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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

SEGUNDA PARTE DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

SEGUNDA PARTE - A CELEBRAÇO DO MISTÉRIO CRISTÃO
INTRODUÇO
POR QUE A LITURGIA?

1066 No Símbolo da Fé, a Igreja confessa o mistério da Santíssima Trindade e seu “desígnio
benevolente” (Ef 1,9) sobre toda a criaço: o Pai realiza o “mistério de sua vontade” entregando seu Filho
bem-amado e seu Espírito para a salvaço do mundo e para a glória de seu nome. Este é o mistério de
Cristo, revelado e realizado na história segundo um plano, uma “disposiço” sabiamente ordenada que
São Paulo denomina “a realizaço do mistério” (Ef 3,9) e que a tradiço patrística chamará de “Economia
do Verbo Encarnado” ou “a Economia da Salvaço”.
1067 “Esta obra da redenço humana e da perfeita glorificaço de Deus, da qual foram prelúdio
as maravilhas divinas operadas no povo do Antigo Testamento, completou-a Cristo Senhor, principalmente
pelo mistério pascal de sua bem -aventurada paixão, ressurreiço dos mortos e gloriosa ascensão. Por este
mistério, Cristo, 'morrendo, destruiu nossa morte, e ressuscitando, recuperou nossa vida'. Pois do lado de
Cristo adormecido na cruz nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja[ag4] .” Esta é a razão pela
qual, na liturgia, a Igreja celebra principalmente o mistério pascal pelo qual Cristo realizou a obra da nossa
salvaço.
1068 E este mistério de Cristo que a Igreja anuncia e celebra em sua liturgia, a fim de que os fiéis
vivam e dêem testemunho dele no mundo:
Com efeito, a liturgia, pela qual, principalmente no divino sacrifício da Eucaristia, “se exerce a obra
de nossa redenço”, contribui do modo mais excelente para que os fiéis, em sua vida, exprimam e
manifestem aos outros o mistério de Cristo e a genuína natureza da verdadeira Igreja.

QUE SIGNIFICA A PALAVRA LITURGIA?
1069 A palavra “liturgia” significa originalmente “obra pública”, “serviço da parte do povo e em
favor do povo”. Na tradiço cristã. ela quer significar que O povo de Deus toma parte na “obra de Deus”.
Pela liturgia, Cristo, nosso redentor e sumo sacerdote, continua em sua Igreja, com ela e por ela, a obra de
nossa redenço.
1070 A palavra “liturgia” no Novo Testamento é empregada para designar não somente a
celebraço do culto divino, mas também o anúncio do Evangelho e a caridade em ato. Em todas essas


situaçes, trata-se do serviço de Deus e dos homens. Na celebraço litúrgica, a Igreja é serva à imagem
do seu Senhor, o único “liturgo”, participando de seu sacerdócio (culto) profético (anúncio) e régio
(serviço de caridade):
Com razão, portanto, a liturgia é tida como o exercício do múnus sacerdotal de Jesus Cristo, no
qual, mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a cada sinal, realizada a santificaço do
homem, e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, cabeça e membros. Disto se
segue que toda a celebraço litúrgica, como obra de Cristo sacerdote e de seu corpo que é a Igreja, é
aço sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo titulo e grau, não é igualada por nenhuma outra
aço da Igreja.

A LITURGIA COMO FONTE DE VIDA
1071 Além de ser obra de Cristo, a liturgia é também uma aço de sua Igreja. Ela realiza e
manifesta a Igreja corno sinal visível da comunhão entre Deus e os homens por meio de Cristo. Empenha os
fiéis na vida nova da comunidade. Implica uma participaço “consciente, ativa e frutuosa” de todos.
1072 “A liturgia não esgota toda a aço da Igreja”: ela tem de ser precedida pela evangelizaço,
pela fé e pela conversão; pode então produzir seus frutos na vida dos fiéis: a vida nova segundo o Espírito,
o compromisso com a missão da Igreja e o serviço de sua unidade.

ORAÇO E LITURGIA
1073 A liturgia é também participaço da oraço de Cristo, dirigida ao Pai no Espírito Santo Nela,
toda oraço cristã encontra sua fonte e seu termo. Pela liturgia, o homem interior é enraizado e fundado
[ag17] no “grande amor com, o qual o Pai nos amou” (Ef 2,4) em seu Filho bem-amado. E a mesma
“maravilha de Deus” que é vivida e interiorizada por toda oraço, “em todo tempo, no Espírito” (Ef 6,18).

CATEQUESE E LITURGIA
1074 “A liturgia é o ápice para o qual tende a aço da Igreja, e ao mesmo tempo é a fonte donde
emana toda a sua força.” Ela é, portanto, o lugar privilegiado da catequese do povo de Deus. “A
catequese está intrinsecamente ligada a toda aço litúrgica e sacramental, pois é nos sacramentos, e
sobretudo na Eucaristia, que Cristo Jesus age em plenitude para a transformaço dos homens.”
1075 A catequese litúrgica tem em vista introduzir no mistério de Cristo (ela é “mistagogia”),
procedendo do visível para o invisível, do significaste para o significado, dos “sacramentos” para os
“mistérios”. Tal catequese é da competência dos catecismos locais e regionais. O presente Catecismo,
que pretende servir para a Igreja inteira, na diversidade de seus ritos e de suas culturas, apresentará o que
é fundamental e comum a toda a Igreja no tocante à liturgia como mistério e como celebraço (Seço I),
e em seguida os sete sacramentos e os sacramentais (Seço II.).

PRIMEIRA SEÇO
A ECONOMIA SACRAMENTAL

1076 No dia de Pentecostes, pela efusão do Espírito Santo, a Igreja é manifestada ao mundo. O
dom do Espírito inaugura um tempo novo na “dispensaço do mistério”: o tempo da Igreja, durante o qual
Cristo manifesta, toma presente e comunica sua obra de salvação pela liturgia de sua Igreja, “até que ele
venha” (1 Cor 11,26). Durante este tempo da Igreja, Cristo vive e age em sua Igreja e com ela de forma
nova, própria deste tempo novo. Age pelos sacramentos; é isto que a Tradiço comum do Oriente e do
Ocidente chama de “economia sacramental”; esta consiste na comunicaço (ou “dispensaço”) dos
frutos do Mistério Pascal de Cristo na celebraço da liturgia “sacramental” da Igreja. Por isso, importa
ilustrar primeiro esta “dispensaço sacramental” (Capítulo I). Assim aparecerão com mais clareza a
natureza e os aspectos essenciais da celebraço litúrgica (Capítulo II.).

CAPÍTULO I
O MISTÉRIO PASCAL NO TEMPO DA IGREJA


ARTIGO I
A LITURGIA.
OBRA DA SANTÍSSIMA TRINDADE

I. O PAI, FONTE E FIM DA LITURGIA
1077 “Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda sorte
de bênços espirituais, nos céus, em Cristo. Nele escolheu-nos antes da fundaço do mundo para sermos
santos e irrepreensíveis diante dele no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus
Cristo, conforme o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória de sua graça, com a qual ele nos
agraciou no Bem-amado” (Ef 1,3-6).
1078 Abençoar é uma aço divina que dá a vida e da qual o Pai é a fonte. Sua bênço é ao
mesmo tempo palavra e dom (benedictio, eulogia, pronuncie “euloguia”). Aplicado ao homem, esse
termo significar a adoraço e a entrega a seu criador, na aço de graças.
1079 Desde o início até a consumaço dos tempos, toda a obra de Deus é bênço. Desde o
poema litúrgico da primeira criaço até os cânticos da Jerusalém celeste os autores inspirados anunciam
o projeto de salvaço como uma imensa bênço divina.
1080 Desde o começo, Deus abençoa os seres vivos, especialmente o homem e a mulher. A
aliança com Noé e com todos os seres animados renova esta bênço de fecundidade, apesar do
pecado do homem, por causa do qual a terra é “amaldiçoada”. Mas é a partir de Abra o que a bênço
divina penetra a história dos homens, que caminhava para a morte, para fazê-la retomar à vida, à sua
fonte: pela fé do “pai dos crentes” que acolhe a bênço, inaugura-se a história da salvaço.
1081 As bênços divinas manifestam-se em eventos impressionantes e salvadores: o nascimento de
Isaac, a saída do Egito (Páscoa e Êxodo), o dom da Terra Prometida, a eleiço de Davi, a presença de
Deus no templo, o exílio purificador e o retomo de um “pequeno resto”. A lei, os profetas e os salmos, que
tecem a liturgia do povo eleito, lembram essas bênços divinas e ao mesmo tempo lhes respondem
mediante as bênços de louvor e de aço de graças.
1082 Na liturgia da Igreja, a bênço divina é plenamente revelada e comunicada: o Pai é
reconhecido e adorado como a fonte e o fim de todas as bênços da criaço e da salvaço; em seu
Verbo, encarnado, morto e ressuscitado por nós, ele nos cumula com suas bênços, e por meio dele
derrama em nossos coraçes o dom que contém todos os dons: o Espírito Santo
1083 Compreende-se então a dupla dimensão da liturgia cristã como resposta de fé e de amor às
“bênços espirituais” com as quais o Pai nos presenteia. Por um lado, a Igreja, unida a seu Senhor e “sob a
aço do Espírito Santo”, bendiz o Pai “por seu dom inefável” (2Cor 9,15) mediante a adoraço, o louvor e
a aço de graças. Por outro lado, e até a co nsumaço do projeto de Deus, a Igreja não cessa de
oferecer ao Pai “a oferenda de seus próprios dons” e de implorar que Ele envie o Espírito Santo sobre a
oferta, sobre si mesma, sobre os fiéis e sobre o mundo inteiro, a fim de que pela comunhão com a morte e
a ressurreiço de Cristo Sacerdote e pelo poder do Espírito estas bênços divinas produzam frutos de vida
“para louvor e glória de sua graça” (Ef 1,6).

II. A OBRA DE CRISTO NA LITURGIA
CRISTO GLORIFICADO...
1084 “Sentado à direita do Pai” e derramando o Espírito Santo em seu Corpo que é a Igreja, Cristo
age agora pelos sacramentos, instituídos por Ele para comunicar sua graça. Os sacramentos são sinais
sensíveis (palavras e açes), acessíveis à nossa humanidade atual. Realizam eficazmente a graça que
significam em virtude da aço de Cristo e pelo poder do Espírito Santo
1085 Na liturgia da Igreja, Cristo significa e realiza principalmente seu mistério pascal. Durante sua
vida terrestre, Jesus anunciava seu Mistério pascal por seu ensinamento e o antecipava por seus atos.
Quando chegou sua hora[ag30] , viveu o único evento da história que não passa: Jesus morre, é
sepultado, ressuscita dentre os mortos e está sentado à direita do Pai “uma vez por todas” (Rm 6,10; Hb
7,27; 9,12). É um evento real, acontecido em nossa história, mas é único: todos os outros eventos da história
acontecem uma vez e depois passam, engolidos pelo passado. O Mistério pascal de Cristo, ao contrário,
não pode ficar somente no passado, já que por sua morte destruiu a morte, e tudo o que Cristo é, fez e


sofreu por todos os homens participa da eternidade divina, e por isso abraça todos os tempos e nele se
mantém presente. O evento da cruz e da ressurreiço permanece e atrai tudo para a vida.

... A PARTIR DA IGREJA DOS APÓSTOLOS...
1086 “Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, da mesma forma Ele mesmo enviou os apóstolos,
cheios do Espírito Santo, não só para pregarem o Evangelho a toda criatura, anunciarem que o Filho de
Deus, por sua Morte e Ressurreiço, nos libertou do poder de Satanás e da morte e nos transferiu para o
reino do Pai, mas ainda para levarem a efeito o que anunciavam: a obra da salvaço por meio do
sacrifício e dos sacramentos, em tomo dos quais gravita toda a vida litúrgica.”
1087 Dessa forma, Cristo ressuscitado, ao dar o Espírito Santo aos Apóstolos, confia-lhes seu poder
de santificaço: eles tomam-se assim sinais sacramentais de Cristo. Pelo poder do mesmo Espírito Santo, os
Apóstolos confiam este poder a seus sucessores. Esta “sucessão apostólica” estrutura toda a vida litúrgica
da Igreja; ela mesma é sacramental, transmitida pelo sacramento da ordem.

... ESTA PRESENTE NA LITURGIA TERRESTRE...
1088 “Para levar a efeito tão grande obra” a saber, a dispensaço ou comunicaço de sua obra
de salvaço” Cristo está sem pre presente em sua Igreja, sobretudo nas açes litúrgicas. Presente está no
sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, pois 'aquele que agora oferece pelo ministério dos
sacerdotes é o mesmo que outrora se ofereceu na cruz', quanto sobretudo sob as espécies eucarísticas.
Presente está por sua força nos sacramentos, a tal ponto que, quando alguém batiza, é Cristo mesmo que
batiza. Presente está por sua palavra, pois é ele mesmo quem fala quando se lêem as Sagradas Escrituras
na Igreja. Presente está, finalmente, quando a Igreja reza o salmo do dia, ele que prometeu: 'Onde dois ou
três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles' (Mt 18,2).”
1089 “Na realizaço de tão grande obra, por meio da qual Deus é perfeitamente glorificado e os
homens são santificados, Cristo sempre associa a si a Igreja, sua esposa direitíssima, que o invoca como seu
Senhor e por ele presta culto ao eterno Pai.

... QUE PARTICIPA DA LITURGIA CELESTE...
1090 “Na liturgia terrestre, antegozando participamos (já) da liturgia celeste, que se celebra na
cidade santa de Jerusalém, para a qual, na qualidade de peregrinos, caminhamos. Lá, Cristo está sentado
à direita de Deus, ministro do santuário e do tabernáculo verdadeiro; com toda a milícia do exército
celestial cantamos um hino de glória ao Senhor e, venerando a memória dos santos, esperamos fazer
parte da sociedade deles; suspiramos pelo Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, até que ele, nossa vida, se
manifeste e nós apareçamos com ele na glória.”

III. O ESPÍRITO SANTO E A IGREJA NA LITURGIA
1091 Na liturgia, o Espírito Santo é o pedagogo da fé do povo de Deus, o artífice das “obras -primas
de Deus”, que são os sacramentos da nova aliança. O desejo e a obra do Espírito no coraço da Igreja é
que vivamos da vida de Cristo ressuscitado. Quando encontra em nós a resposta de fé que ele mesmo
suscitou, realiza-se uma verdadeira cooperaço. Por meio dela a liturgia se toma a obra comum do Espírito
Santo e da Igreja.
1092 Nesta comunicaço sacramental do mistério de Cristo, o Espírito age da mesma forma que
nos outros tempos da economia da salvaço: prepara a Igreja para encontrar seu Senhor, recorda e
manifesta Cristo à fé da assembléia, torna presente e atualiza o mistério de Cristo por seu poder
transformador e, finalmente, como Espírito de comunhão, une a Igreja à vida e à missão de Cristo.

O ESPÍRITO SANTO PREPARA PARA ACOLHER A CRISTO
1093 Na economia sacramental o Espírito Santo leva à realizaço as figuras da antiga aliança.
Visto que a Igreja de Cristo estava “admiravelmente preparada na história do Povo de Israel e na Antiga
Aliança”, a liturgia da Igreja conserva como parte integrante e insubstituível - tomando-os seus – alguns
elementos do culto da Antiga Aliança:



ü principalmente a leitura do Antigo Testamento;
ü a oraço dos Salmos;
ü e sobretudo a memória dos eventos salvadores e das realidades significativas que encontraram
sua realizaço no Mistério de Cristo (a Promessa e a Aliança, o Êxodo e a Páscoa, o Reino e o Templo, o
exílio e a volta).
1094 É em tomo desta harmonia dos dois Testamentos que se articula a catequese pascal do
Senhor, e posteriormente a dos Apóstolos e dos Padres da Igreja. Esta catequese desvenda O que
permanecia escondido sob a letra do Antigo Testamento: o mistério de Cristo. Ela é denominada
“tipológica” porque revela a novidade de Cristo a partir das “figuras” (tipos) que a anunciavam nos fatos,
nas palavras e nos símbolos da primeira aliança. Por esta releitura no Espírito de verdade a partir de Cristo,
as figuras são desvel adas. Assim, o dilúvio e a arca de Noé prefiguravam a salvaço pelo Batismo[ag49] , o
mesmo acontecendo com a nuvem e a travessia do Mar Vermelho, e a água do rochedo era a figura dos
dons espirituais de Cristo; o maná do deserto prefigurava a Eucaristia, “o verdadeiro Pão do Céu” (Jo 6,32).
1095 É por isso que a Igreja, particularmente no advento, na quaresma e sobretudo na noite de
Páscoa, relê e revive todos esses grandes acontecimentos da história da salvaço no “hoje” de sua liturgia.
Mas isso exige também que a catequese ajude os fiéis a se abrirem a esta compreensão “espiritual” da
economia da salvaço, tal como a liturgia da Igreja a manifesta e no-la faz viver.
1096 Liturgia judaica e liturgia cristã. Um conhecimento mais aprimorado da fé e da vida religiosa
do povo judaico, tais como são professadas e vividas ainda hoje, pode ajudar a compreender melhor
certos aspectos da liturgia cristã. Para os judeus e para os cristãos, a Sagrada Escritura é uma parte
essencial de suas liturgias: para a proclamaço da Palavra de Deus, a resposta a esta palavra, a oraço
de louvor e de intercessão pelos vivos e pelos mortos, o recurso à misericórdia divina. A Liturgia da palavra,
em sua estrutura própria, tem sua origem na oraço judaica. A Oraço das horas, bem como outros textos
e formulários litúrgicos, tem seus paralelos na oraço judaica, o mesmo acontecendo com as próprias
fórmulas de nossas oraçes mais veneráveis, entre elas o Pai-Nosso. Também as oraçes eucarísticas
inspiram-se em modelos da tradiço judaica. As relaçes entre liturgia judaica e liturgia cristã mas também
a diferença de seus conteúdos são particularmente visíveis nas grandes festas do ano litúrgico, como a
Páscoa. Cristãos e judeus celebram a Páscoa; Páscoa da história, orientada para o futuro, entre os judeus;
Páscoa realizada na morte e na Ressurreiço de Cristo, entre os cristãos, ainda que sempre à espera da
consumaço definitiva.
1097 Na liturgia da nova aliança, toda aço litúrgica, especialmente a celebraço da Eucaristia e
dos sacramentos, é um encontro entre Cristo e a Igreja. A assembléia litúrgica tira sua unidade da
“comunhão do Espírito Santo”, que congrega os filhos de Deus no único corpo de Cristo. Ela ultrapassa as
afinidades humanas, raciais, culturais e sociais.
1098 A assembléia deve se preparar para se encontrar com seu Senhor, deve ser “um povo bem-
disposto”. Essa preparaço dos coraçes é obra comum do Espírito Santo e da assembléia, em particular
de seus ministros. A graça do Espírito Santo procura despertar a fé, a conversão do coraço e a adesão à
vontade do Pai. Essas disposiçes constituem pressupostos para receber as outras graças oferecidas na
própria celebraço e para os frutos de vida nova que ela está destinada a produzir posteriormente.

O ESPÍRITO SANTO RECORDA O MISTÉRIO DE CRISTO
1099 O Espírito e a Igreja cooperam para manifestar o Cristo e sua obra de salvaço na liturgia.
Principalmente na Eucaristia, e analogicamente nos demais sacramentos, a liturgia é memorial do Mistério
da Salvaço. O Espírito Santo é a memória viva da Igreja.
1100 A Palavra de Deus. O Espírito Santo recorda primeiro à assembléia litúrgica o sentido do evento
da salvaço, dando vida à Palavra de Deus, que é anunciada para ser recebida e vivida:
Na celebraço da liturgia é máxima a importância da Sagrada Escritura, pois dela são tirados os
textos que se lêem e que são explicados na homilia e os salmos cantados. E de sua inspiraço e bafejo
que surgiram as preces, as oraçes e os hinos litúrgicos. E é dela também que as açes e os símbolos tiram
sua significaço.
1101 É o Espírito Santo que dá aos leitores e aos ouvintes, segundo as disposiçes de seus coraçes,
a compreensão espiritual da Palavra de Deus. Por meio das palavras, das açes e dos símbolos que


formam a trama de uma celebraço, o Espírito põe os fiéis e os ministros em relaço viva com Cristo,
palavra e imagem do Pai, a fim de que possam fazer passar à sua vida o sentido daquilo que ouvem,
contemplam e fazem na celebraço.
1102 “E a palavra da salvaço que alimenta a fé no coraço dos cristãos: é ela que faz nascer e
dá crescimento à comunhão dos cristãos.” O anúncio da Palavra de Deus não se limita a um ensinamento:
quer suscitar a resposta da fé, como consentimento e compromisso, em vista da aliança entre Deus e seu
povo. E ainda o Espírito Santo que dá a graça da fé, que a fortifica e a faz crescer na comunidade. A
assembléia litúrgica é primeiramente comunhão na fé.
1103 A anamnese. A celebraço litúrgica refere-se sempre às intervençes salvíficas de Deus na
história. “A economia da revelaço concretiza-se por meio das açes e das palavras intimamente
interligadas.(...) As palavras proclamam as obras e elucidam o mistério nelas contido.” Na liturgia da
palavra, o Espírito Santo “recorda” à assembléia tudo o que Cristo fez por nós. Segundo a natureza das
açes litúrgicas e as tradiçes rituais das Igrejas, uma celebraço “faz memória” das maravilhas de Deus
em uma anamnese mais ou menos desenvolvida. O Espírito Santo, que desperta assim a memória da
Igreja, suscita então a aço de graças e o louvor (doxologia).

O ESPÍRITO SANTO ATUALIZA O MISTÉRIO DE CRISTO
1104 A liturgia cristã não somente recorda os acontecimentos que nos salvaram, como também os
atualiza, toma-os presentes. O mistério pascal de Cristo é celebrado, não é repetido; o que se repete são
as celebraçes; em cada uma delas sobrevêm a efusão do Espírito Santo que atualiza o único mistério.
1105 A epiclese (“invocaço sobre”) é a intercessão na qual o sacerdote suplica ao Pai que envie
o Espírito Santificador para que as oferendas se tornem o Corpo e o Sangue de Cristo, e para que ao
recebê-los os fiéis se tomem eles mesmos uma oferenda viva a Deus.
1106 Juntamente com a anamnese, a epiclese está no cerne de cada celebraço sacramental,
mais especialmente da Eucaristia:
Perguntas como o pão se converte no Corpo de Cristo e o vinho em Sangue de Cristo. Respondo-
te: o Espírito Santo irrompe e realiza aquilo que ultrapassa toda palavra e todo pensamento... Basta-te
saber que isso acontece por obra do Espírito Santo, do mesmo modo que, da Santíssima Virgem e pelo
mesmo Espírito Santo, o Senhor por si mesmo e em si mesmo assumiu a carne.
1107 O poder transformador do Espírito Santo na liturgia apressa a vinda do Reino e a consumaço
do mistério da salvaço. Na expectativa e na esperança ele nos faz realmente antecipar a comunhão
plena da Santíssima Trindade. Enviado pelo Pai que ouve a epiclese da Igreja, o Espírito dá a vida aos que
o acolhem e constitui para eles, desde já, “o penhor” de sua herança.

A COMUNHÃO DO ESPÍRITO SANTO
1108 O fim da missão do Espírito Santo em toda a aço litúrgica é colocar-se em comunhão com
Cristo para formar seu corpo. O Espírito Santo é como que a seiva da videira do Pai que produz seus frutos
nos ramos. Na liturgia realiza-se a cooper aço mais íntima entre o Espírito Santo e a Igreja. Ele, o Espírito de
comunhão, permanece indefectivelmente na Igreja, e é por isso que a Igreja é o grande sacramento da
Comunhão divina que congrega os filhos de Deus dispersos. O fruto do Espírito na liturgia é
inseparavelmente comunhão com a Santíssima Trindade e comunhão fraterna entre os irmãos.
1109 A epiclese é também a oraço para o efeito pleno da comunhão da assembléia com o
mistério de Cristo. “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito
Santo” (2Cor 13,13) devem permanecer sempre conosco e produzir frutos para além da celebraço
eucarística. A Igreja pede, pois, ao Pai que envie o Espírito Santo para que faça da vida dos fiéis uma
oferenda viva a Deus por meio da transformaço espiritual à imagem de Cristo, (por meio) da
preocupaço pela unidade da Igreja e da participaço da sua missão pelo testemunho e pelo serviço da
caridade.

RESUMINDO
1110 Na liturgia da Igreja, Deus Pai é bendito e adorado como a fonte de todas as bênços da
criaço e da salvaço, com as quais nos abençoou em seu Filho, para dar-nos o Espírito da adoço filial.


1111 A obra de Cristo na liturgia é sacramental porque seu mistério de salvaço se torna presente
nela mediante o poder de seu Espírito Santo; porque seu corpo, que é a Igreja, é como que o sacramento
(sinal e instrumento) no qual o Espírito Santo dispensa o mistério da salvaço; porque por meio de suas
açes litúrgicas a Igreja peregrina já participa, por antecipaço, da liturgia celeste.
1112 A missão do Espírito Santo na liturgia da Igreja é preparar a assembléia para encontrar-se com
Cristo; recordar e manifestar Cristo à fé da assembléia; tornar presente e atualizar a obra salvífica de Cristo
por seu poder transformador e fazer frutificar o dom da comunhão na Igreja.

ARTIGO 2
O MISTÉRIO PASCAL NOS SACRAMENTOS DA IGREJA

1113 Toda a vida litúrgica da Igreja gravita em tomo do sacrifício eucarístico e dos sacramentos. Há
na Igreja sete sacramentos: o Batismo, a Confirmaço ou Crisma, a Eucaristia, a Penitência, a Unço dos
Enfermos, a Ordem, o Matrimônio. No presente artigo trataremos daquilo que é comum, do ponto de vista
doutrinal, aos sete sacramentos da Igreja. O que lhes é comum sob o aspecto da celebraço será exposto
no Capítulo II, e o que é próprio de cada um deles será objeto da Seço II.

I. OS SACRAMENTOS DE CRISTO
1114 “Fiéis à doutrina das Sagradas Escrituras, às tradiçes apostólicas (...) e ao sentimento unânime
dos Padres “, professamos que “os sacramentos da nova lei foram todos instituídos por Nosso Senhor Jesus
Cristo”.
1115 As palavras e as açes de Jesus durante sua vida oculta e durante seu ministério público já
eram salvíficas. Antecipavam o poder de seu mistério pascal. Anunciavam e preparavam O que iria dar à
Igreja quando tudo fosse realizado. Os mistérios da vida de Cristo são os fundamentos daquilo que agora,
por meio dos ministros de sua Igreja, Cristo dispensa nos sacramentos, pois “aquilo que era visível em nosso
Salvador passou para seus mistérios”.
1116 Os sacramentos são “forças que saem” do corpo de Cristo, sempre vivo e vivificante; são
açes do Espírito Santo Operante no corpo de Cristo, que é a Igreja; são “as obras-primas de Deus” na
Nova e Eterna Aliança.

II. OS SACRAMENTOS DA IGREJA
1117 Graças ao Espírito Santo que a conduz à “verdade plena” (Jo 16,13), a Igreja reconheceu
pouco a pouco este tesouro recebido de Jesus e precisou sua “dispensaço”, tal como o fez com o cânon
das Sagradas Escrituras e com a doutrina da fé, qual fiel dispensadora dos mistérios de Deus. Assim, ao
longo dos séculos, a Igreja foi discernindo que entre suas celebraçes litúrgicas existem sete que são, no
sentido próprio da palavra, sacramentos instituídos pelo Senhor.
1118 Os sacramentos são “da Igreja” no duplo sentido de que existem “por meio dela” e “para
ela”. São “por meio da Igreja”, pois esta é o sacramento da aço de Cristo operando em seu seio graças
à missão do Espírito Santo E são “para a Igreja”, pois são esses “sacramentos que fazem a Igreja”; com
efei to, manifestam e comunicam aos homens, sobretudo na Eucaristia, o mistério da comunhão do Deus
amor, uno em três pessoas.
1119 Formando com Cristo-Cabeça “como que uma única pessoa mística”, a Igreja age nos
sacramentos como “comunidade sacerdotal”, “organicamente estruturada”. Pelo Batismo e pela
Confirmaço, o povo sacerdotal é capacitado a celebrar a liturgia; por outro lado, certos fiéis, “revestidos
de uma ordem sagrada, são instituídos em nome de Cristo para apascentar a Igreja por meio da palavra e
da graça de Deus”.
1120 O ministério ordenado ou sacerdócio ministerial está a serviço do sacerdócio batismal.
Garante que, nos sacramentos, é Cristo que age pelo Espírito Santo para a Igreja. A missão de salvaço
confiada pelo Pai a seu Filho encarnado é confiada aos apóstolos e, por meio deles, a seus sucessores:
recebem o Espírito de Jesus para agir em seu nome e em sua pessoa. Assim, o ministro ordenado é o elo
sacramental que liga a aço litúrgica àquilo que disseram e fizeram os apóstolos, e, por meio destes, ao
que disse e fez Cristo, fonte e fundamento dos sacramentos.


1121 Os sacramentos do Batismo, da Confirmaço e da Ordem conferem, além da graça, um
caráter sacramental ou “selo” pelo qual o cristão participa do sacerdócio de Cristo e faz parte da Igreja
segundo estados e funçes diversas. Esta configuraço com Cristo e com a Igreja, realizada pelo Espírito, é
indelével, permanece para sempre no cristão como disposiço positiva para a graça, como promessa e
garantia da proteço divina e como vocação ao culto divino e ao serviço da Igreja. Por isso estes
sacramentos nunca podem ser reiterados.

III. OS SACRAMENTOS DA FÉ
1122 Cristo enviou seus apóstolos para que “em seu Nome fosse proclamado a todas as naçes. O
arrependimento para a remissão dos pecados” (Lc 24,47). “Fazei que todos os povos se tornem discípulos,
batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). A missão de batizar, portanto a
missão sacramental, está implícita na missão de evangelizar, pois o sacramento é preparado pela Palavra
de Deus e pela fé, que é assentimento a esta Palavra:
O povo de Deus congrega-se antes de mais nada pela Palavra do Deus vivo. (...) A proclamaço
da Palavra é indispensável ao ministério sacramental, pois se trata dos sacramentos da fé, e esta nasce e
se alimenta da Palavra.
1123 “Os sacramentos destinam -se à santificaço dos homens, à edificaço do Corpo de Cristo e
ainda ao culto a ser prestado a Deus. Sendo sinais, destinam-se também à instruço. Não só supõem a fé,
mas por palavras e coisas também a alimentam, a fortalecem e a exprimem. Por esta razão são
chamados sacramentos da fé.”
1124 A fé da Igreja é anterior à fé do fiel, que é convidado a aderir a ela. Quando a Igreja celebra
os sacramentos, confessa a fé recebida dos apóstolos. Daí o adágio antigo: lex orandi, lex credendi (“a lei
da oraço é a lei da fé) (ou então: legem credendi, lex statuat supplicandia lei do que suplica
estabeleça a lei do que crê, segundo Próspero de Aquitânia [século V]). A lei da oraço é a lei da fé, ou
seja: a Igreja traduz em sua profissão de fé aquilo que expressa em sua oraço. A liturgia é um elemento
constitutivo da santa e viva Tradiço.
1125 E por isso que nenhum rito sacramental pode ser modificado ou manipulado ao arbítrio do
ministro ou da comunidade. Nem mesmo a suprema autoridade da Igreja pode alterar a Liturgia ao seu
arbítrio, mas somente na obediência da fé e no religioso respeito do Mistério da Liturgia.
1126 De resto, visto que os sacramentos exprimem e desenvolvem a comunhão de fé na Igreja, a
lex orandi é um dos critérios essenciais do diálogo que busca restaurar a unidade dos cristãos.

