seus caminhos, se observares seus mandamentos, suas
leis e suas normas, viverás e te multiplicarás (Dt 30,16).
Esta força libertadora do Decálogo aparece, por exemplo, no mandamento sobre o
descanso do sábado, destinado igualmente aos estrangeiros e aos escravos:
Lembrai-vos de que fostes escravos numa terra estrangeira. O Senhor vosso Deus vos fez
sair de lá com mão forte e braço estendido (Dt 5,15).
2058 As "dez palavras" resumem e proclamam a lei de Deus: "Tais foram as palavras que,
em alta voz, o Senhor dirigiu a toda a vossa assembléia no monte, do meio do fogo, em meio a
trevas, nuvens e escuridão. Sem nada acrescentar, escreveu--as sobre duas tábuas de pedra e
as entregou a mim" (Dt 5,22). Eis por que estas duas tábuas são chamadas "O Testemunho" (Ex
25,16). Elas contém as cláusulas da aliança entre Deus e seu povo. Essas "tábuas do Testemunho"
(Ex 31,18; 32,15; 34,19) devem ser colocadas "na arca" (Ex 25,16; 40,1-3).
2059 As "dez palavras" são pronunciadas por Deus no contexto de uma teofania ("Sobre
a montanha, no meio do fogo, o Senhor vos falou face a face": Dt 5,4). Pertencem à revelaço
que Deus faz de si mesmo e de sua glória. O dom dos mandamentos é dom do próprio Deus e de
sua santa vontade. Ao dar a conhecer as suas vontades, Deus se revela a seu povo.
2060 O dom dos mandamentos e da Lei faz parte da Aliança selada por Deus com os
seus. Segundo o livro do Êxodo, a revelaço das "dez palavras" é dada entre a proposta da
Aliança [a20] e sua conclusão, depois que o povo se comprometeu a "fazer" tudo o que o
Senhor dissera e a "obedecer". O Decálogo sempre é transmitido depois de se lembrar a Aliança
("O Senhor nosso Deus concluiu conosco uma aliança no Horeb": Dt 5,2).
2061 Os mandamentos recebem seu pleno significado no íntimo da Aliança. Segundo a
Escritura, o agir moral do homem adquire todo o seu sentido na Aliança e por ela. A primeira das
"dez palavras" lembra o amor primeiro de Deus por seu povo:
Tendo o homem, por castigo do pecado, decaído do paraíso da liberdade para a
escravidão deste mundo, as primeiras palavras do Decálogo, voz primeira dos divinos
mandamentos, aludem à liberdade: "Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fez sair da terra do Egito,
da casa da escravidão" (Ex 20,2; Dt 5,6).
2062 Os mandamentos propriamente ditos vêm em segundo lugar; exprimem as
implicaçes da pertença a Deus, instituída pela Aliança. A existência moral é resposta à iniciativa
amorosa do Senhor. E reconhecimento, homenagem a Deus e culto de aço de graças. É
cooperaço com o plano que Deus executa na história.
2063 A Aliança e o diálogo entre Deus e o homem são ainda confirmados pelo fato de
que todas as obrigaçes são enuncia das na primeira pessoa ("Eu sou o Senhor...") e dirigidas a
um outro sujeito ("tu...") Em todos os mandamentos de Deus, é um pronome pessoal singular que
designa o destinatário. Deus dá a conhecer sua vontade a cada um em particular, ao mesmo
tempo que o faz ao povo inteiro:


O Senhor prescreveu o amor para com Deus e ensinou a justiça para com o próximo, a fim
de que o homem não fosse nem injusto nem indigno de Deus. Assim, pelo Decálogo, Deus
preparou o homem para se tornar seu amigo e ter um só coraço com o próximo... Da mesma
maneira, as palavras do Decálogo continuam válidas entre nós [cristãos]. Longe de serem
abolidas elas cresceram e se desenvolveram pelo fato da vinda do Senhor na carne.

O DECÁLOGO NA TRADIÇO DA IGREJA
2064 Fiel à Escritura e de acordo com o exemplo de Jesus, a Tradiço da Igreja
reconheceu ao Decálogo uma importância e um significado primordiais.
2065 Desde Sto. Agostinho, os "dez mandamentos" têm um lugar preponderante na
catequese dos futuros batizados e dos fiéis. No século XV, adotou-se o costume de exprimir os
preceitos do Decálogo em fórmulas rimadas, fáceis de memorizar, e positivas, que ainda estão
em uso hoje. Os catecismos da Igreja com freqüncia têm exposto a moral cristã seguindo a
ordem dos "dez mandamentos".
2066 A divisão e a numeraço dos mandamentos têm variado no decorrer da história. O
presente catecismo segue a divisão dos mandamentos estabelecida por Sto. Agostinho e que se
tornou tradicional na Igreja católica. É também a das confissões luteranas. Os padres gregos
fizeram uma divisão um tanto diferente, que se encontra nas Igrejas ortodoxas e nas
comunidades reformadas.
2067 Os dez mandamentos enunciam as exigências do amor de Deus e do próximo. Os
três primeiros se referem mais ao amor de Deus, e os outros sete ao amor do próximo.
Como a caridade abrange dois preceitos com os quais o Senhor relaciona toda a Lei e os
profetas (...) assim os próprios dez preceitos estão divididos em duas tábuas. Três foram escritos
numa tábua e sete na outra.
2068 O Concílio de Trento ensina que os dez mandamentos obrigam os cristãos e que o
homem justificado ainda está obrigado a observá-los. E o Concílio Vaticano II afirma a mesma
doutrina:
"Como sucessores dos Apóstolos, os Bispos recebem do Senhor (...)a missão de ensinar a
todos os povos e pregar o Evangelho a toda criatura, a fim de que os homens todos, pela fé,
pelo Batismo e pela observância dos mandamentos, alcancem a salvaço"

A UNIDADE DO DECÁLOGO
2069 O Decálogo forma um todo inseparável. Cada "palavra" remete a cada uma das
outras e a todas; elas se condicionam 2 reciprocamente. As duas tábuas se esclarecem
mutuamente, formam uma unidade orgânica. Transgredir um mandamento, é infringir todos os
outros. Não se pode honrar os outros sem bendizer a Deus, seu criador. Não se pode adorar a
Deus sem amar a todos os homens, suas criatur as. O Decálogo unifica a vida teologal e a vida
social do homem.

O Decálogo e a Lei Natural
2070 Os dez mandamentos pertencem à revelaço de Deus. Ao mesmo tempo, ensinam-
nos a verdadeira humanidade do homem. Iluminam os deveres essenciais e, portanto,
indiretamente, os direitos humanos fundamentais, inerentes à natureza da pessoa humana. O
Decálogo contém uma expressão privilegiada da "lei natural":
Desde o começo, Deus enraizara no coraço dos homens os preceitos da lei natural.
Inicialmente Ele se contentou em lhos recordar. Foi o Decálogo.


2071 Embora acessíveis à razão, os preceitos do Decálogo foram revelados. Para chegar
a um Conhecimento completo certo das exigências da lei natural, a humanidade pecador tinha
necessidade desta revelaço:
Uma explicaço completa dos mandamentos do Decálogos e tornou necessária no
estado de pecado, por causa do obscureci mento da luz da razão e do desvio da vontade
Conhecemos os mandamentos de Deus pela Revelaço divina que nos é proposta na
Igreja e por meio da consciência moral.

A obrigatoriedade do Decálogo
2072 Visto que exprimem os deveres fundamentais do homem para com Deus e para
com o próximo, os dez mandamento revelam, em seu conteúdo primordial, obrigaçes graves.
São essencialmente imutáveis, e sua obrigaço vale sempre e em toda parte. Ninguém pode
dispensar -se deles. Os dez mandamentos estão gravados por Deus no coraço do ser humano.
2073 A obediência aos mandamentos implica, ainda, obrigaçes cuja matéria é, em si
mesma, leve. Assim, a injúria por palavra está proibida pelo quinto mandamento, mas só poderia
ser falta grave em funço das circunstancias ou da intenço daquele que a profere.
"Sem mim, nada podeis fazer"
2074 Jesus diz: "Eu sou a videira, e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim e eu
nele produz muito fruto, porque, sem mim, nada podeis fazer" (Jo 15,5). O fruto indicado nesta
palavra é a santidade de uma vida fecundada pela união a Cristo. Quando cremos em Jesus
Cristo, comungamos de seus mistérios e guardamos seus mandamentos, o Salvador mesmo vem
amar em nós seu Pai e seus irmãos, nosso Pai e nossos irmãos. Sua pessoa se toma, graças ao
Espírito, a regra viva e interior de nosso agir. "Este é o meu mandamento: Amai--vos uns aos outros
como eu vos amei" (Jo 15,12).

RESUMINDO
2075 "Que devo fazer de bom para ter a vida eterna?" - "Se queres entrar para a vida,
guarda os mandamentos" (Mt 19,16-17).
2076 Por sua prática e por sua pregaço, Jesus atestou a perenidade do Decálogo.
2077 O dom do Decálogo é concedido no contexto da Aliança celebrada por Deus
com seu povo. Os mandamentos de Deus recebem seu verdadeiro significado nessa Aliança e
por meio dela.
2078 Fiel à Escritura, e de acordo com o exemplo de Jesus, a Tradiço da Igreja
reconheceu ao Decálogo uma importância e um significado primordiais.
2079 O Decálogo forma uma unidade orgânica, em que cada "palavra ou
mandamento" remete a todo o conjunto. Transgredir um mandamento é infringir toda a Lei.
2080 O Decálogo contém uma expressão privilegiada da lei natural. Conhecemo-lo
pela revelaço divina e pela razão humana.
2081 Os Dez Mandamentos enunciam, em seu conteúdo fundamental, obrigaçes
graves. Todavia, a obediência a esses preceitos implica também obrigaçes cuja matéria é, em
si mesma, leve.
2082 O que Deus manda, torna-o possível por sua graça.

CAPÍTULO I


"AMARÁS O SENHOR, TEU DEUS, DE TODO O CORAÇO, DE TODA A ALMA E DE TODO
O ENTENDIMENTO"

2083 Jesus resumiu os deveres do homem para com Deus com estas palavras: "Amarás o
Senhor, teu Deus, de todo o coraço, de toda a alma e de todo o entendimento" (Mt 22,37);
Estas palavras são um eco imediato do apelo solene: "Escuta; Israel, o Senhor, nosso Deus, é o
único" (Dt 6,4-5).
Deus amou primeiro. O amor do Deus único é lembrado na primeira das "dez palavras". Em
seguida, os mandamento. explicitam a resposta de amor que o homem é chamado a da a seu
Deus.

ARTIGO 1
O PRIMEIRO MANDAMENTO

Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, da casa da escravidão. Não
terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem esculpida de nada que se
assemelhe ao que existe lá em cima, nos céus, ou embaixo, na terra, ou nas águas que estão
debaixo da terra. Não te prostrarás diante desses deuses, e não os servirás. (Ex 20,25).
Está escrito: "Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto" (Mt 4,10).

I. "ADORARÁS O SENHOR, TEU DEUS, E O SERVIRÁS"
2084 Deus se faz conhecer recordando sua aço todo-poderosa, benigna e libertadora
na história daquele a quem se dirige: "Eu te fiz sair da terra do Egito, da casa da escravidão" (Dt
6,13-14). A primeira palavra contém o primeiro mandamento da lei: "Adorarás o Senhor, teu Deus,
e o servirás. (...) Não seguireis outros deuses" (Dt 6,13-14). O primeiro apelo e a exigência justa de
Deus é que o homem o acolha e o adore.
2085 O Deus único e verdadeiro revela sua glória primeiramente a Israel. A revelaço da
vocaço e da verdade do homem está ligada à revelaço de Deus. O homem tem a vocaço
de manifestar Deus agindo em conformidade com sua criaço "à imagem e semelhança de
Deus" (Gn 1,26):
Jamais haverá outro Deus, Trifão, nem houve outro, desde sempre (...) além daquele que
fez e ordenou o universo. Nós não pensamos que nosso Deus seja diferente do vosso. É Ele o
mesmo que fez vossos pais saírem do Egito "com sua mão poderosa e seu braço estendido". Não
pomos as nossas esperanças em algum outro pois outro não existe , mas no mesmo que vós, o
Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó.
2086 "O primeiro preceito abrange a fé, a esperança e a caridade. Com efeito, quando
se fala de Deus, fala-se de um ser constante, imutável, sempre o mesmo, fiel, perfeitamente justo.
Daí decorre que nós devemos necessariamente aceitar suas palavras e ter nele uma fé e uma
confiança plenas. Ele é Todo-Poderoso, clemente, infinitamente inclinado a fazer o bem. Quem
poderia deixar de pôr nele todas as suas esperanças? E quem poderia deixar de amá-lo,
contemplando os tesouros de bondade e de ternura que Ele derramou sobre nós? Daí esta
fórmula que Deus emprega na Sagrada Escritura, quer no começo, quer no fim de seus preceitos:
'Eu sou o Senhor'."

A FÉ


2087 Nossa vida moral encontra sua fonte na fé em Deus, que nos revela seu amor. S.
Paulo fala da "obediência da fé" como da primeira obrigaço. Ele vê no "desconhecimento de
Deus" o princípio e a explicaço de todos os desvios morais. Nosso dever em relaço a Deus
consiste em crer nele e em dar testemunho dele.
2088 O primeiro mandamento manda-nos alimentar e guardar com prudência e
vigilância nossa fé e rejeitar tudo o que se lhe opõe. Há diversas maneiras de pecar contra a fé.
A dúvida voluntária sobre a fé negligencia ou recusa ter como verdadeiro o que Deus
revelou e que a Igreja propõe para crer. A dúvida involuntária designa a hesitaço em crer, a
dificuldade de superar as objeçes ligadas à fé ou, ainda, a ansiedade suscitada pela
obscuridade da fé. Se for deliberadamente cultivada, a dúvida pode levar à cegueira do
espírito.
2089 A incredulidade é a negligência da verdade revelada ou a recusa voluntária de
lhe dar o próprio assentimento. "Chama-se heresia a negaço pertinaz, após a recepço do
Batismo, de qual-quer verdade que se deve crer com fé divina e católica, ou a dúvida pertinaz a
respeito dessa verdade; apostasia, o repúdio total da fé cristã; cisma, a recusa de sujeiço ao
Sumo Pontífice ou da comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos."

A ESPERANÇA
2090 Quando Deus se revela e chama o homem, este não pode responder plenamente
ao amor divino por suas próprias forças. Deve esperar que Deus lhe dê a capacidade de
corresponder a este amor e de agir de acordo com os mandamentos da caridade. A esperança
é o aguardar confiante da bênço divina e da visão beatifica de Deus; é também o temor de
ofender c amor de Deus e de provocar o castigo.
2091 O primeiro mandamento visa também aos pecados contra a esperança, que são o
desespero e a presunço.
Pelo desespero, o homem deixa de esperar de Deus sua salvaço pessoal, os auxílios para
alcanç-la ou o perdão de seus pecados. O desespero opõe-se à bondade de Deus, à sua
justiça porque o Senhor é fiel a suas promessas e à sua misericórdia.
2092 Há duas espécies de presunço. Ou o homem presume de suas capacidades
(esperando poder salvar -se sem a ajuda do alto), ou então presume da onipotência ou da
misericórdia de Deus (esperando obter seu perdão sem conversão e a glória sem mérito).

A CARIDADE
2093 A fé no amor de Deus envolve o apelo e a obrigaço de responder à caridade
divina por um amor sincero. O primeiro mandamento nos ordena que amemos a Deus acima de
tudo e' acima de todas as criaturas, por Ele mesmo e por causa dele.
2094 Pode-se pecar de diversas maneiras contra o amor de Deus: a indiferença
negligencia ou recusa a consideraço da caridade divina, menospreza a iniciativa (de Deus em
nos amar) e nega sua força. A ingratidão omite ou se recusa a reconhecer a caridade divina e a
pagar amor com amor. A tibieza é uma hesitaço ou uma negligência em responder ao amor
divino, podendo implicar a recusa de se entregar ao dinamismo da caridade. A acídia ou
preguiça espiritual chega a recusar até a alegria que vem de Deus e a ter horror ao bem divino.
O ódio a Deus vem do orgulho. Opõe-se ao amor de Deus, cuja bondade nega, e atreve-se a
maldizê-lo como aquele que proíbe os pecados e inflige as penas.

II. "SÓ A ELE PRESTARÁS CULTO"


2095 As virtudes teologais da fé, esperança e caridade dão forma às virtudes morais e as
vivificam. Assim, a caridade nos leva a dar a Deus aquilo que em toda justiça lhe devemos
enquanto criaturas. A virtude da religião nos dispõe a esta atitude.

A ADORAÇO
2096 A adoraço é o primeiro ato da virtude da religião. Adorar a Deus é reconhecê-lo
como Deus, como o Criador e o Salvador, o Senhor e o Dono de tudo o que existe, o Amor
infinito e misericordioso. "Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a Ele prestarás culto" (Lc 4,8), diz Jesus,
citando o Deuteronômio (6,13).
2097 Adorar a Deus é, no respeito e na submissão absoluta, reconhecer "o nada da
criatura", que não existe a não ser por Deus. Adorar a Deus é, como Maria no Magnificat, louvá-
lo, exaltá-lo e humilhar-se a si mesmo, confessando com gratidão que Ele fez grandes coisas e
que seu nome é santo. A adoraço do Deus único liberta o homem de se fechar em si mesmo,
da escravidão do pecado e da idolatria do mundo.

A ORAÇO
2098 Os atos de fé, de esperança e de caridade ordenados pelo primeiro mandamento
cumprem-se na oraço. A elevaço do espírito para Deus é expressão da adoraço que lhe
rendemos: prece de louvor e de aço de graças, de intercessão e de súplica. A oraço é uma
condiço indispensável para poder obedecer aos mandamentos de Deus. "É preciso orar
sempre. sem jamais esmorecer" (Lc 18,1).

O SACRIFÍCIO
2099 É justo oferecer a Deus sacrifícios em sinal de adoraço e de reconhecimento, de
súplica e de comunhão: "E verdadeiro sacrifício toda aço feita para se unir a Deus em santa
comunhão e poder ser feliz."
2100 Para ser verídico, o sacrifício exterior deve ser a expressão do sacrifício espiritual:
"Meu sacrifício é um espírito compungido..." (Sl 51,19). Os profetas da Antiga Aliança
denunciaram com freqüncia os sacrifícios feitos sem participaço interior ou sem ligaço com o
amor do próximo. Jesus recorda a palavra do profeta Oséias: "E misericórdia que eu quero, e não
sacrifício" (Mt 9,13; 12,7). O único sacrifício perfeito é o que Cristo ofereceu na cruz, em total
oblaço ao amor do Pai e para nossa salvaço. Unindo-nos a seu sacrifício, podemos fazer de
nossa vida um sacrifício a Deus.

PROMESSAS E VOTOS
2101 Em várias circunstâncias, o cristão é convidado a fazer promessas a Deus. O Batismo
e a Confirmaço, o Matrimônio e a Ordenaço sempre as contêm. Por devoço pessoal, o
cristão pode também prometer a Deus este ou aquele ato, oraço, esmola, peregrinaço etc. A
fidelidade às promessas feitas a Deus é uma manifestaço do respeito devido à majestade
divina e do amor para com o Deus fiel.
2102 "O voto, isto é, a promessa deliberada e livre de um bem possível e melhor feita a
Deus, deve ser cumprido a título da virtude de religião.” O voto é um ato de devoço no qual o
cristão se consagra a Deus ou lhe promete uma obra boa. Pelo cumprimento de seus votos, o
homem dá a Deus o que lhe prometeu e consagrou. Os Atos dos Apóstolos nos mostram S. Paulo
preocupado em cumprir os votos que fizera.
2103 A Igreja atribui um valor exemplar aos votos de praticar os conselhos evangélicos:


A Mãe Igreja alegra-se ao encontrar em seu seio muitos homens e mulheres que seguem
mais estreitamente a exinaniço do Salvador e mais claramente a demonstram, aceitando a
pobreza na liberdade dos filhos de Deus e renunciando às próprias vontades; submetem-se eles
aos homens por causa de Deus, em matéria de perfeiço, além da medida do preceito, para
que mais plenamente se conformem a Cristo obediente.
Em certos casos a Igreja pode, por motivos adequados, dispensar dos votos e das
promessas.

O DEVER SOCIAL DE RELIGIÃO E O DIREITO À LIBERDADE RELIGIOSA
2104 "Todos os homens estão obrigados a procurar a verdade, sobretudo naquilo que diz
respeito a Deus e à sua Igreja e, depois de conhecê-la, a abraç-la e praticá-la." Este dever
decorre da "própria natureza dos homens" e não contraria um "respeito sincero" para com as
diversas religiões que "refletem lampejos daquela verdade que ilumina a todos os homens[a88] ",
nem a exigência da caridade que insta os cristãos a "tratar com amor, prudência e paciência os
homens que vivem no erro ou na ignorância acerca da fé".
2105 O dever de prestar a Deus um culto autêntico diz respeito ao homem individual e
socialmente. Esta é "a doutrina católica tradicional sobre o dever moral dos homens e das
sociedades em relaço à verdadeira religião e à única Igreja de Cristo". Evangelizando sem
cessar os homens, a Igreja trabalha para que estes possam "penetrar de espírito cristão as
mentalidades e os costumes, as leis e as estruturas da comunidade em que vivem". O dever
social dos cristãos é respeitar e despertar em cada homem o amor da verdade e do bem. Exige
que levem a conhecer o culto da única religião verdadeira, que subsiste na Igreja católica e
apostólica[a93] . Os cristãos são chamados a ser a luz do mundo. Assim, a Igreja manifesta a
realeza de Cristo sobre toda a criaço e particularmente sobre as sociedades humanas.
2106 "Em matéria religiosa, ninguém seja obrigado a agir contra a própria consciência,
nem impedido de agir, dentro dos justos limites, de acordo com ela, em particular ou em público,
só ou associado a outrem." Este direito funda-se na própria natureza da pessoa humana, cuja
dignidade a faz aderir livremente à verdade divina que transcende a ordem temporal. Por isso,
este direito "continua a existir ainda para aqueles que não satisfazem à obrigaço de procurar a
verdade e de aderir a ela"
2107 "Se, em razão de circunstâncias particulares dos povos, for conf erida a uma única
comunidade religiosa o especial reconhecimento civil na organizaço jurídica da sociedade,
será necessário que ao mesmo tempo se reconheça e se observe em favor de todos os cidadãos
e das comunidades religiosas o direito à liberdade em matéria religiosa.”
2108 O direito à liberdade religiosa não significa nem a per-missão moral de aderir ao erro
nem um suposto direito ao erro, mas um direito natural da pessoa humana à liberdade civil, quer
dizer, à imunidade de coaço externa nos justos limites, em matéria religiosa, da parte do poder
político. Este direito natural deve ser reconhecido no ordenamento jurídico da sociedade, de tal
maneira que constitua um direito civil.
2109 O direito à liberdade religiosa não pode ser em si ilimitado, nem limitado apenas por
uma "ordem pública" entendida de maneira positivista ou naturalista. Os "justos limites" que lhe
são inerentes devem ser determinados para cada situaço social pela prudência política,
segundo as exigências do bem comum, e ratificados pela autoridade civil segundo "normas
jurídicas, de acordo com a ordem moral objetiva".

III. "NÃO TERÁS OUTROS DEUSES DIANTE DE MIM"
2110 O primeiro mandamento proíbe prestar honra a outros afora o único Senhor que se
revelou a seu povo. Proscreve a superstiço e a irreligião. A superstiço representa de certo


modo um excesso perverso de religião; a irreligião é um vício oposto por deficiência à virtude da
religião.

A SUPERSTIÇO
2111 A superstiço é o desvio do sentimento religioso e das práticas que ele impõe. Pode
afetar também o culto que prestamos ao verdadeiro Deus, por exemplo, quando atribuímos uma
importância de alguma maneira mágica a certas práticas, em si mesmas legítimas ou
necessárias. Atribuir eficácia exclusivamente à materialidade das oraçes ou dos sinais
sacramentais, sem levar em conta as disposiçes interiores que elas exigem, é cair na
superstiço.

A IDOLATRIA
2112 O primeiro mandamento condena o politeísmo. Exige que o homem não acredite
em outros deuses afora Deus, que não venere outras divindades afora a única. A escritura lembra
constantemente esta rejeiço de "ídolos, ouro e prata, obras das mãos dos homens", os quais
"têm boca e não falam, têm olhos e não vêem..." Esses ídolos vãos tornam as pessoas vãs:
"Como eles serão os que o fabricaram e quem quer que ponha neles a sua fé" (Sl 115,4-
5.8). Deus, pelo contrário, é o "Deus vivo" (Jo 3,10) que faz viver e intervém na história.
2113 A idolatria não diz respeito somente aos falsos cultos do paganismo. Ela é uma
tentaço constante da fé. Consiste em divinizar o que não é Deus. Existe idolatria quando o
homem presta honra e veneraço a uma criatura em lugar de Deus, quer se trate de deuses ou
de demônios (por exemplo, o satanismo), do poder, do prazer, da raça, dos antepassados, do
Estado, do dinheiro etc. "Não podeis servir a Deus e ao dinheiro", diz Jesus (Mt 6,24). Numerosos
mártires morreram por não adorar "a Besta", recusando-se até a simular seu culto. A idolatria
nega o senhorio exclusivo de Deus; é, por-tanto, incompatível com a comunhão divina.
2114 A vida humana unifica-se na adoraço do Único. O mandamento de adorar o
único Senhor simplifica o homem e o livra de uma dispersão infinita. A idolatria é uma perversão
do sentimento religioso inato do homem. O idólatra é aquele que "refere a qualquer coisa que
não seja Deus a sua indestrutível noço de Deus”.