IV. SACRAMENTOS DA SALVAÇO
1127 Celebrados dignamente na fé, os sacramentos conferem a graça que significam. São eficazes
porque neles age o próprio Cristo; é ele quem batiza, é ele quem atua em seus sacramentos, a fim de
comunicar a graça significada pelo sacramento. O Pai sempre atende à oraço da Igreja de seu Filho, a
qual, na epiclese de cada sacramento, exprime sua fé no poder do Espírito. Assim como o fogo transforma
nele mesmo tudo o que toca, o Espírito Santo transforma em vida divina o que é submetido ao seu poder.
1128 Este é o sentido da afirmaço da Igreja: os sacramentos atuam ex opere operato
(literalmente: “pelo próprio fato de a aço ser realizada”), isto é, em virtude da obra salvífica de Cristo,
realizada uma vez por todas. Daí segue-se que “o sacramento não é realizado pela justiça do homem que
o confere ou o recebe, mas pelo poder de Deus”. A partir de momento em que um sacramento é
celebrado em conformidade com a intenço da Igreja, o poder de Cristo e de seu Espírito agem nele e
por ele, independentemente da santidade pessoal do ministro. Contudo, os frutos dos sacramentos
dependem também das disposiçes de quem os recebe.
1129 A Igreja afirma que para os crentes os sacramentos da nova aliança são necessários à
salvaço. A “graça sacramental” é a graça do Espírito Santo dada por Cristo e peculiar a cada
sacramento. O Espírito cura e transforma os que o recebem, conformando-os com o Filho de Deus. O fruto
da vida sacramental é que o Espírito de adoço deifica os fiéis unindo-os vitalmente ao Filho único, o
Salvador.



V. OS SACRAMENTOS DA VIDA ETERNA
1130 A Igreja celebra o mistério de seu Senhor “até que Ele venha” e até que “Deus seja tudo em
todos” (1 Cor 11,26; 15,28). Desde a era apostólica a liturgia é atraída para seu termo (meta final) pelo
gemido do Espírito na Igreja: “Maran athá!” (Palavras aramaicas que significam: “O Senhor vem”) (1 Cor
16,22). A liturgia participa assim do desejo de Jesus: “Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco
(...) até que ela se cumpra no Reino de Deus” (Lc 22,15-16). Nos sacramentos de Cristo, a Igreja já recebe o
penhor da herança dele, já participa da Vida Eterna, embora ainda “aguarde a bendita esperança, a
manifestaço da glória de nosso grande Deus e Salvador, Cristo Jesus” (Tt 2,13). “O Espírito e a esposa
dizem: Vem! (...) Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22,17.20).
Santo Tomás resume assim as diversas dimensões do sinal sacramental: “Daí que o sacramento é um
sinal rememorativo daquilo que antecedeu, isto é, a Paixão de Cristo; e demonstrativo daquilo que em nós
é realizado pela Paixão de Cristo, a saber, a graça; e prenunciador, isto é, que prenuncia a glória futura”.

RESUMINDO
1131 Os sacramentos são sinais eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja, por
meio dos quais nos é dispensada a vida divina. Os ritos visíveis sob os quais os sacramentos são celebrados
significam e realizam as graças próprias de cada sacramento. Produzem fruto naqueles que os recebem
com as disposiçes exigidas.
1132 A Igreja celebra os sacramentos como comunidade sacerdotal estruturada pelo sacerdócio
batismal e pelo dos ministros ordenados.
1133 O Espírito Santo prepara para a recepço dos sacramentos por meio da Palavra de Deus e
da fé que acolhe a Palavra nos coraçes bem dispostos. Então, os sacramentos fortalecem e exprimem a
fé.
1134 O fruto da vida sacramental é ao mesmo tempo pessoal e eclesial. Por um lado, este fruto é
para cada fiel uma vida para Deus em Cristo Jesus; por outro, é para a Igreja crescimento na caridade e
em sua missão de testemunho.

SEGUNDA PARTE - A CELEBRAÇO DO MISTÉRIO CRISTÃO
CAPÍTULO II.
A CELEBRAÇO SACRAMENTAL DO MISTÉRIO PASCAL

1135 A catequese da liturgia implica primeiramente a compreensão da economia sacramental
(Capítulo 1). À sua luz revela-se a novidade de sua celebraço. No presente capítulo, portanto, tratar-se -á
da celebraço dos sacramentos da Igreja. Considerar-se-á - aquilo que, pela diversidade das tradiçes
litúrgicas, é comum à celebraço dos sete sacramentos; o que é próprio de cada um deles ser
apresentado mais adiante. Esta catequese fundamental das celebraçes sacramentais responder às
questões primordiais que os fiéis levantam a este respeito:

ü Quem celebra?
ü Como celebrar?
ü Quando celebrar?
ü Onde celebrar?

ARTIGO 1
CELEBRAR A LITURGIA DA IGREJA



I. QUEM CELEBRA?
1136 A liturgia é “aço” do “Cristo todo” (“Christus totus”). Os que desde agora a celebram, para
além dos sinais, já estão na liturgia celeste, em que a celebraço é toda festa e comunhão.

OS CELEBRANTES DA LITURGIA CELESTE
1137 O Apocalipse de São João, lido na liturgia da Igreja, revela-nos primeiramente “um trono no
céu e, no trono, alguém sentado”: “o Senhor Deus” (Is 6,1). Em seguida, o Cordeiro, “imolado e de pé (Ap
5,6): Cristo crucificado e ressuscitado, o único sumo sacerdote do verdadeiro santuário, o mesmo “que
oferece e é oferecido, que dá e que é dado”. Finalmente, “o rio de água da vida (...) que saía do trono de
Deus e do Cordeiro” (Ap 22,1), um dos mais belos símbolos do Espírito Santo.
1138 “Recapitulados” em Cristo, participam do serviço do louvor a Deus e da realizaço de seu
desígnio: as potências celestes, a criaço inteira (os quatro viventes), os servidores da antiga e da nova
aliança (os vinte e quatro anciãos), o novo povo de Deus (os cento e quarenta e quatro mil), em especial
os mártires “imolados por causa da Palavra de Deus” (Ap 6,9) e a Santa Mãe de Deus (a mulher; a Esposa
do Cordeiro), e finalmente “uma multidão imensa, impossível de se enumerar, de toda naço, raça, povo
e língua” (Ap 7,9).
1139 É dessa liturgia eterna que O Espírito e a Igreja nos fazem participar quando celebramos o
mistério da salvaço nos sacramentos.

OS CELEBRANTES DA LITURGIA SACRAMENTAL
1140 É toda a comunidade, o corpo de Cristo unido à sua Cabeça, que celebra. “As açes
litúrgicas não são açes privadas, mas celebraçes da Igreja, que é o 'sacramento da unidade', isto é, o
povo santo, unido e ordenado sob a direço dos Bispos. Por isso, estas celebraçes pertencem a todo o
corpo da Igreja, influem sobre ele e o manifestam; mas atingem a cada um de seus membros de modo
diferente, conforme a diversidade de ordens, ofícios e da participaço atual efetiva.” É por isso que “todas
as vezes que os ritos, de acordo com sua própria natureza, admitem uma celebraço comunitária, com
assistência e participaço ativa dos fiéis, seja inculcado que na medida do possível, ela deve ser preferida
à celebraç o individual ou quase privada”.
1141 A assembléia que celebra é a comunidade dos batizados, os quais, “pela regeneraço e
unço do Espírito Santo, são consagrados para serem casa espiritual e sacerdócio santo e para poderem
oferecer um sacrifício espiritual toda atividade humana do cristão”. Este “sacerdócio comum” é o de
Cristo, único sacerdote, participado por todos os seus membros: A mãe Igreja deseja ardentemente que
todos os fiéis sejam levados àquela plena, consciente e ativa participaço nas celebra çes litúrgicas que
a própria natureza da liturgia exige e à qual, por força do batismo, o povo cristão, “geraço escolhida,
sacerdócio régio, gente santa, povo de conquista” (1 Pd 2,9), tem direito e obrigaço.
1142 Mas “os membros não têm todos a mesma funço” (Rm 12,4). Certos membros são chamados
por Deus, na e pela Igreja, a um serviço especial da comunidade. Tais servidores são escolhidos e
consagrados pelo sacramento da ordem, por meio do qual o Espírito Santo os torna aptos a agir na pessoa
de Cristo-Cabeça para o serviço de todos os membros da Igreja. O ministro ordenado é como o ícone de
Cristo Sacerdote. Já que o sacramento da Igreja se manifesta plenamente na Eucaristia, é na presidência
da Eucaristia que o ministério do Bispo aparece primeiro, e, em comunhão com ele, o dos presbíteros e dos
diáconos.
1143 No intuito de servir às funçes do sacerdócio comum dos fiéis, existem também outros
ministérios particulares, não consagrados pelo sacramento da ordem, e cuja funço é determinada pelos
bispos de acordo com as tradiçes litúrgicas e as necessidades pastorais. “Também os ajudantes, os
leitores, os comentaristas e os membros do coral desempenham um verdadeiro ministério litúrgico.”
1144 Assim, na celebraço dos sacramentos, a assembléia inteira é o “liturgo”, cada um segundo
sua funço, mas na “unidade do Espírito”, que age em todos. “Nas celebraçes litúrgicas, cada qual,
ministro ou fiel, ao desempenhar sua funço, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas
normas litúrgicas lhe compete.”

II. COMO CELEBRAR?


SINAIS E SÍMBOLOS
1145 Uma celebraço sacramental é tecida de sinais e de símbolos. Segundo a pedagogia divina
da salvaço, o significado dos sinais e símbolos deita raízes na obra da criaço e na cultura humana,
adquire preci são nos eventos da antiga aliança e se revela plenamente na pessoa e na obra de Cristo.
1146 Sinais do mundo dos homens. Na vida humana, sinais e símbolos ocupam um lugar importante.
Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais
por meio de sinais e de símbolos materiais. Como ser social, o homem precisa de sinais e de símbolos para
comunicar-se com os outros, pela linguagem, por gestos, por açes. Vale o mesmo para sua relaço com
Deus.
1147 Deus fala ao homem por intermédio da criaço visível. O cosmos material apresenta -se à
inteligência do homem para que este leia nele os vestígios de seu criador. A luz e a noite, o vento e o fogo,
a água e a terra, a árvore e os frutos falam de Deus, simbolizam ao mesmo tempo a grandeza e a
proximidade dele.
1148 Enquanto criaturas, essas realidades sensíveis podem tornar-se o lugar de expressão da aço
de Deus que santifica os homens, e da aço dos homens que prestam seu culto a Deus. Acontece o
mesmo com os sinais e os símbolos da vida social dos homens: lavar e ungir, partir o pão e partilhar o cálice
podem exprimir a presença santificante de Deus e a gratidão do homem diante de seu criador.
1149 As grandes religiões da humanidade atestam, muitas vezes de maneira impressionante, este
sentido cósmico e simbólico dos ritos religiosos. A liturgia da Igreja pressupõe, integra e santifica elementos
da criaço e da cultura humana conferindo-lhes a dignidade de sinais da graça, da nova criaço em
Jesus Cristo.
1150 Sinais da aliança. O povo eleito recebe de Deus sinais e símbolos distintivos que marcam sua
vida litúrgica: estes não mais são apenas celebraçes de ciclos cósmicos e gestos sociais, mas sinais da
aliança, símbolos das grandes obras realizadas por Deus em fav or de seu povo. Entre tais sinais litúrgicos da
antiga aliança podemos mencionar a circuncisão, a unço e a consagraço dos reis e dos sacerdotes, a
imposiço das mãos, os sacrifícios, e sobretudo a Páscoa. A Igreja vê nesses sinais uma prefiguraço dos
sacramentos da Nova Aliança.
1151 Sinais assumidos por Cristo. Em sua pregaço, o Senhor Jesus serve-se muitas vezes dos sinais
da criaço para dar a conhecer os mistérios do Reino de Deus. Realiza suas curas ou sublinha sua
pregaço com sinais materiais ou gestos simbólicos. Dá um sentido novo aos fatos e aos sinais da Antiga
Aliança, particularmente ao Êxodo e à Páscoa, por ser ele mesmo o sentido de todos esses sinais.
1152 Sinais sacramentais. Desde Pentecostes, é por meio dos sinais sacramentais de sua Igreja que o
Espírito Santo realiza a santificaço. Os sacramentos da Igreja não abolem, antes purificam e integram
toda a riqueza dos sinais e dos símbolos do cosmos e da vida social. Além disso, realizam os tipos e as
figuras da antiga aliança, significam e realizam a salvaço operada por Cristo, e prefiguram e antecipam
a glória do céu.

PALAVRAS E AÇES
1153 Uma celebraço sacramental é um encontro dos filhos de Deus com seu Pai, em Cristo e no
Espírito Santo, e este encontro se exprime como um diálogo, mediante açes e palavras. Sem dúvida, as
açes simbólicas já são em si mesmas uma linguagem, mas é preciso que a Palavra de Deus e a resposta
de fé acompanhem e vivifiquem estas açes para que a semente do Reino produza seu fruto na terra fértil.
As açes litúrgicas significam o que a Palavra de Deus exprime: a iniciativa gratuita de Deus e ao mesmo
tempo a resposta de fé de seu povo.
1154 A liturgia da palavra é parte integrante das celebraçes sacramentais. Para alimentar a fé dos
fiéis, os sinais da Palavra de Deus precisam ser valorizados: o livro da palavra (lecionário ou evangeliário),
sua veneraço (procissão, incenso, luz), o lugar de onde é anunciado (ambão), sua leitura audível e
inteligível, a homilia do ministro que prolonga sua proclamaço, as respostas da assembléia (aclamaçes,
salmos de meditaço, ladainhas, profissão de fé...).
1155 Inseparáveis enquanto sinais e ensinamento, a palavra e a aço litúrgicas são indissociáveis
também enquanto realizam o que significam. O Espírito Santo não somente dá a compreensão da Palavra
de Deus suscitando a fé; pelos sacramentos ele realiza também as “maravilhas” de Deus anunciadas pela
palavra: torna presente e comunica a obra do Pai realizada pelo Filho bem-amado.



CANTO E MÚSICA
1156 “A tradiço musical da Igreja universal constitui um tesouro de valor inestimável que se
destaca entre as demais expressões de arte, principalmente porque o canto sacro, ligado às palavras, é
parte necessária ou integrante da liturgia solene.” A composiço e o canto dos salmos inspirados, com
freqüncia acompanhados por instrumentos musicais, já aparecem intimamente ligados às celebraçes
litúrgicas da antiga aliança. A Igreja continua e desenvolve esta tradiço: Recital “uns com os outros
salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando ao Senhor em vosso coraço” (Ef. 5,19) . “Quem
canta reza duas vezes.”
1157 O canto e a música desempenham sua funço de sinais de maneira tanto mais significativa
por “estarem intimamente ligados à aço litúrgica”, segundo três critérios principais: a beleza expressiva da
oraço, a participaço unânime da assembléia nos momentos previstos e o caráter solene da
celebraço. Participam assim da finalidade das palavras e das açes litúrgicas: a glória de Deus e a
santificaço dos fiéis: Quanto chorei ouvindo vossos hinos, vossos cânticos, os acentos suaves que
ecoavam em vossa Igreja! Que emoço me causavam! Fluíam em meu ouvido, destilando a verdade em
meu coraço. Um grande elã de piedade me elevava, e as lágrimas corriam-me pela face, mas me
faziam bem.
1158 A harmonia dos sinais (canto, música, palavras e açes) é aqui mais expressiva e fecunda por
exprimir-se na riqueza cultural própria do povo de Deus que celebra? Por isso, o “canto religioso popular ser
inteligentemente incentivado a fim de que as vozes dos fiéis possam ressoar nos pios e sagrados exercícios
e nas próprias açes litúrgicas, de acordo com as normas e prescriçes das rubricas. Todavia, “os textos
destinados ao canto sacro hão de ser conformes à doutrina católica, sendo até tirados de preferência das
Sagradas Escrituras e das fontes litúrgicas.

AS SANTAS IMAGENS
1159 A imagem sacra, o ícone litúrgico, representa principalmente Cristo. Ela não pode representar
o Deus invisível e incompreensível; é a encarnaço do Filho de Deus que inaugurou uma nova “economia”
das imagens: Antigamente Deus, que não tem nem corpo nem aparência, não podia em absoluto ser
representado por uma imagem. Mas agora que se mostrou na carne e viveu com os homens posso fazer
uma imagem daquilo que vi de Deus. (...) Com o rosto descoberto, contemplamos a glória do Senhor.
1160 A iconografia cristã transcreve pela imagem a mensagem evangélica que a Sagrada
Escritura transmite pela palavra. Imagem e palavra iluminam-se mutuamente: Para proferir sucintamente
nossa profissão de fé, conservamos todas as tradiçes da Igreja, escritas ou não-escritas, que nos têm sido
transmitidas sem alteraço. Uma delas é a representaço pictórica das imagens, que concorda com a
pregaço da história evangélica, crendo que, de verdade e não na aparência, o Verbo de Deus se fez
homem, o que é também útil e proveitoso, pois as coisas que se iluminam mutuamente têm sem dúvida um
significado recíproco.
1161 Todos os sinais da celebraço litúrgica são relativos a Cristo: são-no também as imagens
sacras da santa mãe de Deus e dos santos. Significam o Cristo que é glorificado neles. Manifestam “a
nuvem de testemunhas” (Hb 12,1) que continuam a participar da salvaço do mundo e às quais estamos
unidos, sobretudo na celebraço sacramental. Por meio de seus ícones, revela-se à nossa fé o homem
criado “ imagem de Deus” e transfigurado “ sua semelhança”, assim como os anjos, também
recapitulados em Cristo: Na trilha da doutrina divinamente inspirada de nossos santos Padres e da tradiço
da Igreja católica, que sabemos ser a tradiço do Espírito Santo que habita nela, definimos com toda
certeza e acerto que as veneráveis e santas imagens, bem como as representaçes da cruz preciosa e
vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser
colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros,
nas casas e nos caminhos, tanto a imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, como a de
Nossa Senhora, a puríssima e santíssima mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos e dos justos.
1162 “A beleza e a cor das imagens estimulam minha oraço. É uma festa para os meus olhos,
tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coraço a dar glória a Deus.” A contemplaço dos
ícones santos, associada à meditaço da Palavra de Deus e ao canto dos hinos litúrgicos, entra na
harmonia dos sinais da celebraço para que o mistério celebrado se grave na memória do coraço e se
exprima em seguida na vida nova dos fiéis.



III. QUANDO CELEBRAR?
O TEMPO LITÚRGICO
1163 “A santa mãe Igreja julga seu dever celebrar com piedosa recordaço, em certos dias fixos no
decurso do ano, a obra salvífica de seu divino esposo. Em cada semana, no dia que ela passou a chamar
'dia do Senhor', recorda a ressurreiço do Senhor, celebrando-a uma vez por ano, juntamente com sua
sagrada paixão, na solenidade máxima da Páscoa. E desdobra todo o mistério de Cristo durante o ciclo
do ano (...) Recordando assim os mistérios da Redenço, franqueia aos fiéis as riquezas das virtudes e dos
méritos de seu Senhor, de maneira a torná-los como que presentes o tempo todo, para que os fiéis entrem
em contato com eles e sejam repletos da graça da salvaço.”
1164 O povo de Deus, desde a lei mosaica, conheceu festas fixas a partir da páscoa para
comemorar as açes admiráveis do Deus salvador, dar-lhe graças por elas, perpetuar-lhes a lembrança e
ensinar às novas geraçes a conformar sua conduta com elas. Na era da Igreja, situada entre a páscoa
de Cristo, já realizada uma vez por todas, e a consumaço dela no Reino de Deus, a liturgia celebrada em
dias fixos está toda impregnada da novidade do mistério de Cristo.
1165 Quando celebra o mistério de Cristo, há uma palavra que marca a oraço da Igreja: hoje!,
fazendo eco à oraço que seu Senhor lhe ensinou e o apelo do Espírito Santo'. Este “hoje” do Deus vivo em
que O homem é chamado a entrar é “a hora”; da Páscoa de Jesus que atravessa e leva toda a história: A
vida estendeu -se sobre todos os seres, e todos ficam repletos de uma generosa luz; o Oriente dos orientes
invadiu o universo, e aquele que era “antes da estrela da manhã e antes dos astros, imortal e imenso, o
grande Cristo brilha sobre todos os seres mais que o sol! É por isso que, para nós que cremos nele, se
instaura um dia de luz, longo, eterno, que não se apaga: a páscoa mística'.

O DIA DO SENHOR
1166 “Devido à tradiço apostólica que tem origem no próprio dia da ressurreiço de Cristo, a
Igreja celebra o mistério pascal a cada oitavo dia, no dia chamado com razão o dia do Senhor ou
domingo. “ O dia da ressurreiço de Cristo é ao mesmo tempo “o primeiro dia da semana”, memorial do
primeiro dia da criaço, e o “oitavo dia”, em que Cristo, depois de seu “repouso” do grande sábado,
inaugura o dia “que O Senhor fez”, o “dia que não conhece ocaso”. A “Ceia do Senhor” é seu centro, pois
é aqui que toda a comunidade dos fiéis se encontra com o Senhor ressuscitado, que Os convida a seu
banquete: O dia do Senhor, o dia da ressurreiço, o dia dos cristãos, é o nosso dia. E por isso que ele se
chama dia do Senhor: pois foi nesse dia que o Senhor subiu vitorioso para junto do Pai. Se os pagãos o
denominam dia do sol, também nós o confessamos de bom grado: pois hoje levantou-se a luz do mundo,
hoje apareceu o sol de justiça cujos raios trazem a salvaço.
1167 O domingo é o dia por excelência da assembléia litúrgica, em que os fiéis se reúnem “para,
ouvindo a Palavra de Deus e participando da Eucaristia, lembrarem-se da paixão, ressurreiço e glória do
Senhor Jesus, e darem graças a Deus que os 'regenerou para a viva esperança, pela ressurreiço de Jesus
Cristo de entre os mortos”
Quando meditamos, ó Cristo, as maravilhas que foram operadas neste dia de domingo de vossa
santa ressurreiço, dizemos: Bendito é o dia do domingo, pois foi nele que se deu o começo da criaço
(...) a salvaço do mundo (...) a renovaço do gênero humano.(...) E nele que o céu e a terra rejubilaram
e que o universo inteiro foi repleto de luz. Bendito é o dia do domingo, pois nele foram abertas as portas do
paraíso para que Adão e todos os banidos entrem nele sem medo.

O ANO LITÚRGICO
1168 Partindo do tríduo pascal, como de sua fonte de luz, o tempo novo da Ressurreiço enche
todo o ano litúrgico com sua claridade. Aproximando-se progressivamente de ambas as vertentes desta
fonte, o ano é transfigurado pela liturgia. É realmente “ano de graça do Senhor”. A economia da salvaço
está em aço moldura do tempo, mas desde a sua realizaço na Páscoa de Jesus e a efusão do Espírito
Santo o fim da história é antecipado, “em antegozo”, e o Reino de Deus penetra nosso tempo.
1169 Por isso, a páscoa não é simplesmente uma festa entre outras: é a “festa das festas”,
“solenidade das solenidades”, como a Eucaristia é o sacramento dos sacramentos (o grande sacramento).
Santo Atanásio a denomina “o grande domingo como a semana santa é chamada no Oriente “a grande
semana”. O mistério da ressurreiço, no qual Cristo esmagou a morte, penetra nosso velho tempo com sua
poderosa energia até que tudo lhe seja submetido.


1170 No Concílio de Nicéia (em 325), todas as Igrejas chegaram a um acordo acerca de que a
páscoa cristã fosse celebrada no domingo que segue a lua cheia (14 Nisan) depois do equinócio de
primavera. Por causa dos diversos métodos utilizados para calcular o dia 14 de mês de Nisan, o dia da
Páscoa nem sempre ocorre simultaneamente nas Igrejas ocidentais e orientais. Por isso busca -se um
acordo, a fim de se chegar novamente a celebrar em uma data comum o dia da Ressurreiço do Senhor.
1171 O ano litúrgico é o desdobramento dos diversos aspectos do único mistério pascal. Isto vale
muito particularmente para o ciclo das festas em tomo do mistério da encarnaço (Anunciaço, Natal,
Epifania) que comemoram o começo de nossa salvaço e nos comunicam as primícias do Mistério da
Páscoa.

O SANTORAL NO ANO LITÚRGICO
1172 “Ao celebrar o ciclo anual dos mistérios de Cristo, a santa Igreja venera com particular amor a
bem-aventurada mãe de Deus, Maria, que por um vínculo indissolúvel está unida à obra salvífica de seu
Filho; em Maria a Igreja admira e exalta o mais excelente fruto da redenço e a contempla com alegria
como puríssima imagem do que ela própria anseia e espera ser em sua totalidade.”
1173 Quando, no ciclo anual, a Igreja faz memória dos mártires e dos outros santos, “proclama o
mistério pascal” naqueles e naquelas “que sofreram com Cristo e estão glorificados com ele, e propõe seu
exemplo aos fiéis para que atraia todos ao Pai por Cristo e, por seus méritos, impetra os benefícios de Deus”

A LITURGIA DAS HORAS
1174 O Mistério de Cristo, sua Encarnaço e sua Páscoa, que celebramos na Eucaristia,
especialmente na assembléia dominical, penetra e transfigura o tempo de cada dia pela celebraço da
Liturgia das Horas, “o Ofício Divino” Esta celebraço, em fidelidade às recomendaçes apostólicas de
“orar sem cessar”, “está constituída de tal modo que todo o curso do dia e da noite seja consagrado pelo
louvor de Deus” Ela constitui “a oraço pública da Igreja”, na qual os fiéis (clérigos, religiosos e leigos)
exercem o sacerdócio régio dos batizados. Celebrada “segundo a forma aprovada” pela Igreja, a Liturgia
das Horas “ verdadeiramente a voz da própria esposa que fala com o esposo, e é até a oraço de Cristo,
com seu corpo, ao Pai”.
1175 A Liturgia das Horas é destinada a tornar-se a oraço de todo o povo de Deus. Nela, o próprio
Cristo “continua a exercer sua funço sacerdotal por meio de sua Igreja”; cada um participa dela
segundo seu lugar próprio na Igreja e segundo as circunstâncias de sua vida: os presbíteros, enquanto
dedicados ao ministério da palavra; os religiosos e as religiosas, pelo carisma de sua vida consagrada;
todos os fiéis, segundo suas possibilidades: “Os pastores de almas cuidarão que as horas principais,
especialmente as vésperas, nos domingos e dias festivos mais solenes, sejam celebradas comunitariamente
na Igreja. Recomenda-se que os próprios leigos recitem o Ofício divino, ou juntamente com os presbíteros,
ou reunidos entre si, e até cada um individualmente”.
1176 Celebrar a Liturgia das Horas exige não somente que se harmonize a voz com o coraço que
reza, mas também “que se adquira um conhecimento litúrgico e bíblico mais rico, principalmente dos
Salmos”.
1177 Os hinos e as ladainhas da Oraço das Horas inserem a oraço dos salmos no tempo da
Igreja, exprimindo o simbolismo do momento do dia, do tempo litúrgico ou da festa celebrada. Além disso,
a leitura da Palavra de Deus a cada hora (com os responsos ou os tropários que vêm depois dela) e, em
certas horas, as leituras dos Padres da Igreja e dos mestres espirituais revelam mais profundamente o
sentido do mistério celebrado, ajudam na compreensão dos salmos e preparam para a oraço silenciosa.
A lectio divina, em que a Palavra de Deus é lida e meditada para tornar-se oraço, está assim enraizada
na celebraço litúrgica.
1178 A Liturgia das Horas, que é como que um prolongamento da celebraço eucarística, não
exclui, mas requer de maneira complementar as diversas devoçes do Povo de Deus, particularmente a
adoraço e o culto do Santíssimo Sacramento.

IV. ONDE CELEBRAR?
1179 Oculto “em espírito e em verdade” (Jo 4,24) da nova aliança não está ligado a um lugar
exclusivo. A terra inteira é santa e foi entregue aos filhos dos homens. O que ocupa lugar primordial


quando os fiéis se congregam em um mesmo lugar são as “pedras vivas” reunidas para “a construço de
um edifício espiritual” (1 Pd 2,5). O Corpo de Cristo ressuscitado é o templo espiritual do qual jorra a fonte
de água viva. Incorporados a Cristo pelo Espírito Santo, “nós é que somos o templo do Deus vivo” (2Cor
6,16).
1180 Quando o exercício da liberdade religiosa não sofre entraves, os cristãos constroem edifícios
destinados ao culto divino. Essas igrejas visíveis não são simples lugares de reunião, mas significam e
manifestam a Igreja viva neste lugar, morada de Deus com os homens reconciliados e unidos em Cristo.
1181 “A casa de oraço onde a Eucaristia é celebrada e conservada, onde os fiéis se reúnem,
onde a presença do Filho de Deus (Jesus, Nosso Salvador, o qual se ofereceu por nós no altar do sacrifício)
é honrada para auxílio e consolaço dos cristãos deve ser bela e adequada para a oraço e as
celebraçes religiosas.” Nesta “casa de Deus”, a verdade e a harmonia dos sinais que a constituem
devem manifestar o Cristo que está presente e age neste 1ugar:
1182 O altar da nova aliança é a cruz do Senhor, da qual brotam os sacramentos do mistério
pascal. Sobre o altar, que é o centro da igreja, se faz presente o Sacrifício da Cruz sob os sinais
sacramentais. Ele é também a mesa do Senhor, para a qual o povo de Deus é convidado. Em certas
liturgias orientais, o altar é também o símbolo do sepulcro (Cristo morreu de verdade e ressuscitou de
verdade).
1183 O tabernáculo (ou sacrário) deve estar localizado “nas igrejas em um dos lugares mais dignos,
com o máximo decoro”. A nobreza, a disposiço e a segurança do tabernáculo eucarístico [ag108]
devem favorecer a adoraço do Senhor realmente presente no Santíssimo Sacramento do altar.
O Santo Crisma (Mýron = perfume líquido) que, usado na unço, é sinal sacramental do selo do
dom do Espírito Santo, é tradicionalmente conservado e venerado em um lugar seguro da igreja. Perto
dele pode-se colocar o óleo dos catecúmenos e o dos enfermos.
1184 A cadeira (cátedra) do Bispo ou do presbítero “deve exprimir a funço daquele que preside a
assembléia e dirige a oraço”. O ambão. “A dignidade da Palavra de Deus exige que exista na igreja um
lugar que favoreça o anúncio desta Palavra e para o qual, durante a liturgia da Palavra, se volta
espontaneamente a atenço dos fiéis.”
1185 O congraçamento do povo de Deus começa pelo Batismo; por isso, a igreja deve ter um
lugar para a celebraço do Batismo (batistério) e fazer com que o povo lembre as promessas feitas na
celebraço do Batismo. (O persignar-se com água benta faz lembrar o Batismo). A renovaço da vida
batismal exige a penitência. Por isso, a Igreja deve prestar-se à expressão do arrependimento e ao
recebimento do perdão, o que exige um lugar apropriado para acolher os penitentes. A igreja deve
também ser um espaço que convide ao recolhimento e à oraço silenciosa, que prolongue e interiorize a
grande oraço da Eucaristia.
1186 Finalmente, a igreja tem um significado escatológico. Para entrar na casa de Deus, é preciso
atravessar um limiar, símbolo da passagem do mundo ferido pelo pecado para o mundo da vida nova ao
qual todos os homens são chamados. A igreja visível simboliza a casa paterna para a qual o povo de Deus
está a caminho e na qual o Pai “enxugará toda lágrima de seus olhos” (Ap 21,4). Por isso, a igreja também
é a casa de todos os filhos de Deus, amplamente aberta e acolhedora.

RESUMINDO
1187 A liturgia é a obra do Cristo inteiro, cabeça e corpo. Nosso Sumo Sacerdote a celebra sem
cessar na liturgia celeste, com a santa mãe de Deus, os apóstolos, todos os santos e a multidão dos que já
entraram no Reino.
1188 Em sua celebraço litúrgica, a assembléia inteira desempenha o papel de “liturgo”, cada um
segundo sua junço. O sacerdócio batismal é o de todo o corpo de Cristo. Mas certos fiéis são ordenados
pelo sacramento da Ordem para representar Cristo como cabeça do corpo.
1189 A celebraço litúrgica comporta sinais e símbolos que se referem à criaço (luz, água, fogo), à
vida humana (lavar, ungir, partir o pão) e à história da salvação (os ritos da Páscoa). Inseridos no mundo
da fé e assumidos pela força do Espírito Santo, esses elementos cósmicos, esses ritos humanos, esses gestos
memoriais de Deus se tornam portadores da aço salvadora e santificadora de Cristo.
1190 A Liturgia da Palavra é uma parte integrante da celebraço. O sentido da celebraço é
expresso pela Palavra de Deus que e anunciada e pelo compromisso da fé que ela exige como resposta.