ADIVINHAÇO E MAGIA
2115 Deus pode revelar o futuro a seus profetas ou a outros santos. Todavia, a atitude
cristã correta consiste em entregar -se com confiança nas mãos da providência no que tange ao
futuro, e em abandonar toda curiosidade doentia a este respeito. A imprevidência pode ser uma
falta de responsabilidade.
2116 Todas as formas de adivinhaço hão de ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos
demônios, evocaço dos mortos ou outras práticas que erroneamente se supõe "descobrir" o
futuro. A consulta aos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretaço de presságios e
da sorte, os fenômenos de visão, o recurso a médiuns escondem uma vontade de poder sobre o
tempo, sobre a história e, finalmente, sobre os homens, ao mesmo tempo que um desejo de
ganhar para si os poderes ocultos. Essas práticas contradizem a honra e o respeito que, unidos ao
amoroso temor, devemos exclusivamente a Deus.
2117 Todas as práticas de magia ou de feitiçaria com as quais a pessoa pretende
domesticar os poderes ocultos, para colocá-los a seu serviço e obter um poder sobrenatural
sobre o próximo - mesmo que seja para proporcionar a este a saúde - são gravemente contrárias
à virtude da religião. Essas práticas são ainda mais condenáveis quando acompanhadas de
uma intenço de prejudicar a outrem, ou quando recorrem ou não à intervenço dos demônios.
O uso de amuletos também é repreensível. O espiritismo implica freqüentemente práticas de
adivinhaço ou de magia. Por isso a Igreja adverte os fiéis a evitá-lo. O recurso aos assim


chamados remédios tradicionais não legitima nem a invocaço dos poderes maléficos nem a
exploraço da credulidade alheia.

A IRRELIGIÃO
2118 O primeiro mandamento de Deus reprova os principais pecados de irreligião: a
aço de tentar a Deus em palavras ou em atos, o sacrilégio e a simonia.
2119 A aço de tentar a Deus consiste em pôr â prova, em palavras ou em atos, sua
bondade e sua onipotência. Foi assim que Satanás quis conseguir que Jesus se atirasse do alto do
templo e obrigasse Deus, desse modo, a agir. Jesus opõe-lhe a Palavra de Deus: "Não tentarás o
Senhor teu Deus" (Dt 6,16). O desafio contido em tal "tentaço de Deus" falta com o respeito e a
confiança que devemos a nosso Criador e Senhor. Inclui sempre uma dúvida a respeito de seu
amor, sua providência e seu poder.
2120 O sacrilégio consiste em profanar ou tratar indignamente os sacramentos e as
outras açes litúrgicas, bem como as pessoas, as coisas e os lugares consagrados a Deus. O
sacrilégio é um pecado grave, sobretudo quando cometido contra a Eucaristia, pois neste
sacramento o próprio Corpo de Cristo se nos torna substancialmente presente.
2121 A simonia é definida como a compra ou a venda de realidades espirituais. A
Simão, o mago, que queria comprar o poder espiritual que via em aço nos Apóstolos, Pedro
responde: "Pereça o teu dinheiro, e tu com ele, porque julgaste poder comprar com dinheiro o
dom de Deus" (At 8,20). Desta maneira, Pedro obedecia à Palavra de Jesus: "De graça
recebestes, dai de graça" (Mt 10,8). É impossível apropriar-se dos bens espirituais e comportar-se
em relaço a eles como um possuidor ou um dono, pois a fonte deles é Deus. Só se pode
recebê-los gratuitamente dele.
2122 "Além das ofertas estabelecidas pela autoridade competente, o ministro nada
peça pela administraço dos sacramentos, tomando cuidado sempre que os necessitados não
sejam privados da ajuda dos sacramentos por causa de sua pobreza." A autoridade competente
fixa estas "ofertas" em virtude do princípio de que o povo cristão deve cuidar do sustento dos
ministros da Igreja. "O operário é digno de seu sustento" (Mt 10,10).

O ATEÍSMO
2123 "Muitos de nossos contemporâneos não percebem de modo algum esta união intima
e vital com Deus, ou explicitamente a rejeitam, a ponto de o ateísmo figurar entre os mais graves
problemas de nosso tempo."
2124 O termo ateísmo abrange fenômenos muito diversos. Uma forma freqüente é o
materialismo prático, de quem limita suas necessidades e suas ambiçes ao espaço e ao tempo.
O humanismo ateu considera falsamente que o homem é "seu próprio fim e o único artífice e
demiurgo de sua própria história". Outra forma de ateísmo contemporâneo espera a libertaço
do homem pela via econômica e social, sendo que "a religião, por sua própria natureza,
impediria esta libertaço, na medida em que, ao estimular a esperança do homem numa
quimérica vida futura, o desviaria da construço da cidade terrestre".
2125 Na medida em que rejeita ou recusa a existência de Deus, o ateísmo é um pecado
contra a virtude da religião. A imputabilidade desta falta pode ser seriamente diminuída em
virtude das intençes e das circunstâncias. Na gênese e difusão do ateísmo, "grande parcela de
responsabilidade pode caber aos crentes, na medida em que, negligenciando a educaço da
fé, ou por uma exposiço enganosa da doutrina, ou por deficiência em sua vida religiosa, moral
e social, se poderia dizer deles que mais escondem do que manifestam o rosto autêntico de
Deus e da religião"
2126 Muitas vezes o ateísmo se funda em uma concepço falsa da autonomia humana,
que chega a recusar toda dependência em relaço a Deus. Contudo, "o reconhecimento de


Deus não se opõe de modo algum à dignidade do homem, já que esta dignidade se
fundamenta e se aperfeiçoa no próprio Deus". "A Igreja sabe perfeitamente que sua mensagem
se coaduna com as aspiraçes mais intimas do coraço humano."

O AGNOSTICISMO
2127 O agnosticismo se reveste de muitas formas. Em certos casos, o agnóstico se recusa
a negar a Deus; ao contrário, postula a existência de um ser transcendente, que não poderia
revelar-se e sobre o qual ninguém seria capaz de dizer nada! Em outros casos, o agnóstico não
se pronuncia sobre a existência de Deus, declarando que é impossível prová-la e até afirmá-la ou
negá-lo.
2128 O agnosticismo pode, às vezes, conter certa busca de Deus, mas pode igualmente
representar um indiferentismo, uma fuga da pergunta última sobre a existência e uma preguiça
da consciência moral. Com muita freqüncia o agnosticismo equivale a um ateísmo prático.

IV. "Não Farás Para Ti Imagem Esculpida De Nada..."
2129 O mandamento divino incluía a proibiço de toda representaço de Deus por
mão do homem. O Deuteronômio explica: "Uma vez que nenhuma forma vistes no dia em que
Senhor vos falou no Horeb, do meio do fogo, não vos pervertais, fazendo para vós uma imagem
esculpida em forma de ídolo..." (Dt 4,15-16). Eis aí o Deus absolutamente transcendente que se
revelou a Israel. "Ele é tudo", mas, ao mesmo tempo, ele está "acima de todas as suas obras" (Eclo
43,27-28). Ele é "a própria fonte de toda beleza criada" (Sb 1 3,3).
2130 No entanto, desde o Antigo Testamento, Deus ordenou ou permitiu a instituiço de
imagens que conduziriam simbolicamente à salvaço por meio do Verbo encarnado, como são
Serpente de Bronze, a Arca da Aliança e os Querubins.
2131 Foi fundamentando-se no mistério do Verbo encarnado que (sétimo Concílio
ecumênico, em Nicéia (em 787), justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: os de
Cristo, mas também os da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Ao se encarnar, o Filho
de Deus inaugurou uma nova "economia" das imagens.
2132 O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe
os ídolos. De fato, "a hora prestada a uma imagem se dirige ao modelo Original, e "quem venera
uma imagem venera a pessoa que nela está pintada. A honra prestada às santas imagens é
uma "veneraço respeitosa", e não uma adoraço, que só compete a Deus:
Oculto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas as considera em
seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que
se dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a realidade da qual é
imagem.

RESUMINDO
2133 "Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coraço, com toda a tua alma e com
todas as tuas forças" (Dt 6,5).
2134 O primeiro mandamento convida o homem a crer em Deus, a esperar nele e a
amá-lo acima de tudo.
2135 "Adorarás o Senhor teu Deus" (Mt 4,]O). Adorar a Deus, orar a Ele, oferecer-lhe o
culto que lhe é devido, cumprir as promessas e os votos que foram fritos a Ele são os atos da
virtude de religião que nascem da obediência ao primeiro ma ndamento.
2136 O dever de prestar um culto autêntico a Deus incumbe ao homem, tanto
individualmente como em sociedade.


2137 O homem deve "poder professar livremente a religião, tanto em particular como
em público. "
2138 A superstiço é um desvio do culto que rendemos ao verdadeiro Deus. Ela se mostra
particularmente na idolatria, assim como nas diferentes formas de adivinhaço e de magia.
2139 A aço de tentar a Deus, em palavras ou em atos, o sacrilégio, a simonia são
pecados de irreligião proibidos pelo primeiro mandamento.
2140 Enquanto rejeita ou recusa a existência de Deus, o ateísmo é um pecado contra o
primeiro mandamento.
2141 O culto às imagens sagradas está fundamentado no mistério da encarnaço do
Verbo de Deus. Não contraria o primeiro mandamento.


TERCEIRA PARTE - A VIDA EM CRISTO
ARTIGO 2
O SEGUNDO MANDAMENTO

Não pronunciarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão (Ex 20,7).
Foi dito aos antigos: "Não perjurarás"... Eu, porém, vos digo não jureis em hipótese alguma
(Mt 5,33-34).
I. O nome do Senhor é santo
2142 "Não pronunciarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão' (Ex 20,7). O segundo
mandamento pertence, como o primeiro ao âmbito da virtude da religião e regula mais
particularmente o uso que fazemos da palavra nas coisas santas.
2143 Entre todas as palavras da revelaço há uma, singular, que é a revelaço do
nome de Deus. Deus confia seu nome àqueles que crêem nele; revela-se-lhes em seu mistério
pessoal. O dom do nome pertence à ordem da confiança e da intimidade. "O nome do Senhor é
santo." Eis por que o homem não pode abusar dele. Deve guardá-lo na memória num silêncio de
adoraço amorosa. Não fará uso dele a não ser para bendizê-lo, louvá-lo e glorificá-lo.
2144 A deferência para com o nome de Deus exprime o respeito que é devido ao
mistério do próprio Deus e a toda a realidade sagrada que ele evoca. O sentido do sagrado faz
parte do âmbito da religião:
Os sentimentos de temor e do sagrado são ou não sentimentos cristãos? Ninguém pode
em sã razão duvidar disso. São sentimentos que teríamos, em grau intenso, se tivéssemos a visão
do Deus soberano. São sentimentos que teríamos se nos apercebêssemos claramente de sua
presença. Na medida em que cremos que Ele está presente, devemos tê-los. Não tê-los é não
perceber, não crer que Ele está presente.
2145 O fiel deve testemunhar o nome do Senhor, confessando sua fé sem ceder ao
medo. O ato da pregaço e o ato da catequese devem estar penetrados de adoraço e de
respeito pelo nome de Nosso Senhor, Jesus Cristo.
2146 O segundo mandamento proíbe o abuso do nome de Deus, isto é, todo uso
inconveniente do nome de Deus, de Jesus Cristo, da Virgem Maria e de todos os santos.
2147 As promessas feitas a outrem em nome de Deus empenham a honra, a fidelidade,
a veracidade e a autoridade divinas. Devem, pois, em justiça, ser respeitadas. Ser-lhes infiel é
abusar do nome de Deus e, de certo modo, fazer de Deus um mentiroso.


2148 A blasfêmia opõe-se diretamente ao segundo mandamento. Ela consiste em
proferir contra Deus interior ou exteriormente - palavras de ódio, de ofensa, de desafio, em falar
mal de Deus, faltar-lhe deliberadamente com o respeito ao abusar do nome de Deus. São Tiago
reprova "os que blasfemam contra o nome sublime (de Jesus) que foi invocado sobre eles" (Tg
2,7). A proibiço da blasfêmia se estende às palavras contra a Igreja de Cristo, os santos, as
coisas sagradas. É também blasfemo recorrer ao nome de Deus para encobrir práticas
criminosas, reduzir povos à servidão, torturar ou matar. O abuso do nome de Deus para cometer
um crime provoca a rejeiço da religião.
A blasfêmia é contrária ao respeito devido a Deus e a seu santo nome. E em si um pecado
grave.
2149 As pragas, que fazem intervir o nome de Deus, sem intenço de blasfêmia, são
uma falta de respeito para com o Senhor.
O segundo mandamento proíbe também o uso mágico do nome divino.
O nome de Deus é grande lá onde for pronunciado com o respeito devido à sua
grandeza e à sua majestade. O nome de Deus é santo lá onde for proferido com veneraço e
com temor de ofendê -lo.

II. O NOME DO SENHOR PRONUNCIADO EM VÃO
2150 O segundo mandamento proíbe o juramento falso. Fazer juramento ou jurar é
invocar a Deus como testemunha do que se afirma. E invocar a veracidade divina como
garantia de nossa própria veracidade. O juramento empenha o nome do Senhor. "E ao Senhor
teu Deus que temerás, a Ele servirás e pelo seu nome jurarás" (Dt 6,13).
2151 Abster-se de jurar falsamente é um dever para com Deus. Como Criador e Senhor,
Deus é a regra de toda verdade. A palavra humana está de acordo com Deus ou em oposiço
a Ele, que é a própria verdade. Quando é verídico e legítimo, o juramento põe à luz a relaço
da palavra humana com a verdade de Deus. O juramento falso invoca Deus para ser
testemunha de uma mentira.
2152 E perjuro aquele que, sob juramento, faz uma promessa que não tem intenço de
manter ou que, depois de ter prometido algo sob juramento, não o cumpre. O perjúrio constitui
uma grave falta de respeito para com o Senhor de toda palavra. Comprometer-se por juramento
a praticar uma obra má contrário à santidade do nome divino.
2153 Jesus expôs o segundo mandamento no Sermão da Montanha: "Ouvistes o que foi
dito aos antigos: 'Não perjurarás, mas cumprirás os teus juramentos para com o Senhor'. Eu,
porém, vos digo: não jureis em hipótese nenhuma... Seja o vosso 'sim', sim, e o vosso 'não', não. O
que passa disso vem do Maligno" (Mt 5,33~34.37). Jesus ensina que todo juramento implica uma
referência a Deus e que a presença de Deus e de sua verdade deve ser honrada em toda
palavra. A discriço em recorrer a Deus na linguagem caminha de mãos dadas com a atenço
respeitosa à sua presença, testemunhada ou desprezada, em cada uma de nossas afirmaçes.
2154 Seguindo S. Paulo, a Tradiço da Igreja entendeu que as palavras de Jesus não se
opõem ao juramento quando é feito por uma causa grave e justa (por exemplo, perante um
tribunal). "O juramento, isto é, a invocaço do nome de Deus com testemunha da verdade, não
se pode fazer, a não ser na verdade, no discernimento e na justiça."
2155 A santidade do nome divino exige que não se recorra a ele para coisas fúteis e
não se preste juramento em circunstâncias suscetíveis de interpretá-lo como uma aprovaço do
po-der que o exigisse injustamente. Quando o juramento é exigi-do por autoridades civis
ilegítimas, pode-se recusá-lo. Deve ser recusado quando é pedido para fins contrários à
dignidade das pessoas ou à comunhão da Igreja.

III. O NOME CRISTÃO


2156 O sacramento do Batismo é conferido "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo"
(Mt 28,19). No Batismo, o nome do Senhor santifica o homem, e o cristão recebe seu próprio
nome na Igreja. Este pode ser o de um santo, isto é, de um discípulo que viveu uma vida de
fidelidade exemplar a seu Senhor. O "nome de Batismo" pode também exprimir um mistério
cristão ou uma virtude cristã. "Cuidem os pais, os padrinhos e o pároco para que não se
imponham nomes alheios ao senso cristão."
2157 O cristão começa seu dia, suas oraçes e suas açes com o sinal-da-cruz, "em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém". O batizado dedica a jornada à glória de Deus
e invoca a graça do Salvador, que lhe possibilita agir no Espírito como filho do Pai. O sinal-da-cruz
nos fortifica nas tentaçes e nas dificuldades.
2158 Deus chama a cada um por seu nome. O nome de todo homem é sagrado. O
nome é o ícone da pessoa. Exige respeito, em sinal da dignidade de quem o leva.
2159 O nome recebido é um nome eterno. No Reino, o caráter misterioso e único de
cada pessoa marcada com o nome de Deus resplandecerá em plena luz. "Ao vencedor... darei
uma pedrinha branca na qual está escrito um nome novo, que ninguém conhece, exceto
aquele que o recebe" (Ap 2,17). "Tive esta visão: eis que o Cordeiro estava de pé sobre o Monte
Sião com os cento e quarenta e quatro mil que traziam escrito sobre a fronte o nome dele e o
nome de seu Pai" (Ap 14,1).

RESUMINDO
2160 "Senhor, nosso Deus, quão poderoso é teu nome em toda terra" (Sl 8,11).
2161 O segundo mandamento prescreve respeitar o nome do Senhor. O nome do Senhor
é santo.
2162 O segundo mandamento proíbe todo uso inconveniente do nome de Deus. A
blasfêmia consiste em usar o nome de Deus, de Jesus Cristo, da Virgem Maria e dos santos de
maneira injuriosa.
2163 O juramento falso invoca Deus como testemunha de uma mentira. O perjúrio é
uma falta grave contra o Senhor, sempre fiel a suas promessas.
2164 "Não jurar nem pelo Criador, nem pela criatura, se não for com verdade,
necessidade e reverência."
2165 No Batismo, o cristão recebe seu nome na Igreja. Os pais, os padrinhos e o pároco
cuidarão para que lhe seja dado um nome cristão. O patrocínio de um santo oferece um
modelo de caridade e um intercessor seguro.
2166 O cristão começa suas oraçes e suas açes pelo sinal-da-cruz, "em nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo. Amém"
2167 Deus chama cada um por seu nome.

ARTIGO 3
O TERCEIRO MANDAMENTO

Lembra-te do dia do sábado para santificá-lo. Trabalharás durante seis dias e farás todas
as tuas obras. O sétimo dia, porém, é o sábado do Senhor, teu Deus. Não farás nenhum trabalho
(Ex 20,8-l0). O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado, de modo que o
Filho do Homem é senhor até do sábado (Mc 2,27-28).
I. O Dia do Sábado


2168 O terceiro mandamento do Decálogo lembra a santidade do sábado: "O sétimo
dia é sábado; repouso absoluto em honra do Senhor" (Ex 31,15).
2169 A propósito dele, a Escritura faz memória da criaço: "Porque em seis dias o Senhor
fez o céu e a terra, o mar e tudo o que eles contêm, mas repousou no sétimo dia. Por isso o
Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou" (Ex 20,11).
2170 No dia do Senhor, a Escritura revela ainda um memorial da libertaço de Israel da
escravidão do Egito: "Recorda que foste escravo na terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te
fez sair de lá com a mão forte e o braço estendido. E por isso que o Senhor teu Deus te ordenou
guardar o dia de sábado" (Dt 5,15).
2171 Deus confiou o sábado a Israel, para que ele pudesse guardá-lo em sinal da
aliança inquebr antável[a30] . O sábado é, para o Senhor, santamente reservado ao louvor de
Deus, de sua obra de criaço e de suas açes salvíficas em favor de Israel.
2172 O agir de Deus é o modelo do agir humano. Se Deus "retomou o fôlego" no sétimo
dia (Ex 31,17), também o homem deve "folgar" e deixar que os outros, sobretudo os pobres,
"retomem fôlego". O sábado faz cessar os trabalhos cotidianos e concede uma pausa. E um dia
de protesto contra as escravidões do trabalho e o culto do dinheiro.
2173 O Evangelho relata numerosos incidentes em que Jesus é acusado de violar a lei
do sábado. Mas Jesus nunca profana a santidade desse dia[a35] . Dá-nos com autoridade sua
autêntica interpretaço: "O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado" (Mc
2,27). Movido por compaixão, Cristo se permite, no "dia de sábado, fazer o bem de preferência
ao mal, salvar uma vida de preferência a matar. O sábado é o dia do Senhor das misericórdias e
da honra de Deus. "O Filho do Homem é senhor até do sábado" (Mc 2,28).

II. O Dia do Senhor
Este é o dia que o Senhor fez, exultemos e alegremo -nos nele (Sl 117,24).

O DIA DA RESSURREIÇO: A NOVA CRIAÇO
2174 Jesus ressuscitou dentre os mortos "no primeiro dia da semana" (Mc 16,2[a39] ).
Enquanto "primeiro dia", o dia da Ressurreiço de Cristo lembra a primeira criaço. Enquanto
"oitavo dia", que segue ao sábado, significa a nova criaço inaugurada com a Ressurreiço de
Cristo. Para os cristãos, ele se tomou o primeiro de todos os dias, a primeira de todas as festas, o
dia do Senhor ("Hé kyriaké hemera", "dies dominica "), o "domingo":
Reunimo-nos todos no dia do sol, porque é o primeiro dia (após sábado dos judeus, mas
também o primeiro dia) em que Deus extraindo a matéria das trevas, criou o mundo e, nesse
mesmo dia Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dentre os mortos] .

O DOMINGO - PLENITUDE DO SÁBADO
2175 O domingo se distingue expressamente do sábado, ao qual sucede
cronologicamente, a cada semana, e cuja prescriço espiritual substitui, para os cristãos. Leva à
plenitude, na Páscoa de Cristo, a verdade espiritual do sábado judeu e anuncia o repouso
eterno do homem em Deus. Pois o culto da lei preparava o mistério de Cristo e o que nele se
praticava prefigurava, de alguma forma, algum aspecto de Cristo:
Aqueles que viviam segundo a ordem antiga das coisas volta-ram-se para a nova
esperança não mais observando o sábado, mas sim o dia do Senhor, no qual a nossa vida é
abençoada por Ele e por sua morte.
2176 A celebraço do domingo observa a prescriço moral naturalmente inscrita no
coraço do homem de "prestar a Deus um culto exterior, visível, público e regular sob o signo de


seu beneficio universal para com os homens”. O culto dominical cumpre o preceito moral da
Antiga Aliança, cujo ritmo e espírito retoma ao celebrar cada semana o Criador e o Redentor de
seu povo.

A EUCARISTIA DOMINICAL
2177 A celebraço dominical do Dia e da Eucaristia do Senhor está no coraço da vida
da Igreja. "O domingo, dia em que por tradiço apostólica se celebra o Mistério Pascal, deve ser
guardado em toda a Igreja como dia de festa de preceito por excelência."
"Devem ser guardados igualmente o dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, da
Epifania, da Ascensão e do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, de Santa Maria, Mãe de Deus,
de sua Imaculada Conceiço e Assunço, de São José, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e,
por fim, de Todos os Santos.
2178 Esta prática da assembléia cristã data dos inícios da era apostólica[a50] . A Epístola
aos Hebreus lembra: "Não deixemos as nossas assembléias, como alguns costumam fazer.
Procure-mos animar-nos sempre mais" (Hb 10,25).
A Tradiço guarda a lembrança de uma exortaço sempre atual: "Vir cedo à Igreja,
aproximar-se do Senhor e confessar seus pecados, arrepender-se na oraço...Participar da santa
e divina liturgia terminar a oraço e não sair antes da despedida... Dissemos muitas vezes: este
dia vos é dado para a oraço e o repouso. E o dia que o Senhor fez. Exultemos e alegremo-nos
nele[a51] "
2179 "Paróquia é uma determinada comunidade de fiéis, constituída de maneira estável
na Igreja particular, e seu cuidado pastoral é confiado ao pároco, como a seu pastor próprio,
sob autoridade do bispo diocesano." E o lugar onde todos os fiéis podem ser congregados pela
celebraço dominical da Eucaristia. A paróquia inicia o povo cristão na expressão ordinária da
vida litúrgica, reúne-o nesta celebraço, ensina a doutrina salvífica de Cristo, pratica a caridade
do Senhor nas obras boas e fraternas.
Não podes rezar em casa como na Igreja, onde se encontra o povo reunido, onde o grito
é lançado a Deus de um só coraço. Há ali algo mais, a união dos espíritos, a harmonia das
almas o vínculo da caridade, as oraçes dos presbíteros.

A OBRIGAÇO DO DOMINGO
2180 O mandamento da Igreja determina e especifica a lei do Senhor: "Aos domingos e
nos outros dias de festa de preceito, os fiéis têm a obrigaço de participar da missa". "Satisfaz ao
preceito de participar da missa quem assiste à missa celebrada segundo o rito católico no
próprio dia de festa ou à tarde do dia anterior.
2181 A Eucaristia do domingo fundamenta e sanciona toda a prática cristã. Por isso os
fiéis são obrigados a participar da Eucaristia nos dias de preceito, a não ser por motivos muito
sérios (por exemplo, uma doença, cuidado com bebês) ou se forem dispensados pelo próprio
pastor[a59] . Aqueles que deliberadamente faltam a esta obrigaço cometem pecado grave.
2182 A participaço na celebraço comunitária da Eucaristia dominical é um
testemunho de pertença e de fidelidade a Cristo e à sua Igreja. Assim, os fiéis atestam sua
comunhão na fé e na caridade. Dão simultaneamente testemunho da santidade de Deus e de
sua esperança na salvaço, reconfortando-se mutua-mente sob a moço do Espírito Santo.
2183 "Por falta de ministro sagrado ou por outra causa grave, se a participaço na
celebraço eucarística se tornar impossível, recomenda-se vivamente que os fiéis participem da
liturgia da Palavra, se houver, na igreja paroquial ou em outro lugar sagrado, celebrada segundo
as prescriçes do Bispo diocesano, ou então se dediquem à oraço durante um tempo
conveniente, a sós ou em família, ou em grupos de famílias, de acordo com a oportunidade."



DIA DE GRAÇA E DE INTERRUPÇO DO TRABALHO
2184 Como Deus "descansou no sétimo dia, depois de toda a obra que fizera" (Gn 2,2),
a vida humana é ritmada pelo trabalho e pelo repouso. A instituiço do dia do Senhor contribui
para que todos desfrutem do tempo de repouso e de lazer suficiente que lhes permita cultivar
sua vida familiar, cultural, social e religiosa.
2185 Durante o domingo e os outros dias de festa de preceito, os fiéis se absterão de se
entregar aos trabalhos ou atividades que impedem o culto devido a Deus, a alegria própria ao
dia do Senhor, a prática das obras de misericórdia e o descanso conveniente do espírito e do
corpo[a65] . As necessidades familiares ou uma grande utilidade social são motivos legítimos
para dispensa do preceito do repouso dominical. Os fiéis cuidarão para que dispensas legítimas
não acabem introduzindo hábitos prejudiciais à religião, à vida familiar e à saúde.
O amor da verdade busca o santo ócio, a necessidade do amor acolhe o trabalho justo.
2186 Os cristãos que dispõem de lazer devem lembrar-se de seus irmãos que têm as
mesmas necessidades e os mesmos direito mas não podem repousar por causa da pobreza e da
miséria. O domingo é tradicionalmente consagrado pela piedade cristã às boas obras e aos
humildes serviços de que carecem os doentes, os enfermos, os idosos. Os cristãos santificarão
ainda o domingo dispensando à sua família e aos parentes o tempo e a atenço que
dificilmente podem dispensar nos outros dias da semana. O domingo é um tempo de reflexão,
de silêncio, de cultura e de meditaço, que favorecem o crescimento da vida interior cristã.
2187 Santificar os domingos e dias de festa exige um esforço o comum. Cada cristão
deve evitar impor sem necessidades a outrem o que o impediria de guardar o dia do Senhor.
Quando os costumes (esporte, restaurantes etc.) e as necessidades sociais (serviços públicos etc.)
exigem de alguns um trabalho dominical, cada um assuma a responsabilidade de encontrar um
tempo suficiente de lazer. Os fiéis cuidarão, com temperança e caridade, de evitar os excessos e
violências causadas às vezes pelas diversões de massa. Apesar das limitaçes econômicas, os
poderes públicos cuidarão de assegurar aos cidadãos um tempo destinado ao repouso e ao
culto divino. Os patrões têm uma obrigaço análoga com respeito a seus empregados.
2188 Dentro do respeito à liberdade religiosa e ao bem comum de todos, os cristãos
precisam envidar esforços no sentido de que os domingos e dias de festa da Igreja sejam feriados
legais. A todos têm de dar um exemplo público de oraço, de respeito e de alegria e defender
suas tradiçes como uma contribuiço preciosa para a vida espiritual da sociedade humana. Se
a legislaço do país ou outras razões obrigarem a trabalhar no domingo, que, apesar disso este
dia seja vivido como o dia de nossa libertaço, que nos faz participar desta "reunião de festa",
desta "assembléia dos primogênitos cujos nomes estão inscritos nos céus" (Hb 12,22-23).

RESUMINDO
2189 "Guardarás o dia de sábado para santificá-lo" (Dt 5,12). "No sétimo dia se fará
repouso absoluto em honra do Senhor" (Ex 31,15).
2190 O sábado, que representava o término da primeira criaço, é substituído pelo
domingo, que lembra a criaço nova, inaugurada com a Ressurreiço de Cristo.
2191 A Igreja celebra o dia da Ressurreiço de Cristo no oitavo dia, que é corretamente
chamado dia do Senhor, ou domingo.
2192 "O domingo (...)deve ser guardado em toda a Igreja como o dia de festa de
preceito por excelência." "No domingo e em outros dias de festa de preceito, os fiéis têm a
obrigaço de participar da missa."
2193 "No domingo e nos outros dias de festa de preceito, os fiéis se absterão das
atividades e negócios que impeçam o culto a ser prestado a Deus, a alegria própria do dia do
Senhor e o devido descanso da mente e do corpo."


2194 A instituiço do domingo contribui para que "todos tenham tempo de repouso e
de lazer suficiente para lhes permitir cultivar sua vida familiar, cultural, social e religiosa.
2195 Todo cristão deve evitar impor sem necessidade aos outros aquilo que os impediria
de guardar o dia do Senhor.

CAPÍTULO II
"AMARÁS O PRÓXIMO COMO A TI MESMO"

Jesus disse a seus discípulos: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 13,34).
2196 Em resposta à pergunta feita acerca do primeiro dos mandamentos, Jesus diz: "O
primeiro é: 'Ouve, ó Israel: o Senhor nosso Deus é o único Senhor, e amarás o Senhor, teu Deus, de
todo o teu coraço, de toda a tua alma, com todo o teu espírito, e com toda a tua força'. O
segundo é este: 'Amarás O teu próximo como a ti mesmo'. Não existe outro manda-mento maior
do que estes" (Mc 12,29-31).
O apóstolo S. Paulo o recorda: "Quem ama o outro cumpriu a lei. De fato, os preceitos 'não
cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás' e todos os Outros se resumem
nesta sentença: amarás o teu próximo como a ti mesmo. A caridade não pratica o mal contra o
próximo. Portanto a caridade é a plenitude da lei" (Rm 13,8-10).

ARTIGO 4
O QUARTO MANDAMENTO
Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias terra que o Senhor, teu
Deus, te dá (Ex 20,12).
Era-lhes submisso (Lc 2,51).
O próprio Senhor Jesus recorda a força desse "mandamento de Deus" O Apóstolo ensina:
"Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isso é justo. 'Honra teu pai e tua mãe' é primeiro
mandamento com promessas: 'para seres feliz e teres uma longa vida sobre a terra"' (Ef 6,1-3).
2197 O quarto mandamento encabeça a segunda tábua. Indica ordem da caridade.
Deus quis que, depois dele mesmo, honrássemos nossos pais, a quem devemos a vida e que nos
transmitiram o conhecimento de Deus. Devemos honrar e respeitar todos aqueles que Deus, para
o nosso bem, revestiu de sua autoridade.
2198 Esse preceito está expresso sob a forma positiva de deveres a cumprir. Anuncia os
mandamentos que seguem e que se referem a um respeito particular pela vida, pelo
casamento, pelos bens terrestres, pela palavra dada. Constitui um dos fundamentos da doutrina
social da Igreja.
2199 O quarto mandamento dirige-se expressamente aos filhos em suas relaçes com
seu pai e sua mãe, porque esta relaço é a mais universal. Diz respeito também as relaçes de
parentesco com Os membros do grupo familiar. Manda prestar honra, afeiço e
reconhecimento aos avós e aos antepassados. Estende-se, enfim, aos deveres dos alunos para
com seu professor, dos empregados para com seus patrões, dos subordinados para com seus
chefes, dos cidadãos para com sua pátria e para com os que a administram ou a governam.
Este mandamento implica e subentende os deveres dos pais, tutores, professores, chefes,
magistrados, governantes, de todos os que exercem uma autoridade sobre outros ou sobre uma
comunidade.
2200 A observância do quarto mandamento acarreta sua recompensa: "Honra teu pai e
tua mãe para teres uma longa vida na terra, que o Senhor Deus te dá" (Ex 20,12). O respeito a


esse mandamento alcança, juntamente com os frutos espirituais, frutos temporais de paz e de
prosperidade. Ao contrário, a não observância desse mandamento acarreta grandes danos
para as comunidades e para as pessoas.

I. A FAMÍLIA NO PLANO DE DEUS
NATUREZA DA FAMÍLIA
2201 A comunidade conjugal está fundada no consentimento dos esposos. O casamento
e a família estão ordenados para o bem dos esposos, a procriaço e a educaço dos filhos. O
amor dos esposos e a geraço dos filhos instituem entre os membros de uma mesma família
relaçes pessoais e responsabilidades primordiais.
2202 Um homem e uma mulher unidos em casamento formam com seus filhos uma
família. Esta disposiço precede todo reconhecimento por parte da autoridade pública; impõe-
se a ela (isto é, não depende da autoridade civil para se constituir) e deve ser considerada
como a referência normal, em funço da qual devem ser avaliadas as diversas formas de
parentesco.
2203 Ao criar o homem e a mulher, Deus instituiu a família humana e dotou-a de sua
constituiço fundamental. Seus membros são pessoas iguais em dignidade. Para o bem comum
de seus membros e da sociedade, a família implica uma diversidade de responsabilidades, de
direitos e de deveres.

A FAMÍLIA CRISTÃ
2204 "Uma revelaço e atuaço específica da comunhão eclesial é constituída pela
família cristã, que também, por isso, se pode e deve chamar igreja doméstica." E uma
comunidade de fé, de esperança e de caridade; na Igreja ela tem uma importância singular,
como se vê no Novo Testamento.
2205 A família cristã é uma comunhão de pessoas, vestígio e imagem da comunhão do
Pai, do Filho e do Espírito Santo. Sua atividade procriadora e educadora é o reflexo da obra
criadora do Pai. Ela é chamada a partilhar da oraço e do sacrifício de Cristo. A oraço
cotidiana e a leitura da Palavra de Deus fortificam nela a caridade. A família cristã é
evangelizadora e missionária.
2206 As relaçes dentro da família acarretam uma afinidade de sentimentos, de afetos
e de interesses, afinidade essa que provém sobretudo do respeito mútuo entre as pessoas. A
família é uma comunidade privilegiada, chamada a realizar "uma carinhosa abertura recíproca
de alma entre os cônjuges e também uma atenta cooperaço dos pais na educaço dos
filhos[a16] ".

II. A FAMÍLIA E A SOCIEDADE
2207 A família é a célula originária da vida social. E a sociedade natural na qual o homem
e a mulher são chamados ao dom de si no amor e no dom da vida. A autoridade, a estabilidade
e a vida de relaçes dentro dela constituem os fundamentos da liberdade, da segurança e da
fraternidade no conjunto social. A família é a comunidade na qual, desde a infância se podem
assimilar os valores morais, tais como honrar a Deus e usar corretamente a liberdade. A vida em
família é iniciaço para a vida em sociedade.
2208 A família deve viver de maneira que seus membros aprendam a cuidar e a
responsabilizar -se pelos jovens e pelos velhos pelos doentes ou deficientes e pelos pobres. São
numerosas as famílias que, em certos momentos, não são capazes de proporcionar essa ajuda.
Cabe então a outras pessoas, a outras famílias e, subsidiariamente, à sociedade prover às suas


necessidades: "A religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: visitar os
órfãos e as viúvas em suas tribulaçes e guardar-se livre da corrupço do mundo" (Tg 1,27).
2209 A família deve ser ajudada e defendida pelas medidas sociais apropriadas.
Quando as famílias não são capazes de desempenhar suas funçes, outros organismos sociais
têm o dever de ajudá-las e de apoiar a instituiço familiar. De acordo com o princípio da
subsidiariedade, as comunidades mais amplas cuidarão de não usurpar seus poderes ou de
interferir na vida da família.
2210 A importância da família para a vida e o bem-estar da sociedade acarreta uma
responsabilidade particular desta última no apoio e no fortalecimento do casamento e da
família. Que o poder civil considere como dever grave "reconhecer e proteger a verdadeira
natureza do casamento e da família, defender a moralidade pública e favorecer a prosperidade
dos lares".
2211 A comunidade política tem o dever de honrar a família, de assisti-la, de lhe garantir
sobretudo:
ü O direito de se constituir, de ter filhos e de educá-los de
ü acordo com suas próprias convicçes morais e religiosas;
ü a proteço da estabilidade do vínculo conjugal e da instituiço familiar;
ü a liberdade de professar a própria fé, de transmiti-la, de educar nela os filhos, com os
meios e as Instituiçes necessárias;
ü o direito à propriedade privada, à liberdade de empreendimento, ao trabalho, à
moradia, à emigraço;
ü de acordo com as instituiçes dos países, o direito à assistência médica, à assistência
aos idosos, aos abonos familiares;
ü a proteço da segurança e da saúde, sobretudo em relaço aos perigos, como
drogas, pornografia, alcoolismo etc.;
ü a liberdade de formar associaçes com outras famílias e, assim, serem representadas
junto às autoridades civis.
2212 O quarto mandamento ilumina as outras relaçes na sociedade. Em nossos irmãos e
irmãs vemos os filhos de nossos pais; em nossos primos, os descendentes de nossos avós; em
nossos concidadãos, os filhos de nossa pátria; nos batizados, os filhos de nossa mãe, a Igreja; em
toda pessoa humana, um filho ou filha daquele que quer ser chamado "nosso Pai". Assim, nossas
relaçes com o nosso próximo são reconhecidas como de ordem pessoal. O próximo não é um
"indivíduo" da coletividade humana; ele é "alguém" que, por suas origens conhecidas, merece
atenço e respeito individuais.
2213 As comunidades humanas são compostas de pessoas. Seu bom governo não se
limita à garantia dos direitos e ao cumpri mento dos deveres, assim como à fidelidade aos
contratos. Relaçes justas entre patrões e empregados, governantes e cidadãos supõem o
mútuo e natural bem-querer que convém à dignidade das pessoas humanas preocupadas com
a justiça e a fraternidade.

III. DEVERES DOS MEMBROS DA FAMÍLIA
DEVERES DOS FILHOS
2214 A paternidade divina é a fonte da paternidade humana; é o fundamento da honra
devida aos pais. O respeito dos filhos, menores ou adultos, pelo pai e pela mãe alimenta-se da
afeiço natural nascida do vínculo que os une e é exigido pelo preceito divino.
2215 O respeito pelos pais (piedade filial) é produto do reconhecimento para com
aqueles que, pelo dom da vida, por seu amor e por seu trabalho puseram seus filhos no mundo e


permitiram que crescessem em estatura, em sabedoria e graça. "Honra teu pai de todo o
coraço e não esqueças as dores de tua mãe. Lembra-te que foste gerado por eles. O que lhes
darás pelo que te deram?" (Eclo 7,27-28).
2216 O respeito filial se revela pela docilidade e pela obediência verdadeiras. "Meu filho,
guarda os preceitos de teu pai, não rejeites a instruço de tua mãe... Quando caminhares, te
guiarão; quando descansares, te guardarão; quando despertares, te falarão" (Pr 6,20-22). "Um
filho sábio ama a correço do pai, e o zombador não escuta a reprimenda" (Pr 13,1).
2217 Enquanto o filho viver na casa de seus pais, deve obedecer a toda solicitaço dos
pais que vise ao seu bem ou ao da família. 'Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, pois isso é
agradável ao Senhor" (Cl 3,20). Os filhos têm ainda de obedecer às prescriçes razoáveis de seus
educadores e de todos aqueles aos quais os pais os confiaram. Mas, se o filho estiver convicto
em consciência de que é moralmente mau obedecer a tal ordem, que não a siga.
Quando crescerem, os filhos continuarão a respeitar seus pais. Antecipar -se -ão aos desejos
deles, solicitarão de bom grado seus conselhos e aceitarão suas justas admoestaçes. A
obediência aos pais cessa com a emancipaço dos filhos, mas o respeito, que sempre lhes é
devido, não cessará de modo algum, pois (tal respeito) tem sua raiz no temor de Deus, um dos
dons do Espírito Santo.
2218 O quarto mandamento lembra aos filhos adultos suas responsabilidades para com
os pais. Enquanto puderem, devem dar-lhes ajuda material e moral nos anos da velhice e
durante o tempo de doença, de solidão ou de angústia. Jesus lembra este dever de
reconhecimento.
O Senhor glorificou o pai nos filhos e fortaleceu a autoridade da mãe sobre a prole.
Aquele que respeita o pai obtém o perdão dos pecados; o que honra sua mãe é como quem
junta um tesouro. Aquele que respeita o pai encontrará alegria nos filhos e no dia de sua oraço
será atendido. Aquele que honra o pai viverá muito, e o que obedece ao Senhor alegrará sua
mãe (Eclo 3,2-6).
Filho, cuida de teu pai na velhice, não o desgostes em vida. Mesmo se seu entendimento
faltar, sê indulgente com ele, não o menosprezes, tu que estás em pleno vigor... E como um
blasfemador aquele que despreza seu pai, e um amaldiçoado pelo Senhor aquele que irrita sua
mãe (Eclo 3,12.16).
2219 O respeito filial favorece a harmonia de toda a vida familiar e diz respeito também
às relaçes entre irmãos e irmãs. O respeito aos pais ilumina todo o ambiente familiar. "Coroa dos
anciãos são os netos" (Pr 17,6). "Suportai-vos uns aos outros na caridade, em toda humildade,
doçura e paciência" (Ef 4,2).
2220 Os cristãos devem uma gratidão especial àqueles de quem receberam o dom da
fé, a graça do Batismo e a vida na Igreja Pode tratar-se dos pais, de outros membros da família,
dos avós. dos pastores, dos catequistas, de outros professores ou amigos. "Evoco a lembrança da
fé sem hipocrisia que há em ti, a mesma -que habitou primeiramente em tua avó Lóide e em tua
mãe Eunice e que, estou convencido, reside também em ti" (2 Tm 1,5).

DEVERES DOS PAIS
2221 A fecundidade do amor conjugal não se reduz só à procriaço dos filhos, mas deve
se estender à sua educaço moral e formaço espiritual. "O papel dos pais na educaço é tão
importante que é quase impossível substituí-los." O direito e o devei de educaço são primordiais
e inalienáveis para os pais.
2222 Os pais devem considerar seus filhos como filhos de Deus e respeitá-los como
pessoas humanas. Educar os filhos no cumprimento da Lei de Deus, mostrando-se eles mesmos
obedientes à vontade do Pai dos Céus.


2223 Os pais são os primeiros responsáveis pela educaço de seus filhos. Dão testemunho
desta responsabilidade em primeiro lugar pela criaço de um lar no qual a ternura, o perdão, o
respeito, a fidelidade e o serviço desinteressado são a regra. O lar é um lugar apropriado para a
educaço das virtudes. Esta requer a aprendizagem da abnegaço, de um reto juízo, do
domínio de si, condiçes de toda liberdade verdadeira. Os pais ensinarão os filhos a subordinar
"as dimensões físicas e instintivas às dimensões interiores e espirituais." Dar bom exemplo aos filhos
é uma grave responsabilidade para os pais. Sabendo reconhecer diante deles seus próprios
defeitos, ser-lhes-á mais fácil guiá-los e corrigi-los:
"Aquele que ama o filho usará com freqüncia o chicote; aquele que educa seu filho terá
motivo de satisfaço" (Eclo 30,1-2). "E vós, pais, não deis a vossos filhos motivo de revolta contra
vós, mas criai-os na disciplina e correço do Senhor" (Ef 6,4).
2224 O lar constitui um ambiente natural para a iniciaço do ser humano na solidariedade
e nas responsabilidades comunitárias. Os pais ensinarão os filhos a se precaverem dos
comprometimentos e das desordens que ameaçam as sociedades humanas.
2225 Pela graça do sacramento do matrimônio, os pais recebe-ram a responsabilidade e
o privilégio de evangelizar os filhos. Por isso os iniciarão desde tenra idade nos mistérios da fé, da
qual são para os filhos os "primeiros arautos". Associá-los -ão desde a primeira infância à vida da
Igreja. A experiência da vida em família pode alimentar as disposiçes afetivas que por toda a
vida constituirão autênticos preâmbulos e apoios de uma fé viva.
2226 A educaço para a fé por parte dos pais deve começar desde a mais tenra
infância. Ocorre já quando os membros da família se ajudam a crescer na fé pelo testemunho
de uma vida cristã de acordo com o Evangelho. A catequese familiar precede, acompanha e
enriquece as outras formas de ensinamento da fé. Os pais têm a missão de ensinar os filhos a orar
e a descobrir sua vocaço de filhos de Deus. A paróquia é a comunidade eucarística e o centro
da vida litúrgica das famílias cristãs; ela é um lugar privilegiado da catequese dos filhos e dos
pais.
2227 Os filhos, por sua vez, contribuem para o crescimento de seus pais em
santidade[a44] . Todos e cada um se darão generosamente e sem se cansar o perdão mútuo
exigido pelas ofensas, pelas rixas, pelas injustiças e pelos abandonos. Sugere-o a mútua afeiço.
Exige-o a caridade de Cristo.
2228 Durante a infância, O respeito e a afeiço dos pais se traduzem inicialmente pelo
cuidado e pela atenço que dedicam em educar seus filhos, em prover suas necessidades
físicas e espirituais. Na fase de crescimento, o mesmo respeito e a mesma dedicaço levam os
pais a educá-los no reto uso da razão e da liberdade.
2229 Como primeiros responsáveis pela educaço dos filhos, os pais têm o direito de
escolher para eles uma escola que corresponda as suas próprias convicçes. Este direito é
fundamental. Os pais têm, enquanto possível, o dever de escolher as escolas que melhor possam
ajudá-los em sua tarefa de educadores cristãos. Os poderes públicos têm o dever de garantir
esse direito dos pais e de assegurar as condiçes reais de seu exercício.
2230 Quando se tornam adultos, os filhos têm o dever e o direito de escolher sua
profissão e seu estado de vida. Assumirão essas novas responsabilidades na relaço confiante
com os pais, cujas opiniões e conselhos pedirão e receberão de boa vontade. Os pais cuidarão
de não constranger seus filhos nem na escolha de uma profissão nem na de um consorte. Este
dever de discriço não os impede, muito ao contrário, de ajudá-los com conselhos prudentes,
particularmente quando estes têm em vista constituir uma família.
2231 Alguns não se casam, para cuidar dos pais ou dos irmãos e irmãs, para se dedicar
mais exclusivamente a uma profissão ou por outros motivos louváveis. Podem contribuir muito
para o bem da família humana.

IV. A FAMÍLIA E O REINO


2232 Embora os vínculos familiares sejam importantes, não são absolutos. Da mesma
forma que a criança cresce para sua maturidade e autonomia humanas e espirituais, assim
também sua vocaço singular, que vem de Deus, se consolida com mais clareza e força. Os pais
respeitarão este chamamento e favorecerão a resposta dos filhos em segui-lo. É preciso
convencer-se de que a primeira vocaço do cristão é a de seguir Jesus. "Aquele que ama pai ou
mãe mais do que a mim não é digno de mim. E aquele que ama filho ou filha mais do que a mim
não é digno de mim" (Mt 10,37).
2233 Tornar-se discípulo de Jesus é aceitar o convite de pertencer à família de Deus, de
viver conforme a sua maneira de viver: "Aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos
Céus, esse é meu irmão, irmã e mãe" (Mt 12,50).
Os pais aceitarão e respeitarão com alegria e aço de graças o chamamento do Senhor
a um de seus filhos de segui-lo na virgindade pelo Reino, na vida consagrada ou no ministério
sacerdotal.

V. AS AUTORIDADES NA SOCIEDADE CIVIL
2234 O quarto mandamento ordena também que honremos todos aqueles que, para
nosso bem, receberam de Deus uma autoridade na sociedade. Este mandamento ilumina os
deveres daqueles que exercem a autoridade, bem como os daqueles que por esta são
beneficiados.

DEVERES DAS AUTORIDADES CIVIS
2235 Aqueles que são investidos de autoridade devem exercê-la como um serviço.
"Aquele que quiser tornar -se grande entre vós, seja aquele que serve" (Mt 20,26). O exercício de
uma autoridade é moralmente limitado por sua origem divina, por sua natureza racional e por
seu objeto específico. Ninguém pode mandar ou instituir o que é contrário à dignidade das
pessoas e à lei natural.
2236 O exercício da autoridade visa tornar manifesta uma justa hierarquia de valores, a
fim de facilitar o exercício da liberdade e da responsabilidade de todos. Que os superiores
exerçam a justiça distributiva com sabedoria, levando em conta as necessidades e a
contribuiço de cada um e tendo em vista a concórdia e a paz. Zelem para que as regras e
disposiçes que tomarem não induzam em tentaço, opondo o interesse pessoal ao da
comunidade.
2237 Os poderes políticos devem respeitar os direitos fundamentais da pessoa humana.
Exercerão humanamente a justiça no respeito pelo direito de cada um, principalmente das
famílias e dos deserdados.
Os direitos políticos ligados à cidadania podem e devem ser concedidos segundo as
exigências do bem comum. Não podem ser suspensos pelos poderes públicos sem motivo
legítimo e proporcionado. O exercício dos direitos políticos destinado ao bem comum da naço
e da comunidade humana.

DEVERES DOS CIDADÃOS
2238 Aqueles que estão sujeitos à autoridade considerarão seus superiores como
representantes de Deus, que os instituiu ministros de seus dons: "Sujeitai-vos a toda instituiço
humana por causa do Senhor... Comportai-vos como homens livres não usando a liberdade
como cobertura para o mal, mas c servos de Deus" (1 Pd 2,13.16). A leal colaboraço dos
cidadãos inclui o direito, e às vezes o dever, de apresentar suas justas reclamaçes contra o que
lhes parece prejudicial à dignidade das pessoas e ao bem da comunidade.


2239 É dever dos cidadãos colaborar com os poderes civis para o bem da sociedade,
num espírito de verdade, de justiça, de solidariedade e de liberdade. O amor e o serviço à pátria
derivam do dever de gratidão e da ordem de caridade. A submissão às autoridades legítimas e
o serviço do bem comum exigem que os cidadãos cumpram seu papel na vida da comunidade
política.
2240 A submissão à autoridade e a co-responsabilidade pelo bem comum exigem
moralmente o pagamento de impostos, o exercício do direito de voto, a defesa do país:
Dai a cada um o que lhe é devido: o imp osto a quem é devido; a taxa a quem é devida;
a reverência a quem é devida; a honra a quem é devida (Rm 13,7).
Os cristãos residem em sua própria pátria, mas como residentes estrangeiros. Cumprem
todos os seus deveres de cidadãos e suportam todas as suas obrigaçes, mas de tudo
desprendidos, como estrangeiros... Obedecem às leis estabelecidas, e sua maneira de viver vai
muito além das leis... Tão nobre é o posto que lhes foi por Deus outorgado, que não lhes é
permitido desertar.
O Apóstolo nos exorta a fazer oraçes e açes de graça pelos reis e por todos os que
exercem autoridade, "a fim de que levemos uma vida calma e serena, com toda piedade e
dignidade" (1 Tm 2,2).
2241 As naçes mais favorecidas devem acolher, na medida do possível, o estrangeiro
em busca da segurança e dos recursos vitais que não pode encontrar em seu país de origem. Os
poderes públicos zelarão pelo respeito do direito natural que põe o hóspede sob a proteço
daqueles que o recebem.
Em vista do bem comum de que estão encarregadas, as autoridades políticas podem
subordinar o exercício do direito de imigraço a diversas condiçes jurídicas, principalmente
com respeito aos deveres dos migrantes para com o país de adoço. O migrante é obrigado a
respeitar com gratidão o patrimônio material e espiritual do país que o acolhe, a obedecer às
suas leis e a dar sua contribuiço financeira.
2242 O cidadão é obrigado em consciência a não seguir as prescriçes das autoridades
civis quando estes preceitos são contrários às exigências da ordem moral, aos direitos
fundamentais das pessoas ou aos ensinamentos do Evangelho. A recusa de obediência às
autoridades ci-vis, quando suas exigências são contrárias às da reta consciência, funda--se na
distinço entre o serviço a Deus e o serviço à comunidade política, "Dai a César o que é de
César e a Deus o que é de Deus" (Mt 22,21). 'E preciso obedecer antes a Deus que aos homens"
(At 5,29):
Se a autoridade pública, exorbitando de sua competência, oprimir os cidadãos, estes não
recusem o que é objetivamente exigido pelo bem comum; contudo, é lícito defenderem os seus
direitos e os de seus concidadãos contra os abusos do poder, guardados os limites traçados pela
lei natural e pela lei evangélica.
2243 A resistência à opressão do poder político não recorrerá legitimamente às armas,
salvo se ocorrerem conjuntamente as seguintes condiçes:
1) em caso de violaçes certas, graves prolongadas dos direitos fundamentais;
2) depois de ter esgotado todos os outros recursos;
3) sem provocar desordens piores;
4) que haja uma esperança fundada de êxito;
5) se for impossível prever razoavelmente soluçes melhores.