1191 O canto e a música guardam uma conexão íntima com a aço litúrgica. Critérios de seu bom
uso: a beleza expressiva da oraço, a participaço unânime da assembléia e o caráter sagrado da
celebraço.
1192 As santas imagens, presentes em nossas igrejas e em nossas casas, destinam-se a despertar e a
alimentar nossa fé no mistério de Cristo. Por meio do ícone de Cristo e de suas obras salvíficas, é a ele que
adoramos. Mediante as santas imagens da santa mãe de Deus, dos anjos e dos santos, veneramos as
pessoas nelas representadas.
1193 O domingo, “dia do Senhor”, é o dia principal da celebraço da Eucaristia por ser o dia da
ressurreiço. É o dia da assembléia litúrgica por excelência, o dia da família cristã, o dia da alegria e do
descanso do trabalho. O domingo é “o fundamento e o núcleo do ano litúrgico”.
1194 A Igreja “apresenta todo o mistério de Cristo durante o ciclo do ano, desde a Encarnaço e o
Natal até a Ascensão, até o dia de Pentecostes e até a expectativa da feliz esperança e do retorno do
Senhor”.
1195 Celebrando a memória dos santos, primeiramente da Santa Mãe de Deus, em seguida dos
apóstolos, dos mártires e dos outros santos, em dias fixos do ano litúrgico, a Igreja manifesta que está unida
à Liturgia Celeste; glorifica a Cristo por ter realizado sua salvaço em seus membros glorificados. O
exemplo delas e deles a estimula em seu caminho para o Pai.
1196 Os fiéis que celebram a Liturgia das Horas unem-se a Cristo, nosso Sumo Sacerdote, por meio
da oraço dos salmos, da meditaço da Palavra de Deus, de cânticos e bênços, a fim de serem
associados à oraço incessante e universal dele, que dá glória ao Pai e implora o dom do Espírito Santo
sobre o mundo inteiro.
1197 Cristo é o verdadeiro templo de Deus, “o lugar em que reside a sua glória”; pela graça de
Deus, também os cristãos se tornam templos do Espírito Santo, pedras vivas com as quais é construída a
Igreja.
1198 Em sua condiço terrestre, a Igreja precisa de lugares onde a comunidade possa reunir-se:
esses lugares são as nossas igrejas visíveis, lugares santos, imagens da Cidade Santa, a Jerusalém Celeste
para a qual caminhamos como peregrinos.
1199 E nessas igrejas que a Igreja celebra o culto público para a glória da Santíssima Trindade; é
nelas que ouve a Palavra de Deus e canta seus louvores, que eleva sua oraço e que oferece o sacrifício
de Cristo, sacramentalmente presente no meio da assembléia. Essas igrejas são também locais de
recolhimento e de oraço pessoal.

ARTIGO 2
DIVERSIDADE LITÚRGICA E UNIDADE DO MISTÉRIO
TRADIÇES LITÚRGICAS E CATOLICIDADE DA IGREJA

1200 Desde a primeira comunidade de Jerusalém até a parusia, o mesmo mistério pascal é
celebrado, em todo lugar, pelas Igrejas de Deus fiéis à fé apostólica. O mistério celebrado na liturgia é um
só, mas as formas de sua celebraço são diversas.
1201 A riqueza insondável do mistério de Cristo é tal que nenhuma liturgia é capaz de esgotar sua
expressão. A história do surgimento e do desenvolvimento desses ritos atesta uma complementaridade
surpreendente. Quando as Igrejas viveram essas tradiçes litúrgicas em comunhão na fé e nos
sacramentos da fé, enriqueceram-se mutuamente e cresceram na fidelidade à tradiço e à missão
comum à Igreja toda.
1202 As diversas tradiçes litúrgicas surgiram justamente em razão da missão da Igreja. As Igrejas de
uma mesma área geográfica e cultural acabaram celebrando o mistério de Cristo com expressões
particulares tipificadas culturalmente: na tradiço do “depósito da fé, no simbolismo litúrgico, na
organizaço da comunhão fraterna, na compreensão teológica dos mistérios e nos tipos de santidade.
Assim, Cristo, luz e salvaço de todos os povos, é manifestado pela vida litúrgica de uma Igreja ao povo e
à cultura aos quais ela é enviada e nos quais está enraizada. A Igreja é católica: pode integrar em sua
unidade, purificando-as, todas as verdadeiras riquezas das culturas.


1203 As tradiçes litúrgicas ou ritos atualmente em uso na Igreja são o rito latino (principalmente o
rito romano, mas também os ritos de certas Igrejas locais como o rito ambrosiano, ou de certas ordens
religiosas) e os ritos bizantinos, alexandrino ou copta, siríaco, armênio, maronita e caldeu . “Obedecendo
fielmente à tradiço, o sacrossanto Concílio declara que a santa mãe Igreja considera como iguais em
direito e em dignidade todos os ritos legitimamente reconhecidos, e que no futuro quer conservá-los e
favorecê-los de todas as formas.”

LITURGIA E CULTURAS
1204 Por isso a celebraço da liturgia deve corresponder ao gênio e à cultura dos diferentes povos.
Para que o mistério de Cristo seja “dado a conhecer a todos os gentios, para levá-los à obediência da fé
(Rm 16,26), deve ser anunciado, celebrado e vivido em todas as culturas, de sorte que estas não sejam
abolidas, mas resgatadas e realizadas por ele”. E mediante sua cultura humana própria, assumida e
transfigurada por Cristo, que a multidão dos filhos de Deus tem acesso ao Pai, para glorificá-lo, em um só
Espírito.
1205 “Na liturgia, sobretudo na liturgia dos sacramentos, existe uma parte imutável - por ser de
instituiço divina -, da qual a Igreja é guardiã, e há partes suscetíveis de mudança, que ela tem o poder e,
algumas vezes, até o dever de adaptar às culturas dos povos recentemente evangelizados.
1206 A diversidade litúrgica pode ser fonte de enriquecimento, mas pode também provocar
tensões, incompreensões recíprocas e até mesmo cismas. Neste campo, é claro que a diversidade não
deve prejudicar a unidade. Esta unidade não pode exprimir-se senão na fidelidade à fé comum, aos sinais
sacramentais que a Igreja recebeu de Cristo, e à comunhão hierárquica. A adaptaço às culturas requer
uma conversão do coraço e, se necessário, a ruptura com hábitos ancestrais incompatíveis com a fé
católica.”

RESUMINDO
1207 Convém que a celebraço da liturgia tenda a exprimir-se na cultura do povo em que a Igreja
se encontra, sem submeter -se a ela. Por outro lado, a liturgia mesma é geradora e formadora de culturas.
1208 As diversas tradiçes litúrgicas (ou ritos), legitimamente reconhecidas por significarem e
comunicarem o mesmo mistério de Cristo, manifestam a catolicidade da Igreja.
1209 O critério que garante a unidade na pluralidade das tradiçes litúrgicas é a fidelidade à
Tradiço apostólica, isto é, a comunhão na fé e nos sacramentos recebidos dos apóstolos, comunhão
significada e assegurada pela sucessão apostólica.

SEGUNDA PARTE - A CELEBRAÇO DO MISTÉRIO CRISTÃO
SEGUNDA SEÇO - OS SETE SACRAMENTOS DA IGREJA

1210 Os sacramentos da nova lei foram instituídos por Cristo e são sete, a saber: o Batismo, a
Confirmaço, a Eucaristia, a Penitência, a Unço dos Enfermos, a Ordem e o Matrimônio. Os sete
sacramentos atingem todas as etapas e todos os momentos importantes da vida do cristão: dão à vida de
fé do cristão origem e crescimento, cura e missão. Nisto existe certa semelhança entre as etapas da vida
natural e as da vida espiritual.
1211 Seguindo esta analogia, exporemos primeiramente os três sacramentos da iniciaço cristã
(Capítulo 1), em seguida os sacramentos de cura (Capítulo II.) e, finalmente os sacramentos que estão a
serviço da comunhão e da missão dos fiéis (Capítulo III.). Sem dúvida, esta disposiço não é a única
possível, mas permite ver que os sacramentos formam um organismo no qual cada um especificamente
tem seu lugar vital. Neste organismo, a eucaristia ocupa um lugar único por ser “sacramento dos
sacramentos”: “todos os demais sacramentos estão ordenados a este como a seu fim”'.

CAPÍTULO I - OS SACRAMENTOS DA INICIAÇO CRISTÃ
1212 Pelos sacramentos da iniciaço cristã; Batismo, Confirmaço e Eucaristia são lançados os
fundamentos de toda vida cristã. “A participaço na natureza divina, que os homens recebem como dom


mediante a graça de Cristo, apresenta certa analogia com a origem, o desenvolvimento e a sustentaço
da vida natural. Os fiéis, de fato, renascidos no Batismo, são fortalecidos pelo sacramento da Confirmaço
e, depois, nutridos com o alimento da vida eterna na Eucaristia. Assim, por efeito destes sacramentos da
iniciaço cristã, estão em condiçes de saborear cada vez mais os tesouros da vida divina e de progredir
até alcançar a perfeiço da caridade.”

ARTIGO 1
O SACRAMENTO DO BATISMO

1213 O santo Batismo é o fundamento de toda a vida cristã, a porta da vida no Espírito (“vitae
spiritualis janua”) e a porta que abre o acesso aos demais sacramentos. Pelo Batismo somos libertados do
pecado e regenerados como filhos de Deus, tornamo-os membros de Cristo, somos incorporados à Igreja e
feitos participantes de sua missão: “Baptismus está sacramentum regenerationis per aquam in verbo O
Batismo é o sacramento da regeneraço pela água na Palavra”

I. COMO É CHAMADO ESTE SACRAMENTO?
1214 Ele é denominado Batismo com base no rito central pelo qual é realizado: batizar
(“baptizem”, em grego) significa “mergulhar”, “imergir”; o “mergulho” na água simboliza o sepultamento
do catecúmeno na morte de Cristo, da qual com Ele ressuscita como “nova criatura” (2Cor 5,17; Gl 6,15).
1215 Este sacramento é também chamado “o banho da regeneraço e da renovaço no Espírito
Santo” (Tt 3,5), pois ele significa e realiza este nascimento a partir da água e do Espírito, sem o qual
“ninguém pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5).
1216 “Este banho é chamado iluminaço, porque aqueles que recebem este ensinamento
[catequético] têm o espírito iluminado...” Depois de receber no Batismo o Verbo, “a luz verdadeira que
ilumina todo homem” (Jo 1,9), o batizado, “após ter sido iluminado”, se converte em “filho da luz” e em
“luz” ele mesmo (Ef 5,8):
O Batismo é o mais belo e o mais magnífico dom de Deus. (...) chamamo-lo de dom, graça, unço,
iluminaço, veste de incorruptibilidade, banho de regeneraço, selo, e tudo o que existe de mais precioso.
Dom, porque é conferido àqueles que nada trazem; graça, porque é dado até a culpados; Batismo,
porque o pecado é sepultado na água; unço, porque é sagrado e régio (tais são os que são ungidos);
iluminaço, porque é luz resplandecente; veste, porque cobre nossa vergonha; banho, porque lava; selo,
porque nos guarda e é o sinal do senhorio de Deus.

II. O BATISMO NA ECONOMIA DA SALVAÇO
AS PREFIGURAÇES DO BATISMO NA ANTIGA ALIANÇA
1217 Na liturgia da noite pascal, quando da bênço da água batismal, a Igreja faz solenemente
memória dos grandes acontecimentos da história da salvaço que já prefiguravam o mistério do Batismo:
Ó Deus, pelos sinais visíveis dos sacramentos realizais maravilhas invisíveis. Ao longo da história da salvaço,
vós vos servistes da água para fazer-nos conhecer a graça do Batismo.
1218 Desde a origem do mundo, a água, esta criatura humilde e admirável, é a fonte da vida e
da fecundidade. A Sagrada Escritura a vê como “incubada” pelo Espírito de Deus: Já na origem do
mundo, vosso Espírito pairava sobre as águas para que elas recebessem a força de santificar.
1219 A Igreja viu na arca de Noé uma prefiguraço da salvaço pelo Batismo. Por ela, com
efeito, “poucas pessoas, isto é, oito foram salvas da água” (1Pd 3,20): Nas próprias águas do dilúvio
prefigurastes o nascimento da nova humanidade de modo que a mesma água sepultasse os vícios e
fizesse nascer a santidade.
1220 Se a água de fonte simboliza a vida, a água do mar é um símbolo da morte, razão pela
qual o mar podia prefigurar o mistério da cruz. Por este simbolismo, o Batismo significa a comunhão com a
morte de Cristo.


1221 É sobretudo a travessia do Mar Vermelho, verdadeira libertaço de Israel da escravidão do
Egito, que anuncia a libertaço operada pelo Batismo: Concedestes aos filhos de Abraão atravessar o Mar
Vermelho a pé enxuto, para que, livres da escravidão, prefigurassem o povo nascido na água do Batismo.
1222 Finalmente, o Batismo é prefigurado na travessia do Jordão, pela qual o povo de Deus
recebe o dom da terra prometida à descendência de Abraão, imagem da vida eterna. A promessa desta
herança bem-aventurada realiza-se na nova aliança.

O BATISMO DE CRISTO
1223 Todas as prefiguraçes da antiga aliança encontram sua realizaço em Cristo Jesus. Ele
começa sua vida pública depois de ter-se feito batizar por São João Batista no Jordão, e após sua
ressurreiço confere esta missão aos apóstolos: “Ide, pois, fazei que todos os povos se tornem meus
discípulos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-as a observar tudo
quanto vos ordenei” (Mt 28,19-20).
1224 Nosso Senhor submeteu-se voluntariamente ao Batismo de São João, destinado aos
pecadores, para “cumprir toda a justiça (Cf Mt 3,15)”. Este gesto de Jesus é uma manifestaço de seu
“aniquilamento”. O Espírito que pairava sobre as águas da primeira criaço desce então sobre Cristo,
preludiando a nova criaço, e o Pai manifesta Jesus como seu “filho amado”.
1225 Foi em sua Páscoa que Cristo abriu a todos os homens as fontes do Batismo. Com efeito, já
tinha falado da paixão que iria sofrer em Jerusalém como de um “batismo” com o qual devia ser batizado.
O sangue e a água que escorreram do lado traspassado de Jesus crucificado são tipos do Batismo e da
Eucaristia, sacramentos da vida nova: desde então é possível “nascer da água e do Espírito” para entrar
no Reino de Deus (Jo 3,5).
Vê, quando és batizado, donde vem o Batismo, se não da cruz de Cristo, da morte de Cristo. Lá
está todo o mistério: ele sofreu por ti. E nele que és redimido, é nele que és salvo e, por tua vez, te tornas
salvador.

O BATISMO NA IGREJA
1226 A partir do dia de Pentecostes, a Igreja celebrou e administrou o santo Batismo. Com efeito,
São Pedro declara à multidão impressionada com sua pregaço: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja
batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão de vossos pecados. Então recebereis o dom do Espírito
Santo” (At 2,38). Os Apóstolos e seus colaboradores oferecem o Batismo a todo aquele que crer em Jesus:
judeus, tementes a Deus, pagãos. O Batismo aparece sempre ligado à fé: “Crê no Senhor e serás salvo, tu
e a tua casa”, declara São Paulo a seu carcereiro de Filipos. O relato prossegue: “E imediatamente [o
carcereiro recebeu o Batismo, ele e todos os seus” (At 16,31-33).
1227 Segundo o apóstolo São Paulo, pelo Batismo o crente comunga na morte de Cristo; é
sepultado e ressuscita com ele: Batizados em Cristo Jesus, em sua morte é que fomos batizados. Portanto,
pelo Batismo fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos
pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova (Rm 6,3-4). Os batizados “vestiram -se de Cristo”.
Pelo Espírito Santo, o Batismo é um banho que purifica, santifica e justifica.
1228 O Batismo é, pois, um banho de água no qual “a semente incorruptível” da Palavra de Deus
produz seu efeito vivificante. Santo Agostinho dirá do Batismo: “Accedit verbum ad elementum, et fit
Sacramentum - Une-se a palavra ao elemento, e acontece o sacramento”.

III. COMO É CELEBRADO O SACRAMENTO DO BATISMO?
A INICIAÇO CRISTÃ
1229 Tornar-se cristão, eis algo que se realiza desde os tempos dos apóstolos por um itinerário e
uma iniciaço que passa por várias etapas. Este itinerário pode ser percorrido com rapidez ou lentamente.
Dever sempre comportar alguns elementos essenciais: o anúncio da Palavra, o acolhimento do Evangelho
acarretando uma conversão, a profissão de fé, o Batismo, a efusão do Espírito Santo, o acesso à
Comunhão Eucarística.
1230 Esta iniciaço tem variado muito ao longo dos séculos e de acordo com as circunstâncias.
Nos primeiros séculos da Igreja a iniciaço cristã conheceu um grande desenvolvimento com um longo


período de catecumenato e uma seqüncia de ritos preparatórios que balizavam liturgicamente a
caminhada da preparaço catecumenal e que desembocavam na celebraço dos sacramentos da
iniciaço cristã.
1231 Quando o Batismo das crianças se tornou amplamente a forma habitual da celebraço
deste sacramento, esta passou a ser um único ato que integra de maneira muito resumida as etapas
prévias à iniciaço cristã. Por sua própria natureza, o Batismo das crianças exige um catecumenato pós-
batismal. Não se trata somente da necessidade de uma instruço posterior ao Batismo, mas do
desabrochar necessário da graça batismal no crescimento da pessoa. E o lugar próprio do catecismo.
1232 O Concílio Vaticano II restaurou, para a Igreja latina, “o catecumenato dos adultos,
distribuído em várias etapas”. Encontram-se tais ritos no Ordo initiationis christianae adultorum (Ritual da
iniciaço cristã dos adultos). O Concílio por sua vez permitiu que, “além dos elementos de iniciaço
fornecidos pela tradiço cristã, fossem admitidos “em terras de missão estes outros elementos de
iniciaço cristã, cuja prática constatamos em cada povo, na medida em que possam ser adaptados ao
rito cristão”.
1233 Hoje em dia, portanto, em todos os ritos latinos e orientais, a iniciaço cristã dos adultos
começa desde a entrada deles no catecumenato, para atingir seu ponto culminante em uma única
celebraço dos três sacramentos: Batismo, Confirmaço e Eucaristia. Nos ritos orientais a iniciaço cristã
das crianças começa no Batismo, seguido imediatamente pela Confirmaço e pela Eucaristia, ao passo
que no rito romano ela prossegue durante os anos de catequese, para terminar mais tarde com a
Confirmaço e a Eucaristia, ápice de sua iniciaço cristã.

A MISTAGOGIA DA CELEBRAÇO
1234 O significado e a graça do sacramento do Batismo aparecem com clareza nos ritos de sua
celebraço. É acompanhando, com uma participaço atenta, os gestos e as palavras desta celebraço
que os fiéis são iniciados nas riquezas que este sacramento significa e realiza em cada novo batizado.
1235 O sinal-da-cruz no limiar da celebraço, assinala a marca de Cristo naquele que vai
pertencer -lhe e significa a graça da redenço que Cristo nos proporcionou por sua cruz.
1236 O anúncio da Palavra de Deus ilumina com a verdade revelada os candidatos e a
assembléia, e suscita a resposta da fé, inseparável do Batismo. Com efeito, o Batismo é de maneira
especial “o sacramento da fé, uma vez que é a entrada sacramental na vida de fé.
1237 Visto que o Batismo significa a libertaço do pecado e de seu instigador, o Diabo,
pronuncia-se um (ou vários) exorcismo(s) sobre o candidato. Este é ungido com o óleo dos catecúmenos
ou então o celebrante impõe-lhe a mão, e o candidato renuncia explicitamente a satanás. Assim
preparado, ele pode confessar a fé da Igreja, à qual será “confiado” pelo Batismo.
1238 A água batismal é então consagrada por uma oraço de epiclese (seja no próprio
momento, seja na noite pascal). A Igreja pede a Deus que, por seu Filho, o poder do Espírito Santo desça
sobre esta água, para que os que forem batizados nela “nasçam da água e do Espírito” (Jo 3,5).
1239 Segue então o rito essencial do sacramento: o Batismo propriamente dito, que significa e
realiza a morte ao pecado e a entrada na vida da Santíssima Trindade por meio da configuraço ao
mistério pascal de Cristo. O Batismo é realizado da maneira mais significativa pela tríplice imersão na água
batismal. Mas desde a Antigüidade ele pode também ser conferido derramando-se, por três vezes, a água
sobre a cabeça do candidato.
1240 Na Igreja latina, esta tríplice infusão é acompanhada das palavras do ministro: “N..., eu te
batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Nas liturgias orientais, estando o catecúmeno voltado
para o nascente, o ministro diz: “O servo de Deus, N..., é batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo”. E à invocaço de cada pessoa da Santíssima Trindade o ministro mergulha o candidato na água e
o retira dela.
1241 A unço com o santo crisma, óleo perfumado consagrado pelo Bispo, significa o dom do
Espírito Santo ao novo batizado. Este tornou-se um cristão, isto é, “ungido” do Espírito Santo, incorporado a
Cristo, que é ungido sacerdote, profeta e rei.
1242 Na liturgia das Igrejas do Oriente, a unço pós -batismal é o sacramento da Crisma
(Confirmaço). Na liturgia romana, porém, esta primeira unço anuncia outra, a do santo Crisma, que será


feita pelo Bispo: o sacramento da Confirmaço, que, por assim dizer, “confirma” e encerra a unço
batismal.
1243 A veste branca simboliza que o batizado “vestiu-se de Cristo”: ressuscitou com Cristo[ag61] . A
vela, acesa no círio pascal, significa que Cristo iluminou o neófito. Em Cristo, os batizados são “a luz do
mundo” (Mt 5,14). O novo batizado é agora filho de Deus no Filho único. Pode rezar a oraço dos filhos de
Deus: o Pai-Nosso.
1244 A primeira comunhão eucarística. Uma vez feito filho de Deus, revestido da veste nupcial, o
neófito é admitido “ao festim das bodas do Cordeiro” e recebe o alimento da vida nova, o Corpo e o
Sangue de Cristo. As Igrejas orientais mantêm uma consciência viva da unidade da iniciaço cristã dando
a Santa comunhão a todos os novos batizados e confirmados, mesmo às crianças, lembrando-se da
palavra do Senhor: “Deixai vir a mim as crianças, não as impeçais” (Mc 10,14). A Igreja latina, que reserva a
Santa comunhão aos que atingiram a idade da razão, exprime a abertura do Batismo para a Eucaristia
aproximando do altar a criança recém-batizada para a oraço do Pai-Nosso.
1245 A bênço solene conclui a celebraço do Batismo. Por ocasião do batismo de recém-
nascidos, a bênço da mãe ocupa um lugar especial.

IV. QUEM PODE RECEBER O BATISMO?
1246 “ capaz de receber o Batismo toda pessoa ainda não batizada, e somente ela.”

O BATISMO DOS ADULTOS
1247 Desde as origens da Igreja, o Batismo dos adultos é a situaço mais normal nas terras onde o
anúncio do Evangelho é ainda recente. O catecumenato (preparaço para o Batismo) ocupa então um
lugar importante. Sendo iniciaço à fé e à vida cristã, deve dispor para o acolhimento do dom de Deus no
Batismo, na Confirmaço e na Eucaristia.
1248 O catecumenato, ou formaço dos catecúmenos, tem por finalidade permitir a estes últimos,
em resposta à iniciativa divina e em união com uma comunidade eclesial, que levem a conversão e a fé à
maturidade. Trata-se de uma “formaço à vida crista integral (...) pela qual os discípulos são unidos a
Cristo, seu mestre. Por isso, os catecúmenos devem ser iniciados (...) nos mistérios da salvaço e na prática
de uma vida evangélica, e introduzidos, mediante ritos sagrados celebrados em épocas sucessivas, na
vida da fé, da liturgia e da caridade do povo de Deus”.
1249 Os catecúmenos “já estão unidos à Igreja, já pertencem à casa de Cristo, não sendo raro
levarem uma vida de fé, esperança e caridade”. “A mãe Igreja já os envolve como seus em seu amor,
cercando-os de cuidados.”

O BATISMO DAS CRIANÇAS
1250 Por nascerem com uma natureza humana decaída e manchada pelo pecado original,
também as crianças precisam do novo nascimento no Batismo, a fim de serem libertadas do poder das
trevas e serem transferidas para o domínio da liberdade dos filhos de Deus, para a qual todos os homens
são chamados. A gratuidade pura da graça da salvaço é particularmente manifesta no Batismo das
crianças. A Igreja e os pais privariam então a criança da graça inestimável de tomar-se filho de Deus se
não lhe conferissem o Batismo pouco depois do nascimento.
1251 Os pais cristãos hão de reconhecer que esta prática corresponde também à sua funço de
alimentar a vida que Deus confiou a eles.
1252 A prática de batizar as criança s é uma tradiço imemorial da Igreja. É atestada
explicitamente desde o século II. Mas é bem possível que desde o início da pregaço apostólica, quando
“casas” inteiras receberam o Batismo[, também se tenha batizado as crianças.

FÉ E BATISMO
1253 O batismo é o sacramento da fé. Mas a fé tem necessidade da comunidade dos crentes.
Cada um dos fiéis só pode crer dentro da fé da Igreja. A fé que se requer para o Batismo não é uma fé


perfeita e madura, mas um começo, que deve desenvolver-se. Ao catecúmeno ou a seu padrinho é feita
a pergunta: “Que pedis à Igreja de Deus?”. E ele responde: “A fé!”.
1254 Em todos os batizados, crianças ou adultos, a fé deve crescer após o Batismo. E por isso que a
Igreja celebra cada ano, na noite pascal, a renovaço das promessas batismais. A preparaço para o
Batismo leva apenas ao limiar da vida nova. O Batismo é a fonte da vida nova em Cristo, fonte esta da
qual brota toda a vida cristã.
1255 Para que a graça batismal possa desenvolver-se, é importante a ajuda dos pais. Este é
também o papel do padrinho ou da madrinha, que devem ser cristãos firmes, capazes e prontos a ajudar
o novo batizado, criança ou adulto, em sua caminhada na vida cristã. A tarefa deles é uma verdadeira
funço eclesial (“officium”). A comunidade eclesial inteira tem uma parcela de responsabilidade no
desenvolvimento e na conservaço da graça recebida no Batismo.

V. QUEM PODE BATIZAR?
1256 São ministros ordinários do Batismo o Bispo e o presbítero e, na Igreja latina, também o
diácono. Em caso de necessidade, qualquer pessoa, mesmo não batizada, que tenha a intenço exigida,
pode batizar, utilizando a fórmula batismal trinitária. A intenço requerida é querer fazer o que a Igreja faz
quando batiza. A Igreja vê a razão desta possibilidade na vontade salvífica universal de Deus e na
necessidade do Batismo para a salvaço.

VI. A NECESSIDADE DO BATISMO
1257 O Senhor mesmo afirma que o Batismo é necessário para a salvaço. Também ordenou a seus
discípulos que anunciassem o Evangelho e batizassem todas a naçes. O Batismo é necessário, para a
salvaço, para aqueles aos quais o Evangelho foi anunciado e que tiveram a possibilidade de pedir este
sacramento. A Igreja não conhece outro meio senão o Batismo para garantir a entrada na bem-
aventurança eterna; é por isso que cuida de não negligenciar a missão que recebeu do Senhor, de fazer
“renascer da água e do Espírito” todos aqueles que podeis ser batizados. Deus vinculou a salvaço ao
sacramento do Batismo, mas ele mesmo não está vinculado a seus sacramentos.
1258 Desde sempre, a Igreja mantém a firme convicço de que as pessoas que morrem em razão
da fé, sem terem recebido o Batismo, são batizadas por sua morte por e com Cristo. Este Batismo de
sangue, como o desejo do Batismo, acarreta os frutos do Batismo, sem ser sacramento.
1259 Para os catecúmenos que morrem antes de seu Batismo, seu desejo explícito de recebê-lo,
juntamente com o arrependimento de seus pecados e a caridade, garante-lhes a salvaço que não
puderam receber pelo sacramento.
1260 “Sendo que Cristo morreu por todos e que a vocaço última do homem é realmente uma só,
a saber, divina, devemos sustentar que o Espírito Santo oferece a todos, sob forma que só Deus conhece, a
possibilidade de se associarem ao Mistério Pascal.” Todo homem que, desconhecendo o Evangelho de
Cristo e sua Igreja, procura a verdade e pratica a vontade de Deus segundo seu conhecimento dela pode
ser salvo. Pode-se supor que tais pessoas teriam desejado explicitamente o Batismo se tivessem tido
conhecimento da necessidade dele.
1261 Quanto às crianças mortas sem Batismo, a Igreja só pode confiá -las à misericórdia de Deus,
como o faz no rito das exéquias por elas. Com efeito, a grande misericórdia de Deus, “que quer que todos
os homens se salvem” (1Tm 2,4), e a ternura de Jesus para com as crianças, que o levou a dizer: “Deixai as
crianças virem a mim, não as impeçais” (Mc 10,14), nos permitem esperar que haja um caminho de
salvaço para as crianças mortas sem Batismo. Eis por que é tão premente o apelo da Igreja de não
impedir as crianças de virem a Cristo pelo dom do santo Batismo.

VII. A GRAÇA DO BATISMO
1262 Os diferentes efeitos do Batismo são significados pelos elementos sensíveis do rito sacramental.
O mergulho na água faz apelo ao simbolismo da morte e da purificaço, mas também da regeneraço e
da renovaço. Os dois efeitos principais são, pois, a purificaço dos pecados e o novo nascimento no
Espírito Santo.



PARA A REMISSÃO DOS PECADOS...
1263 Pelo Batismo, todos os pecados são perdoados: o pecado original e todos os pecados
pessoais, bem como todas as penas do pecado. Com efeito, naqueles que foram regenerados não resta
nada que os impeça de entrar no Reino de Deus: nem o pecado de Adão, nem o pecado pessoal, nem
as seqüelas do pecado, das quais a mais grave é a separaço de Deus.
1264 No batizado, porém, certas conseqüncias temporais do pecado permanecem, tais como os
sofrimentos, a doença, a morte ou as fragilidades inerentes à vida, como as fraquezas de caráter etc.,
assim como a propensão ao pecado, que a Tradiço chama de concupiscência ou, metaforicamente, o
“incentivo do pecado” (fomes peccati”): “Deixada para os nossos combates, a concupiscência não é
capaz de prejudicar aqueles que, não consentindo nela, resistem com coragem pela graça de Cristo. Mais
ainda: 'um atleta não recebe a coroa se não lutou segundo as regras' (2Tm 2,5).

UMA CRIATURA NOVA
1265 O Batismo não somente purifica de todos os pecados, mas também faz do neófito “uma
criatura nova”, um filho adotivo de Deus que se tornou “participante da natureza divina”, membro de
Cristo e co-herdeiro com ele, templo do Espírito Santo.
1266 A Santíssima Trindade dá ao batizado a graça santificante, a graça da justificaço, a qual
ü torna-o capaz de crer em Deus, de esperar nele e de amá-lo por meio das virtudes teologais;
ü concede-lhe o poder de viver e agir sob a moço do Espírito Santo por seus dons;
ü permite-lhe crescer no bem pelas virtudes morais.
Assim, todo o organismo da vida sobrenatural do cristão tem sua raiz no santo Batismo.