A COMUNIDADE POLÍTICA E A IGREJA


2244 Toda instituiço se inspira, ainda que implicitamente, numa visão do homem e de
seu destino, da qual deduz os critérios de seus juízos, sua hierarquia de valores, sua linha de
conduta. A maior parte das sociedades tem referido suas instituiçes a um certa preeminência
do homem sobre as coisas. Só a religião divinamente revelada reconheceu claramente em Deus,
Criador e Redentor, a origem e o destino do homem. A Igreja convida os poderes políticos a
referir seu julgamento e suas decisões a esta inspiraço da verdade sobre Deus e sobre o
homem:
As sociedades que ignoram esta inspiraço ou a recusam em nome de sua
independência em relaço a Deus são levadas a procurar em si mesmas ou a tomar de uma
ideologia os seus referenciais e os seu objetivos e, não admitindo que se defenda um critério
objetivo do bem e do mal, arrogam a si, sobre o homem e sobre seu destino, um poder
totalitário, declarado ou dissimulado, como mostra a história.
2245 A Igreja, que em razão de seu múnus e de sua competência, não se confunde de
modo algum com a comunidade política, é ao mesmo tempo sinal e salvaguarda do caráter
transcendente da pessoa humana. "A Igreja respeita e promove a liberdade política e a
responsabilidade dos cidadãos."
2246 Faz parte da missão da Igreja "emitir juízo moral também sobre as realidades que
dizem respeito à ordem política, quando o exijam os direitos fundamentais da pessoa ou a
salvaço das almas, empregando todos os recursos - e somente estes - que estão de acordo
com o Evangelho e com o bem de todos, conforme a diversidade dos tempos e das situaçes.

RESUMINDO
2247 "Honra teu pai e tua mãe" (Dt 5,16; Mc 7,8).
2248 De acordo com o quarto mandamento, Deus quis que, depois dele, honrássemos
nossos pais e os que Ele, para nosso bem, investiu de autoridade.
2249 A comunidade conjugal está fundada na aliança e no consentimento dos esposos.
O casamento e a família estão ordenados para o bem dos cônjuges, a procriaço e a
educaço dos filhos.
2250 "A salvaço da pessoa e da sociedade humana está estreitamente ligada ao
bem-estar da comunidade conjugal e familiar."
2251 Os filhos devem a seus pais respeito, gratidão, justa obediência e ajuda. O respeito
filial favorece a harmonia de toda a vida familiar.
2252 Os pais são os primeiros responsáveis pela educaço de seus filhos na fé, na
oraço e em todas as virtudes. Têm o dever de prover, na medida do possível, às necessidades
físicas e espirituais de seus filhos.
2253 Os pais devem respeitar e favorecer a vocaço de seus filhos. Lembrem e ensinem
que a primeira vocaço do cristão consiste em seguir a Jesus.
2254 A autoridade pública deve respeitar os direitos fundamentais da pessoa humana e
as condiçes de exercício de sua liberdade.
2255 É dever dos cidadãos trabalhar com os poderes civis para a edificaço da
sociedade num espírito de verdade, de justiça, de solidariedade e de liberdade.
2256 O cidadão está obrigado em consciência a não seguir as prescriçes das
autoridades civis, quando contrárias às exigências da ordem moral. "É preciso obedecer antes a
Deus que aos homens" (At 5,29).
2257 Toda sociedade baseia seus juízos e sua conduta numa visão do homem e de seu
destino. Sem as luzes do Evangelho a respeito de Deus e do homem, as sociedades facilmente se
tornam totalitárias.



ARTIGO 5
O QUINTO MANDAMENTO

NÃO MATARÁS (EX 20,13).
Ouvistes o que foi dito aos antigos: "Não matarás. Aquele que matar terá de responder ao
tribunal". Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encolerizar contra seu irmão terá de responder
no tribunal (Mt 5,21-22).
2258 "A vida humana é sagrada porque desde sua origem ela encerra a aço criadora
de Deus e permanece para sempre numa relaço especial com o Criador, seu único fim. Só
Deus é o dono da vida, do começo ao fim; ninguém, em nenhuma circunstância, pode
reivindicar para si o direito de destruir diretamente um ser humano inocente."

I. O RESPE ITO Â VIDA HUMANA

O TESTEMUNHO DA HISTÓRIA SAGRADA
2259 A Escritura, no relato do assassinato de Abel por seu irmão Caim, revela, desde o
começo da história humana, a presença da cólera e da cobiça no homem, conseqüncias do
pecado original. O homem se tornou inimigo de seu semelhante. Deus expressa a atrocidade
deste fratricídio: "Que fizeste? Ouço o sangue de teu irmão, do solo, clamar por mim. Agora, és
maldito e expulso do solo fértil que abriu a boca para receber de tua mão o sangue de teu
irmão" (Gn 4,10-11).
2260 A aliança entre Deus e a humanidade está cheia de lembranças do dom divino da
vida humana e da violência assassina do homem:
Pedirei contas do sangue de cada um de vós...Quem derramar o sangue do homem, pelo
homem terá seu sangue derramado. Pois à imagem de Deus o homem foi feito (Gn 9,5-6).
O Antigo Testamento sempre considerou o sangue como um sinal sagrado da vida[a5] . A
necessidade deste ensinamento é para todos os tempos.
2261 A Escritura determina com precisão a proibiço do quinto mandamento: "Não
matarás o inocente nem o justo" (Ex 23,7). O assassinato voluntário de um inocente é gravemente
contrário à dignidade do ser humano, à regra de ouro e à santidade do Criador. A lei que o
proscreve é universalmente válida, isto é, obriga a todos e a cada um, sempre e em toda parte.
2262 No Sermão da Montanha, o Senhor recorda o preceito: "Não matarás" (Mt 5,21), e
acrescenta a proibiço da cólera, do ódio e da vingança. Mais ainda, Cristo diz a seu discípulo
que ofereça a outra face e ame seus inimigos. Ele mesmo não se defendeu e disse a Pedro que
deixasse a espada na bainha.

A LEGÍTIMA DEFESA
2263 A legítima defesa das pessoas e das sociedades não é uma exceço à proibiço de
matar o inocente, que constitui o homicídio voluntário. "A aço de defender-se pode acarretar
um duplo efeito: um é a conservaço da própria vida, o outro é a morte do agressor.. Só se quer
o primeiro; o outro, não."
2264 O amor a si mesmo permanece um princípio fundamental da moralidade. Portanto,
é legítimo fazer respeitar seu próprio direito à vida. Quem defende sua vida não é culpável de
homicídio, mesmo se for obrigado a matar o agressor:


Se alguém, para se defender, usar de violência mais do que o necessário, seu ato será
ilícito. Mas, se a violência for repelida com medida, será lícito... E não é necessário para a
salvaço omitir este ato de comedida proteço para evitar matar o outro, porque, antes da de
outrem, se está obrigado a cuidar da própria vida.
2265 A legítima defesa pode ser não somente um direito, mas um dever grave, para
aquele que é responsável pela vida de outros. Preservar o bem comum da sociedade exige que
o agressor seja impossibilitado de prejudicar a outrem. A este título os legítimos detentores da
autoridade têm o direito de repelir pelas armas os agressores da comunidade civil pela qual são
responsáveis.
2266 Corresponde a uma exigência de tutela do bem comum c esforço do Estado
destinado a conter a difusão de comportamentos lesivos aos direitos humanos e às regras
fundamentais de convivência civil. A legítima autoridade pública tem o direito e o dever de
infligir penas proporcionais à gravidade do delito. A pena tem como primeiro objetivo reparar a
desordem introduzida pela culpa, Quando essa pena é voluntariamente aceita pelo culpado
tem valor de expiaço. Assim, a pena, além de defender a ordem pública c de tutelar a
segurança das pessoas, tem um objetivo medicinal: na medida do possível, deve contribuir à
correço do culpado.
2267 O ensino tradicional da Igreja não exclui, depois de com provadas cabalmente a
identidade e a responsabilidade de culpado, o recurso à pena de morte, se essa for a única via
praticável para defender eficazmente a vida humana contra o agressor injusto.
Se os meios incruentos bastarem para defender as vidas humanas contra o agressor e
para proteger a ordem pública e a segurança das pessoas, a autoridade se limitará a esses
meios, porque correspondem melhor às condiçes concretas do bem comum e estão mais
conformes à dignidade da pessoa humana.

O HOMICÍDIO VOLUNTÁRIO
2268 O quinto mandamento proscreve como gravemente pecaminoso o homicídio direto
e voluntário. O assassino e os que cooperam voluntariamente com o assassinato cometem um
pecado que clama ao céu por vingança.O infanticídio[a22] ,
o fratricídio, o parricídio e o
assassinato do cônjuge são crimes particularmente graves, devido aos laços naturais que
rompem. Preocupaçes de eugenismo ou de higiene pública não podem justificar nenhum
assassinato, mesmo a mando dos poderes públicos.
2269 O quinto mandamento proíbe que se faça algo com a intenço de provocar
indiretamente a morte de uma pessoa. A lei moral proíbe expor alguém a um risco mortal sem
razão grave, bem como recusar ajuda a uma pessoa em perigo.
A aceitaço pela sociedade humana de condiçes de miséria que levem à própria morte
sem se esforçar por remediar a situaço constitui uma injustiça escandalosa e uma falta grave.
Todo aquele que em seus negócios se der a práticas usurárias e mercantis que provoquem a
fome e a morte de seus irmãos (homens) comete indiretamente um homicídio, que lhe é
imputável.
O homicídio involuntário não é moralmente imputável. Mas não está isento de falta grave
quem, sem razões proporcionais, agiu de maneira a provocar a morte, ainda que sem a
intenço de causá-la.

O ABORTO
2270 A vida humana deve ser respeitada e protegida de maneira absoluta a partir do
momento da concepço. Desde o primeiro momento de sua existência, o ser humano deve ver
reconhecidos os seus direitos de pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo ser inocente à
vida.


Antes mesmo de te formares no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio,
eu te consagrei (Jr 1,5). Meus ossos não te foram escondidos quando eu era feito, em segredo,
tecido na terra mais profunda (Sl 139,15).
2271 Desde o século I, a Igreja afirmou a maldade moral de todo aborto provocado.
Este ensinamento não mudou. Continua invariável. O aborto direto, quer dizer, querido como um
fim ou como um meio, é gravemente contrário à lei moral:

NÃO MATARÁS O EMBRIÃO POR ABORTO E NÃO FARÁS PERECER O RECÉM-NASCIDO.
Deus, senhor da vida, confiou aos homens o nobre encargo d preservar a vida, para ser
exercido de maneira condigna ao homem Por isso a vida deve ser protegida com o máximo
cuidado desde a concepço. O aborto e o infanticídio são crimes nefandos.

2272 A cooperaço formal para um aborto constitui uma falta grave. A Igreja sanciona
com uma pena canônica de excomunhão este delito contra a vida humana. "Quem provoca
aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae" "pelo próprio fato de
cometer o delito" e nas condiçes previstas pelo Direito. Com isso, a Igreja não quer restringir o
campo da misericórdia. Manifesta, sim, a gravidade do crime cometido, o prejuízo irreparável
causado ao 'inocente morto, a seus pais e a toda a sociedade.
O inalienável direito à vida de todo indivíduo humano inocente é um elemento
constitutivo da sociedade civil e de sua legislaço:
"Os direitos inalienáveis da pessoa devem ser reconhecidos e respeitados pela sociedade
civil e pela autoridade política. Os direitos do homem não dependem nem dos indivíduos, nem
dos pais, e também não representam uma concessão da sociedade e do Estado pertencem à
natureza humana e são inerentes à pessoa em razão do ato criador do qual esta se origina. Entre
estes direitos fundamentais é preciso citar o direito à vida e à integridade física de todo se
humano, desde a concepço até a morte."
2273 "No momento em que uma lei positiva priva uma categoria de seres humanos da
proteço que a legislaço civil lhes deve dar, o estado nega a igualdade de todos perante a lei.
Quando o Estado não coloca sua força a serviço dos direitos de todos os cidadãos,
particularmente dos mais fracos, os próprios fundamentos de um estado de direito estão
ameaçados... Como conseqüncia do respeito e da proteço que devem ser garantidos à
criança desde o momento de sua concepço, a lei deverá prever sançes penais apropriadas
para toda violaço deliberada dos direitos dela."
Visto que deve ser tratado como uma pessoa desde a concepço, o embrião deverá ser
defendido em sua integridade, cuidado e curado, na medida do possível, como qualquer outro
ser humano.
2274 O diagnóstico pré-natal é moralmente licito "se respeitar a vida e a integridade do
embrião e do feto humano, e se está orientado para sua salvaguarda ou sua cura individual...
Está gravemente em oposiço com a lei moral quando prevê, em funço dos resultados, a
eventualidade de provocar um aborto. Um diagnóstico não deve ser o equivalente de uma
sentença de morte".
"Devem ser consideradas lícitas as intervençes sobre o embrião humano quando
respeitam a vida e a integridade do embrião e não acarretam para ele riscos
desproporcionados, mas visam à sua cura, à melhora de suas condiçes de saúde ou à sua
sobrevivência individual."
"É imoral produzir embriões humanos destinados a serem explorados como material
biológico disponível."
2275 "Certas tentativas de intervenço sobre o patrimônio cromossômico ou genético
não são terapêuticas, mas tendem à produço de seres humanos selecionados segundo o sexo


ou outras qualidades preestabelecidas. Essas manipulaçes são contrárias à dignidade pessoal
do ser humano, à sua integridade e à sua identidade" única, não reiterável.

A EUTANÁSIA
2276 Aqueles cuja vida está diminuída ou enfraquecida necessitam de um respeito
especial. As pessoas doentes ou deficientes devem ser amparadas, para levar uma vida tão
normal quanto possível.
2277 Sejam quais forem os motivos e os meios, a eutanásia direta consiste em pôr fim à
vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas. É moralmente inadmissível.
Assim, uma aço ou uma omissão que, em si ou na intenço, gera a morte a fim de
suprimir a dor constitui um assassinato gravemente contrário à dignidade da pessoa humana e
ao respeito pelo Deus vivo, seu Criador. O erro de juízo no qual se pode ter caído de boa-fé não
muda a natureza deste ato assassino, que sempre deve ser condenado e excluído.
2278 A interrupço de procedimentos médicos onerosos, perigosos, extraordinários ou
desproporcionais aos resultados esperados pode ser legítima. É a rejeiço da "obstinaço
terapêutica". Não se quer dessa maneira provocar a morte; aceita-se não poder impedi-la. As
decisão devem ser tomadas pelo paciente, se tiver a competência e a capacidade para isso;
caso contrário, pelos que têm direitos legais, respeitando sempre a vontade razoável e os
interesses legítimos do paciente.
2279 Mesmo quando a morte é considerada iminente, os cuidados comumente devidos a
uma pessoa doente não podem ser legitimamente interrompidos. O emprego de analgésicos
para aliviar os sofrimentos moribundo, ainda que com o risco de abreviar seus dias, pode ser
moralmente conforme à dignidade humana se a morte não é desejada, nem como fim nem
como meio, mas somente prevista e tolerada como inevitável. Os cuidados paliativos constituem
uma forma privilegiada de caridade desinteressada. Por esta razão devem ser encorajados.

O SUICÍDIO
2280 Cada um é responsável por sua vida diante de Deus, que "lha deu e que dela é
sempre o único e soberano Senhor. Devemos receber a vida com reconhecimento e preservá-la
para honra dele e salvaço de nossas almas. Somos os administradores e não os proprietários da
vida que Deus nos confiou. Não podemos dispor dela.
2281 O suicídio contradiz a inclinaço natural do ser humano a conservar e perpetuar a
própria vida. É gravemente contrário ao justo amor de si mesmo. Ofende igualmente ao amor do
próximo, porque rompe injustamente os vínculos de solidariedade com as sociedades familiar,
nacional e humana, às quais nos ligam muitas obrigaçes. O suicídio é contrário ao amor do
Deus vivo.
2282 Se for cometido com a intenço de servir de exemplo, principalmente para os
jovens, o suicídio adquire ainda a gravidade de um escândalo. A cooperaço voluntária ao
suicídio é contrária à lei moral.
Distúrbios psíquicos graves, a angústia ou o medo grave da provaço, do sofrimento ou
da tortura podem diminuir a responsabilidade do suicida.
2283 Não se deve desesperar da salvaço das pessoas que se mataram. Deus pode,
por caminhos que só Ele conhece, dar-lhes ocasião de um arrependimento salutar. A Igreja ora
pelas pessoas que atentaram contra a própria vida.

II. O RESPEITO Â DIGNIDADE DAS PESSOAS



O RESPEITO À ALMA D O OUTRO: O ESCÂNDALO
2284 O escândalo é a atitude ou o comportamento que leva outrem a praticar o mal.
Aquele que escandaliza torna-se o tentador do próximo. Atenta contra a virtude e a retidão;
pode arrastar seu irmão à morte espiritual. O escândalo constitui uma falta grave se, por aço ou
omissão, conduzir deliberadamente o outro a uma falta grave.
2285 O escândalo se reveste de uma gravidade particular em virtude da autoridade dos
que o causam ou da fraqueza dos que o sofrem. Foi o que inspirou a Nosso Senhor a seguinte
maldiço "Caso alguém escandalize um destes pequeninos, melhor será que lhe pendurem ao
pescoço uma pesada mó e seja precipitado nas profundezas do mar" (Mt,18,6). O escândalo é
grave quando é dado por aqueles que, por natureza ou por funço, devem ensinar e educar os
outros. Jesus censura os escribas e os fariseus, comparando-os a lobos disfarçados de cordeiros.
2286 O escândalo pode ser provocado pela lei ou pelas instituiçes, pela moda ou pela
opinião.
Tomam-se, portanto, culpados de escândalo aqueles que instituem leis ou estruturas
sociais que levam à degradaço dos costumes e à corrupço da vida religiosa ou a "condiçes
sociais que, voluntariamente ou não, tomam difícil e praticamente impossível uma conduta cristã
conforme aos mandamentos". O mesmo vale para chefes de empresas que fazem regulamentos
que incitam à fraude, para professores que "exasperam" os alunos ou para aqueles que,
manipulando a opinião pública, a afastam dos valores morais.
2287 Quem usa os poderes de que dispõe de tal maneira que induzam ao mal torna-se
culpado de escândalo e responsável pelo mal que, direta ou indiretamente, favorece. "E
inevitável que haja escândalos, mas ai daquele que os causar" (Lc 17,1).

O RESPEITO Á SAÚDE
2288 A vida e a saúde física são bens preciosos doados por Deus. Devemos cuidar delas
com equilíbrio, levando em conta as necessidades alheias e o bem comum.
O cuidado com a saúde dos cidadãos requer a ajuda da sociedade para obter as
condiçes de vida que permitam crescer e atingir a maturidade: alimento, roupa, moradia,
cuidado da saúde, ensino básico, emprego, assistência social.
2289 Se a moral apela para o respeito à vida corporal, não faz desta um valor absoluto,
insurgindo-se contra uma concepço neopagã que tende a promover o culto do corpo, a tudo
sacrificar -lhe, a idolatrar a perfeiço física e o êxito esportivo. Em razão da escolha seletiva que
faz entre os fortes e os fracos, tal concepço pode conduzir à perversão das relaçes humanas.
2290 A virtude da temperança manda evitar toda espécie de exceço, o abuso da
comida, do álcool, do fumo e dos medicamentos. Aqueles que, em estado de embriaguez ou
por gosto imoderado pela velocidade, põem em risco a segurança alheia e a própria, nas
estradas, no mar ou no ar, tomam-se gravemente culpáveis.
2291 O uso da droga causa gravíssimos danos à saúde e à vida humana. Salvo indicaçes
estritamente terapêuticas, constitui falta grave. A produço clandestina e o tráfico de drogas
são práticas escandalosas; constituem uma cooperaço direta com o mal, pois incitam a
práticas gravemente contrárias à lei moral.

O RESPEITO À PESSOA E À PESQUISA CIENTÍFICA
2292 As experiências científicas, médicas ou psicológicas em pessoas ou grupos humanos
podem concorrer para a cura dos doentes e para o progresso da saúde pública.
2293 A pesquisa científica de base, como a pesquisa aplicada, constituem uma
expressão significativa do domínio do homem sobre a criaço. A ciência e a técnica são
recursos preciosos postos a serviço do homem e promovem seu desenvolvimento integral em


benefício de todos; contudo, não podem indicar sozinhas o sentido da existência e do progresso
humano. A ciência e a técnica estão ordenadas para o homem, do qual provêm sua origem e
seu crescimento; por-tanto, encontram na pessoa e em seus valores morais a indicaço de sua
finalidade e a consciência de seus limites.
2294 É ilusório reivindicar a neutralidade moral da pesquisa científica e de suas
aplicaçes. Além disso, os critérios de orientaço não podem ser deduzidos nem da simples
eficácia técnica nem da utilidade que possa derivar daí para uns em detrimento dos outros, e
muito menos das ideologias dominantes. A ciência e a técnica exigem, por seu próprio
significado intrínseco, o respeito incondicional dos critérios fundamentais da moralidade; devem
estar a serviço da pessoa humana, de seus direitos inalienáveis, de seu bem verdadeiro e
integral, de acordo com o projeto e a vontade de Deus.
2295 As pesquisas ou experiências no ser humano não podem legitimar atos em si
mesmos contrários à dignidade das pessoas e à lei moral. O consentimento eventual dos sujeitos
não justifica tais atos. A experiência em seres humanos não é moralmente legítima se fizer a vida
ou a integridade física e psíquica do sujeito correrem riscos desproporcionais ou evitáveis. A
experiência em seres humanos não atende aos requisitos da dignidade da pessoa se ocorrer sem
o consentimento explícito do sujeito ou de seus representantes legais.
2296 O transplante de órgãos é conforme à lei moral se os riscos e os danos físicos e
psíquicos a que se expõe o doador são proporcionais ao bem que se busca para o destinatário.
A doaço de órgãos após a morte é um ato nobre e meritório e merece ser encorajado como
manifestaço de generosa solidariedade. O transplante de órgãos não é moralmente aceitável
se o doador ou seus representante legais não tiverem dado seu expresso consentimento para tal.
Além disso, é moralmente inadmissível provocar diretamente mutilaço que venha a tornar
alguém inválido ou pr ovocar diretamente a morte, mesmo que seja para retardar a morte de
outras pessoas.

O RESPEITO À INTEGRIDADE CORPORAL
2297 Os seqüestros e a tomada de reféns fazem reinar o terror e, pela ameaça, exercem
pressões intoleráveis sobre as vítimas. São moralmente ilegítimos. O terrorismo ameaça, fere e
mata sem discriminaço; isso é gravemente contrário à justiça e à caridade. A tortura, que usa
de violência física ou moral para arrancar confissões, castigar culpados, amedrontar opositores,
satisfazer o ódio, é contrária ao respeito pela pessoa e pela dignidade humana. Fora das
indicaçes médicas de ordem estritamente terapêutica, as amputaçes, mutilaçes de
esterilizaçes diretamente voluntárias de pessoas inocentes contrárias à lei moral.
2298 Em temp os passados, práticas cruéis foram comumente utilizadas por governos
legítimos para manter a lei e a ordem, muitas vezes sem protesto dos pastores da Igreja, os quais
adotaram eles em mesmos, em seus próprios tribunais, prescriçes do direito romano sobre a
tortura. Ao lado destes fatos lamentáveis, a Igreja sempre ensinou o dever de demência e
misericórdia: proibiu aos clérigos derramarem sangue. Em tempos recentes, ficou evidente que
essas práticas cruéis não eram nem necessárias para a ordem pública nem estavam de acordo
com os direitos legítimos da pessoa humana. Ao contrário, essas práticas conduzem às piores
degradaçes. E preciso trabalhar por sua aboliço. E preciso orar pelas vitimas e por seus
algozes.

O RESPEITO AOS MORTOS
2299 Deve-se dispensar atenço e cuidado aos moribundos, para ajudá-los a viver seus
últimos momentos na dignidade e na paz. Devem também ser ajudados pela oraço dos
familiares. Estes cuidarão para que os doentes recebam em tempo oportuno os sacramentos que
preparam para o encontro com o Deus vivo.


2300 Os corpos dos defuntos devem ser tratados com respeito e caridade, na fé e na
esperança da ressurreiço. O enterro dos mortos é uma obra de misericórdia corporal que honra
os filhos de Deus, templos do Espírito Santo.
2301 A autópsia de cadáveres pode ser moralmente admitida por motivos de
investigaço legal ou de pesquisa científica. A doaço gratuita de órgãos após a morte é
legítima e pode ser meritória.
A Igreja permite a cremaço, se esta não manifestar uma posiço contrária à fé na
ressurreiço dos corpos.