INCORPORADOS À IGREJA, CORPO DE CRISTO
1267 O Batismo faz-nos membros do Corpo de Cristo. “Somos membros uns dos outros” (Ef 4,25). O
Batismo incorpora à Igreja. Das fontes batismais nasce o único povo de Deus da nova aliança, que supera
todos os limites naturais ou humanos das naçes, das culturas, das raças e dos sexos: “Fomos todos
batizados num só Espírito para sermos um só corpo” (1Cor 12,13).
1268 Os batizados tornaram-se “pedras vivas” para a “construço de um edifício espiritual, para
um sacerdócio santo” (1 Pd 2,5). Pelo Batismo, participam do sacerdócio de Cristo, de sua missão profética
e régia; “sois a raça eleita, o sacerdócio real, a naço santa, o povo de sua particular propriedade, a fim
de que proclameis as excelências daquele que vos chamou das trevas para sua luz maravilhosa” (1Pd 2,9).
O Batismo faz participar do sacerdócio comum dos fiéis.
1269 Feito membro da Igreja, o batizado não pertence mais a si mesmo, mas àquele que morreu e
ressuscitou por nós. Logo, é chamado a submeter -se aos outros, a servi-los na comunhão da Igreja, a ser
“obediente e dócil” aos chefes da Igreja e a considerá-los com respeito e afeiço. Assim como o Batismo é
a fonte de responsabilidades e de deveres, o batizado também goza de direitos dentro da Igreja: de
receber os sacramentos, de ser alimentado com a Palavra de Deus e de ser sustentado pelos outros
auxílios espirituais da Igreja.
1270 “Tornados filhos de Deus pela regeneraço (batismal], (os batizados) são obrigados a
professar diante dos homens a fé que pela Igreja receberam de Deus” e a participar da atividade
apostólica e missionária do povo de Deus.

O VÍNCULO SACRAMENTAL DA UNIDADE DOS CRISTÃOS
1271 O Batismo constitui o fundamento da comunhão entre todos os cristãos, também com os que
ainda não estão em comunhão plena com a Igreja católica: “Com efeito, aqueles que crêem em Cristo e
foram validamente batizados acham-se em certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja católica.
(...) Justificados pela fé no Batismo, são incorporados a Cristo e, por isso, com razão, são honrados com o
nome de cristãos e merecidamente reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor”.
“O Batismo, pois, constitui o vínculo sacramental da unidade que liga todos os que foram regenerados por
ele.”



UM SINAL ESPIRITUAL INDELÉVEL...
1272 Incorporado em Cristo pelo Batismo, o batizado é configurado a Cristo. O Batismo sela o
cristão com um sinal espiritual indelével (“character”) de sua pertença a Cristo. Pecado algum apaga esta
marca, se bem que possa impedir o Batismo de produzir frutos de salvaço. Dado uma vez por todas, o
Batismo não pode ser reiterado.
1273 Incorporados à Igreja pelo Batismo, os fiéis receberam o caráter sacramental que os consagra
para o culto religioso cristão. O selo batismal capacita e compromete os crist ãos a servirem a Deus em
uma participaço viva na sagrada liturgia da Igreja e a exercerem seu sacerdócio batismal pelo
testemunho de uma vida santa e de uma caridade eficaz.
1274 O “selo do Senhor” (“Dominicus character”) é o selo com o qual o Espírito Santo nos marcou
“para o dia da redenço” (Ef 4,30). “O Batismo, com efeito, é o selo da vida eterna.” O fiel que tiver
“guardado o selo” até o fim, isto é, que tiver permanecido fiel às exigências de seu Batismo, poderá
caminhar “marcado pelo sinal da fé, com a fé de seu Batismo, à espera da visão feliz de Deus -
consumaço da fé - e na esperança da ressurreiço.

RESUMINDO
1275 A iniciaço cristã realiza-se pelo conjunto de três sacramentos: o Batismo, que é o início da
vida nova; a Confirmaço, que é sua consolidaço e a Eucaristia, que alimenta o discípulo com o Corpo e
o Sangue de Cristo em vista de sua transformaço nele.
1276 “Ide, portanto, e fazei que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome
do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo quanto vos ordenei” (Mt 28,19-20).
1277 O Batismo constitui o nascimento para a vida nova em Cristo. Segundo a vontade do
Senhor, ele é necessário para a salvaço, como a própria Igreja, na qual o Batismo introduz.
1278 O rito essencial do Batismo consiste em mergulhar na água o candidato ou em derramar
água sobre sua cabeça, pronunciando a invocaço da Santíssima Trindade, isto é, do Pai, do Filho e do
Espírito Santo
1279 O fruto do Batismo ou graça batismal é uma realidade rica que comporta: a remissão do
pecado original e de todos os pecados pessoais; o nascimento para a vida nova, pelo qual o homem se
torna filho adotivo do Pai, membro de Cristo, templo do Espírito Santo Com isto mesmo, o batizado é
incorporado à Igreja, corpo de Cristo, e se torna participante do sacerdócio de Cristo.
1280 O Batismo imprime na alma um sinal espiritual indelével, o caráter, que consagra o batizado
ao culto da religião cristã. Em razão do caráter, o Batismo não pode ser reiterado.
1281 Os que morrem por causa da fé, os catecúmenos e todos os homens que, sob o impulso da
graça, sem conhecerem a Igreja, procuram com sinceridade a Deus e se esforçam por cumprir a vontade
dele podem ser salvos, mesmo que não tenham recebido o Batismo.
1282 Desde os tempos mais antigos, o Batismo é administrado às crianças, pois é uma graça e um
dom de Deus que não supõe méritos humanos; as crianças são batizadas na fé da Igreja. A entrada na
vida cristã dá acesso à verdadeira liberdade.
1283 Quanto às crianças mortas sem Batismo, a liturgia da Igreja convida-nos a ter confiança na
misericórdia divina e a orar pela salvaço delas.
1284 Em caso de necessidade, qualquer pessoa pode batizar, desde que tenha a intenço de
fazer o que faz a Igreja, e que derrame água sobre a cabeça do candidato dizendo: “Eu te batizo em
nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

A CELEBRAÇO DO MISTÉRIO CRISTÃO
ARTIGO 2
O SACRAMENTO DA CONFIRMAÇO
1285 Juntamente com o Batismo e a Eucaristia, o sacramento da Confirmaço constitui o conjunto
dos “sacramentos da iniciaço crista cuja unidade deve ser salvaguardada. Por isso, é preciso explicar aos
fiéis que a recepço deste sacramento é necessária à consumaço da graça batismal. Com efeito, “pelo
sacramento da Confirmaço [os fiéis] são vinculados mais perfeitamente à Igreja, enriquecidos de força


especial do Espírito Santo, e assim mais estritamente obrigados à fé que, como verdadeiras testemunhas
de Cristo, devem difundir e defender tanto por palavras como por obras”.

I. A CONFIRMAÇO NA ECONOMIA DA SALVAÇO
1286 No Antigo Testamento os profetas anunciaram que o Espírito do Senhor repousaria sobre o
Messias esperado em vista de sua missão salvífica. A descida do Espírito Santo sobre Jesus por ocasião de
seu Batismo por João Batista foi o sinal de que era Ele quem devia vir, que Ele era o Messias; o Filho de
Deus. Concebido do Espírito Santo, toda a sua vida e toda a sua missão se realizam em uma comunhão
total com o mesmo Espírito, que o Pai lhe dá “sem medida” (Jo 3,34).
1287 Ora, esta plenitude do Espírito não devia ser apenas a do Messias; devia ser comunicada a
todo o povo messiânico. Por várias vezes Cristo prometeu esta efusão do Espírito, promessa que realizou
primeiramente no dia da Páscoa. e em seguida, de maneira mais marcante, no dia de Pentecostes.
Repletos do Espírito Santo, os Apóstolos começam a proclamar “as maravilhas de Deus” (At 2,11), e Pedro
começa a declarar que esta efusão do Espírito é o sinal dos tempos messiânicos. Os que então creram na
pregaço apostólica e que se fizeram batizar também receberam o dom do Espírito Santo.
1288 “Desde então, os apóstolos, para cumprir a vontade de Cristo, comunicaram aos neófitos,
pela imposiço das mãos, o dom do Espírito que leva a graça do Batismo à sua consumaço. E por isso
que na Epístola aos Hebreus ocupa um lugar, entre os elementos da primeira instruço cristã, a doutrina
sobre os batismos e também sobre a imposiço das mãos. A imposiço das mãos é com razão
reconhecida pela tradiço católica como a origem do sacramento da Confirmaço que perpétua, de
certo modo, na Igreja, a graça de Pentecostes.”
1289 Bem cedo, para melhor significar o dom do Espírito Santo, acrescentou-se à imposiço das
mãos uma unço com óleo perfumado (crisma). Esta unço ilustra o nome de “cristão”, que significa
“ungido” e que deriva a sua origem do próprio nome de Cristo, ele que “Deus ungiu com o Espírito Santo”
(At 10,38). E este rito de unço existe até os nossos dias, tanto no Oriente como no Ocidente. Por isso, no
Oriente, este sacramento é chamado Crismaço, unço com crisma, ou mýron, que significa “crisma”. No
Ocidente, o termo Confirmaço sugere que este sacramento, ao mesmo tempo, confirma o Batismo e
consolida a graça batismal.

DUAS TRADIÇES: O ORIENTE E O OCIDENTE
1290 Nos primeiros séculos, a Confirmaço constitui em geral uma só celebraço com o Batismo,
formando com este, segundo a expressão de São Cipriano, um “sacramento duplo”. Entre outros motivos,
a multiplicaço dos batizados de crianças e isto ao longo do ano todo e a multiplicaço das paróquias
(rurais), (multiplicaço) que amplia as dioceses, não permitem mais a presença do Bispo em todas as
celebraçes batismais. No Ocidente, visto que se deseja reservar ao Bispo a complementaço do Batismo,
se instaura a separaço dos dois sacramentos em dois momentos distintos. O Oriente manteve juntos os
dois sacramentos, tanto que a Confirmaço é ministrada pelo presbítero que batiza. Todavia, este não o
pode fazer senão com o “mýron” consagrado por um Bispo.
1291 Um costume da Igreja de Roma facilitou o desenvolvimento da prática ocidental graças a
uma dupla unço com o santo crisma depois do Batismo: realizada já pelo presbítero sobre o neófito, ao
sair este do banho batismal, ela é terminada por uma segunda unço, feita pelo Bispo na fronte de cada
um dos novos batizados. A primeira unço com o santo crisma, a que é dada pelo presbítero,
permaneceu ligada ao rito batismal; ela significa a participaço do batizado nas funçes profética,
sacerdotal e régia de Cristo. Se o Batismo é conferido a um adulto, há uma só unço pós-batismal, a da
Confirmaço.
1292 A prática da Igreja do Oriente sublinha mais a unidade da iniciaço cristã. A da Igreja latina
exprime mais nitidamente a comunhão do novo cristão com seu Bispo, garante e servo da unidade de sua
Igreja, de sua catolicidade e de sua apostolicidade, e, com isto, o vínculo com as origens apostólicas da
Igreja de Cristo.

II. OS SINAIS E O RITO DA CONFIRMAÇO
1293 No rito deste sacramento convém considerar o sinal da unço e aquilo que a unço designa
e imprime: o selo espiritual. A unço, no simbolismo bíblico e antigo, é rica de significados: o óleo é sinal de


abundância e de alegria, ele purifica (unço antes e depois do banho) e torna ágil (unço dos atletas e
dos lutadores), é sinal de cura, pois ameniza as contusões e as feridas, e faz irradiar beleza, saúde e força.
1294 Todos esses significados da unço com óleo voltam a encontrar-se na vida sacramental. A
unço, antes do Batismo, com o óleo dos catecúmen os significa purificaço e fortalecimento; a unço
dos enfermos exprime a cura e o reconforto. A unço com o santo crisma depois do Batismo, na
Confirmaço e na Ordenaço, é o sinal de uma consagraço. Pela Confirmaço, os cristãos, isto é, os que
são ungidos, participam mais intensamente da missão de Jesus e da plenitude do Espírito Santo, de que
Jesus é cumulado, a fim de que toda a vida deles exale “o bom odor de Cristo”
1295 Por esta unço, o confirmando recebe “a marca”, o seio do Espírito Santo O sel o é o símbolo
da pessoa, sinal de sua autoridade, de sua propriedade sobre um objeto - assim, os soldados eram
marcados com o selo de seu chefe, e os escravos, com o de seu proprietário; o selo autentica um ato
jurídico ou um documento e o torna eventualmente secreto.
1296 Cristo mesmo se declara marcado com o selo de seu Pai. Também o cristão está marcado por
um selo: “Aquele que nos fortalece convosco em Cristo e nos dá a unço é Deus, o qual nos marcou com
um selo e colocou em nossos coraçes o penhor do Espírito” (2Cor 1,21 -22; Cf Ef 1,13; 4,30). Este selo do
Espírito Santo marca a pertença total a Cristo, o colocar-se a seu serviço, para sempre, mas também a
promessa da proteço divina na grande provaço escatológica.

A CELEBRAÇO DA CONFIRMAÇO
1297 Um momento importante que antecede a celebraço da Confirmaço, mas que, de certo
modo, faz parte dela, é a consagraço do santo crisma. É o Bispo que, na Quinta-feira Santa, durante a
missa do crisma, consagra o santo crisma para toda a sua diocese. Nas Igrejas do Oriente, esta
consagraço é até reservada ao patriarca:
A liturgia de Antioquia exprime assim a epiclese da consagraço do santo crisma (mýron): [Pai...
enviai o vosso Espírito Santo] sobre nós e sobre este óleo que está diante de nós e consagrai-o, a fim de
que seja para todos os que forem ungidos e marcados por ele: mýron santo, mýron sacerdotal, mýron
régio, unço de alegria, a veste da luz, o manto da salvaço, o dom espiritual, a santificaço das almas e
dos corpos, a felicidade imperecível, o selo indelével, o escudo da fé e o capacete terrível contra todas as
obras do adversário
1298 Quando a Confirmaço é celebrada em separado do Batismo, como ocorre no rito
romano, a liturgia do sacramento começa com a renovaço das promessas do Batismo e com a profissão
de fé dos confirmandos. Assim aparece com clareza que a Confirmaço se situa na seqüncia do Batismo.
Quando um adulto é batizado, recebe imediatamente a Confirmaço e participa da Eucaristia [Cf CIC
cânone 866].
1299 No rito romano, o Bispo estende as mãos sobre o conjunto dos confirmandos, gesto que, desde
o tempo dos Apóstolos, é o sinal do dom do Espírito. Cabe ao Bispo invocar a efusão do Espírito: Deus Todo-
Poderoso, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que pela água e pelo Espírito Santo fizestes renascer estes
vossos servos, libertando-os do pecado, enviai-lhes o Espírito Santo Paráclito; dai-lhes, Senhor, o espírito de
sabedoria e inteligência, o espírito de conselho e fortaleza, o espírito da ciência e piedade - e enchei -os
do espírito de vosso temor. Por Cristo Nosso Senhor.
1300 Segue-se o rito essencial do sacramento. No rito latino, “o sacramento da Confirmaço é
conferido pela unço do santo crisma na fronte, feita com a imposiço da mão, e por estas palavras:
'Accipe signaculun doni Spitus Sancti, 'N, recebe, por este sinal, o selo do Espírito Santo, o dom de Deus.
Nas Igrejas orientais de rito bizantino, a unço do µ??s? faz-se depois de uma oraço de epiclese sobre as
partes mais significativas do corpo: a fronte, os olhos, o nariz, os ouvidos, os lábios, o peito, as costas, as
mãos e os pés, sendo cada unço acompanhada da fórmula: “Sf?a??? d??e?? ? ?e?µats? `?????”, “Selo
do dom do Espírito Santo”.
1301 O ósculo da paz, que encerra o rito do sacramento, significa e manifesta a comunhão eclesial
com o Bispo e com todos os fiéis.

III. OS EFEITOS DA CONFIRMAÇO
1302 Da celebraço ressalta que o efeito do sacramento da Confirmaço é a efusão especial do
Espírito Santo, como foi outorgado outrora aos apóstolos no dia de Pentecostes.


1303 Por isso, a confirmaço produz crescimento e aprofundamento da graça batismal:
ü enraíza-nos mais profundamente na filiaço divina, que nos faz dizer “Abbá, Pai” (Rm 8,15),
ü une-nos mais solidamente a Cristo;
ü aumenta em nós os dons do Espírito Santo;
ü torna mais perfeita nossa vinculaço com a Igreja;
ü dá-nos uma força especial do Espírito Santo para difundir e defender a fé pela palavra e pela
aço, como verdadeiras testemunhas de Cristo, para confessar com valentia o nome de Cristo e para
nunca sentir vergonha em relaço à cruz:
Lembra-te, portanto, de que recebeste o sinal espiritual, o Espírito de sabedoria e de inteligência, o
Espírito de conselho e força, o Espírito de conhecimento e de piedade, o Espírito do santo temor, e
conserva o que recebeste. Deus Pai te marcou com seu sinal, Cristo Senhor te confirmou e colocou em teu
coraço o penhor do Espírito.
1304 Como o Batismo, do qual é consumaço, a Confirmaço é dada uma só vez, pois imprime
na alma uma marca espiritual indelével, o “caráter”, que é o sinal de que Jesus Cristo assinalou um cristão
com o selo de seu Espírito, revestindo-o da força do alto para ser sua testemunha.
1305 O “caráter” aperfeiçoa o sacerdócio comum dos fiéis, recebido no Batismo, e “o confirmado
recebe o poder de confessar a fé de Cristo publicamente, e como que em virtude de um ofício (quasi ex
ofício)”.

IV. QUEM PODE RECEBER ESTE SACRAMENTO?
1306 Todo batizado ainda não confirmado pode e deve receber o sacramento da Confirmaço.
Pelo fato de o Batismo, a Confirmaço e a Eucaristia formarem uma unidade, segue-se que “os fiéis têm a
obrigaço de receber tempestivamente esse sacramento”, pois sem a Confirmaço e a Eucaristia, o
sacramento do Batismo é sem dúvida válido e eficaz, mas a iniciaço cristã permanece inacabada.
1307 O costume latino há séculos indica “a idade da razão” como ponto de referência para
receber a Confirmaço. Todavia, em perigo de morte deve-se confirmar as crianças, mesmo que ainda
não tenham atingido o uso da razão.
1308 Se às vezes se fala da Confirmaço como o “sacramento da maturidade cristã, nem por isso
se deve confundir a idade adulta da fé com a idade adulta do crescimento natural, nem esquecer que a
graça batismal é uma graça de eleiço gratuita e imerecida que não precisa de uma “ratificaço” para
tornar-se efetiva. Santo Tomás recorda isto: A idade do corpo não constitui um prejuízo para a alma. Assim,
mesmo na infância, o homem pode receber a perfeiço da idade espiritual da qual fala o livro da
Sabedoria (4,8): “Velhice venerável não é longevidade, nem é medida pelo número de anos”. Assim é que
muitas crianças, graças à força do Espírito Santo que haviam recebido, lutaram corajosamente e até o
sangue por Cristo.
1309 A preparaço para a Confirmaço deve visar conduzir o cristão a uma união mais íntima
com Cristo, a uma familiaridade mais intensa com o Espírito Santo, sua aço, seus dons e seus chamados, a
fim de poder assumir melhor as responsabilidades apostólicas da vida cristã. Por isso, a catequese da
Confirmaço se empenhará em despertar o senso da pertença à Igreja de Jesus Cristo, tanto à Igreja
universal como à comunidade paroquial. Esta última tem uma responsabilidade peculiar na preparaço
dos confirmandos.
1310 Para receber a Confirmação é preciso estar em estado de graça. Convém recorrer ao
sacramento da Penitência para ser o purificado em vista do dom do Espírito Santo Uma oraço mais
intensa deve preparar para receber com docilidade e disponibilidade a força e as graças do Espírito
Santo.
1311 Para a Confirmaço, como para o Batismo, convém que os candidatos procurem a ajuda
espiritual de um padrinho ou de uma madrinha. Convém que seja o mesmo do Batismo, a fim de marcar
bem a unidade dos dois sacramentos.



V. O MINISTRO DA CONFIRMAÇ O
1312 O ministro originário da Confirmaço é ó Bispo. No Oriente, é normalmente o presbítero
batizante que também ministra imediatamente a Confirmaço em uma única e mesma celebraço. Mas
o faz com o santo crisma consagrado pelo patriarca ou pelo Bispo, o que exprime a unidade apostólica
da Igreja, cujos vínculos são reforçados pelo sacramento da Confirmaço. Na Igreja latina aplica -se a
mesma disciplina nos batizados de adultos, ou quando se admite à comunhão plena com a Igreja um
batizado de outra comunidade cristã que não recebeu validamente o sacramento da Confirmaço
1313 No rito latino, o ministro ordinário da confirmaço é o Bispo. Embora o Bispo possa, quando
houver necessidade, conceder aos presbíteros a faculdade de administrar a Confirmaço, é conveniente
que ele mesmo o confira, não esquecendo que é por este motivo que a celebraço da Confirmaço foi
separada temporalmente do Batismo. Os Bispos são os sucessores dos Apóstolos, receberam a plenitude
do sacramento da Ordem. A administraço deste sacramento pelos Bispos marca bem que ele tem como
efeito unir aqueles que o receberam mais intimamente à Igreja, às suas origens apostólicas e à sua missão
de dar testemunho de Cristo.
1314 Se um cristão estiver em perigo de morte, todo presbítero pode dar-lhe a Confirmaço. Com
efeito, a Igreja não quer que nenhum de seus filhos, mesmo se de tenra idade, deixe este mundo sem ter-
se tornado perfeito pelo Espírito Santo com o dom da plenitude de Cristo.

RESUMINDO
1315 “Tendo ouvido que a Samaria acolhera a palavra de Deus, os Apóstolos, que estavam em
Jerusalém, enviaram-lhes Pedro e João. Estes, descendo até lá, oraram por eles, a fim de que recebessem
o Espírito Santo Pois ele ainda não descera sobre nenhum deles, mas somente haviam sido batizados em
nome do Senhor Jesus. Então começaram a impor-lhes as mãos, e eles recebiam o Espírito Santo” (At 8,14-
17).
1316 A Confirmaço aperfeiçoa a graça batismal; é o sacramento que dá o Espírito Santo para
enraizar-nos mais profundamente na filiaço divina, incorporar-nos mais firmemente a Cristo, tornar mais
sólida a nossa vinculaço com a Igreja, associar-nos mais à sua missão e ajudar-nos a dar testemunho da
fé cristã pela palavra, acompanhada das obras.
1317 A Confirmaço, como o Batismo, imprime na alma do cristão um sinal espiritual ou caráter
indelével; razão pela qual só se pode receber este sacramento uma vez na vida.
1318 No Oriente, este sacramento é administrado imediatamente depois do Batismo; é seguido da
participaço na Eucaristia, tradiço que põe em destaque a unidade dos três sacramentos da iniciaço
cristã. Na Igreja latina administra-se este sacramento quando se atinge a idade da razão, e normalmente
se reserva sua celebraço ao Bispo, significando assim que este sacramento corrobora o vínculo eclesial
1319 Um candidato à Confirmaço que tiver atingido a idade da razão deve professar a fé, estar
em estado de graça, ter a intenço de receber o sacramento e estar preparado para assumir sua funço
de discípulo e de testemunha de Cristo, na comunidade eclesial e nas ocupaçes temporais.
1320 O rito essencial da Confirmaço é a unço com o santo crisma na fronte do batizado (no
Oriente, também sobre outros órgãos dos sentidos), com a imposiço da mão do ministro e as palavras:
“Accipe signaculum doni Spiritus Sancti”, “Recebe, por este sinal, o Dom do Espírito Santo”, no rito romano,
e “Signaculum doni Spiritus Sancti”, “Selo do dom do Espírito Santo”, no rito bizantino.
1321 Quando a Confirmaço é celebrada em separado do Batismo, sua vinculaço com este e
expressa, entre outras coisas, pela renovaço dos compromissos batismais. A celebraço da confirmaço
no decurso da Eucaristia contribui para sublinhar a unidade dos sacramentos da iniciaço cristã.

A CELEBRAÇO DO MISTÉRIO CRISTÃO
ARTIGO 3
O SACRAMENTO DA EUCARISTIA

1322 A santa Eucaristia conclui a iniciaço cristã. Os que foram elevados à dignidade do
sacerdócio régio pelo Batismo e configurados mais profundamente a Cristo pela Confirmaço, estes, por
meio da Eucaristia, participam com toda a comunidade do próprio sacrifício do Senhor.


1323 “Na última ceia, na noite em que foi entregue, nosso Salvador instituiu o Sacrifício Eucarístico
de seu Corpo e Sangue. Por ele, perpetua pelos séculos, até que volte, o sacrifício da cruz, confiando
destarte à Igreja, sua dileta esposa, o memorial de sua morte e ressurreiço: sacramento da piedade, sinal
da unidade, vínculo da caridade, banquete pascal em que Cristo é recebido como alimento, o espírito é
cumulado de graça e nos é dado o penhor da glória futura.”

I. A EUCARISTIA - FONTE E ÁPICE DA VIDA ECLESIAL
1324 A Eucaristia é “fonte e ápice de toda a vida cristã. “Os demais sacramentos, assim como
todos os ministérios eclesiásticos e tarefas apostólicas, se ligam à sagrada Eucaristia e a ela se ordenam.
Pois a santíssima Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, a saber, o próprio Cristo, nossa Páscoa.”
1325 “A comunhão de vida com Deus e a unidade do povo de Deus, pelas quais a Igreja é ela
mesma, a Eucaristia as significa e as realiza. Nela est á o clímax tanto da aço pela qual, em Cristo, Deus
santifica o mundo, como do culto que no Espírito Santo os homens prestam a Cristo e, por ele, ao Pai.”
1326 Finalmente, pela Celebraço Eucarística ]a nos unimos a liturgia do céu e antecipamos a vida
eterna, quando Deus ser tudo em todos (1Cor 15,28).
1327 Em sua palavra, a Eucaristia é o resumo e a suma de nossa fé: “Nossa maneira de pensar
concorda com a Eucaristia, e a Eucaristia, por sua vez, confirma nossa maneira de pensar”.

II. COMO SE CHAMA ESTE SACRAMENTO?
1328 A riqueza inesgotável deste sacramento exprime-se nos diversos nomes que lhe são dados.
Cada uma destas designaçes evoca alguns de seus aspectos. Ele é chamado: Eucaristia, porque é aço
de graças a Deus. As palavras “eucharistein” (Lc 22,19; 1 Cor 11,24) e “eulogein” (Mt 26,26; Mc 14,22)
lembram as bênços judaicas que proclamam sobretudo durante a refeiço as obras de Deus: a criaço,
a redenço e a santificaço.
1329 Ceia do Senhor, pois se trata da ceia que o Senhor fez com seus discípulos na véspera de sua
paixão, e da antecipaço da ceia das bodas do Cordeiro na Jerusalém celeste.
Fraço do Pão, porque este rito, próprio da refeiço judaica, foi utilizado por Jesus quando
abençoava e distribuía o pão como presidente da mesa, sobretudo por da ocasião. Ultima Ceia. É por
este gesto que os discípulos o reconhecerão após a ressurreiço, e é com esta expressão que os primeiros
cristãos designarão suas assembléias eucarísticas.
Com isso querem dizer que todos os que comem do único pão partido, Cristo, entram em
comunhão com ele e já não formam senão um só corpo nele.
Assembléia eucarística (synaxxis, pronuncie “sináxis”), porque a Eucaristia é celebrada na
assembléia dos fiéis, expressão visível da Igreja.
1330 Memorial da Paixão e da Ressurreiço do Senhor. Santo Sacrifício, porque atualiza o único
sacrifício de Cristo Salvador e inclui a oferenda da Igreja; ou também santo sacrifício da Missa, “sacrifício
de louvor” (Hb 13,15), sacrifício espiritual, sacrifício puro e santo, pois realiza e supera todos os sacrifícios da
Antiga Aliança.
Santa e divina Liturgia, porque toda a liturgia da Igreja encontra seu centro e sua expressão mais
densa na celebraço deste sacramento; é no mesmo sentido que se chama também celebraço dos
Santos Mistérios. Fala-se também do Santíssimo Sacramento, porque é o sacramento dos sacramentos.
Com esta denominaço designam -se as espécies eucarísticas guardadas no tabernáculo.
1331 Comunhão, porque é por este sacramento que nos unimos a Cristo, que nos toma
participantes de seu Corpo e de seu Sangue para formarmos um só corpo; denomina-se ainda as “coisas
santas: ta hagia (pronuncia -se “ta háguia” e significa “coisas santas”); sancta (coisas santas” este é o
sentido primeiro da “comunhão dos santos” de que fala o Símbolo dos Apóstolos pão dos anjos, pão do
céu, remédio de imortalidade[ag29] , viático...
1332 Santa [§30] Missa, porque a liturgia na qual se realizou o mistério da salvaço termina com o
envio dos fiéis (“missio”: missão, envio) para que cumpram a vontade de Deus em sua vida cotidiana.

III. A EUCARISTIA NA ECONOMIA DA SALVAÇO


OS SINAIS DO PÃO E DO VINHO
1333 Encontram -se no cerne da celebraço da Eucaristia o pão e o vinho, os quais, pelas
palavras de Cristo e pela invocaço do Espírito Santo, se tornam o Corpo e o Sangue de Cristo. Fiel à
ordem do Senhor, a Igreja continua fazendo, em sua memória, até a sua volta gloriosa, o que ele fez na
véspera de sua paixão: “Tomou o pão...” “Tomou o cálice cheio de vinho...” Ao se tomarem
misteriosamente o Corpo e o Sangue de Cristo, os sinais do pão e do vinho continuam a significar também
a bondade da criaço. Assim, no ofertório damos graças ao Criador pelo pão e pelo vinho, fruto “do
trabalho do homem”, mas antes “fruto da terra” e “da videira”, dons do Criador. A Igreja vê neste gesto de
Melquisedec, rei e sacerdote, que “trouxe pão e vinho” (Gn 14,18), uma prefiguraço de sua própria
oferta.
1334 Na antiga aliança, o pão e o vinho são oferecidos em sacrifício entre as primícias da terra,
em sinal de reconhecimento ao Criador. Mas eles recebem também um novo significado no contexto do
êxodo: os pães ázimos que Israel come cada ano na Páscoa comemoram a pressa da partida libertadora
do Egito; a recordaço do maná do deserto há de lembrar sempre a Israel que ele vive do pão da Palavra
de Deus. Finalmente, o pão de todos os dias é o fruto da Terra Prometida, penhor da fidelidade de Deus às
suas promessas. O “cálice de bênço” (1Cor 10,16), no fim da refeiço pascal dos judeus, acrescenta à
alegria festiva do vinho uma dimensão escatológica: da espera messiânica do restabelecimento de
Jerusalém. Jesus instituiu sua Eucaristia dando um sentido novo e definitivo à bênço do Pão e do Cálice.
1335 O milagre da multiplicaço dos pães, quando o Senhor proferiu a bênção, partiu e distribuiu
os pães a seus discípulos para alimentar a multidão, prefigura a superabundância deste único pão de sua
Eucaristia. O sinal da água transformada em vinho em Caná já anuncia a hora da glorificaço de Jesus.
Manifesta a realizaço da ceia das bodas no Reino do Pai, onde os fiéis beberão o vinho novo,
transformado no Sangue de Cristo.
1336 O primeiro anúncio da Eucaristia dividiu os discípulos, assim como o anúncio da paixão os
escandalizou: “Essa palavra é dura! Quem pode escutá-la?” (Jo 6,60). A Eucaristia e a cruz são pedras de
tropeço. É o mesmo mistério, e ele não cessa de ser ocasião de divisão. “Vós também quereis ir embora?”
(Jo 6,67). Esta pergunta do Senhor ressoa através dos séculos como convite de seu amor a descobrir que só
Ele tem “as palavras da vida eterna” (Jo 6,68) e que acolher na fé o dom de sua Eucaristia é acolher a Ele
mesmo.