III. A SALVAGUARDA DA PAZ
A PAZ
2302 Ao lembrar o preceito "Tu não matarás" (Mt 5,21), Nosso Senhor pede a paz do
coraço e denuncia a imoralidade da cólera assassina e do ódio. A cólera é um desejo de
vingança. "Desejar a vingança para o mal daquele que é preciso punir é ilícito, mas é louvável
impor uma reparaço "para a correço dos vícios e a conservaço da justiça". Se a cólera
chega ao desejo deliberado de matar o próximo ou de feri-lo com gravidade, atenta
gravemente contra a caridade, constituindo pecado mortal. O Senhor disse: "Todo aquele que se
encolerizar contra seu irmão terá de responder no tribunal" (Mt 5,22).
2303 O ódio voluntário é contrário à caridade. O ódio ao próximo é um pecado quando
o homem quer deliberadamente seu mal. O ódio ao próximo é um pecado grave quando se lhe
deseja deliberadamente um grave dano. "Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos e orai pelos
que vos perseguem; desse modo vos tornareis filhos de vosso Pai que esta nos céus..." (Mt 5 ,44-
45).
2304 O respeito e o desenvolvimento da vida humana exigem a paz. A paz não é
somente ausência de guerra e não se limita a garantir o equilíbrio das forças adversas. A paz não
pode ser obtida na terra sem a salvaguarda dos bens das pessoas, sem a livre comunicaço
entre os seres humanos, o respeito pela dignidade das pessoas e dos povos, a prática assídua da
fraternidade. E a "tranqüilidade da ordem", "obra da justiça" (Is 32,17) e efeito da caridade.
2305 A paz terrestre é imagem e fruto da paz de Cristo, o Príncipe da paz" messiânica (Is
9,5). Pelo sangue de sua cruz, Ele “matou a inimizade na própria carne", reconciliou os homens
com Deus e fez de sua Igreja o sacramento da unidade do gênero humano de sua união com
Deus. "Ele é a nossa paz" (Ef 2,14). Declara "bem-aventurados os que promovem a paz" (Mt 5,9).
2306 Aqueles que renunciam à aço violenta e para proteger os direitos do homem,
recorrem a meios de defesa ao alcance dos mais fracos testemunham a caridade evangélica,
contanto que isso seja feito sem lesar os direitos e as obrigaçes dos outros homens e das
sociedades. Atestam legitimamente a gravidade dos riscos físicos e morais do recurso à violência,
com seu cortejo de mortes e ruínas.

EVITAR A GUERRA
2307 O quinto mandamento proíbe a destruiço voluntária da vida humana. Por causa
dos males e das injustiças que toda guerra acarreta, a Igreja insta cada um a orar e agir para
que a Bondade divina nos livre da antiga escravidão da guerra.
2308 Cada cidadão e cada governante deve agir de modo a evitar as guerras.
Enquanto, porém, "houver perigo de guerra, sem que exista uma autoridade internacional
competente e dotada de forças suficientes, e esgotados todos os meios de negociaço
pacífica, não se poderá negar aos governos o direito de legítima defesa.


2309 É preciso considerar com rigor as condiçes estritas de uma legítima defesa pela
força militar. A gravidade de tal decisão a submete a condiçes rigorosas de legitimidade moral.
É preciso ao mesmo tempo que:
ü o dano infligido pelo agressor à naço ou à comunidade de naçes seja durável,
grave e certo;
ü todos os outros meios de pôr fim a tal dano se tenham revelado impraticáveis ou
ineficazes;
ü estejam reunidas as condiçes sérias de êxito;
ü o emprego das armas não acarrete males e desordens mais graves do que o mal a
eliminar. O poderio dos meios modernos de destruiço pesa muito na avaliaço desta condiço.
Estes são os elementos tradicionais enumerados na chamada doutrina da "guerra justa".
A avaliaço dessas condiçes de legitimidade moral cabe ao juízo prudencial daqueles
que estão encarregados do bem comum.
2310 Os poderes públicos tomarão as justas providências com relaço ao caso
daqueles que se dedicam ao serviço da pátria na vida militar, isto e, estão a serviço da
segurança e da liberdade dos povos. Se desempenham corretamente sua tarefa, concorrem
verdadeiramente para o bem comum da naço e para manter a paz.
2311 Os poderes públicos devem prever eqüitativamente o caso daqueles que recusam
o emprego das armas por motivos de consciência, mas que continuam obrigados a servir sob
outra forma à comunidade humana.
2312 A Igreja e a razão humana declaram a validade permanente da lei moral durante
os conflitos armados. "Quando, por infelicidade, a guerra já se iniciou, nem tudo se torna lícito
entre as partes inimigas."
2313 E preciso respeitar e tratar com humanidade os não-combatentes, os soldados
feridos e os prisioneiros.
Os atos deliberadamente contrários ao direito dos povos e a seus princípios universais,
como as ordens que os determinam, constituem crimes. Uma obediência cega não é suficiente
para escusar os que se submetem a esses atos e ordens. Portanto, o extermínio de um povo, de
uma naço ou uma de minoria étnica deve ser condenado como pecado mortal. Deve-se
moralmente resistir às ordens que impõem um genocídio.
2314 "Qualquer aço bélica que tem em vista a destruiço indiscriminadamente nada
de cidades inteiras ou de vastas regiões, com seus habitantes, é um crime contra Deus e contra o
próprio homem a ser condenado com firmeza e sem hesitaçes." Um dos riscos da guerra
moderna é dar ocasião aos possuidores de armas científicas, principalmente atômicas,
biológicas ou químicas, de cometerem tais crimes.
2315 A acumulaço de armas parece a muitos urna maneira paradoxal de dissuadir da
guerra os eventuais adversários. Vêem nisso o mais eficaz dos meios suscetíveis de garantir a paz
entre as naçes. Este procedimento de dissuasão impõe severas reservas morais. A corrida aos
armamentos não garante a paz. Longe de eliminar as causas da guerra, corre o risco de agravá-
las. O dispêndio de riquezas fabulosas na fabricaço de n ovas armas sempre impede de
socorrer as populaçes indigentes e entrava o desenvolvimento dos povos. O superarmamento
multiplica as razões de conflitos e aumenta o risco de esses conflitos se multiplicarem.
2316 A produço e o comércio de armas afetam o bem comum das naçes e da
comunidade internacional. Por isso as autoridades públicas têm o direito e o dever de
regulamentá-los. A busca de interesses privados ou coletivos a curto prazo não pode legitimar
empreendimentos que fomentem a violência e os conflitos entre as naçes e que comprometam
a ordem jurídica internacional.


2317 As injustiças, as desigualdades excessivas de ordem econômica ou social, a inveja,
a desconfiança e o orgulho que grassam entre os homens e as naçes ameaçam sem cessar
paz e causam as guerras. Tudo o que for feito para vencer essas desordens contribui para
edificar a paz e evitar a guerra:
Pecadores que são, os homens vivem em perigo de guerra, e este perigo os ameaçará
até a volta de Cristo. Mas, na medida em que, unidos pela caridade, superem o pecado,
superarão igualmente as violências, até que se cumpra a palavra: "De suas espadas eles forjarão
relhas de arado, e de suas lanças, foices. Uma naço não levantará a espada contra a outra, e
já não se adestrarão para a guerra" (Is 2,4).

RESUMINDO
2318 "Deus tem em seu poder a alma de todo ser vivo e o espírito de todo homem carnal"
(Jó 12,10).
2319 Toda vida humana, desde o momento da concepço até a morte, é sagrada,
porque a pessoa humana foi querida por si mesma à imagem e à semelhança do Deus vivo e
santo.
2320 O assassinato de um ser humano é gravemente contrário à dignidade da pessoa e
à santidade do Criador.
2321 A proibiço de matar não ab-roga o direito de tirar a um opressor injusto a
possibilidade de prejudicar. A legítima defesa é um dever grave para quem é responsável pela
vida alheia ou pelo bem comum.
2322 Desde a concepço, a criança tem o direito à vida. O aborto direto, isto é, o que
se quer como um fim ou como um meio, é uma pratica infame" , gravemente contrária à lei
moral. A Igreja condena com pena canônica de excomunhão este delito contra a vida humana.
2323 Visto que deve ser tratado como uma pessoa desde a sua concepço, o embrião
deve ser defendido em sua integridade, cuidado e curado como qualquer outro ser humano.
2324 A eutanásia voluntária, sejam quais forem as formas e os motivos, constitui um
assassinato. E gravemente contrária à dignidade da pessoa humana e ao respeito do Deus vivo,
seu Criador.
2325 O suicídio é gravemente contrario a Justiça, à esperança e à caridade. É proibido
pelo quinto mandamento.
2326 O escândalo constitui uma falta grave quando, por aço ou por omissão, leva
deliberadamente o outro a pecar gravemente.
2327 Por causa dos males e injustiças que toda guerra acarreta, devemos fazer tudo o
que for razoavelmente possível para evitá-la. A Igreja ora: "Da fome, da peste e da guerra livrai-
nos, Senhor".
2328 A Igreja e a razão humana declaram a validade permanente da lei moral durante
os conflitos armados. As práticas de1iberadamente contrárias ao direito dos povos e a seus
princípios universais constituem crimes.
2329 "A corrida armamentista é uma praga extremamente grave da humanidade e lesa
os pobres de maneira intolerável.
2330 "Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de
Deus" (Mt 5,9).

ARTIGO 6
O SEXTO MANDAMENTO



"NÃO COMETERÁS ADULTÉRIO" (Ex 20, 14[a1] )
Ouvistes o que foi dito: "Não cometerás adultério". Eu, porém, vos digo: todo aquele que
olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coraço (Mt
5,27-28).
I . "Homem e m ulher os criou..."
2331 "Deus é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor.
Criando-a à sua imagem... Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocaço e,
assim a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão.”
"Deus criou o homem à sua imagem... homem e mulher ele os criou" (Gn 1,27); "Crescei e
multiplicai-vos" (Gn 1,28); "No dia em que Deus criou o homem, Ele o fez à semelhança de Deus.
Homem e mulher Ele os criou, abençoou-os e lhes deu o nome 'homem', no dia em que foram
criados" (Gn 5,1-2).
2332 A sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, em sua unidade de
corpo e alma. Diz respeito particularmente à afetividade, à capacidade de amar e de procriar
e, de uma maneira mais geral, à aptidão a criar v ínculos de comunhão com os outros.
2333 Cabe a cada um, homem e mulher, reconhecer e aceitar sua identidade sexual. A
diferença e a complementaridade físicas, morais e espirituais estão orientadas para os bens do
casamento e para o desabrochar da vida familiar. A harmonia do casal e da sociedade
depende, em parte, da maneira como se vivem entre os sexos a complementaridade, a
necessidade e o apoio mútuos.
2334 "Ao criar o ser humano, homem e mulher, Deus dá a dignidade pessoal de modo
igual ao homem e à mulher." "O homem é uma pessoa, e isto na mesma medida para o homem
e para a mulher, pois ambos são criados à imagem e à semelhança de um Deus pessoal."
2335 Cada um dos dois sexos é, com igual dignidade, embora de maneira diferente,
imagem do poder e da ternura de Deus. A união do homem e da mulher no casamento é uma
maneira de imitar na carne a generosidade e a fecundidade do Criador: "O homem deixa seu
pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tomam uma só carne" (Gn 2,24). Dessa união
procedem todas as geraçes humanas.
2336 Jesus veio restaurar a criaço na pureza de sua origem. No Sermão da Montanha,
Ele interpreta de maneira rigorosa o plano de Deus: "Ouvistes o que foi dito: 'Não cometerás
adultério'. Eu, porém, vos digo: todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso já
cometeu adultério com ela em seu coraço" (Mt 5,27-28). O homem não deve separar o que
Deus uniu.
A Tradiço da Igreja entendeu o sexto mandamento como englobando o conjunto da
sexualidade humana.

II. A V OCAÇO À CASTIDADE
2337 A castidade significa a integraço correta da sexualidade na pessoa e, com isso, a
unidade interior do homem em seu ser corporal e espiritual. A sexualidade, na qual se exprime a
pertença do homem ao mundo corporal e biológico, torna-se pessoal e verdadeiramente
humana quando é integrada na relaço de pessoa a pessoa, na doaço mútua integral e
temporalmente ilimitada do homem e da mulher.
A virtude da castidade comporta, portanto, a integridade da pessoa e a integralidade da
doaço.

A INTEGRIDADE DA PESSOA


2338 A pessoa casta mantém a integridade das forças vitais de amor depositadas nela.
Esta integridade garante a unidade da pessoa e se opõe a todo comportamento que venha feri-
la; não tolera nem a vida dupla nem a linguagem dupla.
2339 A castidade comporta uma aprendizagem do domínio de si que é uma pedagogia
da liberdade humana. A alternativa é clara ou o homem comanda suas paixões e obtém a paz,
ou se deixa subjugar por elas e se torna infeliz. "A dignidade do homem exige que ele possa agir
de acordo com uma opço consciente e livre, isto é, movido e levado por convicço pessoal e
não por força de um impulso interno cego ou debaixo de mera coaço externa. O homem
consegue esta dignidade quando, libertado de todo cativeiro das paixões, caminha para o seu
fim pela escolha livre do bem procura eficazmente os meios aptos com diligente aplicaço."
2340 Aquele que quer permanecer fiel às promessas do Batismo e resistir às tentaçes
empenhar-se -á em usar os meios: o conhecimento de si, a prática de uma ascese adaptada às
situaçes em que se encontra, a obediência aos mandamentos divinos, a prática das virtudes
morais e a fidelidade à oraço. "A castidade nos recompõe, reconduzindo-nos a esta unidade
que tínhamos perdido do quando nos dispersamos na multiplicidade."
2341 A virtude da castidade é comandada pela virtude cardeal da temperança, que
tem em vista fazer depender da razão a paixões e os apetites da sensibilidade humana.
2342 O domínio de si mesmo é um trabalho a longo prazo. Nunca deve ser considerado
definitivamente adquirido. Supõe um esforço a ser retomado em todas as idades da vida[a23] .
O esforço necessário pode ser mais intenso em certas épocas, por exemplo, quando se forma a
personalidade, durante a infância e a adolescência.
2343 A castidade tem leis de crescimento. Este crescimento passa por graus, marcados
pela imperfeiço e muitas vezes pelo pecado. "Dia a dia o homem virtuoso e casto se constrói
por meio de opçes numerosas e livres. Assim, ele conhece, ama e realiza o bem moral seguindo
as etapas de um crescimento."
2344 A castidade representa uma tarefa eminentemente pessoal. Mas implica também
um esforço cultural, porque "o homem desenvolve-se em todas as suas qualidades mediante a
comunicação com os outros". A castidade supõe o respeito pelos direitos da pessoa,
particularmente o de receber uma informaço e uma educaço que respeitem as dimensões
morais e espirituais da vida humana.
2345 A castidade é uma virtude moral. É também um dom de Deus, uma graça, um
fruto da obra espiritual. O Espírito Santo concede o dom de imitar a pureza de Cristo àquele que
foi regenerado pela água do Batismo.

A INTEGRALIDADE DA DOAÇO DE SI MESMO
2346 A caridade é a forma de todas as virtudes. Influenciada por ela, a castidade
aparece como uma escola de doaço da pessoa. O domínio de si mesmo está ordenado para
a doaço de si mesmo. A castidade leva aquele que a pratica a tornar-se para o próximo uma
testemunha da fidelidade e da ternura de Deus.
2347 A virtude da castidade desabrocha na amizade. Mostra ao discípulo como seguir e
imitar Aquele que nos escolheu como seus próprios amigos, se doou totalmente a nós e nos faz
Participar de sua condiço divina. A castidade é promessa de imortalidade.
A castidade se expressa principalmente na amizade ao próximo. Desenvolvida entre
pessoas do mesmo sexo ou de sexos diferentes, a amizade representa um grande bem para
todos e conduz à comunhão espiritual.

AS DIVERSAS FORMAS DE CASTIDADE


2348 Todo batizado é chamado à castidade. O cristão "se vestiu de Cristo", modelo de
toda castidade. Todos os fiéis de Cristo são chamados a levar uma vida casta segundo seu
específico estado de vida. No momento do Batismo, o cristão se comprometeu a viver sua
afetividade na castidade.
2349 "A castidade há de distinguir as pessoas de acordo com seus diferentes estados de
vida: umas na virgindade ou no celibato consagrado, maneira eminente de se dedicar mais
facilmente a Deus com um coraço indiviso; outras, da maneira como a lei moral determina,
conforme forem casados ou celibatários." As pessoas casadas são convidadas a viver a
castidade conjugal; os outros praticam a castidade na continência:Existem três formas da virtude
da castidade: a primeira, dos esposos; a segunda, da viuvez; a terceira, da virgindade. Nós não
louvamos uma delas excluindo as outras. Nisso a disciplina da Igreja é rica.
2350 Os noivos são convidados a viver a castidade na continência. Nessa provaço eles
verão uma descoberta do respeito mútuo, urna aprendizagem da fidelidade e da esperança de
se receberem ambos da parte de Deus. Reservarão para o tempo do casamento as
manifestaçes de ternura específicas do amor conjugal. Ajudar-se-ão mutuamente a crescer na
castidade.

AS OFENSAS À CASTIDADE
2351 A luxúria é um desejo desordenado ou um gozo desregrado do prazer venéreo. O
prazer sexual é moralmente desordenado quando é buscado por si mesmo, isolado das
finalidades de procriaço e de união.
2352 Por masturbaço se deve entender a excitaço voluntária dos órgãos genitais, a fim
de conseguir um prazer venéreo. "Na linha de uma tradiço constante, tanto o magistério da
Igreja como o senso moral dos fiéis afirmaram sem hesitaço que a masturbaço é um ato
intrínseca e gravemente desordenado." Qualquer que seja o motivo, o uso deliberado da
faculdade sexual fora das relaçes conjugais normais contradiz sua finalidade. Aí o prazer sexual
é buscado fora da "relaço sexual exigida pela ordem moral, que realiza, no contexto de um
amor verdadeiro, o sentido integral da doaço mútua e da procriaço humana".
Para formar um justo juízo sobre a responsabilidade moral dos sujeitos e orientar a aço
pastoral, dever-se-á levar em conta a imaturidade afetiva, a força dos hábitos contraídos, o
estado de angústia ou outros fatores psíquicos ou sociais que minoram ou deixam mesmo
extremamente atenuada a culpabilidade moral.
2353 A fornicaço é a união carnal fora do casamento entre um homem e uma mulher
livres. É gravemente contrária à dignidade das pessoas e da sexualidade humana, naturalmente
ordenada para o bem dos esposos, bem como para a geraço e a educaço dos filhos. Além
disso, é um escândalo grave quando há corrupço de jovens.
2354 A pornografia consiste em retirar os atos sexuais, reais ou simulados, da intimidade
dos parceiros para exibi-los a terceiros de maneira deliberada. Ela ofende a castidade porque
desnatura o ato conjugal, doaço íntima dos esposos entre si. Atenta gravemente contra a
dignidade daqueles que a praticam (atores, comerciantes, público), porque cada um se torna
para o outro objeto de um prazer rudimentar e de um proveito ilícito, Mergulha uns e outros na
ilusão de um mundo artificial. E uma falta grave. As autoridades civis devem impedir a produço
e a distribuiço de materiais pornográficos.
2355 A prostituiço vai contra a dignidade da pessoa que se prostitui, reduzida, assim,
ao prazer venéreo que dela se obtém. Aquele que paga peca gravemente contra si mesmo;
viola a castidade à qual se comprometeu em seu Batismo e mancha seu corpo, templo do
Espírito Santo. A prostituiço é um flagelo social. Envolve comumente mulheres, mas homens,
crianças ou adolescentes (nestes dois últimos casos, ao pecado soma -se um escândalo). Se é
sempre gravemente pecaminoso entregar-se à prostituiço, a miséria, a chantagem e a pressão
social podem atenuar a imputabilidade da falta.


2356 O estupro designa a penetraço à força, com violência, na intimidade sexual de
uma pessoa. Fere a justiça e a caridade. O estupro lesa profundamente o direito de cada um ao
respeito, à liberdade, à integridade física e moral. Provoca um dano grave que pode marcar a
vítima por toda a vida. E sempre um ato intrinsecamente mau. Mais grave ainda é o estupro
cometido pelos pais (cf. incesto) ou educadores contra as criança que lhes são confiadas.

CASTIDADE E HOMOSSEXUALIDADE
2357 A homossexualidade designa as relaçes entre homens e mulheres que sentem
atraço sexual, exclusiva ou predominante, por pessoas do mesmo sexo. A homossexualidade se
reveste de formas muito variáv eis ao longo dos séculos e das culturas. Sua gênese psíquica
continua amplamente inexplicada. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como
depravaçes graves, a tradiço sempre declarou que "os atos de homossexualidade são
intrinsecamente desordenados". São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da
vida. Não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum
podem ser aprovados.
2358 Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendências
homossexuais profundamente enraizadas. Esta inclinaço objetivamente desordenada constitui,
para a maioria, uma provaço. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza.
Evitar -se-á para com eles todo sinal de discriminaço injusta. Estas pessoas são chamadas a
reali-zar a vontade de Deus em sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor
as dificuldades que podem encontrar por causa de sua condiço.
2359 As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pe-las virtudes de
autodomínio, educadoras da liberdade interior, às vezes pelo apoio de uma amizade
desinteressada, pela oraço e pela graça sacramental, podem e devem se aproximar, gradual
e resolutamente, da perfeiço cristã.

III. O AMOR ENTRE OS ESPOSOS
2360 A sexualidade está ordenada para o amor conjugal entre o homem e a mulher. No
casamento, a intimidade corporal dos esposos se torna um sinal e um penhor de comunhão
espiritual. Entre os batizados, os vínculos do matrimônio são santificados pelo sacramento.
2361 "A sexualidade, mediante a qual o homem e a mulher se doam um ao outro com
os atos próprios e exclusivos dos esposos, não é em absoluto algo puramente biológico, mas diz
respeito ao núcleo íntimo da pessoa humana como tal. Ela só se realiza de maneira
verdadeiramente humana se for parte integral do amor com o qual homem e mulher se
empenham totalmente um para com o outro até a morte"
Tobias levantou-se do leito e disse a Sara: "Levanta-te, minha irmã, oremos e peçamos a
nosso Senhor que tenha compaixão de nós e nos salve". Ela se levantou e começaram a orar e a
pedir para obterem a salvaço. Ele começou dizendo: "Bendito sejas tu, Deus de nossos pais... Tu
criaste Adão e para ele criaste Eva, sua mulher, para ser seu sustentáculo e amparo, e para que
de ambos derivasse a raça humana. Tu mesmo disseste: 'Não é bom que o homem fique só;
façamos-lhe uma auxiliar semelhante a ele. E agora não é por desejo impuro que tomo esta
minha irmã, mas com reta intenço. Digna de ter piedade de mim e dela e conduzir-nos juntos a
uma idade avançada". E disseram em coro: "Amém, amém". E se deitaram para passar a noite
(Tb 8,4-9).
2362 "Os atos com os quais os cônjuges se unem íntima e castamente são honestos e
dignos. Quando realizados de maneira verdadeiramente humana, significam e favorecem a
mútua doaço pela qual os esposos se enriquecem com o coraço alegre e agradecido." A
sexualidade é fonte de alegria e de prazer:


O próprio Criador... estabeleceu que nesta funço (i.é, de geraço) os esposos sentissem
prazer e satisfaço do corpo e do espírito. Portanto, os esposos não fazem nada de mal em
pro-curar este prazer e em gozá-lo. Eles aceitam o que o Criador lhes destinou. Contudo, os
esposos devem saber manter-se nos limites de uma moderaço justa.
2363 Pela união dos esposos realiza-se o duplo fim do matrimônio: o bem dos cônjuges e
a transmissão da vida. Esses dois significados ou valores do casamento não podem ser separados
sem alterar a vida espiritual do casal e sem comprometer os bens matrimoniais e o futuro da
família. Assim, o amor conjugal entre o homem e a mulher atende à dupla exigência da
fidelidade e da fecundidade.

A FIDELIDADE CONJUGAL
2364 O casal de cônjuges forma "uma íntima comunhão de vida e de amor que o
Criador fundou e dotou com suas leis. Ela é instaurada pelo pacto conjugal, ou seja, o
consentimento pessoal irrevogável ". Os dois se doam definitiva e totalmente um ao outro. Não
são mais dois, mas formam doravante uma só carne. A aliança contraída livremente pelos
esposos lhes impõe a obrigaço de a manter una e indissolúvel . "O que Deus uniu, o homem não
separe" (Mc 10,9).
2365 A fidelidade exprime a constância em manter a palavra dada. Deus é fiel. O
sacramento do Matrimônio faz o homem e a mulher entrarem na fidelidade de Cristo à sua
Igreja. Pela castidade conjugal, eles testemunham este mistério perante o mundo.
S. João Crisóstomo sugere aos homens recém-casados que falem assim à sua esposa:
"Tomei-te em meus braços, amo-te, prefiro-te à minha própria vida. Porque a vida presente não é
nada, e o meu sonho mais ardente é passá-la contigo, de maneira que estejamos certos de não
sermos separados na vida futura que nos está reservada... Ponho teu amor acima de tudo, e
nada me seria mais penoso que não ter os mesmos pensamentos que tu tens”.

A FECUNDIDADE DO MATRIMÔNIO
2366 A fecundidade é um dom, enfim do Matrimônio, porque o amor conjugal tende
naturalmente a ser fecundo. O filho não vem de fora acrescentar-se ao amor mútuo dos esposos;
surge no próprio âmago dessa doaço mútua, da qual é fruto e realizaço. A Igreja, que "está
do lado da vida", ensina que "qualquer ato matrimonial deve permanecer aberto à transmissão
da vida". "Esta doutrina, muitas vezes exposta pelo Magistério, está fundada na conexão
inseparável, que Deus quis e que o homem não pode alterar por sua iniciativa, entre os dois
significados do ato conjugal: o significado unitivo e o significado procriador."
2367 Chamados a dar vida, os esposos participam do poder criador e da paternidade de
Deus. "Os cônjuges sabem que, no oficio de transmitir a vida e de serem educadores o qual deve
ser considerado como missão própria deles - são cooperadores do amor de Deus criador e como
que seus intérpretes. Por isso desempenharão seu múnus com responsabilidade cristã e humana."
2368 Um aspecto particular desta responsabilidade diz respeito à regulaço da
procriaço. Por razões justas , os esposos podem querer espaçar os nascimentos de seus filhos.
Cabe-lhes verificar que seu desejo não provém do egoísmo, mas está de acordo com a justa
generosidade de uma paternidade responsável. Além disso, regularão seu comportamento
segundo os critérios objetivos da moral.
A moralidade da maneira de agir, quando se trata de harmonizar o amor conjugal com a
transmissão responsável da vida, não depende apenas da intenço sincera e da reta
apreciaço dos motivos, mas deve ser determinada segundo critérios objetivos tirados da
natureza da pessoa e de seus atos, critérios esses que respeitam o sentido integral da doaço
mútua e da procriaço humana no contexto do verdadeiro amor. Tudo isso é impossível se a
virtude da castidade conjugal não for cultivada com sinceridade.


2369 "Salvaguardando estes dois aspectos essenciais, unitivo e procriador, o ato conjugal
conserva integralmente o sentido de amor mútuo e verdadeiro e sua ordenaço para a altíssima
vocaço do homem para a paternidade."
2370 A continência periódica, os métodos de regulaço da natalidade baseados na
auto-observaço e no recurso aos períodos infecundos estão de acordo com os critérios
objetivos da moralidade. Estes métodos respeitam o corpo dos esposos, animam a ternura entre
eles e favorecem a educaço de uma liberdade autêntica. Em compensaço, é
intrinsecamente má "toda aço que, ou em previsão do ato conjugal, ou durante a sua
realizaço, ou também durante o desenvolvimento de suas conseqüncias naturais, se
proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriaço"
"À linguagem nativa que exprime a recíproca doaço total dos cônjuges a contracepço
impõe uma linguagem objetivamente contraditória, a do não se doar ao outro. Deriva daqui não
somente a recusa positiva de abertura à vida, mas também uma falsificaço da verdade interior
do amor conjugal, chamado a doar-se na totalidade pessoal." Esta diferença antropológica e
moral entre a contracepço e o recurso aos ritmos periódicos "envolve duas concepçes da
pessoa e da sexualidade humana irredutíveis entre si.
2371 "Estejam todos certos de que a vida dos homens e a missão de transmiti-la não se
confinam ao tempo presente nem se podem medir ou entender por esse tempo apenas, mas
estão sempre relacionadas com a destinaço eterna dos homens."
2372 O Estado é responsável pelo bem-estar dos cidadãos. Por isso, é legítimo que ele
intervenha para orientar a demografia da populaço. Pode fazer isso mediante uma informaço
objetiva e respeitosa, mas nunca por via autoritária e por coaço. O Estado não pode
legitimamente substituir a iniciativa dos esposos, primeiros responsáveis pela procriaço e
educaço de seus filhos. O Estado não está autorizado a intervir neste campo, com meios
contrários à lei moral.

O DOM DO FILHO
2373 A Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja vêem nas famílias numerosas um
sinal da bênço divina e da generosidade dos pais.
2374 É grande o sofrimento de casais que descobrem que são estéreis. "Que me darás?",
pergunta Abrão a Deus. "Continuo sem filho..." (Gn 15,2). "Faze-me ter filhos também, ou eu
morro", disse Raquel a seu marido Jacó (Gn 30,1).
2375 As pesquisas que visam diminuir a esterilidade humana devem ser estimuladas, sob
a condiço de serem postas "a serviço da pessoa humana, de seus direitos inalienáveis, de seu
bem verdadeiro e integral, de acordo com o projeto e a vontade de Deus[a82] "
2376 As técnicas que provocam uma dissociaço do parentesco, pela intervenço de
uma pessoa estranha ao casal (doaço de esperma ou de óvulo, empréstimo de útero), são
gravemente desonestas. Estas técnicas (inseminaço e fecundaço artificiais heterólogas) lesam
o direito da criança de nascer de um pai e uma mãe conhecidos dela e ligados entre si pelo
casamento. Elas traem "o direito exclusivo de se tornar pai e mãe somente um por meio do
outro[a83] "
2377 Praticadas entre o casal, estas técnicas (inseminaço e fecundaço artificiais
homólogas) são talvez menos claras a um juízo imediato, mas continuam moralmente
inaceitáveis. Dissociam o ato sexual do ato procriador. O ato fundante da existência dos filhos já
não é um ato pelo qual duas pessoas se doam uma à outra, mas um ato que remete a vida e a
identidade do embrião para o poder dos médicos e biólogos, e instaura um domínio da técnica
sobre a origem e a destinaço da pessoa humana. Tal relaço de dominaço é por si contrária
à dignidade e à igualdade que devem ser comuns aos pais e aos filhos". "A procriaço é
moralmente privada de sua perfeiço própria quando não é querida como o fruto do ato
conjugal, isto é, do gesto específico da união dos esposos... Somente o respeito ao vínculo que


existe entre os significados do ato conjugal e o respeito pela unidade do ser humano permite
uma procriaço de acordo com a dignidade da pessoa."
2378 O filho não é algo devido, mas um dom. O "dom mais excelente do matrimônio" e
uma pessoa humana. O filho não pode ser considerado corno objeto de propriedade, a que
conduziria o reconhecimento de um pretenso "direito ao filho". Nesse campo, somente o filho
possui verdadeiros direitos: o "de ser o fruto do ato específico do amor conjugal de seus pais, e
também o direito de ser respeitado como pessoa desde o momento de sua concepço”.
2379 O Evangelho mostra que a esterilidade física não é um mal absoluto. Os esposos
que, depois de terem esgotado os recursos legítimos da medicina, sofrerem de infertilidade unir-
se-ão à Cruz do Senhor, fonte de toda fecundidade espiritual. Podem mostrar sua generosidade
adotando crianças desamparadas ou prestando relevantes serviços em favor do próximo.

IV. AS OFENSAS Á DIGNIDADE DO MATRIMÔNIO
2380 O adultério. Esta palavra designa a infidelidade conjugal. Quando dois parceiros,
dos quais ao menos um é casado, estabelecem entre si uma relaço sexual, mesmo efêmera,
cometem adultério. Cristo condena o adultério mesmo de simples desejo . O sexto mandamento
e o Novo Testamento proscrevem absolutamente o adultério . Os profetas denunciam sua
gravidade. Vêem no adultério a figura do pecado de idolatria .
2381 O adultério é uma injustiça. Quem o comete falta com seus compromissos. Fere o
sinal da Aliança que é o vínculo matrimonial, lesa o direito do outro cônjuge e prejudica a
instituiço do casamento, violando o contrato que o fundamenta. Compromete o bem da
geraço humana e dos filhos, que têm necessidade da união estável dos pais.

O DIVÓRCIO
2382 O Senhor Jesus insistiu na intenço original do Criador, que queria um casamento
indissolúvel. Ab-roga as tolerâncias que se tinham introduzido na Lei antiga.
Entre batizados, o matrimonio ratificado e consumado não pode ser dissolvido por nenhum
poder humano nem por nenhuma causa, exceto a morte".
2383 A separaço dos esposos com a manutenço do vínculo matrimonial pode ser
legítima em certos casos previstos pelo Direito canônico (cf. CIC, cân. 1151-1155).
Se o divórcio civil for a única maneira possível de garantir certos direitos legítimos, o
cuidado dos filhos ou a defesa do patrimônio, pode ser tolerado sem constituir uma falta moral.
2384 O divórcio é uma ofensa grave à lei natural. Pretende romper o contrato livremente
consentido pelos esposos de viver um com o outro até a morte. O divórcio lesa a Aliança de
salvaço da qual o matrimônio sacramental é o sinal. O fato de contrair nova união, mesmo que
reconhecida pela lei civil, aumenta a gravidade da ruptura; o cônjuge recasado passa a
encontrar -se em situaço de adultério público e permanente:
Se o marido, depois de se separar de sua mulher, se aproximar de outra mulher, se torna
adúltero, porque faz essa mulher cometer adultério; e a mulher que habita com ele é adúltera,
porque atraiu a si o marido de outra.
2385 O caráter imoral do divórcio deriva também da desordem que introduz na célula
familiar e na sociedade. Esta desordem acarreta graves danos: para o cônjuge que fica
abandonado; para os filhos, traumatizados pela separaço dos pais, e muitas vezes disputados
entre eles (cada um dos cônjuges querendo os filhos para si); e seu efeito de contágio, que faz
dele urna verdadeira praga social.
2386 Pode acontecer que um dos cônjuges seja a vítima inocente do divórcio decidido
pela lei civil; neste caso, ele não viola o preceito moral. Existe uma diferença considerável entre o
cônjuge que se esforçou sinceramente por ser fiel ao sacramento do Matrimônio e se vê


injustamente abandonado e aquele que, por uma falta grave de sua parte, destrói um
casamento canonicamente válido.

OUTRAS OFENSAS Á DIGNIDADE DO CASAMENTO
2387 É compreensível o drama de quem, desejoso de se converter ao Evangelho, se vê
obrigado a repudiar uma ou várias mulheres com as quais viveu anos de vida conjugal. Contudo,
a poligamia não se coaduna com a lei moral. "Opõe-se radicalmente à comunhão conjugal,
pois nega diretamente o plano de Deus tal como nos foi revelado nas origens, porque contrária à
igual dignidade pessoal entre o homem e a mulher, que no matrimônio se doam com um amor
total e por isso mesmo único e exclusivo." O cristão que foi polígamo está gravemente obrigado
por justiça a honrar as obrigaçes contraídas para com as suas antigas mulheres, bem como
para com os filhos.
2388 O incesto designa relaçes íntimas entre parentes ou pessoas afins, em grau que
proíba entre eles o casamento . S. Paulo estigmatiza esta falta particularmente grave: "É geral
ouvir-se falar de mau comportamento entre vós... um dentre vós vive com a mulher de seu pai...
E preciso que, em nome Senhor Jesus... entreguemos tal homem a Satanás para a perda de sua
carne..." (1 Cor 5,1.3-5). O incesto corrompe as relaçes familiares e indica como que uma
regressão à animalidade.
2389 Podemos ligar ao incesto os abusos sexuais perpetrados por adultos contra
crianças ou adolescentes confiados à sua guarda. A falta é acrescida, então, de um dano
escandaloso causado à integridade física e moral dos jovens, que ficarão marcados por toda a
vida, e de uma violaço da responsabilidade educativa.
2390 Existe união livre quando o homem e a mulher se recusam a dar uma forma jurídica
e pública a uma ligaço que implica intimidade sexual.
A expressão é enganosa: com efeito, que significado pode ter uma união na qual as
pessoas não se comprometem mutuamente e revelam, assim, uma falta de confiança na outra,
em si mesma ou no futuro?
A expressão abrange situaçes diferentes: concubinato, recusa do casamento enquanto
tal, incapacidade de assumir compromissos a longo prazo. Todas essas situaçes ofendem a
dignidade do matrimônio, destroem a própria idéia da família, enfraquecem o sentido da
fidelidade. São contrárias à lei moral. O ato sexual deve ocorrer exclusivamente no casamento;
fora dele, é sempre um pecado grave e exclui da comunhão sacramental.
2391 Muitos reclamam hoje uma espécie de "direito à experiência" quando há intenço
de se casar. Qualquer que seja a firmeza do propósito dos que se envolvem em relaçes sexuais
prematuras, "estas não permitem garantir em sua sinceridade e fidelidade a relaço inter-pessoal
de um homem e uma mulher e, principalmente, protegê-los contra as fantasias e os caprichos". A
união carnal não é moralmente legítima, a não ser quando se instaura uma comunidade de vida
definitiva entre o homem e a mulher. O amor humano não tolera a "experiência". Ele exige urna
doaço total e definitiva das pessoas entre si .

RESUMINDO
2392 "O amor é a vocaço fundamental e originária do ser humano ."
2393 Ao criar o ser humano, homem e mulher, Deus dá a dignidade pessoal de uma
maneira igual a ambos. Cada um, homem e mulher, deve chegar a reconhecer e aceitar sua
identidade sexual.
2394 Cristo é o modelo da castidade. Todo batizado é chamado a levar uma vida casta,
cada um segundo seu estado de vida próprio.


2395 A castidade significa a integraço da sexualidade na pessoa. Inclui a
aprendizagem do domínio pessoal.
2396 Entre os pecados gravemente contrários à castidade é preciso citar a masturbaço,
a fornicaço, a pornografia e as práticas homossexuais.
2397 A aliança que os esposos contraíram livremente implica um amor fiel. Impõe-lhes a
obrigaço de guardar seu casamento indissolúvel.
2398 A fecundidade é um bem, um dom, um fim do casamento. Dando a vida, os esposos
participam da paternidade de Deus.
2399 A regulaço da natalidade representa um dos aspectos da paternidade e da
maternidade responsáveis. A legitimidade das intençes dos esposos não justifica o recurso a
meios moralmente inadmissíveis (por exemplo, a esterilizaço direta ou a contracepço).
2400 O adultério e o divórcio, a poligamia e a união livre são ofensas graves à dignidade
do casamento.




ARTIGO 7
O SÉTIMO MANDAMENTO
Não roubarás (Ex 20,15; Cf Dt 5,19).

NÃO ROUBARÁS (Mt 19,18).

2401 O sétimo mandamento proíbe tomar ou reter injustamente os bens do próximo ou
lesá-lo, de qualquer modo, nos mesmos bens. Prescreve a justiça e a caridade na gestão dos
bens terrestres e dos frutos do trabalho dos homens. Exige, em vista do bem comum, o respeito à
destinaço universal dos bens e ao direito de propriedade privada. A vida cristã procura ordenar
para Deus e para a caridade fraterna os bens deste mundo.

I. A DESTINAÇO UNIVERSAL E A PROPRIEDADE PRIVADA DOS BENS
2402 No começo, Deus confiou a terra e seus recursos à administraço comum da
humanidade, para que cuidasse dela, a dominasse por seu trabalho e dela desfrutasse . Os bens
da criaço são destinados a todo o gênero humano. A terra está, contudo, repartida entre os
homens para garantir a segurança de sua vida, exposta à penúria e ameaçada pela violência.
A apropriaço dos bens é legítima para garantir a liberdade e a dignidade das pessoas, para
ajudar cada um a prover suas necessidades fundamentais e as daqueles de quem está
encarregado. Deve também permitir que se manifeste uma solidariedade natural entre os
homens.
2403 O direito à propriedade privada, adquirida ou recebida de modo justo, não abole a
doaço original da terra ao conjunto da humanidade. A destinaço universal dos bens continua
primordial, mesmo se a promoço do bem comum exige o respeito pela propriedade privada,
pelo respectivo direito e exercício.
2404 Usando aqueles bens, o homem que possui legitimamente as coisas materiais não as
deve ter só como próprias dele, mas também como comuns, no sentido de que elas possam ser
úteis não somente a ele, mas também aos outros ." A propriedade de um bem faz de seu
detentor um administrador da Providência, para fazê-los frutificar e para repartir os benefícios
dessa administraço a outros, a seus parentes, em primeiro lugar.
2405 Os bens de produço materiais ou imateriais - como terras ou fábricas, competências
ou profissões, requerem os cuidados de quem os Possui para que sua fecundidade aproveite ao
maior número possível. Os detentores dos bens de uso e de consumo devem usá-los com
moderaço, reservando a melhor parte ao hóspede, ao doente e ao pobre.
2406 A autoridade política tem o direito e o dever de regulamentar, em funço do bem
comum, o exercício legítimo do direito de propriedade.

II. O RESPEITO ÀS PESSOAS E AOS SEUS BENS
2407 Em matéria econômica, o respeito à dignidade humana exige a prática da virtude
da temperança, para moderar o apego aos bens deste mundo; da virtude da justiça, para
preservar o direitos do próximo e lhe dar o que lhe é devido; e da solidariedade, segundo a regra
áurea e segundo a liberalidade do Senhor, que "se fez pobre, embora fosse rico, para nos
enriquecer com sua pobreza".

O RESPEITO AOS BENS DO OUTRO


2408 O sétimo mandamento proíbe o roubo, isto é, a usurpaço do bem de outro contra
a vontade razoável do proprietário. Não há roubo se o consentimento pode ser presumido ou se
recusa é contrária à razão e à destinaço universal dos bem. É o caso da necessidade urgente e
evidente. em que o único meio de acudir às necessidades imediatas e essenciais (ali mento,
abrigo, roupa...) é dispor e usar dos bens do outro.
2409 Toda maneira de tomar e de reter injustamente o bem do outro, mesmo que não
contrarie as disposiçes da lei civil, é contrária ao sétimo mandamento. Assim, também, reter
deliberadamente os bens emprestados ou objetos perdidos, defraudar no comércio, pagar
salários injustos, elevar os preços especulando sobre a ignorância ou a miséria alheia.
São ainda moralmente ilícitos a especulaço, pela qual se faz variar artificialmente a
avaliaço dos bens, visando levar vantagem em detrimento do outro; a corrupço, pela qual se
"compra" o julgamento daqueles que devem tomar decisões de acordo com o direito; a
apropriaço e uso privados dos bens sociais de uma empresa; os trabalhos malfeitos; a fraude
fiscal; a falsificaço de cheques e de faturas; os gastos excessivos; o desperdício. Infligir
voluntariamente um prejuízo aos proprietários privados ou públicos é contrário à lei moral e exige
reparaço.
241 0 As promessas devem ser mantidas, e os contratos, rigorosamente observados, na
medida em que o compromisso assumido for moralmente justo. Uma parte notável da vida
econômica e social depende do valor dos contratos entre pessoas físicas ou morais. E o caso dos
contratos comerciais de venda ou compra, os contratos de locaço ou de trabalho. Todo
contrato deve ser feito e executado de boa-fé.
2411 Os contratos estão sujeitos à justiça comutativa, que regula as trocas entre as
pessoas e entre as instituiçes no pleno respeito aos seus direitos. A justiça comutativa obriga
estritamente; exige a salvaguarda dos direitos de propriedade, o pagamento das dívidas e o
cumprimento das obrigaçes livremente contraídas. Sem a justiça comutativa, nenhuma outra
forma de justiça é possível.
Distingue-se a justiça comutativa da justiça legal, que se refere àquilo que o cidadão deve
eqüitativamente à comunidade, e da justiça distributiva, que regula o que a comunidade deve
aos cidadãos proporcionalmente às suas contribuiçes e às suas necessidades.
2412 Em virtude da justiça comutativa, a reparaço da injustiça cometida exige a
restituiço do bem furtado a seu propr ietário:
Jesus abençoa Zaqueu por causa de seu compromisso: "Se defraudei a alguém, restituo-
lhe o quádruplo" (Lc 19,8). Aqueles que, de maneira direta ou indireta, se apossaram de um bem
alheio têm obrigaço de o restituir ou de devolver o equivalente em natureza ou em espécie, se
a coisa desapareceu, bem como os frutos e lucros que seu proprietário legitimamente teria
auferido. São igualmente obrigados a restituir, proporcionalmente à sua responsabilidade e ao
benefício auferido, todos os que participaram de alguma maneira do roubo, ou tiraram proveito
dele com conhecimento de causa, como, por exemplo, Os mandantes, os que ajudaram ou
encobriram o roubo.
2413 Os jogos de azar (jogos de cartas etc.) ou as apostas em si não são contrários à
justiça. Toma m-se moralmente inaceitáveis quando privam a pessoa daquilo que lhe é
necessário para suprir suas necessidades e as dos outros. A paixão pelo jogo corre o risco de se
transformar em uma dependência grave. Apostar injustamente ou trapacear nos jogos constit ui
matéria grave, a menos que o dano infligido seja tão pequeno aquele que o sofre não possa
razoavelmente considerá-lo significativo.
2414 O sétimo mandamento proíbe os atos ou empreendimentos que, por qualquer razão
que seja, egoísta ou ideológica, mercantil ou totalitária, levam a escravizar seres humanos, a
desconhecer sua dignidade pessoal, a comprá-los, a vendê -los e a trocá-los como mercadorias.
É um pecado contra a dignidade das pessoas e contra seus direitos fundamentais reduzi-las, pela
violência, a um valor de uso ou a uma fonte lucro. S. Paulo ordenava a um patrão cristão que


tratasse seu escravo cristão "não mais corno escravo, mas como um irmão..., como um homem,
no Senhor" (Fm 16).

O RESPEITO PELA INTEGRIDADE DA CRIAÇO
2415 O sétimo manda mento manda respeitar a integridade da criaço. Os animais, como
as plantas e os seres inanimados, estão naturalmente destinados ao bem comum da
humanidade passada, presente e futura. O uso dos recursos minerais. vegetais e animais do
universo não pode ser separado do respeito pelas exigências morais. O domínio dado pelo
Criador ao homem sobre os seres inanimados e os seres vivos não é absoluto; é medido por meio
da preocupaço pela qualidade de vida do próximo, inclusive das geraçes futuras; exige um
respeito religioso pela integridade da criaço.
2416 Os animais são criaturas de Deus, que os envolve com sua solicitude
providencial[a23] . Por sua simples existência, eles o bendizem e lhe dão glória. Também os
homens lhes devem carinho. Lembremos com que delicadeza os santos, como S. Francisco de
Assis ou S. Filipe de Neri, tratavam os animais.
2417 Deus confiou os animais à administraço daquele que criou à sua imagem. E,
portanto, legitimo servir-se dos animais para a alimentaço e a confecço das vest es. Podem ser
domesticados, para ajudar o homem em seus trabalhos e lazeres. Os experimentos médicos e
científicos em animais são práticas moralmente admissíveis, se permanecerem dentro dos limites
razoáveis e contribuírem para curar ou salvar vidas humanas.
2418 É contrário à dignidade humana, fazer os animais sofrerem inutilmente e desperdiçar
suas vidas. E igualmente indigno gastar com eles o que deveria prioritariamente aliviar a miséria
dos homens. Pode-se amar os animais, porém não se deve orientar para eles o afeto devido
exclusivamente às pessoas.

III. A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

2419 "A revelaço cristã leva a uma compreensão mais profunda das leis da vida social."
A Igreja recebe do Evangelho a revelaço plena da verdade do homem. Quando ela cumpre
sua missão de anunciar o Evangelho, testemunha ao homem, em nome de Cristo, sua dignidade
própria e sua vocaço à comunhão de pessoas, ensina-lhe as exigências da justiça e da paz, de
acordo com a sabedoria divina.
2420 A Igreja emite um juízo moral, em matéria econômica e social, "quando o exigem os
direitos fundamentais da pessoa ou a salvaço das almas". Na ordem da moralidade, tem uma
missão distinta da missão das autoridades políticas. A Igreja se preocupa com aspectos
temporais do bem comum em razão de sua ordenaço ao Sumo Bem, nosso fim último. Procura
inspirar as atitudes justas na relaço com os bens terrenos e nas relaçes socioeconômicas.
2421 A doutrina social da Igreja se desenvolveu no século XIX, por ocasião do encontro do
Evangelho com a sociedade industrial moderna, suas novas estruturas para a produço de bens
de consumo, sua nova concepço da sociedade, do Estado e da autoridade, suas novas formas
de trabalho e de propriedade. o desenvolvimento da doutrina da Igreja, em matéria econômica
e social, atesta valor o permanente do ensinamento da Igreja e, ao mesmo tempo, o sentido
verdadeiro de sua Tradiço sempre viva e ativa.
2422 O ensinamento social da Igreja abrange um corpo de doutrina na que se articula à
medida que a Igreja interpreta os acontecimentos ao longo da história, à luz do conjunto da
palavra revelada por Jesus Cristo, com a assistência do Espírito Santo. Este ensinamento se torna
mais aceitável aos homens de boa vontade quanto mais profundamente inspira a conduta dos
fiéis.


2423 A doutrina social da Igreja propõe princípios de reflexão apresenta critérios de juízo,
orienta para a aço. Todo sistema segundo o qual as relaçes sociais seriam inteiramente
determinadas pelos fatores econômicos é contrário à natureza da pessoa humana e de seus
atos.
2424 Uma teoria que faz do lucro a regra exclusiva e o fim último da atividade
econômica é moralmente inaceitável. O apetite desordenado pelo dinheiro não deixa de
produzir seus efeitos perversos. Ele é uma das causas dos numerosos conflitos que perturbam a
ordem social. Um sistema que "sacrifica os direitos fundamentais das pessoas e dos grupos à
organizaço coletiva da produço" é contrário à dignidade do homem. Toda prática que reduz
as pessoas a não serem mais que meros meios que têm em vista o lucro escraviza o homem,
conduz a idolatria do dinheiro e contribui para difundir o ateísmo. "Não podeis servir ao mesmo
tempo a Deus e ao dinheiro" (Mt 6,24; Lc 16,13).
2425 A Igreja tem rejeitado as ideologias totalitárias e atéias associadas, nos tempos
modernos, ao "comunismo" ou ao "socialismo”. Além disso, na prática do "capitalismo", ela
recusou o individualismo e o primado absoluto da lei do mercado sobre o trabalho humano[a40]
. A regulamentaço da economia exclusivamente por meio planejamento centralizado perverte
na base os vínculos sociais; sua regulamentaço unicamente pela lei do mercado vai contra a
justiça social, "pois há muitas necessidades humanas que não podem atendidas pelo mercado".
É preciso preconizar uma regulamentaço racional do mercado e das iniciativas econômicas,
de acordo com uma justa hierarquia de valores e em vista do bem comum.