A INSTITUIÇO DA EUCARISTIA
1337 Tendo amado os seus, o Senhor amou-os até o fim. Sabendo que chegara a hora de partir
deste mundo para voltar a seu Pai, no decurso de uma refeiço lavou-lhes os pés e deu -lhes o
mandamento do amor. Para deixar-lhes uma garantia deste amor, para nunca afastar-se dos seus e para
fazê-los participantes de sua Páscoa, instituiu a Eucaristia como memória de sua morte e de sua
ressurreiço, e ordenou a seus apóstolos que a celebrassem até a sua volta, “constituindo-os então
sacerdotes do Novo Testamento”.
1338 Os três Evangelhos sinópticos e São Paulo nos transmitiram o relato da instituiço da
Eucaristia; por sua vez, São João nos relata as palavras de Jesus na sinagoga de Cafarnaum, palavras que
preparam a instituiço da Eucaristia: Cristo designa-se como o pão da vida, descido do Céu.
1339 Jesus escolheu o tempo da Páscoa para realizar o que tinha anunciado em Cafarnaum: dar
a seus discípulos seu Corpo e seu Sangue: Veio o dia dos ázimos, quando devia ser imolada a páscoa.
Jesus enviou então Pedro e João, dizendo: “Ide preparar-nos a Páscoa para comermos” ... Eles foram (...) e
prepararam a Páscoa. Quando chegou a hora, ele se pôs à mesa com seus apóstolos e disse-lhes: “Desejei
ardentemente comer esta páscoa convosco antes de sofrer; pois eu vos digo que já não a comerei até
que ela se cumpra no Reino de Deus”... E tomou um pão, deu graças, partiu-o e distribuiu-o a eles dizendo:
“Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória”. E, depois de comer, fez o mesmo
com o cálice dizendo: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que é derramado em favor de vós”
(Lc 22,7-20).
1340 Ao celebrar a última Ceia com seus apóstolos durante a refeiço pascal, Jesus deu seu
sentido definitivo à páscoa judaica. Com efeito, a passagem de Jesus a seu Pai por sua Morte e sua
Ressurreiço, a Páscoa nova, é antecipada na ceia e celebrada na Eucaristia que realiza a Páscoa
judaica e antecipa a Páscoa final da Igreja na glória do Reino.



“FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM”
1341 O mandamento de Jesus de repetir seus gestos e suas palavras “até que ele volte” não
pede somente que se recorde de Jesus e do que ele fez. Visa á celebraço litúrgica, pelos apóstolos e
seus sucessores, do memorial de Cristo, de sua vida, de sua Morte, de sua Ressurreiço e de sua intercessão
junto ao Pai.
1342 Desde o início, a Igreja foi fiel ao mandato do Senhor. Da Igreja de Jerusalém se diz: Eles
eram perseverantes ao ensinamento dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fraço do pão e às oraçes.
(...) Dia após dia, unânimes, mostravam-se assíduos no templo e partiam o pão pelas casas, tomando o
alimento com alegria e simplicidade de coraço (At 2,42.46).
1343 Era sobretudo “no primeiro dia da semana”, isto é, no domingo, o dia da Ressurreiço de
Jesus, que os cristãos se reuniam “para partir o pão” (At 20,7). Desde aqueles tempos até os nossos dias, a
celebraço da Eucaristia perpetuou-se, de sorte que hoje a encontramos em toda parte na Igreja, com a
mesma estrutura fundamental. Ela continua sendo o centro da vida da Igreja.
1344 Assim, de celebraço em celebraço, anunciando o Mistério Pascal de Jesus “até que ele
venha” (1 Cor 11,26), o povo de Deus em peregrinaço “avança pela porta estreita da cruz[ag52] ” em
direço ao banquete celeste, quando todos os eleitos se sentarão à mesa do Reino.




IV. A CELEBRAÇO LITÚRGICA DA EUCARISTIA
A MISSA DE TODOS OS SÉCULOS

1345 Desde o século II temos o testemunho de S. Justiço Mártir sobre as grandes linhas do
desenrolar da Celebraço Eucarística, que permaneceram as mesmas até os nossos dias para
todas as grandes famílias litúrgicas. Assim escreve, pelo ano de 155, para explicar ao imperador
pagão Antonino Pio (138-161) o que os cristãos fazem:
“No dia 'do Sol', como é chamado, reúnem-se num mesmo lugar os habitantes, quer das
cidades, quer dos campos. Lêem-se, na medida em que o tempo o permite, ora os comentários
dos Apóstolos, ora os escritos dos Profetas. Depois, quando o leitor terminou, o que preside toma
a palavra para aconselhar e exortar à imitaço de tão sublimes ensinamentos. A seguir, pomo-
nos todos de pé e elevamos nossas preces por nós mesmos (...) e por todos os outros, onde quer
que estejam, a fim de sermos de fato justos por nossa vida e por nossas açes, e fiéis aos
mandamentos, para assim obtermos a salvaço eterna.
Quando as oraçes terminaram, saudamo-nos uns aos outros com um ósculo. Em seguida,
leva-se àquele que preside aos irmãos pão e um cálice de água e de vinho misturados.
Ele os toma e faz subir louvor e glória ao Pai do universo, no nome do Filho e do Espírito
Santo e rende graças (em grego: eucharístia, que significa 'aço de graças' longamente pelo
fato de termos sido julgados dignos destes dons.
Terminadas as oraçes e as açes de graças, todo o povo presente prorrompe numa
aclamaço dizendo: Amém.
Depois de o presidente ter feito a aço de graças e o povo ter respondido, os que entre
nós se chamam diáconos distribuem a todos os que estão presentes pão, vinho e água
'eucaristizados' e levam (também) aos ausentes“.
1346 A liturgia da Eucaristia desenrola-se segundo uma estrutura fundamental que se
conservou ao longo dos séculos até nossos dias. Desdobra-se em dois grandes momentos que
formam uma unidade básica:
ü a convocaço, a Liturgia da Palavra, com as leituras,
ü a homilia e a oraço universal;
ü a Liturgia Eucarística, com a apresentaço do pão e do vinho, a aço de graças
consecratória e a comunhão.
Liturgia da Palavra e Liturgia Eucarística constituem juntas “um só e mesmo ato do culto”;
com efeito, a mesa preparada para nós na Eucaristia é ao mesmo tempo a da Palavra de Deus
e a do Corpo do Senhor.
1347 Por acaso não é exatamente esta a seqüncia da Ceia Pascal de Jesus
ressuscitado com seus discípulos? Estando a caminho, explicou-lhes as Escrituras, e em seguida,
colocando-se à mesa com eles, “tomou o pão, abençoou-o, depois partiu-o e distribuiu-o a
eles”.

A SEQÜNCIA DA CELEBRAÇO
1348 Todos se reúnem. Os cristãos acorrem a um mesmo lugar para a Assembléia
Eucarística, encabeçados pelo próprio Cristo, que é o ator principal da Eucaristia. Ele é o sumo
sacerdote da Nova Aliança. É ele mesmo quem preside invisivelmente toda Celebraço
Eucarística. É representando-o que o Bispo ou o presbítero (agindo “em representaço de Cristo-
Cabeça”) preside a assembléia, toma a palavra depois das leituras, recebe as oferendas e
profere a oraço eucarística. Todos têm sua parte ativa na celebraço, cada um a seu modo: os


leitores, os que trazem as oferendas, os que dão a comunhão e todo o povo, cujo Amém
manifesta a participaço.
1349 A Liturgia da Palavra comporta “os escritos dos profetas”, isto é, o Antigo
Testamento, e “as memórias dos Apóstolos”, isto é, as epístolas e os Evangelhos; depois da
homilia, que exorta a acolher esta palavra como ela verdadeiramente é, isto é, como Palavra de
Deus, e a pô-la em prática, vêm as intercessões por todos os homens, de acordo com a palavra
do Apóstolo: “Eu recomendo, pois, antes de tudo, que se façam pedidos, oraçes, súplicas e
açes de graças por todos os homens, pelos reis e todos os que detêm a autoridade” (1Tm 2,1- 2).
1350 A apresentaço das oferendas (o ofertório): trazem-se então ao altar, por vezes em
procissão, o pão e o vinho que serão oferecidos pelo sacerdote em nome de Cristo no Sacrifício
Eucarístico e ali se tornarão o Corpo e o Sangue de Cristo. Este é o próprio gesto de Cristo na
última ceia, “tomando pão e um cálice”. “Esta oblaço, só a Igreja a oferece, pura, ao Criador,
oferecendo-lhe com aço de graças o que provém de sua criaço. A apresentaço das
oferendas ao altar assume o gesto de Melquisedec e entrega os dons do Criador nas mãos de
Cristo. E ele que, em seu sacrifício, leva à perfeiço todos os intentos humanos de oferecer
sacrifícios.
1351 Desde os inícios, os cristãos levam, com o pão e o vinho para a Eucaristia, seus dons
para repartir com os que estão em necessidade. Este costume da coleta, sempre atual, inspira-se
no exemplo de Cristo que se fez pobre para nos enriquecer: Os que possuem bens em
abundância e o desejam, dão livremente o que lhes parece bem, e o que se recolhe é entregue
àquele que preside. Este socorre os órfãos e viúvas e os que, por motivo de doença ou qualquer
outra razão, se encontram em necessidade, assim como os encarcerados e os imigrantes; numa
palavra, ele socorre todos os necessitados.
1352 A anáfora. Com a Oraço Eucarística, oraço de aço de graças e de
consagraço, chegamos ao coraço e ao ápice da celebraço. No prefácio, a Igreja rende
graças ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo, por todas as suas obras, pela criaço, a redenço, a
santificaço. Toda a comunidade junta-se então a este louvor incessante que a Igreja celeste, os
anjos e todos os santos cantam ao Deus três vezes santo.
1353 Na epiclese ela pede ao Pai que envie seu Espírito Santo (ou o poder de sua
bênço sobre o pão e o vinho, para que se tornem, por seu poder, o Corpo e o Sangue de Jesus
Cristo, e para que aqueles que tomam parte na Eucaristia sejam um só corpo e um só espírito
(certas tradiçes litúrgicas colocam a epiclese depois da anamnese). No relato da instituiço, a
força das palavras e da aço de Cristo e o poder do Espírito Santo tornam sacramentalmente
presentes, sob as espécies do pão e do vinho, o Corpo e o Sangue de Cristo, seu sacrifício
oferecido na cruz uma vez por todas.
1354 Na anamnese que segue, a Igreja faz memória da Paixão, da Ressurreiço e da volta
gloriosa de Cristo Jesus; ela apresenta ao Pai a oferenda de seu Filho que nos reconcilia com ele.
Nas intercessões, a Igreja exprime que a Eucaristia é celebrada em comunhão com toda
a Igreja do céu e da terra, dos vivos e dos falecidos, e na comunhão com os pastores da Igreja,
o Papa, o Bispo da diocese, seu presbitério e seus diáconos, e todos os Bispos do mundo inteiro
com suas igrejas.
1355 Na comunhão, precedida pela oraço do Senhor e pela fraço do pão, os fiéis
recebem “o pão do céu” e “o cálice da salvaço”, o Corpo e o Sangue de Cristo, que se
entregou “para a vida do mundo” (Jo 6,51): Porque este pão e este vinho foram, segundo a
antiga expressão, “eucaristizados”, “chamamos este alimento de Eucaristia, e a ninguém é
permitido participar na Eucaristia senão àquele que admitindo como verdadeiros os nossos
ensinamentos e tendo sido purificado pelo Batismo para a remissão dos pecados e para o novo
nascimento, levar uma vida como Cristo ensinou”.

V. O SACRIFÍCIO SACRAM ENTAL: AÇO DE GRAÇAS, MEMORIAL, PRESENÇA


1356 Se os cristãos celebram a Eucaristia desde as origens, e sob uma forma que, em sua
substância, não sofreu alteraço através da grande diversidade dos tempos e das liturgias, é
porque temos consciência de estar mos ligados ao mandato do Senhor, dado na véspera de sua
paixão: “Fazei isto em memória de mim” (1 Cor 11 ,24-25).
1357 Cumprimos esta ordem do Senhor celebrando o memorial de seu sacrifício. Ao
fazermos isto, oferecemos ao Pai o que ele mesmo nos deu: os dons de sua criaço, o pão e o
vinho, que pelo poder do Espírito Santo e pelas palavras de Cristo se tornaram o Corpo e o
Sangue de Cristo, o qual, assim, se torna real e misteriosamente presente.
1358 Por isso, temos de considerar a Eucaristia:
ü como aço de graças e louvor ao Pai;
ü como memorial sacrifical de Cristo e de seu corpo;
ü corno presença de Cristo pelo poder de sua palavra e de seu Espírito.

A AÇO DE GRAÇAS E O LOUVOR AO PAI
1359 A Eucaristia, sacramento de nossa salvaço realizada por Cristo na cruz, é também
um sacrifício de louvor em aço de graças pela obra da criaço. No sacrifício eucarístico, toda
a criaço amada por Deus é apresentada ao Pai por meio da Morte e da Ressurreiço de Cristo.
Por Cristo, a Igreja pode oferecer o sacrifício de louvor em aço de graças por tudo o que Deus
fez de bom, de belo e de justo na criaço e na humanidade.
1360 A Eucaristia é um sacrifício de aço de graças ao Pai, unia bênço pela qual a
Igreja exprime seu reconhecimento a Deus por todos os seus benefícios, por tudo o que ele
realizou por meio da criaço, da redenço e da santificaço. Eucaristia significa, primeiramente,
“aço de graças”.
1361 A Eucaristia é também o sacrifício de louvor por meio do qual a Igreja canta a
glória de Deus em toda a criaço. Este sacrifício de louvor só é possível através de Cristo: Ele une
os fiéis à sua pessoa, ao seu louvor e à sua intercessão, de sorte que o sacrifício de louvor ao Pai
é oferecido por Cristo e com ele para ser aceito nele.

O MEMORIAL SACRIFICAL DE CRISTO E DE SEU CORPO, A IGREJA
1362 A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, a atualizaço e a oferta
sacramental de seu único sacrifício na liturgia da Igreja, que é o corpo dele. Em todas as oraçes
eucarísticas encontramos, depois das palavras da instituiço, uma oraço chamada anamnese
ou memorial.
1363 No sentido da Sagrada Escritura, o memorial não é somente a lembrança dos
acontecimentos dos acontecimento do passado, mas a proclamaço das maravilhas que Deus
realizou por todos os homens[ag80] . A celebraço litúrgica desses acontecimentos toma-os de
certo modo presentes e atuais. É desta maneira que Israel entende sua libertaço do Egito: toda
vez que é celebrada a Páscoa, os acontecimentos do êxodo tomam-se presentes à memória
dos crentes, para que estes conformem sua vida a eles.
1364 O memorial recebe um sentido novo no Novo Testamento. Quando a Igreja celebra
a Eucaristia, rememora a páscoa de Cristo, e esta se toma presente: o sacrifício que Cristo
ofereceu uma vez por todas na cruz torna-se sempre atual: “Todas as vezes que se celebra no
altar o sacrifício da cruz, pelo qual Cristo nessa páscoa foi imolado, efetua-se a obra de nossa
redenço.”
1365 Por ser memorial da páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O
caráter sacrifical da Eucaristia é manifestado nas próprias palavras da instituiço: “Isto é o meu
Corpo que será entregue por vós”, e “Este cálice é a nova aliança em meu Sangue, que vai ser


derramado por vós” (Lc 22,19-20). Na Eucaristia, Cristo dá este mesmo corpo que, entregou por
nós na cruz, o próprio sangue que “derramou por muitos para remissão dos pecados” (Mt 26,28).
1366 A Eucaristia é, portanto, um sacrifício porque representa (toma presente) o Sacrifício
da Cruz, porque dele é memorial e porque aplica seus frutos: [Cristo] nosso Deus e Senhor
ofereceu-se a si mesmo a Deus Pai uma única vez, morrendo como intercessor sobre o altar da
cruz, a fim de realizar por eles (os homens) uma redenço eterna. Todavia, como sua morte não
devia pôr fim ao seu sacerdócio (Hb 7,24.27), na última ceia, “na noite em que foi entregue (1
Cor 11,13), quis deixar à Igreja, sua esposa muito amada, um sacrifício visível (como o reclama a
natureza humana) em que seria representado (feito presente) o sacrifício cruento que ia realizar-
se uma vez por todas uma única vez na cruz, sacrifício este cuja memória haveria de perpetuar-
se até o fim dos séculos (l Cor 11,23) e cuja virtude salutar haveria de aplicar -se à remissão dos
pecados que cometemos cada dia.
1367 O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício: “ uma só e
mesma vítima, é o mesmo que oferece agora pelo ministério dos sacerdotes, que se ofereceu a si
mesmo então na cruz. Apenas a maneira de oferecer difere”. “E porque neste divino sacrifício
que se realiza na missa, este mesmo Cristo, que se ofereceu a si mesmo uma vez de maneira
cruenta no altar da cruz, está contido e é imolado de maneira incruenta, este sacrifício é
verdadeiramente propiciatório”.
1368 A Eucaristia é também o sacrifício da Igreja. A Igreja, que é o corpo de Cristo,
participa da oferta de sua Cabeça. Com Cristo, ela mesma é oferecida inteira. Ela se une à sua
intercessão junto ao Pai por todos os homens. Na Eucaristia, o sacrifício de Cristo se torna
também o sacrifício dos membros de seu Corpo. A vida dos fiéis, seu louvor, seu sofrimento, sua
oraço, seu trabalho são unidos aos de Cristo e à sua oferenda total, e adquirem assim um valor
novo. O sacrifício de Cristo, presente sobre o altar, dá a todas as geraçes de cristãos a
possibilidade de estarem unidos à sua oferta. Nas catacumbas, a Igreja é muitas vezes
representada como uma mulher em oraço, com os braços largamente abertos em atitude de
orante. Como Cristo que estendeu os braços na cruz, ela se oferece e intercede por todos os
homens, por meio dele, com ele e nele.
1369 A Igreja inteira está unida à oferta e à intercessão de Cristo. Encarregado do
ministério de Pedro na Igreja, o Papa está associado a cada celebraço da Eucaristia em que
ele é mencionado como sinal e servidor da unidade da Igreja universal. O Bispo do lugar é
sempre responsável pela Eucaristia, mesmo quando é presidida por um presbítero; seu nome é
nela pronunciado para significar que é ele quem preside a Igreja particular, em meio ao
presbitério e com a assistência dos diáconos. A comunidade intercede assim por todos os
ministros que, por ela e com ela, oferecem o Sacrifício Eucarístico: Que se considere legítima só
esta Eucaristia que se faz sob a presidência do Bispo ou daquele a quem este encarregou. É pelo
ministério dos presbíteros que se consuma o sacrifício espiritual dos fiéis, em união com o sacrifício
de Cristo, único mediador, oferecido em nome de toda a Igreja na Eucaristia pelas mãos dos
presbíteros, de forma incruenta e sacramenta até que o próprio Senhor venha.
1370 À oferenda de Cristo unem-se não somente os membros que estão ainda na terra,
mas também os que já estão na glória do céu: é em comunhão com a santíssima Virgem Maria e
fazendo memória dela, assim como de todos os santos e santas, que a Igreja oferece o Sacrifício
Eucarístico. Na Eucaristia, a Igreja, com Maria, está como que ao pé da cruz, unida à oferta e à
intercessão de Cristo.
1371 O Sacrifício Eucarístico é também oferecido pelos fiéis defuntos “que morreram em
Cristo e não estão ainda plenamente purificados”, para que possam entrar na luz e na paz de
Cristo:
Enterrai este corpo onde quer que seja! Não tenhais nenhuma preocupaço por ele! Tudo
o que vos peço é que vos lembreis de mim no altar do Senhor onde quer que estejais.
Em seguida, oramos [na anáfora] pelos santos padres e Bispos que faleceram, e em geral
por todos os que adormeceram antes de nós acreditando que haverá muito grande benefício


para as almas, em favor das quais a súplica é oferecida, enquanto se encontra presente a santa
e tão temível vítima. (...) Ao apresentarmos a Deus nossas súplicas pelos que adormeceram,
ainda que fossem pecadores, nós (...) apresentamos o Cristo imolado por nossos pecados,
tomando propício, para eles e para nós, o Deus amigo dos homens.
1372 Santo Agostinho resumiu admiravelmente esta doutrina que nos incita a uma
participaço cada vez mais completa no sacrifício de nosso redentor, que celebramos na
Eucaristia:
Esta cidade remida toda inteira, isto é, a assembléia e a sociedade dos santos, é
oferecida a Deus como um sacrifício universal pelo Sumo Sacerdote que, sob a forma de
escravo, chegou a ponto de oferecer-se por nós em sua paixão, para fazer de nós o corpo de
uma Cabeça tão grande. (...) Este é o sacrifício dos cristãos: “Em muitos, ser um só corpo em
Cristo” (Rm 12,5). E este sacrifício, a Igreja não cessa de reproduzi-lo no sacramento do altar bem
conhecido pelos fiéis, onde se vê que naquilo que oferece, se oferece a si mesma.

A PRESENÇA DE CRISTO PELO PODER DE SUA PALAVRA E DO ESPÍRITO SANTO
1373 “Cristo Jesus, aquele que morreu, ou melhor, que ressuscitou, aquele que está à
direita de Deus e que intercede por nós” (Rm 8,34), está presente de múltiplas maneiras em sua
Igreja): em sua Palavra, na oraço de sua Igreja, “lá onde dois ou três estão reunidos em meu
nome” (Mt 18,20), nos pobres, nos doentes, nos presos, em seus sacramentos, dos quais ele é o
autor, no sacrifício da missa e na pessoa do ministro. Mas “sobretudo (está presente) sob as
espécies eucarísticas”.
1374 O modo de presença de Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele eleva a
Eucaristia acima de todos os sacramentos e faz com que da seja “como que o coroamento da
vida espiritual e o fim ao qual tendem todos os sacramentos”. No santíssimo sacramento da
Eucaristia estão “contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o Corpo e o Sangue
juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo
todo” . “Esta presença chama -se 'real' não por exclusão, como se as outras não fossem 'reais',
mas por antonomásia, porque é substancial e porque por ela Cristo, Deus e homem, se toma
presente completo.”
1375 É pela conversão do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo que este se
torna presente em tal sacramento. Os Padres da Igreja afirmaram com firmeza a fé da Igreja na
eficácia da Palavra de Cristo e da aço do Espírito Santo para operar esta conversão. Assim, São
João Crisóstomo declara: Não é o homem que faz com que as coisas oferecidas se tomem
Corpo e Sangue de Cristo, mas o próprio Cristo, que foi crucificado por nós. O sacerdote, figura
de Cristo, pronuncia essas palavras, mas sua eficácia e a graça são de Deus. Isto é o meu Corpo,
diz ele. Estas palavras transformam as coisas oferecidas.

E Santo Ambrósio afirma acerca desta conversão:
Estejamos bem persuadidos de que isto não é o que a natureza formou, mas o que a
bênço consagrou, e que a força da bênço supera a da natureza, pois pela bênço a própria
natureza mudada. Por acaso a palavra de Cristo, que conseguiu fazer do nada o que não
existia, não poderia mudar as coisas existentes naquilo que ainda não eram? Pois não é menos
dar às coisas a sua natureza primeira do que mudar a natureza delas.
1376 O Concílio de Trento resume a fé católica ao declarar “Por ter Cristo, nosso Redentor,
dito que aquilo que oferecia sob a espécie do pão era verdadeiramente seu Corpo, sempre se
teve na Igreja esta convicço, que O santo Concílio declara novamente: pela consagraço do
pão e do vinho opera-se a mudança de toda a substância do pão na substância do Corpo de
Cristo Nosso Senhor e de toda a substância do vinho na substância do seu Sangue; esta
mudança, a Igreja católica denominou-a com acerto e exatidão transubstanciaço”.


1377 A presença eucarística de Cristo começa no momento da consagraço e dura
também enquanto subsistirem as espécies eucarísticas. Cristo está presente inteiro em cada uma
das espécies e inteiro em cada uma das partes delas, de maneira que a fraço do pão não
divide o Cristo.
1378 O culto da Eucaristia. Na liturgia da missa, exprimimos nossa fé na presença real de
Cristo sob as espécies do pão e do vinho, entre outras coisas, dobrando os joelhos, ou inclinando-
nos profundamente em sinal de adoraço do Senhor. “A Igreja católica professou e professa este
culto de adoraço que é devido ao sacramento da Eucaristia não somente durante a Missa,
mas também fora da celebraço dela, conservando com o máximo cuidarem com solenidade,
levando-as em procissão.
1379 A santa reserva (tabernáculo) era primeiro destinada a guardar dignamente a
Eucaristia para que pudesse ser levada, fora da missa, aos doentes e aos ausentes. Pelo
aprofundamento da fé na presença real de Cristo em sua Eucaristia, a Igreja tomou consciência
do sentido da, adoraço silenciosa do Senhor presente sob as espécies eucarísticas. É por isso
que o tabernáculo deve ser colocado em um local particularmente digno da igreja; deve ser
construído de tal forma que sublinhe e manifeste a verdade da presença real de Cristo no santo
sacramento.
1380 É altamente conveniente que Cristo tenha querido ficar presente à sua Igreja
desta maneira singular. Visto que estava para deixar os seus em sua forma visível, Cristo quis dar-
nos sua presença sacramental; já que ia oferecer-se na cruz para nos salvar, queria que
tivéssemos o memorial do amor com o qual nos amou “até o fim” (Jo 13,1), até o dom de sua
vida. Com efeito, em sua presença eucarística Ele permanece misteriosamente no meio de nós
como aquele que nos amou e que se entregou por nós[ag119] , e o faz sob os sinais que
exprimem e comunicam este amor: A Igreja e o mundo precisam muito do culto eucarístico.
Jesus nos espera neste sacramento do amor. Não regateemos o tempo para ir encontrá-lo na
adoraço, na contemplaço cheia de fé e aberta a reparar as faltas graves e os delitos do
mundo. Que a nossa adoraço nunca cesse!
1381 “A presença do verdadeiro Corpo de Cristo e do verdadeiro Sangue de Cristo
neste sacramento 'não se pode descobrir pelos sentidos, diz Santo Tomás, mas só com fé,
baseada na autoridade de Deus'. Por isso, comentando o texto de São Lucas 22,19 (“Isto é o meu
Corpo que será entregue por vós”), São Cirilo declara: 'Não perguntes se é ou não verdade;
aceita com fé as palavras do Senhor, porque ele, que é a verdade, não mente”:
Com devoço te adoro,
Latente divindade.
Que, sob essas figuras,
Te escondes na verdade;
Meu Coraço de pleno
Sujeito a ti, obedece,
Pois que, em te contemplando,
Todo ele desfalece.
A vista, o tato, o gosto,
Certo, jamais te alcança;
Pela audiço somente
Te crêem com segurança;
Creio em tudo o que disse
De Deus Filho o Cordeiro.


Nada é mais da verdade
Que tal voz, verdadeiro.

VI. O BANQUETE PASCAL
1382 A missa é ao mesmo tempo e inseparavelmente o memorial sacrifical no qual se
perpetua o sacrifício da cruz, e o banquete sagrado da comunhão no Corpo e no Sangue do
Senhor. Mas a celebraço do Sacrifício Eucarístico está toda orientada para a união íntima dos
fiéis com Cristo pela comunhão. Comungar é receber o próprio Cristo que se ofereceu por nós.
1383 O altar, em tomo do qual a Igreja está reunida na celebraço da Eucaristia,
representa os dois aspectos de um mesmo mistério: o altar do sacrifício e a mesa do Senhor, e isto
tanto mais porque o altar cristão é o símbolo do próprio Cristo, presente no meio da assembléia
de seus fiéis, ao mesmo tempo como vítima oferecida por nossa reconciliaço e como alimento
celeste que se dá a nós. “Com efeito, que é o altar de Cristo senão a imagem do Corpo de
Cristo?” - diz Santo Ambrósio; e alhures: “O altar representa o Corpo [de Cristo], e o Corpo de
Cristo está sobre o altar”. A liturgia exprime esta unidade do sacrifício e da comunhão em muitas
oraçes. Assim, a Igreja de Roma ora em sua anáfora: Nós vos suplicamos que ela seja levada à
vossa presença, para que, ao participarmos deste altar, recebendo o Corpo e o Sangue de
vosso Filho, sejamos repletos de todas as graças e bênços do céu.

“TOMAI E COMEI DELE TODOS VÓS”: A COMUNHÃO
1384 O Senhor nos convida insistentemente a recebê-lo no sacramento da Eucaristia: “Em
verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a Carne do Filho do homem e não beberdes o
seu Sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6,53).
1385 Para responder a este convite, devemos pr eparar-nos para este momento tão
grande e tão santo. São Paulo exorta a um exame de consciência: “Todo aquele que comer do
pão ou beber do cálice do Senhor indignadamente será réu do Corpo e do Sangue do Senhor.
Por conseguinte que cada um examine a si mesmo antes de comer desse pão e beber desse
cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a própria
condenaço” (1 Cor 11,27-29). Quem está consciente de um pecado grave deve receber o
sacramento da reconciliaço antes de receber a comunhão.
1386 Diante da grandeza deste sacramento, o fiel só pode repetir humildemente e com
fé ardente a palavra do Centurião: “Domine, non sum dignus ut mires sub tectum meum sed
tantum dic verbo et sanabitur anima mea - Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha
morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”. E na divina liturgia de São João Crisóstomo os fiéis
oram no mesmo espírito:
Da vossa ceia mística fazei-me participar hoje, ó Filho de Deus. Pois não revelarei o Mistério
aos vossos inimigos, nem vos darei o beijo de Judas. Mas, como o ladrão, clamo a vós: Lembrai-
vos de mim, Senhor, no vosso reino.
1387 A fim de se prepararem convenientemente para receber este sacramento, os fiéis
observarão o jejum prescrito em sua Igreja (Cf CIC cânone 919). A atitude corporal (gestos,
roupa) há de traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que Cristo se torna
nosso hóspede.
1388 É consentâneo com o próprio sentido da Eucaristia que os fiéis, se tiverem as
disposiçes requeridas, comunguem quando participarem da missa: “Recomenda-se muito
aquela participaço mais perfeita à missa, pela qual os fiéis, depois da comunhão do sacerdote,
comungam o Corpo do Senhor do mesmo sacrifício”.
1389 A Igreja obriga os fiéis “a participar da divina liturgia aos domingos e nos dias
festivos” e a receber a Eucaristia pelo menos uma vez ao ano, se possível no tempo pascal,
preparados pelo sacramento da reconciliaço. Mas recomenda vivamente aos fiéis que


recebam a santa Eucaristia nos domingos e dias festivos, ou ainda com maior freqüncia, e até
todos os dias.
1390 Graças à presença sacramental de Cristo sob cada uma das espécies, a
comunhão somente sob a espécie do pão permite receber todo o fruto de graça da Eucaristia.
Por motivos pastorais, esta maneira de comungar estabeleceu-se legitimamente como a mais
habitual no rito latino. “A santa comunhão realiza-se mais plenamente sob sua forma de sinal
quando se faz sob as duas espécies. Pois sob esta forma o sinal do banquete eucarístico é mais
plenamente realçado.” Nos ritos orientais, esta é a forma habitual de comungar.

OS FRUTOS DA COMUNHÃO
1391 A comunhão aumenta a nossa união com Cristo. Receber a Eucaristia na comunhão
traz como fruto principal a união intima o com Cristo Jesus. Pois o Senhor diz: “Quem come a
minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56). A vida em Cristo
tem seu fundamento no banquete eucarístico: “Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo
pelo Pai, também aquele que de mim se alimenta v iverá por mim” (Jo 6,57):
Quando nas festas do Senhor os fiéis recebem o Corpo do Filho, proclamam uns aos outros
a Boa Nova de que é dado o penhor da vida, como quando o anjo disse a Maria de Mágdala:
“Cristo ressuscitou!”. Eis que agora também a vida e a ressurreiço são conferidas àquele que
recebe o Cristo[ag144] .
1392 O que o alimento material produz em nossa vida corporal, a comunhão o realiza
de maneira admirável em nossa vida espiritual. A comunhão da Carne de Cristo ressuscitado,
“vivificado pelo Espírito Santo e vivificante”, conserva, aumenta e renova a vida da graça
recebida no Batismo. Este crescimento da vida cristã precisa ser alimentado pela Comunhão
Eucarística, pão da nossa peregrinaço, até o momento da morte, quando nos ser dado como
viático.
1393 A comunhão separa-nos do pecado. O Corpo de Cristo que recebemos na
comunhão é “entregue por nós”, e o Sangue que bebemos é “derramado por muitos para
remissão dos pecados”. Por isso a Eucaristia não pode unir-nos a Cristo sem purificar -nos ao
mesmo tempo dos pecados cometidos e sem preservar-nos dos pecados futuros:
“Toda vez que o recebermos, anunciamos a morte do Senhor”. Se anunciamos a morte do
Senhor, anunciamos a remissão dos pecados. Se, toda vez que o seu Sangue é derramado, o é
para a remissão dos pecados, devo recebê-lo sempre, para que perdoe sempre os meus
pecados. Eu que sempre peco, devo ter sempre um remédio.
1394 Como o alimento corporal serve para restaurar a perda das forças, a Eucaristia
fortalece a caridade que, na vida diária, tende a arrefecer; e esta caridade vivificada apaga os
pecados veniais. Ao dar -se a nós, Cristo reaviva nosso amor e nos torna capazes de romper as
amarras desordenadas com as criaturas e de enraizar-nos nele:
Visto que Cristo morreu por nós por amor, quando fazemos memória de sua morte no
momento do sacrifício pedimos que o amor nós seja concedido pela vinda do Espírito Santo;
pedimos humildemente que em virtude deste amor, pelo qual Cristo quis morrer por nós, nós
também, recebendo a graça do Espírito Santo, possamos considerar o mundo como crucificado
para nós, e sejamos nós mesmos crucificados para o mundo. (...)Tendo recebido o dom de amor
morramos para o pecado e vivamos para Deus.
1395 Pela mesma caridade que acende em nós, a Eucaristia nos preserva dos pecados
mortais futuros. Quanto mais participarmos da vida de Cristo e quanto mais progredirmos em sua
amizade, tanto mais difícil de ele separar -nos pelo pecado mortal. A Eucaristia não é destinada a
perdoar pecados mortais. Isso é próprio do sacramento da reconciliaço. É próprio da Eucaristia
ser o sacramento daqueles que estão na comunhão plena da Igreja.


1396 A unidade do corpo místico: a Eucaristia faz a Igreja. Os que recebem a Eucaristia
estão unidos mais intimamente a Cristo. Por isso mesmo, Cristo os une a todos os fiéis em um só
corpo, a Igreja. A comunhão renova, fortalece, aprofunda esta incorporaço à Igreja, realizada
já pelo Batismo. No Batismo fomos chamados a constituir um só corpo. A Eucaristia realiza este
apelo: “O cálice de bênço que abençoamos não é comunhão com o Sangue de Cristo? O
pão que partimos não é comunhão com o Corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós,
embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão” (1Cor 10,16-
17).
Se sois o corpo e os membros de Cristo, é o vosso sacramento que é colocado sobre a
mesa do Senhor, recebeis o vosso sacramento. Respondeis “Amém” (“sim, é verdade!”) àquilo
que recebeis, e subscreveis ao responder. Ouvis esta palavra: “o Corpo de Cristo”, e respondeis:
“Amém”. Sede, pois, um membro de Cristo, para que o vosso Amém seja verdadeiro.
1397 A Eucaristia compromete com os pobres. Para receber na verdade o Corpo e o
Sangue de Cristo entregues por nós, devemos reconhecer o Cristo nos mais pobres, seus irmãos:
Degustaste o Sangue do Senhor e não reconheces sequer o teu irmão. Desonras esta
própria mesa, não julgando digno de compartilhar do teu alimento aquele que foi julgado digno
de participar desta mesa. Deus te libertou de todos os teus pecados e te convidou para esta
mesa. E tu, nem mesmo assim, te tornaste mais misericordioso.
1398 A Eucaristia e a unidade dos cristãos. Diante da grandeza deste mistério, Santo
Agostinho exclama: “ sacramento da piedade! Ó sacramento da unidade! Ó vínculo da
caridade!”. Quanto mais dolorosas se fazem sentir as divisões da Igreja que rompem a
participaço comum à mesa do Senhor, tanto mais prementes são as oraçes ao Senhor para
que voltem os dias da unidade completa de todos os que nele crêem.
1399 As Igrejas orientais que não estão em comunhão plena com a Igreja católica
celebram a Eucaristia com um grande amor. “Essas Igrejas, embora separadas, têm verdadeiros
sacramentos - principalmente, em virtude da sucessão apostólica, o sacerdócio e a Eucaristia -,
que as unem intimamente a nós.” Por isso certa comunhão in sacris na Eucaristia é “não somente
possível, mas até aconselhável, em circunstâncias favoráveis e com a aprovaço da autoridade
eclesiástica”.
1400 As comunidades eclesiais oriundas da Reforma, separadas da Igreja católica, “em
razão sobretudo da ausência do sacramento da ordem, não conservaram a substância própria e
integral do mistério eucarístico”. Por este motivo a intercomunhão eucarística com essas
comunidades não é possível para a Igreja católica. Todavia, essas comunidades eclesiais,
“quando fazem memória, na Santa ceia, da morte e da ressurreiço do Senhor, professam que a
vida consiste na comunhão com Cristo e esperam sua volta gloriosa”.
1401 Quando urge uma necessidade grave, a critério do ordinário, os ministros católicos
podem dar os sacramentos Eucaristia, Penitência, Unço dos Enfermos) aos outros cristãos que
não estão em plena comunhão com a Igreja católica, mas que os pedem espontaneamente: é
preciso então que manifestem a fé católica no tocante a esses sacramentos e que apresentem
as disposiçes exigidas.

VII. A Eucaristia - “penhor da glória futura”
1402 Em uma oraço, a Igreja aclama o mistério da Eucaristia: “O sacrum convivium in
quo Christus sumitur. Recolitur memoria passionis eius; mens impletur gratia etffiturae gloriae nobis
pignus datur - O sagrado banquete, em que de Cristo nos alimentamos. Celebra-se a memória
de sua Paixão, o espírito é repleto de graças e se nos dão penhor da glória”. Se a Eucaristia é o
memorial da Páscoa do Senhor, se por nossa comunhão ao altar somos repletos “de todas as
graças e bênços do céu”, a Eucaristia também a antecipaço da glória celeste.
1403 Quando da última Ceia, o Senhor mesmo dirigia o olhar de seus discípulos para a
realizaço da Páscoa no Reino de Deus: “Desde agora não beberei deste fruto da videira até


aquele dia em que convosco beberei o vinho novo no Reino de meu Pai” (Mt 26,29). Toda vez
que a Igreja celebra a Eucaristia lembra-se desta promessa, e seu olhar se volta para “aquele
que vem” (Ap 1,4). Em sua oraço, suspira por sua vinda: “Maran athá (1 Cor 16,22), “Vem,
Senhor Jesus” (Ap 22,20), “Venha vossa graça e passe este mundo!”
1404 A Igreja sabe que, desde agora, o Senhor vem em sua Eucaristia, e que ali Ele está,
no meio de nós. Contudo, esta presença é velada. Por isso, celebramos a Eucaristia
“expectantes beatam spem et adventum Salvatoris nostri Jesu Christi - aguardando a bem-
aventurada esperança e a vinda de nosso Salvador Jesus Cristo”, pedindo “saciar -nos
eternamente da vossa glória, quando enxugardes toda lágrima dos nossos olhos. Então,
contemplando-vos como sois, seremos para sempre semelhantes a vós e cantaremos sem cessar
os vossos louvores, por Cristo, Senhor nosso”.
1405 Desta grande esperança, a dos céus novos e da terra nova nos quais habitará a
justiça, não temos penhor mais seguro, sinal mais manifesto do que a Eucaristia. Com efeito, toda
vez que é celebrado este mistério, “opera-se a obra da nossa redenço” e nós “partimos um
mesmo pão, que é remédio de imortalidade, antídoto não para a morte, mas para a vida eterna
em Jesus Cristo”.

RESUMINDO
1406 Jesus disse: “Eu sou o pão vivo, descido do céu. Quem comer deste pão viverá
eternamente...... Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem vida eterna. (...)
permanece em mim e eu nele” (Jo 6,51.54.56).
1407 A Eucaristia é o coraço e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua
Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e de aço de graças oferecido uma vez
por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvaço sobre o seu
corpo, que é a Igreja.
1408 A Celebraço Eucarística comporta sempre: a proclamaço da Palavra de Deus,
a aço de graças a Deus Pai por todos os seus benefícios, sobretudo pelo dom de seu Filho, a
consagraço do pão e do vinho e a participaço no banquete litúrgico pela recepço do
Corpo e do Sangue do Senhor. Estes elementos constituem um só e mesmo ato de culto.
1409 A Eucaristia é o memorial da páscoa de Cristo: isto é, da obra da salvaço
realizada pela Vida, Morte e Ressurreiço de Cristo, obra esta tornada presente pela aço
litúrgica.
1410 É Cristo mesmo, sumo sacerdote eterno da nova aliança, que, agindo pelo
ministério dos sacerdotes, oferece o sacrifício eucarístico. E é também o mesmo Cristo, realmente
presente sob as espécies do pão e do vinho, que é a oferenda do Sacrifício Eucarístico.
1411 Só os sacerdotes validamente ordenados podem presidir a Eucaristia e consagrar o
pão e o vinho para que se tornem a Corpo e o Sangue do Senhor.
1412 Os sinais essenciais do Sacramento Eucarístico são o pão de trigo e o vinho de uva,
sobre os quais é invocada a bênço da Espírito Santo, e o sacerdote pronuncia as palavras da
consagraço ditas por Jesus durante a ultima ceia: “Isto é o meu Corpo entregue por vós. (...)
Este é o cálice do meu Sangue (...)”
1413 Por meio da consagraço opera-se a transubstanciaço do pão e do vinho no
Corpo e no Sangue de Cristo. Sob as espécies consagradas do pão e do vinho, Cristo mesmo,
vivo e glorioso está presente de maneira verdadeira, real e substancial, seu Corpo e seu Sangue,
com sua alma e sua divindade.
1414 Enquanto sacrifício, a Eucaristia é também oferecida em reparaço dos pecados
dos vivos e dos defuntos, e para obter de Deus benefícios espirituais ou temporais.


1415 Quem quer receber a Cristo na comunhão eucarística deve estar em estado de
graça. Se alguém tem consciência de ter pecado mortalmente, não deve comungar a
Eucaristia sem ter recebido previamente a absolviço no sacramento da penitência.
1416 A santa comunhão do Corpo e do Sangue de Cristo aumenta a união do
comungante com o Senhor, perdoa-lhe os pecados veniais e o preserva dos pecados graves. Por
serem reforçados os laços de caridade entre o comungante e Cristo, a recepço deste
sacramento reforça a unidade da Igreja, corpo místico de Cristo.
1417 A Igreja recomenda vivamente aos fiéis que recebam a Santa Comunhão quando
participam da celebraço da Eucaristia; impõe-lhes a obrigaço de comungar pelo menos uma
vez por ano.
1418 Visto que Cristo mesmo está presente no Sacramento do altar, é preciso honrá-lo
com um culto de adoraço. “A visita ao Santíssimo Sacramento é uma prova de gratidão, um
sinal de amor e um dever de adoraço para com Cristo, nosso Senhor.”
1419 Tendo Cristo passado deste mundo ao Pai, dá-nos na Eucaristia o penhor da glória
junto dele: a participaço no Santo Sacrifício nos identifica com o seu coraço, sustenta as nossa
forças ao longo da peregrinação desta vida, faz-nos desejar a vida eterna e nos une já à Igreja
do céu, à santa Virgem Maria e a todos os santos.

OS SACRAMENTOS DE CURA
1420 Pelos sacramentos da iniciaço cristã, o homem recebe a vida nova de Cristo.
Ora, esta vida nós a trazemos “em vasos de argila” (2Cor 4,7). Agora, ela ainda se encontra
“escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3). Estamos ainda em “nossa morada terrestre”, sujeitos ao
sofrimento, à doença e à morte. Esta nova vida de filhos de Deus pode se tornar debilitada e até
perdida pelo pecado.
1421 O Senhor Jesus Cristo, médico de nossas almas e de nossos corpos, que remiu os
pecados do paralítico e restituiu-lhe a saúde do corpo, quis que sua Igreja continuasse, na força
do Espírito Santo, sua obra de cura e de salvaço, também junto de seus próprios membros. É
esta a finalidade dos dois sacramentos de cura: o sacramento da Penitência e o sacramento da
Unço dos Enfermos.

ARTIGO 4
O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA E DA RECONCILIAÇO

1422 “Aqueles que se aproximam do sacramento da Penitência obtêm da misericórdia
divina o perdão da ofensa feita a Deus e ao mesmo tempo são reconciliados com a Igreja que
feriram pecando, e a qual colabora para sua conversão com caridade exemplo e oraçes.”

I. COMO SE CHAMA ESTE SACRAMENTO?
1423 Chama -se sacramento da Conversão, pois realiza sacramentalmente o convite de
Jesus à conversão, o caminho de volta ao Pai, do qual a pessoa se afastou pelo pecado.
Chama-se sacramento da Penitência porque consagra um esforço pessoal e eclesial de
conversão, de arrependimento e de satisfaço do cristão pecador.
1424 É chamado sacramento da Confissão porque a declaraço, a confissão dos
pecados diante do sacerdote é um elemento essencial desse sacramento. Num sentido
profundo esse sacramento também é uma “confissão”, reconhecimento e louvor da santidade
de Deus e de sua misericórdia para com o homem pecador. Também é chamado sacramento


do perdão porque pela absolviço sacramental do sacerdote Deus concede “o perdão e a
paz”
É chamado sacramento da Reconciliaço porque dá ao pecador o amor de Deus que
reconcilia: “Reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20). Quem vive do amor misericordioso de Deus
está pronto a responder ao apelo do Senhor: “Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão” (Mt
5,24).

II. POR QUE UM SACRAMENTO DA RECONCILIAÇO APÓS O BATISMO?
1425 “Vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em nome do
Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus” (1 Cor 6,11). É preciso tomar consciência da
grandeza do dom de Deus que nos é oferecido nos sacramentos da iniciaço cristã para
compreender até que ponto o pecado é algo que deve ser excluído daquele que se “vestiu de
Cristo”. Mas o apóstolo São João também diz: “Se dissermos: “Não temos pecado”, enganamo-
nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1Jo 1,8). E o próprio Senhor nos ensinou a
rezar: “Perdoa-nos os nossos pecados” (Lc 11,4), vinculando o perdão de nossas ofensas ao
perdão que Deus nos conceder de nossos pecados.
1426 A conversão a Cristo, o novo nascimento pelo Batismo, o dom do Espírito Santo, o
Corpo e o Sangue de Cristo recebidos como alimento nos tornaram “santos e irrepreensíveis
diante dele” (Ef 1,4), como a própria Igreja, esposa de Cristo, é “santa e irrepreensível” (Ef 5,27).
Entretanto, a nova vida recebida na iniciaço cristã não suprimiu a fragilidade e a fraqueza da
natureza humana, nem a inclinaço ao pecado, que a tradiço chama de concupiscência,
que continua nos batizados para prová-los no combate da vida cristã, auxiliados pela graça de
Cristo. É o combate da conversão para chegar à santidade e à vida eterna, para a qual somos
incessantemente chamados pelo Senhor.

III. A CONVERSÃO DOS BATIZADOS
1427 Jesus convida à conversão. Este apelo é parte essencial do anúncio do Reino:
“Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho”
(Mc 1,15). Na pregaço da Igreja este apelo é feito em primeiro lugar aos que ainda não
conhecem a Cristo e seu Evangelho. Além disso, o Batismo é o principal lugar da primeira e
fundamental conversão. É pela fé na Boa Nova e pelo Batismo [ag16] que se renuncia ao mal e
se adquire a salvaço, isto é, a remissão de todos os pecados e o dom da nova vida.
1428 Ora o apelo de Cristo à conversão continua a soar na vida dos cristãos. Esta
segunda conversão é uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja, que “reúne em seu próprio seio
os pecadores” e que “e ao mesmo tempo santa e sempre, na necessidade de purificar -se, busca
sem cessar a penitência e a renovaço”. Este esforço de conversão não é apenas uma obra
humana. E o movimento do “coraço contrito” atraído e movido pela graça a responder ao
amor misericordioso de Deus que nos amou primeiro.
1429 Comprova-o a conversão de 5. Pedro após a tríplice negaço de seu mestre. O
olhar de infinita misericórdia de Jesus provoca lágrimas de arrependimento, depois da
ressurreiço do Senhor, a afirmaço, três vezes reiterada, de seu amor por ele. A segunda
conversão também possui uma dimensão comunitária. Isto aparece no apelo do Senhor a toda
uma Igreja: “Converte-te!” (Ap 2,5.16).
Santo Ambrósio, referindo-se às duas conversões, diz que na Igreja “existem a água e as
lágrimas: a água do Batismo e as lágrimas da penitência”.

IV. A PENITÊNCIA INTERIOR
1430 Como já nos profetas, o apelo de Jesus à conversão e penitência não visa em
primeiro lugar às obras exteriores, saco e a cinza”, os jejuns e as mortificaçes, mas à conversão


do coraço, à penitência interior. Sem ela, as obras de penitência continuam estéreis e
enganadoras: a conversão interior, ao contrário, impele a expressar essa atitude por sinais visíveis,
gestos e obras de penitência.
1431 A penitência interior é uma reorientaço radical de toda a vida, um retorno, uma
conversão para Deus de todo nosso coraço, uma ruptura com o pecado, uma aversão ao mal
e repugnância às m s obras que cometemos. Ao mesmo tempo, é o desejo e a resoluço de
mudar de vida com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda de sua graça.
Esta conversão do coraço vem acompanhada de uma dor e uma tristeza salutares, chamadas
pelos Padres de “animi cruciatus (afliço do espírito)”, “compunctio cordis (arrependimento do
coraço)” .
1432 O coraço do homem apresenta-se pesado e endurecido. É preciso que Deus dê
ao homem um coraço novo. A conversão é antes de tudo uma obra da graça de Deus que
reconduz nossos coraçes a ele: “Converte-nos a ti, Senhor, e nos converteremos” (Lm 5,21). Deus
nos dá a força de começar de novo. É descobrindo a grandeza do amor de Deus que nosso
coraço experimenta o horror e o peso do pecado e começa a ter medo de ofender a Deus
pelo mesmo pecado e de ser separado dele. O coraço humano converte-se olhando para
aquele que foi traspassado por nossos pecados.
Fixemos nossos olhos no sangue de Cristo para compreender como é precioso a seu Pai
porque, derramado para a nossa salvaço, dispensou ao mundo inteiro a graça do
arrependimento.
1433 Depois da Páscoa, o Espírito Santo “estabelecer a culpabilidade do mundo a
respeito do pecado”, a saber, que o mundo não acreditou naquele que o Pai enviou. Mas esse
mesmo Espírito, que revela o pecado, é o Consolador que dá ao coraço do homem a graça
do arrependimento e da conversão.

V. AS MÚLTIPLAS FORMAS DA PENITÊNCIA NA VIDA CRISTÃ
1434 A penitência interior do cristão pode ter expressões bem variadas. A escritura e os
padres insistem principalmente em três formas: o jejum, a oraço e a esmola, que exprimem a
conversão com relaço a si mesmo, a Deus e aos outros. Ao lado da purificaço radical
operada pelo batismo ou pelo martírio, citam, como meio de obter o perdão dos pecados, os
esforços empreendidos para reconciliar -se com o próximo as lágrimas de penitência, a
preocupaço com a salvaço do próximo, a intercessão dos santos e a prática da caridade,
“que cobre uma multidão de pecados” (1Pd 4,8).
1435 A conversão se realiza na vida cotidiana por meio de gestos de reconciliaço, do
cuidado dos pobres, do exercício e da defesa da Justiça e do direito, pela confissão das faltas
aos irmãos, pela correço fraterna, pela revisão de vida, pelo exame de consciência pela
direço espiritual, pela aceitaço dos sofrimentos, pela firmeza na perseguiço por causa da
justiça. Tomar sua cruz, cada dia, seguir a Jesus é o caminho mais seguro da penitencia.
1436 Eucaristia e penitência. A conversão e a penitência cotidiana encontram sua fonte e
seu alimento na Eucaristia, pois nela se torna presente o sacrifício de Cristo que nos reconciliou
com Deus; por ela são nutridos e fortificados aqueles que vivem da vida de Cristo: “ela é o
antídoto que nos liberta de nossas faltas cotidianas e nos preserva dos pecados mortais”.
1437 A leitura da Sagrada Escritura, a oraço da Liturgia das Horas e do Pai-nosso, todo
ato sincero de culto ou de piedade reaviva em nós o espírito de conversão e de penitência e
contribui para o perdão dos pecados.
1438 Os tempos e os dias de penitência ao longo do ano litúrgico (o tempo da
quaresma, cada sexta-feira em memória da morte do Senhor) são momentos fortes da prática
penitencial da Igreja[ag45] . Esses tempos são particularmente apropriados aos exercícios
espirituais, às liturgias penitenciais, às peregrinaçes em sinal de penitência, às privaçes
voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna (obras de caridade e missionárias).


1439 O dinamismo da conversão e da penitência foi maravilhosa-mente descrito por
Jesus na parábola do “filho pródigo”, cujo centro é “O pai misericordioso”: o fascínio de uma
liberdade ilusória, o abandono da casa paterna; a extrema miséria em que se encontra o filho
depois de esbanjar sua fortuna; a profunda humilhaço de ver-se obrigado a cuidar dos porcos
e, pior ainda, de querer matar a fome com a sua raço; a reflexão sobre os bens perdidos; o
arrependimento e a decisão de declarar-se culpado diante do pai; o caminho de volta; o
generoso acolhimento da parte do pai; a alegria do pai: tudo isso são traços específicos do
processo de conversão. A bela túnica, o anel e o banquete da festa são símbolos desta nova
vida, pura, digna, cheia de alegria, que é a vida do homem que volta a Deus e ao seio de sua
família, que é a Igreja. Só o coraço de Cristo que conhece as profundezas do amor do Pai
pôde revelar -nos o abismo de sua misericórdia de uma maneira tão simples e tão bela.

VI. O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA E DA RECONC ILIAÇO
1440 O pecado é antes de tudo uma ofensa a Deus, uma ruptura da comunhão com
ele. Ao mesmo tempo é um atentado à comunhão com a Igreja. Por isso, a conversão traz
simultaneamente o perdão de Deus e a reconciliaço com a Igreja, Q que é expresso e
realizado liturgicamente pelo sacramento da Penitência e da Reconciliaço.

SÓ DEUS PERDOA OS PECADOS
1441 Só Deus perdoa os pecados[. Por ser o Filho de Deus, Jesus diz de si mesmo: “O Filho
do homem tem poder de perdoar pecados na terra” (Mc 2,10) e exerce esse poder divino: “Teus
pecados estão perdoados!” (Mc 2,5). Mais ainda: em virtude de sua autoridade divina, transmite
esse poder aos homens para que o exerçam em seu nome.
1442 A vontade de Cristo é que toda a sua Igreja seja, na oraço, em sua vida e em sua
aço, o sinal e instrumento do perdão e da reconciliaço que “ele nos conquistou ao preço de
seu sangue”. Mas confiou o exercício do poder de absolviço ao ministério apostólico,
encarregado do “ministério da reconciliaço” (2Cor 5,18). O apóstolo é enviado “em nome de
Cristo”, e “ o próprio Deus” que, por meio dele, exorta e suplica: “Reconciliai-vos com Deus”
(2Cor 5,20).

RECONCILIAÇO COM A IGREJA
1443 Durante sua vida pública, Jesus não só perdoou os pecados, mas também
manifestou o efeito desse perdão: reintegrou os pecadores perdoados na comunidade do povo
de Deus, da qual o pecado os havia afastado ou até excluído. Um sinal evidente disso é o fato
de Jesus admitir os pecadores à sua mesa e, mais ainda, de Ele mesmo sentar -se à sua mesa,
gesto que exprime de modo estupendo ao mesmo tempo o perdão de Deus e o retomo ao seio
do Povo de Deus.
1444 Conferindo aos apóstolos seu próprio poder de perdoar os pecados, o Senhor
também lhes dá a autoridade de reconciliar os pecadores com a Igreja. Esta dimensão eclesial
de sua tarefa exprime-se principalmente na solene palavra de Cristo a Simão Pedro: “Eu te darei
as chaves do Reino dos Céus, e o que ligares na terra ser ligado nos céus, e o que desligares na
terra será desligado nos céus” (Mt 16,19). “O múnus de ligar e desligar, que foi dado a Pedro,
consta que também foi dado ao colégio do apóstolos, unido a seu chefe (cf. Mt 18,18; 28,16-
20).”
1445 As palavras ligar e desligar significam: aquele que excluirdes da vossa comunhão,
será excluído da comunhão com Deus; aquele que receberdes de novo na vossa comunhão,
Deus o acolherá também na sua. A reconciliaço com a Igreja é inseparável da reconciliaço
com Deus.



O SACRAMENTO DO PERDÃO
1446 Cristo instituiu o sacramento da Penitência para todos os membros pecadores de
sua Igreja, antes de tudo para aqueles que, depois do Batismo, cometeram pecado grave e
com isso perderam a graça batismal e feriram a comunhão eclesial. E a eles que o sacramento
da Penitência oferece uma nova possibilidade de converter-se e de recobrar a graça da
justificaço. Os Padres da Igreja apresentam este sacramento como “a segunda tábua (de
salvaço) depois do naufrágio que é a perda da graça.
1447 No curso dos séculos, a forma concreta segundo a qual a Igreja exerceu este poder
recebido do Senhor variou muito. Nos primeiros séculos, a reconciliaço dos cristãos que haviam
cometido pecados particularmente graves depois do Batismo (por exemplo, a idolatria, o
homicídio ou o adultério) estava ligada a uma disciplina bastante rigorosa, segundo a qual os
penitentes deviam fazer penitência pública por seus pecados, muitas vezes durante longos anos,
antes de receber a reconciliaço. A esta “ordem dos penitentes” (que incluía apenas certos
pecados graves) só se era admitido raramente e, em certas regiões, só uma vez na vida. No
século VII, inspirados na tradiço monástica do Oriente, os missionários irlandeses trouxeram para
a Europa continental a prática “privada” da penitência que não mais exigia a prática pública e
prolongada de obras de penitência antes de receber a reconciliaço com a Igreja. O
sacramento se realiza daí em diante de uma forma mais secreta entre o penitente e o presbítero.
Esta nova prática previa a possibilidade da repetiço, abrindo assim o caminho para uma
freqüncia regular a este sacramento. Permitia integrar numa única celebraço sacramental o
perdão dos pecados graves e dos pecados veniais. Em linhas gerais, é essa a forma de
penitência praticada na Igreja até hoje.
1448 Mediante as mudanças por que passaram a disciplina e a celebraço deste
sacramento ao longo dos séculos, podemos discernir sua própria estrutura fundamental que
consta de dois elementos igualmente essenciais: de um lado, os atos do homem que se converte
sob a aço do Espírito Santo, a saber, a contriço, a confissão e a satisfaço; de outro lado, a
aço de Deus por intermédio da Igreja. A Igreja que, pelo Bispo e seus presbíteros, concede, em
nome de Jesus Cristo, o perdão dos pecados e fixa a modalidade da satisfaço, ora pelo
pecador e faz penitência com ele. Assim o pecador é curado e reintegrado na comunhão
eclesial.
1449 A fórmula da absolviço em uso na Igreja latina exprime os elementos essenciais
deste sacramento: o Pai das misericórdias é a fonte de todo perdão. Ele opera a reconciliaço
dos pecadores pela páscoa de seu Filho e pelo dom de seu Espírito, por meio da oraço e
ministério da Igreja:
Deus, Pai de misericórdia, que, pela Morte e Ressurreiço de seu Filho, reconciliou o mundo
consigo e enviou o Espírito Santo para remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da
Igreja, o perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo.

VII. OS ATOS DO PENITENTE
1450 “A penitência impele o pecador a suportar tudo de boa vontade. Em seu coraço
está o arrependimento; em sua boca, a acusaço; em suas obras, plena humildade e proveitosa
satisfaço”.

A CONTRIÇO
1451 Entre os atos do penitente, a contriço vem em primeiro lugar. Consiste “numa dor
da alma e detestaço do pecado cometido, com a resoluço de não mais pecar no futuro” .
1452 Quando brota do amor de Deus, amado acima de tudo, contriço é “perfeita”
(contriço de caridade). Esta contriço perdoa as faltas veniais e obtém também o perdão dos


pecado mortais, se incluir a firme resoluço de recorrer, quando possível, à confissão
sacramental.
1453 A contriço chamada “imperfeita” (ou “atriço”) também é um dom de Deus, um
impulso do Espírito Santo. Nasce da consideraço do peso do pecado ou do temor da
condenaço eterna e de outras penas que ameaçam o pecador (contriço por temor). Este
abalo da consciência pode ser o início de uma evoluço interior que ser concluída sob a aço
da graça, pela absolviço sacramental. Por si mesma, porém, a contriço imperfeita não obtém
o perdão dos pecados graves, mas predispõe a obtê-lo no sacramento da penitência.
1454 Convém preparar a recepço deste sacramento fazendo um exame de
consciência à luz da Palavra de Deus. Os textos mais adaptados esse fim devem ser procurados
na catequese moral dos evangelhos e das cartas apostólicas: Sermão da Montanha,
ensinamentos apostólicos.

A CONFISSÃO DOS PECADOS
1455 A confissão dos pecados (acusaço), mesmo do ponto de vista simplesmente
humano, nos liberta e facilita nossa reconciliaço com os outros. Pela acusaço, o homem
encara de frente os pecados dos quais se tornou culpado: assume a responsabilidade deles e,
assim, abre-se de novo a Deus e à comunhão da Igreja, a fim de tomar possível um futuro novo.
1456 A declaraço dos pecados ao sacerdote constitui uma parte essencial do
sacramento da penitência: “Os penitentes devem, na confissão, enumerar todos os pecados
mortais de que têm consciência depois de examinar-se seriamente, mesmo que esses pecados
sejam muito secretos e tenham sido cometidos somente contra os dois últimos preceitos do
decálogo (Cf Ex 20,17; Mt 5,28.), pois, às vezes, esses pecados ferem gravemente a alma e são
mais prejudiciais do que os outros que foram cometidos à vista e conhecimento de todos”.
Quando os cristãos se esforçam para confessar todos os pecados que lhes vêm à
memória, não se pode duvidar que tenham o intuito de apresentá-los todos ao perdão da
misericórdia divina. Os que agem de outra forma, tentando ocultar conscientemente alguns
pecados, não colocam diante da bondade divina nada que ela possa perdoar por intermédio
do sacerdote. Pois, “se o doente tem vergonha de mostrar sua ferida ao médico, a medicina
não pode curar aquilo que ignora ”.
1457 Conforme o mandamento da Igreja, “todo fiel, depois de ter chegado à idade da
discriço, é obrigado a confessar seus pecados graves, dos quais tem consciência, pelo menos
uma vez por ano. Aquele que tem consciência de ter cometido um pecado mortal não deve
receber a Sagrada Comunhão, mesmo que esteja profundamente contrito, sem receber
previamente a absolviço sacramental, a menos que tenha um motivo grave para comungar e
lhe seja impossível chegar a um confessor. As crianças devem confessar -se antes de receber a
Primeira Eucaristia.
1458 Apesar de não ser estritamente necessária, a confissão das faltas cotidianas
(pecados veniais) é vivamente recomendada pela Igreja. Com efeito, a confissão regular de
nossos pecados veniais nos ajuda a formar a consciência, a lutar contra nossas más tendências,
a deixar -nos curar por Cristo, a progredir na vida do Espírito. Recebendo mais freqüentemente,
por meio deste sacramento, o dom da misericórdia do Pai, somos levados a ser misericordiosos
como ele;
Quem confessa os próprios pecados já está agindo em harmonia com Deus. Deus acusa
teus pecados; se tu também os acusas, tu te associas a Deus. O homem e o pecador são, por
assim dizer, duas realidades: quando ouves falar do homem, foi Deus quem o fez; quando ouves
falar do pecador, é o próprio homem quem o fez. Destrói o que fizeste para que Deus salve o
que Ele fez... Quando começas a detestar o que fizeste, é então que tuas boas obras começam,
porque acusas tuas más obras. A confissão das más obras é o começo das boas obras. Contribui
para a verdade e consegues chegar à 1uz[.