IV. A ATIVIDADE ECONÔMICA E A JUSTIÇA SOCIAL
2426 O desenvolvimento das atividades econômicas e o crescimento da produço estão
destinados a servir às necessidades dos seres humanos. A vida econômica não visa somente
multiplicar os bens produzidos e aumentar o lucro ou o poder; antes de tudo, ela está ordenada
ao serviço das pessoas, do homem em sua totalidade e de toda a comunidade humana.
Conduzida segundo seus métodos próprios, a atividade econômica deve ser exercida dentro dos
limites da ordem moral, segundo a justiça social, a fim de corresponder ao plano de Deus acerca
do homem.
2427 O trabalho humano procede imediatamente das pessoas criadas à imagem de
Deus e chamadas a prolongar, ajudando-se mutuamente, a obra da criaço, dominando a
terra. O trabalho é, pois, um dever: "Quem não quer trabalhar também não há de comer" (2Ts
3,10. ). O trabalho honra os dons do Criador e os talentos recebidos. Também pode ser redentor.
Suportando a pena . do trabalho unido a Jesus, o artesão de Nazaré e o crucificado do Calvário,
o homem colabora de certa maneira com o Filho de Deus em sua obra redentora. Mostra-se
discípulo de Cristo carregando a cruz, cada dia, na atividade que é chamado a realizar[a48] . O
trabalho pode ser um meio de santificaço e uma animaço das realidades terrestres no Espírito
de Cristo.
2428 No trabalho, a pessoa exerce e realiza uma parte das capacidades inscritas em
sua natureza. O valor primordial do trabalho está ligado ao próprio homem, que é seu autor e
destinatário. O trabalho é para o homem, e não o homem para o trabalho. Cada um deve
poder tirar do trabalho os meios para sustentar -se, a si e aos seus, bem como para prestar serviço
à comunidade humana.
2429 Cada um tem o direito de iniciativa econômica, cada um usará legitimamente de
seus talentos para contribuir para uma abundância que seja de proveito para todos e para
colher os justos frutos de seus esforços. Cuidará de seguir as prescriçes emanadas das
autoridades legitimas, tendo em vista o bem comum.
2430 A vida econômica abrange interesses diversos, muitas vezes opostos entre si. Assim
se explica o surgimento dos conflitos que a caracterizam. Deve haver empenho no sentido de
minimiza estes últimos pela negociaço que respeite os direitos e os deveres de cada parceiro


social: os responsáveis pelas empresas, os representantes dos assalariados, por exemplo, as
organizaçes sindicais e, eventualmente, os poderes públicos.
2431 A responsabilidade do Estado. "A atividade econômica, sobretudo a da economia
de mercado, não pode desenvolver-se num vazio institucional, jurídico e político. Ela supõe que
sejam asseguradas as garantias das liberdades individuais e da propriedade, sem esquecer uma
moeda estável e serviços públicos eficazes. O dever essencial do Estado, no entanto, é assegurar
essas garantias, para que aqueles que trabalham possam gozar do fruto de seu trabalho e,
portanto, sentir-se estimulados a realizá-lo com eficácia e honestidade... O Estado tem o dever
de vigiar e conduzir a aplicaço dos direitos humanos no setor econômico; nessa esfera, porém,
a primeira responsabilidade não cabe ao Estado, mas às instituiçes e aos diversos grupos e
associaçes que compõem a sociedade.”
2432 Os responsáveis pelas empresas têm, perante a sociedade a responsabilidade
econômica e ecológica por suas operaçes. Têm o dever de considerar o bem das pessoas e
não apenas aumento dos lucros. Entretanto, estes são necessários, pois permitem realizar os
investimentos que garantem o futuro das empresas, garantindo o emprego.
2433 O acesso ao trabalho e à profissão deve estar aberto a todos, sem discriminaço
injusta: homens e mulheres, normais e excepcionais ou deficientes, autóctones e migrantes. Em
funço das circunstâncias, também a sociedade deve ajudar os cidadãos a conseguir um
trabalho e um emprego.
2434 O salário justo é o fruto legítimo do trabalho. Recusá-lo ou retê-lo pode constituir uma
grave injustiça. Para se avaliar a remuneraço eqüitativa, e preciso levar em conta ao mesmo
tempo as necessidades e as contribuiçes de cada um. "Levando-se em consideraço as
funçes e a produtividade, a situaço da empresa e o bem comum, a remuneraço do trabalho
deve garantir ao homem e a seus familiares os recursos necessários a uma vida digna no plano
material, social, cultural e espiritual.” O acordo das partes não é suficiente para justificar
moralmente o montante do salário.
2435 A greve é moralmente legítima quando se apresenta como um recurso inevitável, e
mesmo necessário, em vista de um benefício proporcionado. Torna-se moralmente inaceitável
quando é acompanhada de violências ou ainda quando se lhe atribuem objetivos não
diretamente ligados às condições de trabalho ou contrários ao bem comum.
2436 E injusto não pagar aos organismos de seguridade social as cotas estipuladas pelas
autoridades legítimas. A privaço do trabalho por causa do desemprego é quase sempre, para
quem a sofre, um atentado à dignidade e uma ameaça ao equilíbrio da vida. Além do prejuízo
pessoal para o desempregado, corre também inúmeros riscos o seu 1ar.

V. JUSTIÇA E SOLIDARIEDADE ENTRE AS NAÇES
2437 No plano internacional, a desigualdade dos recursos e dos meios econômicos é tão
grande que provoca entre as naçes um verdadeiro "fosso". De um lado, estão os que detêm e
desenvolvem os meios de crescimento e, de outro, os que acumulam as dívidas.
2438 Diversas causas, de natureza religiosa, política, econômica e financeira, conferem
hoje a questão social uma dimensão mundial". A solidariedade é necessária entre as naçes
cujas políticas já são interdependentes. E ainda mais indispensável quando se toma preciso deter
"os mecanismos perversos" que impedem o desenvolvimento dos países menos avançados[. Urge
substituir os sistemas financeiros abusivos e mesmo usurários, as relaçes comerciais iníquas entre
as naçes e a corrida armamentista por um esforço comum no sentido de mobilizar os recursos e
objetivos de desenvolvimento moral, cultural e econômico, "redefinindo as prioridades e as
escalas de valores".
2439 As naçes ricas têm uma responsabilidade moral grave para com aquelas que não
podem garantir sozinhas os próprios meios de seu desenvolvimento ou foram impedidas de fazê-
lo por trágicos acontecimentos históricos. E um dever de solidariedade e caridade; é igualmente


uma obrigaço de justiça, se o bem-estar das naçes ricas provém de recursos naturais não
foram eqüitativamente pagos.
2440 A ajuda direta representa uma resposta apropriada a necessidades imediatas,
extraordinárias, causadas por catástrofes naturais, epidemias etc., mas não basta para reparar os
graves prejuízos que resultam de situaçes de miséria nem para prover permanentemente às
necessidades. É necessário também reformar as instituiçes econômicas e financeiras
internacionais, para que elas promovam melhor as relaçes eqüitativas com os países menos
desenvolvidos. E preciso apoiar o esforço dos países pobres trabalhando para seu
desenvolvimento e libertaço. Esta doutrina deve ser aplicada de maneira muito especial no
âmbito do trabalho agrícola. Os camponeses, sobretudo dos países menos desenvolvidos,
constituem a massa preponderante dos pobres.
2441 Aumentar o senso de Deus e o conhecimento de si mesmo é a base de todo
desenvolvimento completo da sociedade humana. Este desenvolvimento completo multiplica os
bens materiais e os põe a serviço da pessoa e de sua liberdade. Diminui a miséria e a exploraço
econômicas. Faz crescer o respeito pelas; identidades culturais e a abertura para a
transcendência.
2442 Não cabe aos pastores da Igreja intervir diretamente na construço política e na
organizaço da vida social. Essa tarefa faz parte da vocaço dos fiéis leigos, que agem por
própria iniciativa com seus concidadãos. A aço social pode implicar uma pluralidade de
caminhos concretos. Terá sempre em vista o bem comum e se conformará com a mensagem
evangélica e com a doutrina da Igreja. Cabe aos fiéis leigos "animar as realidades temporais
com um zelo cristão e comportar-se como artesãos da paz e da justiça".

VI . O AMOR AOS POBRES

2443 Deus abençoa aqueles que ajudam os pobres e reprova aqueles que se afastam
deles: "Dá ao que te pede e não voltes as costas ao que te pede emprestado" (Mt 5,42). "De
graça recebestes, de graça dai" (Mt 10,8). Jesus Cristo reconhecerá seus eleitos pelo que tiverem
feito pelos pobres. Temos o sinal da presença de Cristo quando "os pobres são evangelizados" (Mt
11,53)
2444 "O amor da Igreja pelos pobres... faz parte de sua tradiço constante." Inspira-se no
Evangelho das bem-aventuranças, na pobreza de Jesus e em sua atenço aos pobres. O amor
aos pobres é também um dos motivos do dever de trabalhar, "para se ter o que partilhar com
quem tiver necessidade. Não se estende apenas à pobreza material, mas também às numerosas
formas de pobreza cultural e religiosa.
2445 O amor aos pobres é incompatível com o amor imoderado das riquezas ou o uso
egoísta delas: Pois bem, agora vós, ricos, chorai e gemei por causa das desgraças que estão
para vos sobrevir. Vossa riqueza apodreceu e vossas vestes estão carcomidas pelas traças. Vosso
ouro e vossa prata estão enferrujados, e sua ferrugem testemunhará contra vós e devorará
vossas carnes. Entesourastes como que um fogo nos tempos do fim! Lembrai-vos de que o salário,
do qual privastes os trabalhadores que ceifaram vossos campos, clama, e os gritos dos ceifeiros
chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos. Viveste faustosamente na terra e vos regalastes;
vós vos saciastes no dia matança. Condenastes o justo e o pusestes à morte: ele não resiste (Tg
5,1-6).
2446 São João Crisóstomo lembra essa verdade em termos vigorosos: "Não deixar os
pobres participar dos próprios bens é roubá-los e tirar -lhes a vida. Nós não detemos nossos bens,
mas os deles." "É preciso satisfazer acima de tudo as exigências da justiça, para que não
ofereçamos como dom da caridade aquilo que já é devido por justiça." Quando damos aos
pobres as coisas indispensáveis, não praticamos com eles grande generosidade pessoal, mas
lhes devolvemos o que é deles. Cumprimos um dever de justiça e não tanto um ato de caridade.


2447 As obras de misericórdia são as açes caritativas pelas quais socorremos o próximo
em suas necessidades corporais e espirituais. Instruir, aconselhar, consolar, confortar são obras de
misericórdia espiritual, como também perdoar e suportar com paciência. As obras de
misericórdia corporal consistem sobretudo em dar de comer a quem tem fome, dar de beber a
quem tem sede, dar moradia aos desabrigados, vestir os maltrapilhos, visitar os doentes e
prisioneiros, sepultar os mortos. Dentre esses gestos de misericórdia, a esmola dada aos pobres é
um dos principais testemunhos da caridade fraterna. E também uma prática de justiça que
agrada a Deus. Quem tiver duas túnicas, reparta-as com aquele que não tem, quem tiver o que
comer, faça o mesmo (Lc 3,11). Dai o que tendes em esmola, e tudo ficará puro para vós (Lc
11,41). Se um irmão ou uma irmã não tiverem o que vestir e lhes faltar o necessário para a
subsistência de cada dia, e alguém dentre vós lhes disser "Ide paz, aquecei-vos e saciai-vos, e
não lhes der o necessário para manutenço, que proveito haverá nisso? (Tg 2, 15-16[a97] ).
2448 "Sob suas múltiplas formas - extrema privaço material, opressão injusta,
enfermidades físicas e psíquicas e, por fim, a morte -, a miséria humana é o sinal manifesto da
condiço natural da fraqueza em que o homem se encontra após o primeiro pecado e da
necessidade de uma salvaço. É por isso que ela atrai a compaixão de Cristo Salvador, que quis
assumi -la sobre si, identificando-se com os 'mais pequeninos entre seus irmãos'. É também por isso
que todos aqueles que ela atinge são objeto de um amor preferencial por parte da Igreja, que,
desde as suas origens, apesar das falhas de muitos de seus membros, não deixou nunca de
trabalhar por aliviá-los, defendê-los e libertá-los. Ela o faz por meio de inúmeras obras de
beneficência, que continuam a ser, sempre e por toda parte, indispensáveis."
2449 Já no Antigo Testamento, todas as medidas jurídicas (ano de perdão, proibiço de
empréstimo a juros e da manutenço de penhora, obrigaço do dízimo, pagamento cotidiano
ao trabalhador diarista, direito de rebusca nas vinhas e respiga nos campos) são uma resposta à
exortaço do Deuteronômio: "Nunca deixará de haver pobres na terra; é por isso que eu te
ordeno: abre a mão em favor de teu irmão que é humilhado e pobre em tua terra" (Dt 15,11).
Jesus faz suas essas palavras: "Sempre tereis pobres convosco; mas a mim nem sempre tereis" (Jo
12,8). Dessa forma, ele não deixa caducar a veemência dos oráculos antigos contra aqueles que
"compram o fraco com prata e o indigente por um par de sandálias..." (Am 8,6), mas Ele nos
convida a reconhecer sua presença nos pobres, que são seus irmãos: No dia em que sua mãe a
repreendeu por manter em casa pobres e doentes, Santa Rosa de Lima lhe replicou: "Quando
servimos aos pobres e doentes, servimos a Jesus. Não nos devemos cansar de ajudar o próximo,
porque neles é a Jesus que servimos".

RESUMINDO
2450 "Não roubarás" (Dt 5,19). "Nem os ladrões, nem os avarentos... nem os rapinadores
herdarão o Reino de Deus" (1 Cor 6,10).
2451 O sétimo mandamento prescreve a prática da justiça e da caridade na
administraço dos bens terrenos e dos frutos do trabalho dos homens.
2452 Os bens da criaço são destinados a todo o gênero humanos. O direito à
propriedade privada não abole a destinaço universal dos bens.
2453 O sétimo mandamento proíbe o roubo. O roubo é a usurpaço de um bem de
outrem contra a vontade razoável do proprietário;
2454 Toda forma de apropriaço e uso injusto dos bens de outrem é contrária ao sétimo
mandamento. A injustiça cometida exige reparaço. A justiça comutativa exige a restituiço do
bem roubado.
2455 A lei moral proíbe os atos que, visando a fins mercantis ou totalitários, conduzem à
servidão dos seres humanos, à sua compra, venda e troca como mercadorias.


2456 O domínio concedido pelo Criador sobre os recursos minerais, vegetais e animais
do universo não pode ser separado do respeito às obrigaçes morais, inclusive para com as
geraçes futuras.
2457 Os animais são confiados à administraço do homem, que lhes deve
benevolência. Podem servir para a justa satisfaço das necessidades do homem.
2458 A Igreja emite um juízo em matéria econômica e social quando os direitos
fundamentais da pessoa ou a salvaço das almas exigem. Preocupa-se com o bem comum
temporal dos homens em razão de sua ordenaço ao Sumo Bem, nosso fim último.
2459 O próprio homem é o autor, o centro e o fim de toda a vida econômica e social. O
ponto decisivo da questão social é que os bens criados por Deus para todos de fato cheguem a
todos conforme a justiça e com a ajuda da caridade.
2460 O valor primordial do trabalho depende do próprio homem, que é seu autor e
destinatário. Por meio de seu trabalho, o homem participa da obra da criaço. Unido a Cristo, o
trabalho pode ser redentor.
2461 O verdadeiro desenvolvimento abrange o homem inteiro. O que importa é fazer
crescer a capacidade de cada pessoa de responder à sua vocaço, portanto, ao chamamento
de Deus.
2462 A esmola dada aos pobres é um testemunho de caridade fraterna; é também uma
prática de justiça que agrada a Deus.
2463 Na multidão de seres humanos sem pão, sem teto, sem terra, como não
reconhecer Lázaro, mendigo faminto da parábola? Como não ouvir Jesus, que diz: "Foi a mim
que o deixastes de fazer" (Mt 25,45)?

ARTIGO 8
O OITAVO MANDAMENTO

NÃO APRESENTARÁS UM FALSO TESTEMUNHO CONTRA TEU PRÓXIMO (EX 20,16).

Ouvistes também o que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus
juramentos para com o Senhor (Mt 5,33).
2464 O oitavo mandamento proíbe falsear a verdade nas relaçes com os outros. Essa
prescriço moral decorre da vocaço do povo santo a ser testemunha do; seu Deus, que é e
quer a verdade. As ofensas à verdade exprimem, por palavras ou atos, uma recusa de abraçar a
retidão moral: são infidelidades fundamentais a Deus e, neste sentido, minam as bases da
Aliança.

I. VIVER NA VERDADE
2465 O Antigo Testamento atesta: Deus é fonte de toda verdade. Sua Palavra é verdade.
Sua lei é verdade. "Sua fidelidade continua de geraço em geraço" (Sl 119,90). Uma vez que
Deus é "veraz" (Rm 3,4), os membros de seu Povo são chamados a viver na verdade.
2466 Em Jesus Cristo, a verdade de Deus se manifestou plenamente. "Cheio de graça e
verdade, Ele é a "luz do mundo" (Jo 8,12), é a Verdade.".. para que aquele que crê em mim não
permaneça nas trevas." O discípulo de Jesus "permanece em sua palavra" para conhecer "a
verdade que liberta" (Jo 8,32) e santifica. Seguir a Jesus é viver do "Espírito da verdade" que o Pai
envia em seu nome e conduz "à verdade plena" (Jo 16,13). Jesus ensina a seus discípulos o amor
incondicional da verdade: "Seja o vosso 'sim', sim, e o vosso 'não', não" (Mt 5,37).


2467 O homem tende naturalmente para a verdade. É obrigado a honrá-la e testemunhá-
la: "É postulado da própria dignidade que os homens todos, por serem pessoas... se sintam por
natureza impelidos e moralmente obrigados a procurar a verdade, sobretudo a que concerne à
religião. São obrigados também a aderir à verdade conhecida e a ordenar toda a vida segundo
as exigências da verdade"
2468 A verdade como retidão do agir e da palavra humana tem o nome de veracidade,
sinceridade ou franqueza. A verdade ou a veracidade é a virtude que consiste em mostrar-se
verdadeiro no agir e no falar, guardando-se da duplicidade, da simulaço e da hipocrisia.
2469 Os homens não poderiam viver juntos se não tivessem confiança recíproca, quer
dizer, se não manifestassem a verdade uns aos outros." A virtude da verdade devolve ao outro o
que lhe é devido. A veracidade observa um justo meio entre aquilo que deve ser expresso e o
segredo que deve ser guardado; implica a honestidade e a discriço. Por justiça, "um homem
deve honestamente a outro a manifestaço da verdade".
2470 O discípulo de Cristo aceita "viver na verdade", isto é, na simplicidade de uma vida
conforme o exemplo do Senhor permanecendo em sua verdade. "Se dissermos que estamos em
comunhão com Ele e andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade" (1 Jo 1,6).

II. "DAR TESTEMUNHO DA VERDADE"
2471 Diante de Pilatos, Cristo proclama que "veio ao mundo para dar testemunho da
verdade" O cristão não "se envergonha de dar testemunho do Senhor" (2 Tm 1,8). Nas situaçes
que requerem a declaraço da fé, o cristão deve professá-la sem equívoco, a exemplo de S.
Paulo diante de seus juizes. Ele deve manter "uma consciência irrepreensível, constantemente,
diante de Deus e diante dos homens" (At 24,16).
2472 O dev er dos cristãos de tomar parte na vida da Igreja leva-os a agir como
testemunhas do Evangelho e das obrigaçes dele decorrentes. Esse testemunho é transmissão da
fé em palavras e atos. O testemunho é um ato de justiça que estabelece ou dá a conhecer a
verdade: Todos os cristãos, onde quer que vivam, pelo exemplo da vida e pelo testemunho da
palavra, devem manifestar o novo homem que pelo Batismo vestiram e a virtude do Espírito
Santo que os revigorou pela confirmaço.
2473 O martírio é o supremo testemunho prestado à verdade da fé; designa um
testemunho que vai até a morte. O mártir dá testemunho de Cristo, morto e ressuscitado, ao qual
está unido pela caridade. Dá testemunho da verdade da fé e da doutrina cristã. Enfrenta a
morte num ato de fortaleza. "Deixai-me ser comida das feras. E por elas que me será concedido
chegar até Deus."
2474 Com o maior cuidado, a Igreja recolheu as lembranças daqueles que foram até o
fim para testemunhar a fé. São as "Atas dos Mártires" (Acta Martyrum). Constituem os arquivos da
Verdade escritos em letras de sangue: De nada me servirão os encantos do mundo e dos remos
deste século. Melhor para mim é morrer (para me unir) a Cristo Jesus do que reinar até as
extremidades da terra. É a Ele, que morreu por nós, que eu procuro; é a Ele, que ressuscitou por
nós, que eu quero. Aproxima-se o momento em que serei gerado... .
Eu vos bendigo por me terdes julgado digno desse dia e dessa hora, digno de ser contado
no número dos vossos mártires... Guardastes vossa promessa, Deus da fidelidade e da verdade.
Por essa graça e por todas as coisas, eu vos louvo, vos bendigo e vos glorifico pelo eterno e
celeste sumo sacerdote, Jesus Cristo vosso Filho bem-amado. Por Ele, que está convosco e com o
Espírito, vos seja dada glória, agora e por todos os séculos. Amém.

III. AS OFENSAS À VERDADE


2475 Os discípulos de Cristo "revestiram-se do homem novo, criado segundo Deus, na
justiça e santidade da verdade" (Ef 4,24). "Livres da mentira" (Ef 4,25), devem "rejeitar toda
maldade, toda mentira, todas as formas de hipocrisia, de inveja c maledicência" (l Pd 2,1).
2476 Falso testemunho e perjúrio. Quando emitida publicamente, uma afirmaço
contrária à verdade assume uma gravidade particular. Diante de um tribunal, torna-se um falso
testemunho[a30] . Quando está sob juramento, trata-se de perjúrio. Essas formas de agir
contribuem para condenar um inocente para inocentar um culpado ou para aumentar a
sanço em que incorre o acusado. Elas comprometem gravemente exercício da justiça e a
eqüidade da sentença pronunciada pelos juizes.
2477 O respeito à reputaço das pessoas proíbe qualquer atitude e palavra capazes de
causar um prejuízo injusto. Torna-se culpado:
ü de juízo temerário aquele que, mesmo tacitamente, admite como verdadeiro, sem
fundamento suficiente, um defeito moral no próximo.
ü de maledicência aquele que, sem razão objetivamente válida, revela a pessoas que
não sabem os defeitos e faltas de outros.
ü de calúnia aquele que, por palavras contrárias à verdade, prejudica a reputaço dos
outros e dá ocasião a falsos juízos a respeito deles.
2478 Para evitar o juízo temerário, todos hão de cuidar de interpretar de modo favorável
tanto quanto possível os pensamentos, as palavras e as açes do próximo. Todo bom cristão
deve estar mais inclinado a desculpar as palavras do próximo do que a condená-las. Se não é
possível desculpá-las, deve-se perguntar -lhe como as entende; e se ele as entende mal, que seja
corrigido com amor; e, se isso não bastar, que se procurem todos os meios apropriados para que,
compreendendo-as corretamente, se salve.
2479 Maledicência e calúnia destroem a reputaço e a honra do próximo. Ora, a honra
é o testemunho social prestado à dignidade humana. Todos gozam de um direito natural à honra
do próprio nome, à sua reputaço e ao seu respeito. Dessa forma, a maledicência e a calúnia
ferem as virtudes da justiça e da caridade.
2480 Deve-se proscrever qualquer palavra ou atitude que, por bajulaço, adulaço ou
complacência, encoraje e confirme o outro na malícia de seus atos e na perversidade de sua
conduta. A adulaço é uma falta grave quando cúmplice de vícios ou de pecados graves. O
desejo de prestar serviço ou a amizade não justificam uma duplicidade da linguagem. A
adulaço é um pecado venial quando deseja somente ser agradável, evitar um mal, remediar
uma necessidade, obter vantagens legítimas.
2481 A jactância ou fanfarronice constitui uma falta contra a verdade. O mesmo vale
para a ironia, que visa depreciar alguém caricaturando, de modo malévolo, um ou outro
aspecto de seu comportamento.
2482 "A mentira consiste em dizer o que é falso com a intenço de enganar." O Senhor
denuncia na mentira uma obra diabólica: "Vós sois do diabo, vosso pai, . . nele não há verdade:
quando ele mente, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira" (Jo 8,44).
2483 A mentira é a ofensa mais direta à verdade. Mentir é falar ou agir contra a verdade
para induzir em erro. Ferindo a relaço do homem com a verdade e com o próximo, a mentira
ofende a relaço fundante do homem e de sua palavra com o Senhor.
2484 A gravidade da mentira se mede segundo a natureza da verdade que ela
deforma, de acordo com as circunstâncias, as intençes daquele que a comete, os prejuízos
sofridos por aqueles que são suas vítimas. Embora a mentira, em si, não constitua senão um
pecado venial, torna-se mortal quando fere gravemente as virtudes da justiça e da caridade.
2485 A mentira é condenável em sua natureza. E uma profanaço da palavra que tem
por finalidade comunicar a outros a verdade conhecida. O propósito deliberado de induzir o
próximo em por palavras contrárias à verdade constitui uma falta à justiça e à caridade. A


culpabilidade é maior quando a intenço de enganar acarreta o risco de conseqüncias
funestas para aqueles são desviados da verdade.
2486 A mentira (por ser uma violaço da virtude da veracidade) é uma verdadeira
violência feita ao outro porque o fere em sua capacidade de conhecer, que é a condiço de
todo juízo e de decisão. Contém em germe a divisão dos espíritos e todos os males que ela
suscita. A mentira é funesta para toda a sociedade; mina a confiança entre os homens e rompe
o tecido das relaçes sociais.
2487 Toda falta cometida contra a justiça e a verdade impõe o dever de reparaço,
mesmo que seu autor tenha sido perdoado. Quando se toma impossível reparar um erro
publicamente, deve-se fazê -lo em segredo; se aquele que sofreu o prejuízo não pode ser
diretamente indenizado, deve-se dar-lhe satisfaço moralmente, em nome da caridade. Esse
dever de reparaço se refere também às faltas cometidas contra a reputaço de outrem. Essa
reparaço, moral e às vezes material, será avaliada na proporço do dano causado e obriga
em consciência.

IV. O RESPEITO À VERDADE
2488 O direito à comunicaço da verdade não é incondicional. Cada um deve
conformar sua vida com o preceito evangélico do amor fraterno. Este requer, nas situaçes
concretas, que se avalie se é conveniente ou não revelar a verdade àquele que a pede.
2489 A caridade e o respeito à verdade devem ditar a resposta a todo pedido de
informaço ou de comunicaço. O bem e a segurança do outro, o respeito à vida privada, o
bem comum são razões suficientes para se calar aquilo que não deve ser conhecido ou para se
usar uma linguagem discreta. O dever de evitar o escândalo impõe muitas vezes uma estrita
discriço. Ninguém é obrigado a revelar a verdade a quem não tem o direito de conhecê-La .
2490 O sigilo do sacramento da Reconciliaço é sagrado e não pode ser traído sob
nenhum pretexto. "O sigilo sacramental é inv iolável; por isso, não é lícito ao confessor revelar o
penitente, com palavras, ou de qualquer outro modo, por nenhuma causa."
2491 Os segredos profissionais por exemplo, de políticos, militares, médicos, juristas ou as
confidências feitas sob sigilo devem ser guardados, salvo casos excepcionais em que a retenço
do segredo causasse àquele que os confia, àquele que os recebe ou a um terceiro prejuízos
muito graves e somente evitáveis pela divulgaço da verdade. Ainda que não tenham sido
confiadas sob sigilo, as informaçes privadas prejudiciais a outros não podem ser divulgadas sem
uma razão grave e proporcionada.
2492 Cada um deve manter a justa reserva acerca da vida privada das pessoas. Os
responsáveis pela comunicaço devem manter uma justa proporço entre as exigências do
bem comum e o respeito dos direitos particulares. A ingerência da informaço na vida privada
de pessoas comprometidas numa atividade política ou pública é condenável na medida em
que ela viola sua intimidade e liberdade.