A SATISFAÇO
1459 Muitos pecados prejudicam o próximo. É preciso fazer possível para reparar esse
mal (por exemplo restituir as coisas roubadas, restabelecer a reputaço daquele que foi
caluniado ressarcir as ofensas e injúrias). A simples justiça exige isso. Mas, além disso, o pecado
fere e enfraquece o próprio pecador, como também suas relaçes com Deus e com o próxima.
A absolviço tira o pecado, mas não remedeia todas as desordens que ele causou. Liberto do
pecado, o pecador deve ainda recobrar a plena saúde espiritual. Deve, portanto, faz alguma
coisa a mais para reparar seus pecados: deve “satisfazer” de modo apropriado ou “expiar” seus
pecados. Esta satisfaço chama-se também “penitência”.
1460 A penitência imposta pelo confessor deve levar em conta a situaço pessoal do
penitente e procurar seu bem espiritual. Deve corresponder, na medida do possível, à gravidade
e à natureza dos pecados cometidos. Pode consistir na oraço, numa oferta, em obras de
misericórdia, no serviço do próximo, em privaçes voluntárias, em sacrifícios e principalmente na
aceitaço paciente da cruz que devemos carregar. Essas penitências nos ajudam a configurar-
nos com Cristo, que, sozinho, expiou nossos pecados uma vez por todas. Permitem-nos também
tomar-nos co-herdeiros de Cristo ressuscitado, “pois sofremos com ele”:
Mas nossa satisfaço, aquela que pagamos por nossos pecados, só vale por intermédio de
Jesus Cristo, pois, não podendo coisa alguma por nós mesmos, “tudo podemos com a
cooperaço daquele que nos dá força”(Cf Fl 4,13). E, assim, não tem o homem de que se gloriar,
mas toda a nossa “glória” está em Cristo... em quem oferecemos satisfaço, “produzindo dignos
frutos de penitência (Cf Lc 3,8.), que dele recebem seu valor, por Ele são oferecidos ao Pai e
graças a Ele são aceitos pelo Pai.

VIII. O MINISTRO DESTE SACRAMENTO
1461 Como Cristo confiou a seus apóstolos o ministério da Reconciliaço, os Bispos, seus
sucessores, e os presbíteros, colaboradores dos Bispos, continuam a exercer esse ministério. De
fato, são os Bispos e os presbíteros que têm, em virtude do sacramento da Ordem, o poder de
perdoar todos os pecados “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
1462 O perdão dos pecados reconcilia com Deus, mas também com a Igreja. O Bispo,
chefe visível da Igreja Particular, é, portanto, considerado, com plena razão, desde os tempos
primitivos, aquele que principalmente detém o poder e o ministério da reconciliaço: ele é o
moderador da disciplina penitencial. Os presbíteros, seus colaboradores, o exercem na medida
em que receberam o múnus, quer de seu Bispo (ou de um superior religioso), quer do Papa, por
meio do direito da Igreja.
1463 Alguns pecados particularmente graves são passíveis de excomunhão, a pena
eclesiástica mais severa, que impede a recepço dos sacramentos e o exercício de certos atos
eclesiais. Neste caso, a absolviço não pode ser dada, segundo o direito da Igreja, a não ser
pelo Papa, pelo Bispo local ou por presbíteros autorizados por eles. Em caso de perigo de morte,
qualquer sacerdote, mesmo privado da faculdade de ouvir confissões, pode absolver de
qualquer pecado e de qualquer excomunhão.
1464 Os sacerdotes devem incentivar os fiéis a receber o sacramento da Penitência e
devem mostrar-se disponíveis a celebrar este sacramento cada vez que os cristãos o pedirem de
modo conveniente.
1465 Ao celebrar o sacramento da Penitência, o sacerdote cumpre o ministério do bom
pastor, que busca a ovelha perdida; do bom samaritano, que cura as feridas; do Pai, que espera
o filho pródigo e o acolhe ao voltar; do justo juiz, que não faz acepço de pessoa e cujo
julgamento é justo e misericordioso ao mesmo tempo. Em suma, o sacerdote é o sinal e o
instrumento do amor misericordioso de Deus para com o pecador.


1466 O confessor não é o senhor, mas o servo do perdão de Deus. O ministro deste
sacramento deve unir-se à intenço e à caridade Cristo. Deve possuir um comprovado
conhecimento do comportamento cristão, experiência das coisas humanas, respeito e
delicadeza diante daquele que caiu; deve amar a verdade, ser fiel ao magistério da Igreja e
conduzir, com paciência, o penitente à cura e à plena maturidade. Deve orar e fazer penitência
por ele, confiando-o à misericórdia do Senhor.
1467 Diante da delicadeza e da grandiosidade deste ministério e do respeito que se
deve às pessoas, a Igreja declara que todo sacerdote que ouve confissões é obrigado a guardar
segredo absoluto a respeito dos pecados que seus penitentes lhe confessaram, sob penas
severíssimas. Também não pode fazer uso do conhecimento da vida dos penitentes adquirido
pela confissão. Este segredo, que não admite exceçes, chama-se “sigilo sacramental”, porque
o que o penitente manifestou ao sacerdote permanece “sigilado” pelo sacramento.

IX. OS EFEITOS DESTE SACRAMENTO
1468 “Toda a força da Penitência reside no fato de ela nos reconstituir na graça de Deus
e de nos unir a Ele com a máxima amizade.” Portanto, a finalidade e o efeito deste sacramento
é a reconciliaço com Deus. Os que recebem o sacramento da Penitência com coraço
contrito e disposiço religiosa “podem usufruir a paz e a tranqüilidade da consciência, que vem
acompanhada de uma intensa consolaço espiritual”. Com efeito, o sacramento da
Reconciliaço com Deus traz consigo uma verdadeira “ressurreiço espiritual”, uma restituiço
da dignidade e dos bens da vida dos filhos de Deus, entre os quais o mais precioso é a amizade
de Deus (Cf Lc 15,32).
1469 Este sacramento nos reconcilia com a Igreja. O pecado fende ou quebra a
comunhão fraterna. O sacramento da Penitência a repara ou restaura. Neste sentido, ele não
cura apenas aquele que é restabelecido na comunhão eclesial, mas tem também um efeito
vivificante sobre a vida da Igreja, que sofreu com o pecado de um de seus membros.
Restabelecido ou confirmado na comunhão dos santos, o pecador sai fortalecido pela
participaço dos bens espirituais de todos os membros vivos do Corpo de Cristo, quer estejam
ainda em estado de peregrinaço, quer já estejam na pátria celeste:
Não devemos esquecer que a reconciliaço com Deus tem como conseqüncia, por
assim dizer, outras reconciliaçes capazes de remediar outras rupturas ocasionadas pelo
pecado: o penitente perdoado reconcilia-se consigo mesmo no íntimo mais profundo de seu ser,
onde recupera a própria verdade interior; reconcilia-se com os irmãos que de alguma maneira
ofendeu e feriu; reconcilia-se com a Igreja; e reconcilia-se com toda a criaço.
1470 Neste sacramento, o pecador, entregando-se ao julgamento misericordioso de
Deus, antecipa de certa maneira o julgamento a que ser sujeito no fim desta vida terrestre. Pois é
agora, nesta vida, que nos é oferecida a escolha entre a vida e a morte, e só pelo caminho da
conversão poderemos entrar no Reino do qual somos excluídos pelo pecado grave.
Convertendo-se a Cristo pela penitência e pela fé, o pecador passa da morte para a vida “sem
ser julgado” (Jo 5,24).

X. AS INDULGÊNCIAS
1471 A doutrina e a prática das indulgências na Igreja estão estreitamente ligadas aos
efeitos do sacramento da Penitência.

QUE É A INDULGÊNCIA?
“A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já
perdoados quanto à culpa, (remissão) que o fiel bem-disposto obtém, em condiçes


determinadas, pela intervenço da Igreja que, como dispensadora da redenço, distribui e
aplica por sua autoridade o tesouro das satisfaçes (isto é, dos méritos) de Cristo e dos santos.”
“A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberar parcial totalmente da pena devida
pelos pecados.” Todos os fiéis podem adquirir indulgências (...) para si mesmos ou aplicá-las aos
defuntos.

AS PENAS DO PECADO
1472 Para compreender esta doutrina e esta prática da Igreja, é preciso admitir que o
pecado tem uma dupla conseqüncia. O pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e,
conseqüentemente, nos toma incapazes da vida eterna; esta privaço se chama “pena eterna”
do pecado. Por outro lado, todo pecado, mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às
criaturas que exige purificaço, quer aqui na terra, quer depois da morte, no estado chamado
“purgatório”. Esta purificaço liberta da chamada “pena temporal” do pecado. Essas duas
penas não devem ser concebidas como uma espécie de vingança infligida por Deus do exterior,
mas, antes, como uma conseqüncia da própria natureza do pecado. Uma conversão que
procede de uma ardente caridade pode chegar à total purificaço do pecador, de tal modo
que não haja mais nenhuma pena.
1473 O perdão do pecado e a restauraço da comunhão com Deus implicam a
remissão das penas eternas do pecado. Mas permanecem as penas temporais do pecado.
Suportando pacientemente os sofrimentos e as provas de todo tipo e, chegada a hora,
enfrentando serenamente a morte, o cristão deve esforçar -se para aceitar, como urna graça,
essas penas temporais do pecado; deve aplicar-se, por inicio de obras de misericórdia e de
caridade, como também pela oraço e por diversas práticas de penitência, a despojar-se
completamente do “velho homem” para revestir-se do “homem novo”.

NA COMUNHÃO DOS SANTOS
1474 O cristão que procura purificar -se de seu pecado e santificar -se com o auxílio da
graça de Deus não está só. “A vida de cada um dos filhos de Deus se acha unida, por um
admirável laço, em Cristo e por Cristo, com a vida de todos os outros irmãos cristãos na unidade
sobrenatural do corpo místico de Cristo, como numa única pessoa mística.”
1475 Na comunhão dos santos, “existe certamente entre os fiéis já admitidos na posse da
pátria celeste, os que expiam as faltas no purgatório e os que ainda peregrinam na terra, um
laço de caridade e um amplo intercâmbio de todos os bens”. Neste admirável intercâmbio,
cada um se beneficia da santidade dos outros, bem para além do prejuízo que o pecado de um
possa ter causado aos outros. Assim, o recurso à comunhão dos santos permite ao pecador
contrito se purificado, mais cedo e mais eficazmente, das penas do pecado.
1476 Esses bens espirituais da comunhão dos santos também são chamados o tesouro da
Igreja, “que não é uma soma de bens comparáveis às riquezas materiais acumuladas no
decorrer dos séculos, mas é o valor infinito e inesgotável que têm junto a Deus as expiaçes e os
méritos de Cristo, nosso Senhor, oferecidos para que a humanidade toda seja libertada do
pecado e chegue à comunhão com o Pai. E em Cristo, nosso redentor, que se encontram em
abundância as satisfaçes e os méritos de sua redenço”.
1477 “Pertence, além disso, a esse tesouro o valor verdadeiramente imenso,
incomensurável e sempre novo que têm junto a Deus as preces e as boas obras da Bem-
aventurada Virgem Maria e de todos os santos que, seguindo as pegadas de Cristo Senhor, por
sua graça se santificaram e totalmente acabaram a obra que o Pai lhes confiara, de sorte que,
operando a própria salvaço, também contribuíram para a salvaço de seus irmãos na unidade
do corpo místico.”



OBTER A INDULGÊNCIA DE DEUS MEDIANTE A IGREJA
1478 A indulgência se obtém de Deus mediante a Igreja, que, em virtude do poder de
ligar e desligar que Cristo Jesus lhe concedeu, intervém em favor do cristão, abrindo-lhe o
tesouro dos méritos de Cristo e dos santos para obter do Pai das misericórdias a remissão das
penas temporais devidas a seus pecados. Assim, a Igreja não só vem em auxílio do cristão, mas
também o incita a obras de piedade, de penitência e de caridade.
1479 Uma vez que os fiéis defuntos em vias de purificaço também são membros da
mesma comunhão dos santos, podemos ajudá-los entre outros modos, obtendo em favor deles
indulgências para libertaço das penas temporais devidas por seus pecados.

XI. A CELEBRAÇO DO SACRAMENTO DA PENITÊNCIA
1480 Como todos os sacramentos, a Penitência é uma aço litúrgica. São estes
ordinariamente os elementos da celebraço: saudaço e bênço do sacerdote, leitura da
Palavra de Deus para iluminar a consciência e suscitar a contriço, exortaço ao
arrependimento; confissão que reconhece os pecados e os manifesta ao padre; imposiço e
aceitaço da penitência; absolviço do sacerdote; louvor de aço de graças e despedida com
a bênço do sacerdote.
1481 A liturgia bizantina conhece diversas fórmulas de absolviço, forma depreciativa,
que exprimem admiravelmente o mistério do perdão: “Que o Deus que pelo profeta Natã
perdoou a Davi, que confessou seus próprios pecados; a Pedro, quando chorou amargamente;
à prostituta, quando lavou seus pés com lágrimas; ao publicano e ao filho pródigo, que esse
mesmo Deus vos perdoe, por mim, pecador, nesta vida e na outra, e vos faça comparecer em
seu terrível tribunal sem vos condenar, Ele que é bendito nos séculos dos séculos. Amém.
1482 O sacramento da Penitência também pode ter lugar no quadro de uma celebraço
comunitária, na qual as pessoas se preparam juntas para a confissão e também juntas
agradecem pelo perdão recebido. Neste caso, a confissão pessoal dos pecados e a absolviço
individual são inseridas numa liturgia da Palavra de Deus, com leituras e homilia, exame de
consciência em comum, pedido comunitário de perdão, oraço do Pai-Nosso e aço de graças
em comum. Esta celebraço comunitária exprime mais claramente o caráter eclesial da
penitência. Mas, seja qual for o modo da celebraço, o sacramento da Penitência sempre é, por
sua própria natureza, uma aço litúrgica, portanto eclesial e pública.
1483 Em casos de necessidade grave, pode-se recorrer à celebraço comunitária da
reconciliaço com confissão e absolviço gerais. Esta necessidade grave pode apresentar-se
quando há um perigo iminente de morte sem que o ou os sacerdotes tenham tempo suficiente
para ouvir a confissão de cada penitente. A necessidade grave pode também apresentar-se
quando, tendo-se em vista o número dos penitentes, não havendo confessores suficientes para
ouvir devidamente as confissões individuais num tempo razoável, de modo que os penitentes,
sem culpa de sua parte, se veriam privados durante muito tempo da graça sacramental ou da
sagrada Eucaristia. Nesse caso, os fiéis devem ter, para a validade da absolviço, o propósito de
confessar individualmente seus pecados graves no devido tempo. Cabe ao Bispo diocesano
julgar se os requisitos para a absolviço geral existem[ag138] . Um grande concurso de fiéis por
ocasião das grandes festas ou de peregrinaço não constitui caso de tal necessidade grave.
1484 “A confissão individual e integral seguida da absolviço continua sendo o único
modo ordinário pelo qual os fiéis se reconciliam com Deus e com a Igreja, salvo se uma
impossibilidade física ou moral dispensar desta confissão.” Há razões profundas para isso. Cristo
age em cada um dos sacramentos. Dirige-se pessoalmente a cada um dos pecadores: “Filho, os
teus pecados estão perdoados” (Mc 2,5); ele é o médico que se debruça sobre cada um dos
doentes que têm necessidade dele para curá-los; ele os soergue e reintegra na comunhão
fraterna. A confissão pessoal é, pois, a forma mais significativa da reconciliaço com Deus e com
a Igreja.



RESUMINDO
1485 “Dizendo isso, soprou sobre eles e lhes disse: Recebei o Espírito Santo; aqueles a
quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; aqueles aos quais os retiverdes, ser-lhes-ão
retidos” (Jo 20,22-23).
1486 O perdão dos pecados cometidos após o Batismo é concedido por um sacramento
próprio chamado sacramento da Conversão, da Confissão, da Penitência ou da Reconciliaço.
1487 Quem peca fere a honra de Deus e seu amor, sua própria dignidade de homem
chamado a ser filho de Deus e a saúde espiritual da Igreja, da qual cada cristão é uma pedra
viva.
1488 Aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave que o pecado, e nada tem
conseqüncias piores para os próprios pecador, e para a Igreja e para o mundo inteiro.
1489 Voltar à comunhão com Deus depois de a ter perdido pelo pecado é um
movimento que nasce da graça do Deus misericordioso e solícito pela salvaço dos homens. E
preciso pedir esse dom precioso para si mesmo e também para os outros.
1490 O movimento de volta a Deus, chamado conversão e arrependimento, implica
uma dor e uma aversão aos pecados cometidos e o firme propósito de não mais pecar no
futuro. A conversão atinge, portanto, o passado e o futuro; nutre-se da esperança na
misericórdia divina.
1491 O sacramento da Penitência é constituído de três atos do penitente e da
absolviço dada pelo sacerdote. Os atos do penitente são o arrependimento, a confissão ou
manifestaço dos pecados ao sacerdote e o propósito de cumprir a penitência e as obras de
reparaço.
1492 O arrependimento (também chamado contriço) deve inspirar -se em motivos que
decorrem da fé. Se o arrependimento estiver embasado no amor de caridade para com Deus, é
chamado “perfeito”; se estiver fundado em outros motivos, será “imperfeito”.
1493 Aquele que quiser obter a reconciliaço com Deus e com a Igreja deve confessar
ao sacerdote todos os pecados graves que ainda não confessou e de que se lembra depois de
examinar cuidadosamente sua consciência. Mesmo sem ser necessária em si a confissão das
faltas veniais, a Igreja não deixa de recomendá-la vivamente.
1494 O confessor propõe ao penitente o cumprimento de certos atos de “satisfaço” ou
de “penitencia”, para reparar o prejuízo causado pelo pecado e restabelecer os hábitos próprios
ao discípulo de Cristo.
1495 Somente os sacerdotes que receberam da autoridade da Igreja a faculdade de
absolver podem perdoar os pecados em nome de Cristo.
1496 Os efeitos espirituais do sacramento da Penitência são:
ü a reconciliaço com Deus, pela qual o penitente recobra a graç a;
ü a reconciliaço com a Igreja;
ü a remissão da pena eterna devida aos pecados mortais;
ü a remissão, pelo menos em parte, das penas temporais, seqüelas do pecado;
ü a paz e a serenidade da consciência e a consolaço espiritual;
ü o acréscimo de forças espirituais para o combate cristão.
1497 A confissão individual e integral dos pecados graves, seguida da absolviço,
continua sendo o único meio ordinário de reconciliaço com Deus e com a Igreja.


1498 Pelas indulgências, os fiéis podem obter para si mesmos e também para as almas
do

ARTIGO 5
A UNÇO DOS ENFERMOS

1499 “Pela sagrada Unço dos Enfermos e pela oraço dos presbíteros, a Igreja toda
entrega os doentes aos cuidados do Senhor sofredor e glorificado, para que os alivie e salve.
Exorta os mesmos a que livremente se associem à paixão e à morte de Cristo e contribuam para
o bem do povo de Deus.”

I. SEUS FUNDAMENTOS NA ECONOMIA DA SALVAÇO
1500 A ENFERMIDADE NA VIDA HUMANA
A enfermidade e o sofrimento sempre estiveram entre problemas mais graves da vida
humana. Na doença, o homem experimenta sua impotência, seus limites e sua finitude. Toda
doença pode fazer-nos entrever a morte.
1501 A enfermidade pode levar a pessoa à angústia, a fechar-se sobre si mesma e, às
vezes, ao desespero e à revolta contra Deus. Mas também pode tomar a pessoa mais madura,
ajudá-la a discernir em sua vida o que não é essencial, para volta-se àquilo que é essencial. Não
raro, a doença provoca uma busca de Deus, um retomo a Ele.

O ENFERMO DIANTE DE DEUS
1502 O homem do Antigo Testamento vive a doença diante Deus. E diante de Deus que
ele faz sua queixa sobre a enfermidade, e é dele, o Senhor da vida e da morte, que implora a
cura [ag5] . A enfermidade se toma caminho de conversão e o perdão de Deus de início à cura.
Israel chega à conclusão de que a doença, de uma forma misteriosa, está ligada ao pecado e
ao mal e que a fidelidade a Deus, segundo sua Lei, dá a vida: “Porque eu sou Iahweh, aquele
que te restaura” (Ex 15,26). O profeta entrevê que o sofrimento também pode ter um sentido
redentor para os pecados dos outros (Cf Is 53,11). Finalmente, Isaías anuncia que Deus fará
chegar um tempo para Si o em que toda falta será perdoada e toda doença ser curada (Cf Is
33,24).

CRISTO - MÉDICO
1503 A compaixão de Cristo para com os doentes e suas numerosas curas de enfermos
de todo tipo são um sinal evidente de que “Deus visitou o seu povo e de que o Reino de Deus
está bem próximo. Jesus não só tem poder de curar, mas também de perdoar os pecados: ele
veio curar o homem inteiro, alma e corpo; é o médico de que necessitam os doentes. Sua
compaixão para com todos aqueles que sofrem é tão grande que ele se identifica com eles:
“Estive doente e me visitastes” (Mt 25,36). Seu amor de predileço pelos enfermos não cessou, ao
longo dos séculos, de despertar a atenço toda especial dos cristãos para com todos os que
sofrem no corpo e na alma. Esse amor está na origem dos incansáveis esforços para aliviá-los.
1504 Muitas vezes Jesus pede aos enfermos que creiam. Serve-se de sinais para curar:
saliva e imposiço das mãos, lama e abluço. Os doentes procuram tocá-lo, “porque dele saía
uma força que a todos curava” (Lc 6,19). Também nos sacramentos Cristo continua a nos “tocar”
para nos curar.
1505 Comovido com tantos sofrimentos, Cristo não apenas se deixa tocar pelos doentes,
mas assume suas misérias: “Ele levou nossas enfermidades e carregou nossas doenças”. Não


curou todos os enfermos. Suas curas eram sinais da vinda do Reino de Deus. Anunciavam uma
cura mais radical: a vitória sobre o pecado e a morte por sua Páscoa. Na cruz, Cristo tomou
sobre si todo o peso do mal e tirou o “pecado do mundo” (Jo 1,29). A enfermidade não é mais
do que uma conseqüncia do pecado. Por sua paixão e morte na cruz, Cristo deu um novo
sentido ao sofrimento, que doravante pode configurar-nos com Ele e unir-nos à sua paixão
redentora.

“CURAI OS ENFERMOS...”
1506 Cristo convida seus discípulos a segui-lo, tomando cada um sua cruz. Seguindo-o,
adquirem uma nova visão da doença e dos doentes. Jesus os associa á sua vida pobre e de
servidor. Faz com que participem de seu ministério de compaixão e de cura: “Partindo, eles
pregavam que todos se arrependessem. E expulsavam muitos demônios e curavam muitos
enfermos, ungindo-os com óleo” (Mc 6,12-13).
1507 O Senhor ressuscitado renova este envio (“Em meu nome... eles imporão as mãos
sobre os enfermos e estes ficarão curados”. (Mc 16,17-18) e o confirma por meio dos sinais
realizados pela Igreja ao invocar seu nome. Esses sinais manifestam de um modo especial que
Jesus é verdadeiramente “Deus que salva”.
1508 O Espírito Santo dá a algumas pessoas um carisma especial de cura para manifestar
a força da graça do ressuscitado. Todavia, mesmo as oraçes mais intensas não conseguem
obter a cura de todas as doenças. Por isso, São Paulo deve aprender do Senhor que “basta-te a
minha graça, pois é na fraqueza que minha força manifesta todo o seu poder” (2Cor 12,9), e que
os sofrimentos que temos de suportar podem ter como sentido “completar na minha carne o que
falta às tribulaçes de Cristo por seu corpo, que é a Igreja” (Cl 1,24).
1509 “Curai os enfermos!” (Mt 10,8). A Igreja recebeu esta missão do Senhor e esforça-se
por cumpri-la tanto pelos cuidados aos doentes como pela oraço de intercessão com que os
acompanha. Ela crê na presença vivificante de Cristo, médico da alma e do corpo. Esta
presença age particularmente por intermédio dos sacramentos e, de modo especial, pela
Eucaristia, pão que dá vida eterna a cujo liame com a saúde corporal São Paulo alude.
1510 Entretanto, a Igreja apostólica conhece um rito próprio em favor dos doentes,
atestado por São Tiago: “Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da
Igreja, para que orem sobre ele, ungindo -o com óleo em nome do Senhor. A oraço da fé
salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, estes lhe serão perdoados”
(Tg 5,14-l5). A Tradiço reconheceu neste rito um dos sete sacramentos da Igreja.

UM SACRAMENTO DOS ENFERMOS
1511 A Igreja crê e conf essa que existe, entre os sete sacramentos, um sacramento
especialmente destinado a reconfortar aqueles que provados pela enfermidade: a Unço dos
Enfermos.
Esta unço sagrada dos enfermos foi instituída por Cristo nosso Senhor como um
sacramento do Novo Testamento, verdadeira e propriamente dito, insinuado por Marcos, mas
recomendado aos fiéis e promulgado por Tiago, Apóstolo e irmão do Senhor.
1512 Na tradiço litúrgica, tanto no Oriente como no Ocidente, constam desde a
Antigüidade testemunhos de unçes de enfermos praticadas com óleo bento. No curso dos
séculos, a Unço dos Enfermos foi cada vez mais conferida exclusivamente aos agonizantes. Por
causa disso, recebeu o nome de “Extrema -Unço”. Apesar desta evoluço, a liturgia jamais
deixou de orar ao Senhor para que o enfermo recobre a saúde, se tal convier à sua salvaço.
1513 A constituiço apostólica Sacram unctionem infirmorum, de 30 de novembro de
1972, seguindo o Concílio Vaticano II, estabeleceu que doravante, no rito romano, se observe o
seguinte:


O sacramento da Unço dos Enfermos é conferido às pessoas acometidas de doenças
perigosas, ungindo-as na fronte e nas mãos com óleo devidamente consagrado - óleo de oliveira
ou outro óleo extraído de plantas -, dizendo uma só vez: “Por esta santa unço e por sua
puríssima misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo, para que,
liberto de teus pecados, Ele te salve e, em sua bondade, alivie teus sofrimentos”.

II. QUEM RECEBE E QUEM ADMINISTRA ESTE SACRAMENTO?
EM CASO DE DOENÇA GRAVE...
1514 A Unço dos Enfermos “não é um sacramento só daqueles que se encontram às
portas da morte. Portanto, tempo oportuno para receber a Unço dos Enfermos é certamente o
momento em que o fiel começa a correr perigo de morte por motivo de doença, debilitaço
física ou velhice”.
1515 Se um enfermo que recebeu a Unço dos Enfermos recobrar a saúde, pode, em
caso de recair em doença grave, receber de novo este sacramento. No decorrer da mesma
enfermidade, este sacramento pode ser reiterado se a doença se agravar. Permite-se receber a
Unço dos Enfermos antes de uma cirurgia de alto risco. O mesmo vale também para as pessoas
de idade avançada, cuja fragilidade se acentua.

.... .QUE CHAME OS PRESBÍTEROS DA IGREJA”
1516 Só os sacerdotes (bispos e presbíteros) são ministros da Unço dos Enfermos. E dever
dos pastores instruir os fiéis sobre os benefícios deste sacramento. Que os fiéis incentivem os
doentes a chamar o sacerdote, para receber este sacramento. Que os doentes se preparem
para recebê4o com boas disposiçes, com a ajuda de seu pastor e de toda a comunidade
eclesial, que é convidada a cercar de modo especial os doentes com suas oraçes e atençes
fraternas.

III. COMO É CELEBRADO ESTE SACRAMENTO?
1517 Como todos os sacramentos, a Unço dos Enfermos é uma celebraço litúrgica e
comunitária, quer tenha lugar na família, no hospital ou na Igreja, para um só enfermo ou para
todo um grupo de enfermos. E de todo conveniente que ela se celebre dentro da Eucaristia,
memorial da Páscoa do Senhor. Se as circunstâncias o permitirem, a celebraço do sacramento
pode ser precedida pelo sacramento da Penitência e seguida pelo sacramento da Eucaristia.
Como sacramento da Páscoa de Cristo, a Eucaristia deveria sempre ser o último sacramento da
peregrinaço terrestre, o “viático” para a “passagem” à vida eterna.
1518 Palavra e sacramento formam um todo inseparável. A Liturgia da Palavra, precedida
de um ato penitencial, abrirá a celebraço. As palavras de Cristo, o testemunho dos apóstolos
despertam a fé do enfermo e da comunidade para pedir ao Senhor a força de seu Espírito.
1519 A celebraço do sacramento compreende principalmente os elementos seguintes:
“os presbíteros da Igreja (Cf Tg 5,14) impõem – em silêncio - as mãos aos doentes; oram sobre eles
na fé da Igreja. É a epiclese própria deste sacramento. Realizam então a unço com óleo
consagrado, que, se possível, deve ser feita pelo Bispo. Essas açes litúrgicas indicam a graça
que esse sacramento confere aos enfermos.

IV. OS EFEITOS DA CELEBRAÇO DESTE SACRAMENTO
1520 Um dom particular do Espírito Santo O principal dom deste sacramento é uma graça
de reconforto, de paz e de coragem para vencer as dificuldades próprias do estado de
enfermidade grave ou da fragilidade da velhice. Esta graça é um dom do Espírito Santo que
renova a confiança e a fé em Deus e fortalece contra as tentaçes do maligno, tentaço de


desânimo e de angustia diante da morte. Esta assistência do Senhor pela força de seu Espírito
quer levar o enfermo à cura da alma, mas também à do corpo, se for esta a vontade de Deus.
Além disso, “se ele cometeu pecados, eles lhe serão perdoados” (Tg 5,15).
1521 A união com a paixão de Cristo. Pela graça deste sacramento o enfermo recebe a
força e o dom de unir-se mais intimamente à paixão de Cristo: de certa forma ele é consagrado
para produzir fruto pela configuraço à paixão redentora do Salvador. O sofrimento, seqüela do
pecado original, recebe um sentido novo: torna-se participaço na obra salvífica de Jesus.
1522 Uma graça eclesial. Os enfermos que recebem este sacramento, “associando-se
livremente à paixão e à morte de Cristo”, “contribuem para o bem do povo de Deus”. Ao
celebrar este sacramento, a Igreja, na comunhão dos santos, intercede pelo bem do enfermo. E
o enfermo, por sua vez, pela graça deste sacramento, contribui para a santificaço da Igreja e
para o bem de todos os homens pelos quais a Igreja sofre e se oferece, por Cristo, a Deus Pai.
1523 Uma preparaço para a última passagem. Se o sacramento da Unço dos Enfermos
é concedido a todos os que sofrem de doenças e enfermidades graves, com mais razão ainda
cabe aos que estão às portas da morte (“in exitu vitae constituti”). Por isso, também foi chamado
“sacramentum exeuntium”. A Unço dos Enfermos completa nossa conformaço com a Morte e
Ressurreiço de Cristo, como o Batismo começou a fazê-lo. E o termo das sagradas unçes que
acompanham toda a vida cristã: a do Batismo, que selou em nós a nova vida; a da
confirmaço, que nos fortificou para o combate desta vida. Esta derradeira unço fortalece o
fim de nossa vida terrestre como que de um sólido baluarte para enfrentar as últimas lutas antes
da entrada na casa do Pai.

V. O VIÁTICO, ÚLTIMO SACRAMENTO DO CRISTÃO
1524 Aos que estão para deixar esta vida, a Igreja oferece, além da Unço dos Enfermos,
a Eucaristia como viático. Recebida neste momento de passagem para o Pai, a comunhão do
Corpo e Sangue de Cristo tem significado e importância particulares. E semente de vida eterna e
poder de ressurreiço, segundo as palavras do Senhor: “Quem come a minha carne e bebe o
meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,54). Sacramento de Cristo
morto e ressuscitado, a Eucaristia é aqui sacramento da passagem da morte para a vida, deste
mundo para o Pai..
1525 Assim como os sacramentos do Batismo, da Confirmaço e da Eucaristia constituem
uma unidade chamada “os sacramentos da iniciaço cristã, pode-se dizer que a Penitência, a
Sagrada Unço e a Eucaristia como viático constituem, quando a vida cristã chega a seu
término, “os sacramentos que preparam para a Pátria” ou os sacramentos que consumam a
peregrinaço.