V. O USO DOS MEIOS DE COMUNICAÇO SOCIAL
2493 Na sociedade moderna, os meios de comunicaço social exercem um papel
primordial na informaço, na promoço cultural e na formaço. O papel cresce em razão dos
avanços técnicos, com a amplitude e a diversidade das notícias transmitidas, com a influência
exercida sobre a opinião pública.
2494 A informaço dos meios de comunicaço social está a serviço do bem comum. A
sociedade tem direito a uma informaço fundada sobre a verdade, a liberdade, a justiça e a
solidariedade:
O correto exercício desse direito exige que a comunicaço seja, quanto ao objeto,
sempre verídica e completa, dentro do respeito às exigências da justiça e da caridade; que ela


seja, quanto ao modo, honesta e conveniente, quer dizer, que na aquisiço e difusão das
notícias observe absolutamente as leis morais, os direitos e a dignidade do homem.
2495 "É indispensável que todos os membros da sociedade cumpram também neste
particular os deveres de justiça e verdade. Hão de empregar os meios de comunicaço social a
fim de cooperar para a formaço e a difusão da reta opinião pública." A solidariedade aparece
como conseqüncia de uma comunicaço verdadeira e justa e da livre circulaço das idéias
que favoreçam o conhecimento e o respeito aos outros.
2496 Os meios de comunicaço social (especialmente a mídia) podem gerar certa
passividade entre os usuários, tornando-os consumidores pouco criteriosos a respeito das
mensagens e dos espetáculos, Os usuários hão de se impor moderaço e disciplina quanto à
mídia. Hão de formar em si uma consciência esclarecida e correta, para resistir mais facilmente
às influências menos honestas.
2497 Os responsáveis pela imprensa, exatamente por sua profissão têm o dever, na
difusão da informaço, de servir à verdade e não ofender a caridade. Hão de se esforçar por
respeitar, com igual cuidado, a natureza dos fatos e os limites do juízo crítico a respeito dai
pessoas. Devem evitar ceder à difamaço.
2498 "Cabem às autoridades civis deveres especiais em razão do bem comum. Os
poderes públicos devem defender e proteger a verdadeira e justa liberdade de informaço."
Publicando leis e cuidando de sua aplicaço, os poderes públicos cuidarão para que o mau uso
dos meios de comunicaço não "cause graves prejuízos aos costumes públicos aos progressos da
sociedade". Estabelecerão sançes contra a violaço dos direitos de cada pessoa à reputaço
e ao segredo da vida privada. Darão no momento oportuno e honestamente as informaçes
que dizem respeito ao bem comum e respondem às inquietaçes fundadas da populaço.
Nada pode justificar o recurso a falsas informaçes para se manipular a opinião pública pelos
meios de comunicaço. Essas intervençes não ferirão a liberdade dos indivíduos e dos grupos.
2499 A moral denuncia o flagelo dos estados totalitários que falsificam sistematicamente a
verdade, exercem mediante os meios de comunicaço uma dominaço política da opinião,
"manipulam" os acusados e as testemunhas de processos públicos e imaginam assegurar sua
tirania sufocando e reprimindo tudo o que consideram "delitos de opinião".

VI. VERDADE, BELEZA E ARTE SACRA
2500 A prática do bem é acompanhada de um prazer espiritual gratuito e da beleza
moral. Da mesma forma, a verdade implica a alegria e o esplendor da beleza espiritual. A
verdade é bela em si mesma. A verdade da palavra, expressão racional do conhecimento da
realidade criada e incriada, é necessária ao homem dotado de inteligência, mas a verdade
também pode encontrar outras formas de expressão humana, complementares, sobretudo
quando se trata de evocar o que ela contém de indizível, as profundezas do coraço humano,
as elevaçes da alma, o mistério de Deus. Antes de se revelar ao homem em palavras de
verdade, Deus se lhe revela pela linguagem universal da criaço, obra de sua Palavra, de sua
Sabedoria: a ordem e a harmonia do cosmo que tanto a criança como o cientista descobrem ,
"a grandeza e a beleza das criaturas levam, por analogia, à contemplaço de seu Autor" (Sb
13,5), "pois foi a própria fonte da beleza que as criou" (Sb 13,3).
A Sabedoria é um eflúvio do poder de Deus, emanaço puríssima da glória do Todo-
Poderoso; por isso nada de impuro pode nela insinuar-se. É reflexo da luz eterna, espelho nítido
da atividade de Deus e imagem de sua bondade (Sb 7,25-26). A sabedoria é mais bela que o sol,
supera todas as constelaçes. Comparada à luz do dia, sai ganhando, pois a luz cede lugar à
noite, ao passo que, sobre a Sabedoria o mal não prevalece (Sb 7,29-30). Enamorei-me de sua
formosura (Sb 8,2).
2501 "Criado à imagem de Deus", o homem exprime também a verdade de sua relaço
com o Deus Criador pela beleza de suas obras artísticas. A arte de fato é uma forma de


expressão própria mente humana; acima da procura das necessidades vitais, com a todas as
criaturas vivas, ela é uma superabundância gratuita da riqueza interior do ser humano. Nascendo
de um talento dado pelo Criador e do esforço do próprio homem, a arte é um forma de
sabedoria prática, que une conhecimento e perícia para dar forma à verdade de uma
realidade na linguagem acessível à vis ta e ao ouvido. A arte inclui certa semelhança cor a
atividade de Deus na criaço, na medida em que se inspira na verdade e no amor das criaturas.
Como qualquer outra até atividade humana, a arte não tem um fim absoluto em si mesma mas
é ordenada e enobrecida pelo fim último do homem.
2502 A arte sacra é verdadeira e bela quando corresponde, por sua forma, à sua
vocaço própria: evocar e glorificar, na fé e na adoraço, o Mistério transcendente de Deus,
beleza excelsa invisível de verdade e amor, revelada em Cristo, "resplendor de sua glória,
expressão de seu Ser" (Hb 1,3), em quem "habita corporalmente toda a plenitude da divindade"
(Cl 2,9), beleza espiritual refletida na Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, nos anjos santos. A
arte sacra verdadeira leva o homem à adoraço, à oraço e ao amor de Deus Criador e
Salvador, Santo e Santificador.
2503 Por isso devem os bispos, por si ou por delegaço, cuidar de promover a arte
sacra, antiga e nova, sob todas as formas, e afastar, com o me mo zelo religioso, da liturgia e dos
edifícios do culto, tudo o que não harmoniza com a verdade da fé e a autêntica beleza da arte
sacra.

RESUMINDO
2504 "Não levantarás falso testemunho contra teu próximo" (Ex 20,16 Os discípulos de Cristo
"revestiram-se do homem novo, criado segundo Deus na justiça e santidade da verdade" (Ef
4,24).
2505 A verdade ou veracidade é a virtude que consiste em mostrar-se verdadeiro no
agir e no falar, fugindo da duplicidade, dê simulaço e da hipocrisia.
2506 O cristão não deve "se envergonhar de dar testemunho de Nosso Senhor" (2Tm 1,8)
em atos e palavras. O martírio é o supremo testemunho prestado à verdade da fé.
2507 O respeito à reputaço e à honra das pessoas proíbe toda atitude ou palavra de
maledicência ou calúnia.
2508 A mentira consiste em dizer o que é falso com a intenço de enganar o próximo.
2509 Toda falta cometida contra a verdade exige reparaço.
2510 A regra de ouro ajuda a discernir, nas situaçes concretas, se convém ou não
revelar a verdade àquele que a pede.
2511 "O sigilo sacramental é inviolável. " Os segredos profissionais devem ser guardados. As
confidências prejudiciais a outros não devem ser divulgadas.
2512 A sociedade tem direito a uma informaço fundada na verdade, na liberdade e
na justiça. É conveniente que se imponham moderaço e disciplina no uso dos meios de
comunicaço social.
2513 As artes, mas sobretudo a arte sacra, têm em vista, "por natureza, exprimir de
alguma forma nas obras humanas a beleza infinita de Deus e procuram aumentar seu louvor e
sua glória na medida em que não tiverem outro propósito senão o de contribuir poderosamente
para encaminhar os coraçes humanos a Deus."

ARTIGO 9
O NONO MANDAMENTO



Não cobiçarás a casa de teu próximo, não desejarás sua mulher, nem seu servo, nem sua
serva, nem seu boi, nem seu jumento, nem coisa alguma que pertença a teu próximo (Ex 20,17).
Todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em
seu coraço (Mt 5,28).
2514 São João distingue três espécies de cobiça ou concupiscência: a concupiscência
da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida. Conforme a tradiço catequética
católica, o nono mandamento proíbe a concupiscência carnal; o décimo proíbe a
concupiscência dos bens alheios.
2515 No sentido etimológico, a "concupiscência" pode designar qualquer forma
veemente de desejo humano. A teologia cristã lhe deu o sentido particular de moço do apetite
sensível que se opõe aos ditames da razão humana. O Apóstolo Paulo a identifica com a revolta
que a carne provoca contra o “espírito”. Provém da desobediência do primeiro pecado.
Transtorna as faculdades morais do homem e, sem se pecado em si mesma, inclina-o a cometê-
lo.
2516 Já no homem, tratando-se de um ser composto, espírito corpo, existe certa tensão,
desenrola-se certa luta de tendência entre o "espírito" e a carne . Mas essa luta, de fato,
pertence à herança do pecado, é uma conseqüncia dele e, ao mesmo tempo, uma
confirmaço, e faz parte da experiência do combate espiritual: Para o Apóstolo, não se trata de
discriminar e condenar o corpo que, juntamente com a alma espiritual, constitui a natureza c
homem e sua subjetividade pessoal. Ele quis tratar sobretudo das obras, ou melhor, das
disposiçes estáveis virtudes vícios moralmente boas ou más, que são fruto da submissão (no
primeiro caso) ou, pelo contrário, de resistência (no segui do caso) à aço salvífica do Espírito
Santo. Por isso o Apóstolo escreve: "Se, portanto, vivemos pelo espírito, caminhemos também
segundo o espírito" (Gl 5,25).

I. A PURIFICAÇO DO CORAÇO
2517 O coraço é a sede da personalidade moral: "É do coraço que procedem más
intençes, assassínios, adultérios, prostituiçes, roubos, falsos testemunhos e difamaçes" (Mt
15,19). A luta contra a concupiscência da carne passa pela purificaço do coraço e a prática
da temperança:
Conserva-te na simplicidade, na inocência, e serás como a criancinhas, que ignoram o
mal destruidor da vida dos homens.
2518 A sexta bem-aventurança proclama: "Bem-aventurados os puros de coraço,
porque verão a Deus" (Mt 5,8). A expressão "puros de coraço" designa aqueles que entregaram
o coraço e a inteligência às exigências da santidade de Deus, principalmente em três campos:
a caridade, a castidade ou a retidão sexual, o amor à verdade e à ortodoxia da fé. Existe um
laço de união entre a pureza do coraço, do corpo e da fé:
Os fiéis devem crer nos artigos do símbolo, "para que, crendo, obedeçam a Deus;
obedecendo, vivam corretamente; vivendo corretamente, purifiquem seu coraço; e,
purificando o coraço, compreendam o que crêem".
2519 Aos "puros de coraço esta prometido ver a Deus face a face e ser semelhantes a
Ele. A pureza de coraço é a condiço prévia da visão. Desde já nos concede ver segundo
Deus, receber o outro como um "próximo"; permite-nos perceber o corpo humano, o nosso e o
do próximo, como um templo do Espírito Santo, uma manifestaço da beleza divina.

II. A LUTA PELA PUREZA


2520 O Batismo confere àquele que o recebe a graça da purificaço de todos os
pecados. Mas o batizado deve continuar a lutar contra a concupiscência da carne e as cobiças
desordenadas. Com a graça de Deus, alcançará a pureza de coraço:
ü pela virtude e pelo dom da castidade, pois a castidade permite amar com um
coraço reto e indiviso;
ü pela pureza de intenço, que consiste em ter em vista o fim verdadeiro do homem;
com uma atitude simples, o batizado procura encontrar e realizar a vontade de Deus em todas
as coisas;
ü pela pureza do olhar, exterior e interior; pela disciplina dos sentimentos e da
imaginaço; pela recusa de toda complacência nos pensamentos impuros que tendem a
desviar do caminho dos mandamentos divinos: "A desperta a paixão dos insensatos" (Sb 15,5);
ü pela oraço:
Eu julgava que a continência dependia de minhas próprias forças... forças que eu não
conhecia em mim. E eu era tão insensato que não sabia que ninguém pode ser continente, se
vos lho concedeis. E sem dúvida mo teríeis concedido, se com gemidos interiores vos ferisse os
ouvidos e, com firme fé, pusesse em vós minha preocupaço.
2521 A pureza exige o pudor. Este é uma parte integrante da esperança. O pudor
preserva a intimidade da pessoa. Consiste na recusa de mostrar aquilo que deve ficar
escondido. Está ordenado castidade, exprimindo sua delicadeza. Orienta os olhares e os gestos
em conformidade com a dignidade das pessoas e de sua união.
2522 O pudor protege o mistério das pessoas e de seu amor. Convida à paciência e à
moderaço na relaço amorosa; pede que sejam cumpridas as condiçes da doaço e do
compromisso definitivo do homem e da mulher entre si. O pudor é modéstia. Inspira o modo de
vestir. Mantém o silêncio ou certa reserva quando se entrevê o risco de uma curiosidade malsã.
Torna-se discriço.
2523 Existe um pudor dos sentimentos, como existe o do corpo. O pudor, por exemplo,
protesta contra a exploraço do corpo humano em funço de uma curiosidade doentia (como
em certo tipo de publicidade), ou contra a solicitaço de certos meios de comunicaço ir longe
demais na revelaço de confidências íntimas. O pudor inspira um modo de viver que permite
resistir às solicitaçes da moda e à pressão das ideologias dominantes.
2524 As formas revestidas pelo pudor variam de uma cultura a outra. Em toda parte,
porém, ele permanece como o pressentimento de uma dignidade espiritual própria do homem.
O pudor nasce pelo despertar da consciência do sujeito. Ensinar o pudor a crianças e
adolescentes é despertá-los para o respeito à pessoa humana.
2525 A pureza cristã requer uma purificaço do clima social. Exige dos meios de
comunicaço social uma informaço que não ofenda o respeito e a modéstia. A pureza do
coraço liberta a pessoa do erotismo tão difuso e afasta-a dos espetáculos que favorecem o
“voyeurismo” e a ilusão.
2526 O que se costuma chamar permissividade dos costumes se apóia numa
concepço errônea da liberdade humana; para se edificar, esta última tem necessidade de se
deixar educar previamente pela lei moral. Convém exigir dos responsáveis pela educaço que
dêem à juventude um ensino respeitoso da verdade, das qualidades do coraço e da
dignidade moral e espiritual do homem.
2527 "A Boa Nova de Cristo restaura constantemente a vida e a cultura do homem
decaído, combate e remove os erros e os males decorrentes da sempre ameaçadora seduço
do pecado. Purifica e eleva incessantemente os costumes dos povos. Com as riquezas do alto
ela fecunda, como que por dentro, as qualidades do espírito e os dotes de cada povo e de
cada idade; fortifica-os, aperfeiçoa-os e restaura-os em Cristo."



RESUMINDO
2528 "Todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu
adultério com ela em seu coraço" (Mt 5,28).
2529 O nono mandamento adverte contra a cobiça ou concupiscência carnal.
2530 A luta contra a cobiça carnal passa pela purificaço do coraço e pela prática
da temperança.
2531 A pureza do coraço nos permitirá ver a Deus e nos permite desde já ver todas as
coisas segundo Deus.
2532 A purificaço do coraço exige a oraço, a prática da castidade, a pureza da
intenço e do olhar.
2533 A pureza do coraço exige o pudor, que é paciência, modéstia e discriço. O
pudor preserva a intimidade da pessoa.

ARTIGO 10
O DÉCIMO MANDAMENTO

NÃO COBIÇARÁS... COISA ALGUMA QUE PERTENÇA A TEU PRÓXIMO (EX 20,17).

Tu não desejarás para ti a casa de teu próximo, nem seu campo, nem seu escravo, nem
sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, qualquer coisa que pertença a teu próximo (Dt
5,21).
Onde está o teu tesouro, aí estará também teu coraço (Mt 6,21).
2534 O décimo mandamento desdobra e completa o nono, que se refere à
concupiscência da carne. Proíbe a cobiça dos bens dos outros, raiz do roubo, da rapina e da
fraude, que o sétimo mandamento proíbe. A "concupiscência dos olhos" (1 Jo 2,16) leva à
violência e à injustiça, proibidas pelo quinto preceito. A cupidez tem sua origem, como a
fornicaço, na idolatria proibida nas três primeiras prescriçes da 1ei. O décimo mandamento se
refere à intenço do intenço do coraço e resume, junto com o nono, todos os preceitos da
Lei.

I. A DESORDEM DAS CONCUPISCÊNCIAS
2535 O apetite sensível nos faz desejar as coisas agradáveis que não temos. Por exemplo,
desejar comer quando temos fome, ou aquecer-nos quando estamos com frio. Esses desejos são
bons em si mesmos, mas muitas vezes não respeitam a medida da razão e nos levam a cobiçar
injustamente o que não nos cabe e pertence, ou é devido a outra pessoa.
2536 O décimo mandamento proíbe a avidez e o desejo de uma apropriaço
desmedida dos bens terrenos; proíbe a cupidez desmedida nascida da paixão imoderada das
riquezas e de seu poder. Proíbe ainda o desejo de cometer uma injustiça pela qual se
prejudicaria o próximo em seus bens temporais:
Quando a Lei nos diz: "Não cobiçarás", ordena-nos, em outros termos, que afastemos
nossos desejos de tudo aquilo que não nos pertence. Pois a sede dos bens do próximo é imensa,
infinita e nunca saciada, como está escrito: "Quem ama o dinheiro nunca se de dinheiro" (Ecl
5,9).
2537 Não é violar este mandamento desejar obter coisas que pertencem ao pr óximo,
contanto que seja por meios justos. A catequese tradicional indica com realismo "aqueles que


mais devem lutar contra suas concupiscências criminosas e, portanto, que e preciso "exortar o
mais possível à observância deste preceito": São os .. comerciantes que desejam a carestia ou os
preços excessivos das mercadorias, que vêem com pesar que não são os únicos a comprar e a
vender, o que lhes permitiria vender mais caro e comprar ao preço mínimo; os que desejam que
seus semelhantes fiquem na miséria, para tirarem lucro, quer vendendo para eles, quer
comprando deles... Os médicos que desejam que haja doentes, os legistas que desejam causas
e processos importantes e numerosos....
2538 O décimo mandamento exige banir a inveja do coraço humano. Quando o profeta
Natã quis estimular o arrependimento do rei Davi, contou-lhe a história do pobre que possuía
uma única ovelha, tratada como sua própria filha, e do rico que, apesar da multidão de seus
rebanhos, invejava o primeiro e acabou roubando-lhe a ovelha. A inveja pode levar às piores
açes. E pela inveja do demônio que a morte entrou no mundo: Nós nos combatemos
mutuamente, e é a inveja que nos arma uns contra os outros... Se todos procuram por todos os
meios abalar o Corpo onde acabaremos? Nós estamos enfraquecendo o Corpo de Cristo...
Declaramo-nos membros de um mesmo organismo e nos devoramos como feras.
2539 A inveja é um vício capital. Designa a tristeza sentida diante do bem do outro e do
desejo imoderado de sua apropriaço, mesmo indevida. Quando deseja um grave mal ao
próximo, é um pecado mortal: Sto. Agostinho via na inveja "o pecado diabólico por excelência”.
"Da inveja nascem o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria causada pela desgraça do
próximo e o desprazer causado por sua prosperidade."
2540 A inveja representa uma das formas de tristeza e, portanto, uma recusa da
caridade; o batizado lutará contra ela mediante a benevolência. A inveja provém muitas vezes
do orgulho o batizado se exercitará no caminho da humildade: Quereríeis ver Deus glorificado
por vós? Pois bem, alegrai-vos com os progressos de vosso irmão e imediatamente Deus será
glorificado por vós. Deus será louvado dirão, porque seu servo soube vencer a inveja, colocando
alegria nos méritos dos outros.

II. OS DESEJOS DO ESPÍRITO
2541 A economia da lei e da graça desvia o coraço dos homens ambiço e da inveja e
o inicia no desejo do Sumo Bem; instrui-o nos desejos do Espírito Santo, que sacia o coraço do
homem. O Deus das promessas desde sempre advertiu o homem contra a seduço daquilo que,
desde as origens, aparece como "bom ao apetite, agradável aos olhos, desejável para adquirir
ciência" (cf. Gn 3,6).
2542 A Lei confiada a Israel jamais bastou para justificar aqueles que lhe eram sujeitos;
antes, tomou-se mesmo o instrumento da “cobiça[a45] ”. A inadequaço entre o querer e o
fazer [a46] indica o conflito entre a lei de Deus, que é a "lei da razão", e outra lei, "que me
acorrenta à lei do pecado que existe em meus membros" (Rm 7,23).
2543 "Agora, porém, independentemente da Lei, se manifestou a justiça de Deus,
testemunhada pela lei e pelos profetas, justiça de Deus que opera pela fé em Jesus Cristo em
favor de todos os crêem" (Rm 3,21-22). Por isso os fiéis de Cristo "crucificaram a carne com suas
paixões e concupiscências" (Gl 5,24); eles conduzidos pelo Espírito [a48] e seguem os desejos do
Espírito.

III . A POBREZA DE ORAÇO
2544 Jesus ordena a seus discípulos que O prefiram a tudo e dos e lhes propõe que
"renunciem a todos os bens" por causa dele e do Evangelho. Pouco antes de sua paixão, deu-
lhes como exemplo a pobre viúva de Jerusalém que, de sua indigência, deu tudo o que possuía
para viver[a54] . O preceito do desprendimento das riquezas é obrigatório para se entrar no
Reino dos céus.


2545 Todos os fiéis de Cristo "devem dirigir retamente seus afetos para que, por causa do
uso das coisas mundanas, por causa do apego às riquezas contra o espírito da pobreza
evangélica, não sejam impedidos de tender à perfeiço da caridade".
2546 Bem-aventurados os pobres em espírito" (M t 5,3). As bem-aventuranças revelam uma
ordem de felicidade e de graça, de beleza e de paz. Jesus celebra a alegria dos pobres, a
quem já pertence o Reino[a58] : O Verbo chama "pobreza em espírito" â humildade voluntária
de um espírito humano e sua renúncia; o Apóstolo nos dá como exemplo a pobreza de Deus
quando diz: "Ele se fez pobre por nós" (2 Cor 8,9).
2547 O Senhor se queixa dos ricos porque encontram na profusão dos bens o seu consolo
(Lc 6,24). "O orgulhoso procura o poder terreno, ao passo que o pobre em espírito busca o Reino
dos Céus." O abandono nas mãos da Providência do Pai do Céu liberta da preocupaço do
amanhã. A confiança em Deus predispõe para a bem-aventurança dos pobres. Eles verão a
Deus.

IV. "QUERO VER A DEUS"
2548 O desejo da felicidade verdadeira liberta o homem do apego imoderado aos bens
deste mundo, (felicidade) que se realizará na visão e na bem-aventurança de Deus. "A promessa
de ver a Deus ultra-passa todas as bem-aventuranças. Na Escritura, ver é possuir. Aquele que Vê
a Deus obteve todos os bens que podemos imaginar.
2549 Ao povo santo de Deus resta lutar, com a graça do Alto, para alcançar os bens que
Deus promete. Para possuir e contemplar a Deus, os fiéis de Cristo mortificam sua concupiscência
e superam, com a graça de Deus, as seduçes do gozo e do poder.
2550 Por esse caminho da perfeiço, o Espírito e a Esposa chamam aquele que os ouve à
comunhão perfeita com Deus. Aí haverá a verdadeira glória; ninguém será louvado então por
engano ou bajulaço; as verdadeiras honras não serão recusadas àqueles que as merecem,
nem concedidas aos indignos; aliás, nenhum indigno terá tal pretensão, pois só quem é digno
será admitido. Aí reinará a verdadeira paz, onde ninguém será sujeito à oposiço nem de si
mesmo nem dos outros. Da virtude, o próprio Deus será a recompensa, Ele que deu a virtude e se
prometeu a si mesmo como a recompensa (para ela) melhor e maior que possa existir: "Eu serei o
seu Deus e eles serão o meu povo" (Lv 26,12)... É também o sentido das palavras do Apóstolo:
"Para que Deus seja tudo em todos" (1 Cor 15,12). Ele mesmo será o fim de nossos desejos, aquele
que contemplaremos sem fim, amaremos sem sociedade, louvaremos sem cansaço. E esse dom,
essa afeiço, essa ocupaço serão certamente como a vida eterna, comuns a todos.

RESUMINDO
2551 "Onde está teu tesouro, aí estará teu coraço" (Mt 6,21).
2552 O décimo mandamento proíbe a ambiço desregrada, nascida paixão
imoderada das riquezas e de seu poder.
2553 A inveja é a tristeza sentida diante do bem de outrem e o desejo imoderado de
dele se apropriar. E um vício capital.
2554 O batizado combate a inveja pela benevolência, pela humildade e pelo
abandono nas mãos da Providência divina.
2555 Os fiéis de Cristo "crucificaram a carne com suas paixões concupiscências" (Gl
5,24); são conduzidos pelo Espírito e seguem os desejos dele.
2556 O desapego das riquezas é necessário para entrar no Reino dos Céus. "Bem-
aventurados os pobres de coraço."
2557 Eis o verdadeiro desejo do homem: "Quero ver a Deus A sede de Deus é saciada
pela água da Vida Eterna.

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