RESUMINDO
1526 “Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja para que
orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oraço da fé salvará o doente e o
Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, estes lhe serão perdoados” (Tg 5,14-15).
1527 O sacramento da Unço dos Enfermos tem por finalidade conferir uma graça
especial ao cristão que está passando pelas dificuldades inerentes ao estado de enfermidade
grave ou de velhice.
1528 O tempo oportuno para receber a sagrada unço é certamente aquele em que o
fiel começa a encontrar-se em perigo de morte devido à doença ou à velhice.
1529 Cada vez que um cristão cair gravemente enfermo, pode receber a sagrada unço.
Da mesma forma, pode recebê-la novamente se a doença se agravar.


1530 Só os sacerdotes (Bispos e presbíteros) podem administrar o sacramento da Unço
dos Enfermos; para conferi-lo, empregam óleo consagrado pelo Bispo ou, em caso de
necessidade, pelo próprio presbítero celebrante.
1531 O essencial da celebraço deste sacramento consiste na unço da fronte e das
mãos do doente (no rito romano) ou de outras partes do corpo (no Oriente), unço
acompanhada da oraço litúrgica do presbítero celebrante, que pede a graça especial deste
sacramento.
1532 A graça especial do sacramento da Unço dos Enfermos tem como efeitos:
ü a união do doente com a paixão de Cristo, para seu bem e o bem de toda a Igreja;
ü reconforto, a paz e a coragem para suportar cristãmente os sofrimentos da doença ou
da velhice;
ü perdão dos pecados, se o doente não pode obtê-lo pelo sacramento da Penitência;
ü restabelecimento da saúde, se isso convier à salvaço espiritual;
ü a preparaço para a passagem à vida eterna.

CAPÍTULO III.

OS SACRAMENTOS DO SERVIÇO DA COMUNHÃO

1533 O Batismo, a Confirmaço e a Eucaristia são os sacramentos da iniciaço cristã.
São a base da vocaço comum de todos os discípulos de Cristo, vocaço à santidade e à
missão de evangelizar o mundo. Conferem as graças necessárias à vida segundo Espírito nesta
vida de peregrinos a caminho da Pátria.
1534 Dois outros sacramentos, a ordem e o matrimônio, estão ordenados à salvaço de
outrem. Se contribuem também para a salvaço pessoal, isso acontece por meio do serviço aos
outros. Conferem uma missão particular na Igreja e servem para a edificaço do Povo de Deus.
1535 Nesses sacramentos, os que já foram consagrados pelo Batismo e pela Confirmaço
para o sacerdócio comum de todos os fiéis podem receber consagraçes específicas. Os que
recebem o sacramento da Ordem são consagrados para ser, em nome de Cristo, “pela palavra
e pela graça de Deus, os pastores da Igreja”. Por sua vez, “os esposos cristãos, para cumprir
dignamente os deveres de seu estado, são fortalecidos e como que consagrados por um
sacramento especial”.

ARTIGO 6
O SACRAMENTO DA ORDEM

1536 A Ordem é o sacramento graças ao qual a missão confiada por Cristo a seus
Apóstolos continua sendo exercida na Igreja até o fim dos tempos; é, portanto, o sacramento do
ministério apostólico. Comporta três graus: o episcopado, o presbiterado e o diaconato.
(Sobre a instituiço e a missão do ministério apostólico por Cristo, veja-se acima. Aqui, só
se trata da via sacramental pela qual se transmite este ministério.)

I. POR QUE O NOME SACRAMENTO DA ORDEM?


1537 A palavra ordem, na Antigüidade romana, designava corpos constituídos no sentido
civil, sobretudo o corpo dos que governavam. “Ordinatio” (ordenaço) designa a integraço
num “ordo” (ordem). Na Igreja, há corpos constituídos que a Tradiço, não sem fundamento na
Sagrada Escritura[ag7] , chama, desde os tempos primitivos, de “taxeis” (em grego; pronuncie
“tacseis”), de “ordines” (em latim). Por exemplo, a liturgia fala do “ordo episcoporum” (ordem
dos bispos), do “ordo presbyterorum” ordem dos presbíteros), do “ordo diaconorum” (ordem dos
diáconos). Outros grupos recebem também este nome de “ordo”: os catecúmenos, as virgens, os
esposos, as viúvas etc[§8] .
1538 A integraço em um desses corpos da Igreja era feita por um rito chamado
ordinatio, ato religioso e litúrgico que consistia numa consagraço, numa bênço ou num
sacramento. Hoje a palavra “ordinatio” é reservada ao ato sacramental que integra na ordem
dos bispos, presbíteros e diáconos e que transcende uma simples eleiço, designaço,
delegaço ou instituiço pela comunidade, pois confere um dom do Espírito Santo que permite
exercer um “poder sagrado” (“sacra potestas”) que só pode vir do próprio Cristo, por meio de
sua Igreja. A ordenaço também é chamada “consecratio” por ser um pôr à parte, uma
investidura, pelo próprio Cristo, para sua Igreja. A imposiço das mãos do bispo, com a oraço
consecratória, constitui o sinal visível desta consagraço.

II. O SACRAMENTO DA ORDEM NA ECONOMIA DA SALVAÇO

O SACERDÓCIO NA ANTIGA ALIANÇA
1539 O povo eleito foi constituído por Deus como “um remo de sacerdotes e uma naço
santa” (Ex 19.6). Mas, dentro do povo de Israel, Deus escolheu uma das doze tribos, a de Levi,
reservando-a para o serviço litúrgico; Deus mesmo é sua herança. Um rito próprio consagrou as
origens do sacerdócio da antiga aliança. Os sacerdotes são ai “constituídos para intervir em
favor dos homens em suas relaçes com Deus, a fim de oferecer dons e sacrifícios pelos
pecados”.
1540 Instituído para anunciar a palavra de Deus e para restabelecer a comunhão com
Deus pelos sacrifícios e pela oraço, esse sacerdócio continua, não obstante, impotente para
operar; a salvaço. Precisa, por isso, repetir sem cessar os sacrifícios, e não é capaz de levar à
santificaço definitiva, que só o sacrifício de Cristo deveria operar.
1541 Entretanto, a liturgia da Igreja vê no sacerdócio de Aarão, no serviço dos levitas e na
instituiço dos setenta “anciãos” prefiguraçes do ministério ordenado da nova aliança Assim,
no rito latino, a Igreja reza no prefácio consecratório da ordenaço dos bispos: Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo... por vossa palavra estabelecestes leis na Igreja; e escolhestes desde o
princípio um povo santo, descendente de Abraão, dando-lhe chefes e sacerdotes, e jamais
deixastes sem ministros o vosso santuário...

1542 NA ORDENAÇO DOS PRESBÍTEROS, A IGREJA REZA:
Assisti-nos, Senhor, Pai Santo ..... Já no Antigo Testamento, em sinais prefigurativ os, surgiram
vários ofícios por vós instituídos, de modo que, tendo à frente Aarão para guiar e santificar o
vosso povo, lhes destes colaboradores de menor ordem e dignidade. Assim, no deserto,
comunicastes a setenta homens prudentes o espírito dado a Moisés que, como auxílio deles,
pode mais facilmente governar o vosso povo.
Do mesmo modo, derramastes copiosamente sobre os filhos de Aarão a plenitude
concedida a seu pai, para que o serviço dos sacerdotes segundo a lei fosse suficiente para os
sacrifícios do tabernáculo.
1543 E, na oraço consecratória para a ordenaço dos diáconos, a Igreja professa:


Ó Deus Todo-Poderoso... fazeis crescer... a vossa Igreja. Para a edificaço do novo templo,
constituístes três ordens de ministros para servirem ao vosso nome, como outrora escolhestes os
filhos de Levi para o serviço do antigo santuário.

O ÚNICO SACERDÓCIO DE CRISTO
1544 Todas as prefiguraçes do sacerdócio da antiga aliança encontram seu
cumprimento em Cristo Jesus, “nico mediador entre Deus e os homens” (l Tm 2,5). Melquisedec,
“sacerdote do Deus Altíssimo” (Gn 14,18), é considerado pela Tradiço cristã como uma
prefiguraço do sacerdócio de Cristo, único “sumo sacerdote segundo a ordem de
Melquisedec” (Hb 5,10; 6,20), “santo, inocente, imaculado” (Hb 7,16), que “com uma única
oferenda levou à perfeiço, e para sempre, os que ele santifica” (Hb 10,14), isto é, pelo único
sacrifício de sua Cruz.
1545 O sacrifício redentor de Cristo é único, realizado uma vez por todas. Não obstante,
toma-se presente no sacrifício eucarístico da Igreja. O mesmo acontece com o único sacerdócio
de Cristo: torna-se presente pelo sacerdócio ministerial, sem diminuir em nada a unicidade do
sacerdócio de Cristo. “Por isso, somente Cristo é o verdadeiro sacerdote; Os outros são seus
ministros.”

DUAS PARTICIPAÇES NO SACERDÓCIO ÚNICO DE CRISTO
1546 Cristo, sumo sacerdote e único mediador, fez da Igreja “um Reino de sacerdotes
para Deus, seu Pai” (Cf Ap 1,6; 5,9-10; 1 Pd 2,5.9). Toda comunidade dos fiéis é, como tal,
sacerdotal. Os fiéis exercem seu sacerdócio batismal por meio de sua participaço, cada qual
segundo sua própria vocaço, na missão de Cristo, Sacerdote, Profeta e Rei. E pelos sacramentos
do Batismo e da Confirmaço que os fiéis são “consagrados para ser... um sacerdócio santo”.
1547 O sacerdócio ministerial ou hierárquico dos bispos e dos presbíteros e o sacerdócio
comum de todos os fiéis, embora “ambos participem, cada qual a seu modo, do único
sacerdócio de Cristo”, diferem, entretanto, essencialmente, mesmo sendo “ordenados um ao
outro”. Em que sentido? Enquanto o sacerdócio comum dos fiéis se realiza no desenvolvimento
da graça batismal, vida de fé, de esperança e de caridade, vida segundo o Espírito o
sacerdócio ministerial está a serviço do sacerdócio comum, refere-se ao desenvolvimento da
graça batismal de todos os cristãos. É um dos meios pelos quais Cristo não cessa de construir e de
conduzir sua Igreja. Por isso, é transmitido por um sacramento próprio, o sacramento da Ordem.

“IN PERSONA CHRISTI CAPITIS” (NA PESSOA DE CRISTO CABEÇA...)
1548 No serviço eclesial do ministro ordenado, é o próprio Cristo que está presente á sua
Igreja enquanto Cabeça de seu Corpo, Pastor de seu rebanho, Sumo Sacerdote do sacrifício
redentor Mestre da Verdade. A Igreja o expressa dizendo que o sacerdote, em virtude do
sacramento da Ordem, age “in persona Christi Capitis” (na pessoa de Cristo Cabeça):
Na verdade, o ministro faz as vezes do próprio Sacerdote, Cristo Jesus. Se, na verdade, o
ministro é assimilado ao Sumo Sacerdote por causa da consagraço sacerdotal que recebeu,
goza do poder de agir pela força do próprio Cristo que representa (“virtute ac persona ipsius
Christi”).
“Cristo é a origem de todo sacerdócio: pois o sacerdote da [Antiga Lei era figura dele, ao
passo que o sacerdote da nova lei age em sua pessoa.”
1549 Pelo ministério ordenado, especialmente dos bispos e dos presbíteros, a presença de
Cristo como chefe da Igreja se torna visível no meio da comunidade dos fiéis[ag36] . Segundo a
bela expressão de Santo Inácio de Antioquia, o Bispo é “typos tou Patros” (pronuncie: typos tu
patrós), como a imagem viva de Deus Pai.


1550 Esta presença de Cristo no ministro não deve ser compreendida como se este
estivesse imune a todas as fraquezas humanas, ao espírito de dominação, aos erros e até aos
pecados. A força do Espírito Santo não garante do mesmo modo todos os atos dos ministros.
Enquanto nos sacramentos esta garantia é assegurada, de tal forma que mesmo o pecado do
ministro não possa impedir o fruto da graça, há muitos outros atos em que a conduta humana do
ministro deixa traços que nem sempre são sinal de fidelidade ao Evangelho e que podem, por
conseguinte, prejudicar a fecundidade apostólica da Igreja.
1551 Esse sacerdócio é ministerial. “Esta missão que o Senhor confiou aos pastores de seu
povo é um verdadeiro serviço.” Refere-se inteiramente a Cristo e aos homens. Depende
inteiramente de Cristo e de seu sacerdócio único, e foi instituído em favor dos homens e da
comunidade da Igreja. O sacramento da ordem comunica “um poder sagrado” que é o próprio
poder de Cristo. O exercício desta autoridade deve, pois, ser medido pelo modelo de Cristo que,
por amor, se fez o último e servo de todos. “O Senhor disse claramente que cuidar de seu
rebanho é uma prova de amor para com Ele.”

“EM NOME DE TODA A IGREJA”
1552 A tarefa do sacerdócio ministerial não é apenas representar Cristo-Cabeça da Igreja
- diante da assembléia dos fiéis; ele age também em nome de toda a Igreja quando apresenta
a Deus a oraço da Igreja e sobretudo quando oferece o sacrifício eucarístico.
1553 “Em nome de toda a Igreja” não quer dizer que os sacerdotes sejam os delegados
da comunidade. A oraço e a oferenda da Igreja são inseparáveis da oraço e da oferenda de
Cristo, sua Cabeça. Trata-se sempre do culto de Cristo na e por sua Igreja. É toda a Igreja, corpo
de Cristo, que ora e se oferece, “per ipsum et cum ipso et in ipso” (por Ele, com Ele e nEle), na
unidade do Espírito Santo, a Deus Pai. Todo o corpo, “caput et membra” (cabeça e membros),
ora e se oferece, e é por isso que aqueles que são especialmente os ministros no corpo são
chamados ministros não somente de Cristo, mas também da Igreja. É por representar Cristo que o
sacerdócio ministerial pode representar a Igreja.

III. OS TRÊS GRAUS DO SACRAMENTO DA ORDEM
1554 “O ministério eclesiástico, divinamente instituído, é exercido em diversas ordens pelos
que desde a antigüidade são chamados bispos, presbíteros e diáconos.” A doutrina católica,
expressa na liturgia, no magistério e na prática constante da Igreja, reconhece que existem dois
graus de participaço ministerial no sacerdócio de Cristo: o episcopado e o presbiterado. O
diaconado se destina a ajudá-los e a servi-los. Por isso, o termo “sacerdos' designa, na prática
atual, os bispos e os sacerdotes, mas não os diáconos. Não obstante, ensina a doutrina católica
que os graus de participaço sacerdotal (episcopado e presbiterado) e o de serviço
(diaconado) são conferidos por um ato sacramental chamado “ordenaço”, isto e, pelo
sacramento da Ordem.
Que todos reverenciem os diáconos como Jesus Cristo, como também o Bispo, que é
imagem do Pai, e os presbíteros como senado de Deus e como a assembléia dos apóstolos: sem
eles não se pode falar de Igreja.

A ORDENAÇO EPISCOPAL - PLENITUDE DO SACRAMENTO DA ORDEM
1555 “Entre aqueles vários ministérios, que desde os primeiros tempos são exercidos na
Igreja, conforme atesta a Tradiço, o lugar principal é ocupado pelo múnus daqueles que,
constituídos no episcopado, conservam a semente apostólica por uma sucessão que vem
ininterrupta desde o começo.
1556 Para desempenhar sua missão, “os Apóstolos foram enriquecidos por Cristo com
especial efusão do Espírito Santo, que desceu sobre eles. E eles mesmos transmitiram a seus


colaboradores, mediante a imposiço das mãos, este dom espiritual que chegou até nós pela
sagraço episcopal”
1557 O Concílio Vaticano II “ensina, pois, que pela sagraço episcopal se confere a
plenitude do sacramento da Ordem, que, tanto pelo costume litúrgico da Igreja como pela voz
dos Santos Padres, é chamada o sumo sacerdócio, a realidade total ('summa') do ministério
sagrado”.
1558 “A sagraço episcopal, juntamente com o múnus de santificar, confere também os
de ensinar e de reger... De fato, mediante a imposiço das mãos e as palavras da sagraço, é
concedida a graça do Espírito Santo e impresso o caráter sagrado, de tal modo que os Bispos,
de maneira eminente e visível, fazem as vezes do próprio Cristo, Mestre, Pastor e Pontífice, e
agem em seu nome ('in eius persona agant').” “Os Bispos, portanto, pelo Espírito Santo que lhes foi
dado, foram constituídos como verdadeiros e autênticos mestres da fé, pontífices e pastores.”
1559 “Alguém é constituído membro do corpo episcopal pela sagraço sacramental e
pela hierárquica comunhão com o chefe e os membros do Colégio.” O caráter e a natureza
colegial da ordem episcopal se manifestam, entre outras, na antiga prática da Igreja, que requer
para a consagraço de um novo Bispo a participaço de vários Bispos. Para a legítima
ordenaço de um Bispo, é hoje exigida uma especial intervenço do Bispo de Roma, em razão
de sua qualidade de vínculo visível supremo da comunhão das Igrejas particulares na única
Igreja e garantia de sua liberdade.
1560 Cada Bispo, como vigário de Cristo, tem o encargo pastoral da Igreja particular que
lhe foi confiada, mas ao mesmo tempo ele, colegialmente, com todos os seus irmãos no
episcopado, deve ter solicitude por todas as Igrejas: “Se cada Bispo só é pastor propriamente
dito da porço do rebanho que lhe foi confiada, sua qualidade de legítimo sucessor dos
apóstolos por instituiço divina o toma solidariamente responsável pela missão apostólica da
Igreja”.
1561 Tudo o que acabamos de dizer explica por que a Eucaristia celebrada pelo Bispo
tem um significado todo especial como expressão da Igreja reunida em tomo do altar sob a
presidência daquele que representa visivelmente Cristo, Bom Pastor e Cabeça de sua Igreja.

A ORDENAÇO DOS PRESBÍTEROS COOPERADORES DOS BISPOS
1562 “Cristo, a quem o Pai santificou e enviou ao mundo (Jo 10,36), fez os Bispos
participantes de sua consagraço e missão, por meio dos apóstolos, de quem são sucessores. Os
Bispos transmitiram legitimamente o múnus de seu ministério em grau diverso a pessoas diversas
na Igreja.” “O múnus de seu ministério foi por sua vez confiado em grau subordinado aos
presbíteros, para que constituídos na ordem do presbiterado com o fito de cumprir a missão
apostólica transmitida por Cristo - fossem os colaboradores da ordem episcopal.”
1563 “O oficio dos presbíteros, por estar ligado à ordem episcopal, participa da
autoridade com que o próprio Cristo constrói, santifica e rege seu corpo. Por isso, o sacerdócio
dos presbíteros, supondo os sacramentos da iniciaço cristã, é conferido por meio daquele
sacramento peculiar mediante o qual os presbíteros, pela unço do Espírito Santo, são
assinalados com um caráter especial e assim configurados com Cristo sacerdote, de forma a
poderem agir em nome de Cristo Cabeça em pessoa.”
1564 “Embora os presbíteros não possuam o ápice do pontificado e no exercício de seu
poder dependam dos Bispos, estão contudo com eles unidos na dignidade sacerdotal. Em
virtude do sacramento da Ordem, segundo a imagem de Cristo, sumo e eterno sacerdote, eles
são consagrados para pregar o Evangelho, apascentar os fiéis e celebrar o culto divino, como
verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento.”
1565 Em virtude do sacramento da Ordem, os presbíteros participam das dimensões
universais da missão confiada por Cristo aos Apóstolos. O dom espiritual que receberam na
ordenaço prepara-os não para uma missão limitada e restrita, “mas para a missão amplíssima e


universal da salvaço até os confins da terra, “com o espírito pronto para pregar o Evangelho
por toda parte”.
1566 “Eles exercem seu sagrado múnus principalmente no culto eucarístico ou sinaxe, na
qual, agindo na pessoa de Cristo e proclamando seu mistério, unem os pedidos dos fiéis ao
sacrifício de sua Cabeça e, até a volta do Senhor, tomam presente e aplicam no sacrifício da
missa o único sacrifício do Novo Testamento, isto é, o sacrifício de Cristo que, como hóstia
imaculada, uma vez por todas se ofereceu ao Pai. É desse sacrifício único que retiram a força de
todo o seu ministério sacerdotal.
1567 “Solícitos cooperadores da ordem episcopal, seu auxílio e instrumento, chamados
para servir ao povo de Deus, os sacerdotes formam com seu Bispo um único presbitério,
empenhados, porém, em diversos ofícios. Em cada comunidade local de fiéis, tomam presente
de certo modo o Bispo, ao qual se associam com coraço confiante e generoso. Assumem,
como próprias, as funçes e as solicitudes do Bispo e as exercem em seu empenho cotidiano
pelos fiéis. Os presbíteros só podem exercer seu ministério na dependência do Bispo e em
comunhão com ele. A promessa de obediência que fazem ao Bispo no momento da ordenaço
e o ósculo da paz do Bispo no fim da liturgia da ordenaço significam que o bispo os considera
como seus colaboradores, filhos, irmãos e amigos, e em troca eles lhe devem amor e obediência.
1568 “Estabelecidos na ordem do presbiterado por meio da ordenaço, os presbíteros
estão ligados entre si por uma íntima fraternidade sacramental; de modo especial, porém,
formam um só presbitério na diocese para cujo serviço estão escalados sob a direço do próprio
Bispo.” A unidade do presbitério encontra uma expressão litúrgica na prática que recomenda
que os presbíteros, por sua vez, imponham as mãos, depois do Bispo, durante o rito da
ordenaço.

A ORDENAÇO DOS DIÁCONOS - “PARA O SERVIÇO”
1569 No grau inferior da hierarquia encontram-se os diáconos. São-lhes impostas as mãos
“não para o sacerdócio, mas para o serviço”. Para a ordenaço ao diaconado, só o Bispo
impõe as mãos, significando assim que O diácono está especialmente ligado ao Bispo nas
tarefas de sua “diaconia”.
1570 Os diáconos participam de modo especial na missão e graça de Cristo. São
marcados pelo sacramento da Ordem com um sinal (“caráter”) que ninguém poder apagar e
que os configura a Cristo, que se fez “diácono”, isto é, servidor de todos. Cabe aos diáconos,
entre outros serviços, assistir o Bispo e os padres na celebraço dos divinos mistérios, sobre tudo a
Eucaristia, distribuir a Comunhão, assistir ao Matrimônio e abençoá-lo, proclamar o Evangelho e
pregar, presidir o funerais e consagrar-se aos diversos serviços da caridade.
1571 Desde o Concílio Vaticano II, a Igreja latina restabeleceu o diaconato “como grau
próprio e permanente da hierarquia”, a passo que as Igrejas do Oriente sempre o mantiveram.
Esse diaconato permanente, que pode ser conferido a homens casados, constitui um importante
enriquecimento para a missão da Igreja. De fato, ser útil e apropriado que aqueles que cumprem
na Igreja um ministério verdadeiramente diaconal, quer na vida litúrgica e pastoral, quer nas
obras sociais e caritativas, “sejam corroborados e mais intimamente ligados ao altar pela
imposiço das mãos, tradiço que nos vem desde os apóstolos. Destarte desempenharão mais
eficazmente o seu ministério mediante a graça sacramental do diaconato”.

IV. A CELEBRAÇO DESTE SACRAMENTO
1572 A celebraço da ordenaço de um Bispo, de presbíteros ou de diáconos, devido à
sua importância para a vida da Igreja particular, exige o concurso do maior número possível de
fiéis. Deverá realizar-se de preferência num domingo e na catedral, com uma solenidade
adaptada à circunstância. As três ordenaçes – do Bispo, do padre e do diácono - seguem o
mesmo movimento. Seu lugar é no seio da Liturgia Eucarística.


1573 O rito essencial do sacramento da Ordem consta, para os três graus, da imposiço
das mãos pelo Bispo sobre a cabeça do ordenando e da oraço consagratória específica, que
pede a Deus a efusão do Espírito Santo e de seus dons apropriados ao ministério para o qual o
candidato é ordenado.
1574 Como todos os sacramentos, ritos anexos cercam a celebraço. Variando
consideravelmente nas diferentes tradiçes litúrgicas, o que têm em comum é exprimir os
múltiplos aspectos da graça sacramental. Assim, os ritos iniciais no rito latino - a apresentaço e a
eleiço do ordinando, a alocuço do Bispo, o interrogatório do ordinando, a ladainha de todos
os santos - atestam que a escolha do candidato foi feita de conformidade com a prática da
Igreja e preparam o ato solene da consagraço, depois da qual diversos ritos vêm exprimir e
concluir, de maneira simbólica, o mistério que acaba de consumar-se: para o Bispo e para o
presbítero, a unço do santo crisma, sinal da unço especial do Espírito Santo que torna fecundo
seu ministério; entrega do livro dos Evangelhos, do anel, da mitra e do báculo ao bispo, em sinal
de sua missão apostólica de anúncio da Palavra de Deus, de sua fidelidade à Igreja, esposa de
Cristo, de seu cargo de pastor do rebanho do Senhor; entrega da patena e do cálice ao
presbítero, “a oferenda do povo santo” que ele deve apresentar a Deus; entrega do livro dos
Evangelhos ao diácono, que acaba de receber a missão de anunciar o Evangelho de Cristo.

V. QUEM PODE CONFERIR ESTE SACRAMENTO?
1575 Foi Cristo quem escolheu os apóstolos, fazendo-os participar de sua missão e
autoridade. Elevado à direita do Pai, Ele não abandonou seu rebanho, mas guarda-o por meio
dos Apóstolos, sob sua constante proteço, e o dirige ainda pelos mesmos pastores que
continuam até hoje sua obra. Portanto, é Cristo “que concede” a uns serem apóstolos, a outros
pastores. Ele continua agindo por intermédio dos Bispos.
1576 Como o sacramento da Ordem é o sacramento do ministério apostólico, cabe aos
Bispos, como sucessores dos apóstolos, transmitir “o dom espiritual”, “a semente apostólica”. Os
Bispos validamente ordenados, isto é, que estão na linha da sucessão apostólica, conferem
validamente os três graus do sacramento da ordem.

VI. QUEM PODE RECEBER ESTE SACRAMENTO?
1577 “Só um varão ('vir') batizado pode receber validamente a ordenaço sagrada.” O
Senhor Jesus escolheu homens (“viri”) para formar o colégio dos doze Apóstolos e os apóstolos
fizeram o mesmo quando escolheram os colaboradores que seriam seus sucessores na missão. O
colégio dos Bispos, ao qual os presbíteros estão unidos no sacerdócio, torna presente e atualiza,
até o retomo de Cristo, o colégio dos doze. A Igreja se reconhece vinculada por essa escolha do
próprio Senhor. Por isso, a ordenaço de mulheres não é possível.
1578 Ninguém tem o direito de receber o sacramento da ordem. De fato, ninguém pode
arrogar-se a si mesmo este cargo. A pessoa é chamada por Deus para esta honra. Aquele que
crê verificar em si os sinais do chamado divino ao ministério ordenado deve submeter
humildemente seu desejo à autoridade da Igreja, à qual cabe a responsabilidade e o direito
convocar alguém para receber as ordens. Como toda graça, esse sacramento não pode ser
recebido a não ser como um dom imerecido.
1579 Todos os ministros ordenados da Igreja latina, com exceço dos diáconos
permanentes, normalmente são escolhidos entre os homens fiéis que vivem como celibatários e
querem guardar o celibato “por causa do Reino dos Céus” (Mt 19,12). Chamados a consagrar-se
com indiviso coraço ao Senhor e a “cuidar das coisas do Senhor”, entregam-se inteiramente a
Deus e aos homens. O celibato é um sinal desta nova vida a serviço da qual o ministro da Igreja é
consagrado; aceito com coraço alegre, ele anuncia de modo radiante o Reino de Deus.
1580 Nas Igrejas orientais, está em vigor, há séculos, uma disciplina diferente: enquanto
os Bispos só são escolhidos entre os celibatários, homens casados podem ser ordenados diáconos


e padres. Esta praxe é considerada legítima há muito tempo; esses padres exercem um ministério
muito útil no seio de suas comunidades. O celibato dos presbíteros, por outro lado, é muito
honrado nas Igrejas orientais, e são numerosos os que o escolhem livremente, por causa do Reino
de Deus. No Oriente como no Ocidente, aquele que recebeu o sacramento da Ordem não
pode mais casar -se.

VII. OS EFEITOS DO SACRAMENTO DA ORDEM

O CARÁTER INDELÉVEL
1581 Este sacramento toma a pessoa semelhante a Cristo por meio de uma graça
especial do Espírito Santo, para servir de instrumento de Cristo em favor de sua Igreja. Pela
ordenaço, a pessoa se habilita a agir como representante de Cristo, Cabeça da Igreja, em sua
tríplice funço de sacerdote, profeta e rei.
1582 Como no caso do Batismo e da Confirmaço, esta participaço na funço de Cristo
é concedida uma vez por todas. O sacramento da Ordem também confere um caráter espiritual
indelével e não pode ser reiterado nem conferido temporariamente.
1583 Alguém validamente ordenado pode, é claro, por motivos graves, ser exonerado
das obrigaçes e das funçes ligadas à ordenaço ou ser proibido de exercê-las, mas jamais
poder voltar a ser leigo no sentido estrito, porque o caráter impresso pela ordenaço permanece
para sempre. A vocaço e a missão recebidas no dia de sua ordenaço marcam a pessoa de
modo permanente.
1584 Como, afinal de contas, quem age e opera a salvaço é Cristo, por inter-médio do
ministro ordenado, a indignidade deste não impede Cristo de agir. Santo Agostinho diz isso
categoricamente:
O ministro orgulhoso deve ser colocado junto com o diabo, mas nem por isso é
contaminado o dom de Cristo, que, por esse ministro, continua a fluir em sua pureza e, por meio
dele, chega límpido e cai em terra fértil... Na verdade, a virtude espiritual do sacramento se
assemelha à luz: os que devem ser iluminados a receber em sua pureza, pois, mesmo que tenha
de atravessar seres manchados, ela não se contamina.

A GRAÇA DO ESPÍRITO SANTO
1585 A graça do Espírito Santo própria deste sacramento e graça da configuraço a
Cristo Sacerdote, Mestre e Pastor, do qual o homem ordenado é constituído ministro.
1586 No caso do Bispo, trata-se de uma graça de força (“O Espírito que constitui chefes”:
Oraço de consagraço do Bispo do rito latino): a graça de guiar e de defender com força e
prudência sua Igreja como pai e pastor, com um amor gratuito por todos e uma predileço pelos
pobres, doentes e necessitados. Esta graça o impele a anunciar o Evangelho a todos, a ser o
modelo de seu rebanho, a precedê -lo no caminhada santificaço, identificando-se na Eucaristia
com Cristo sacerdote e vítima, sem medo de entregar a vida por suas ovelhas: Pai, que
conheceis os coraçes, concedei a vosso servo que escolhestes para o episcopado apascentar
vosso santo rebanho e exercer irrepreensivelmente diante de vós o sumo sacerdócio, servindo-
vos noite e dia; que ele tome incessantemente propício vosso olhar e ofereça os dons de vossa
santa Igreja; que, em virtude do espírito do sumo sacerdócio, tenha o poder de perdoar os
pecados segundo o vosso mandamento, distribua os cargos conforme vossa ordem e se desligue
de todo vinculo em virtude do poder que destes aos apóstolos; que ele vos seja agradável por
sua doçura e seu coraço puro, oferecendo-vos um perfume agradável, por intermédio de vosso
Filho, Jesus Cristo...
1587 O dom espiritual conferido pela ordenaço presbiteral se expressa por esta oraço
própria do rito bizantino. O bispo, impondo a mão, diz entre outras coisas: Senhor, dignai-vos


cumular do dom do Espírito Santo aquele que vos dignastes elevar ao grau do sacerdócio, a fim
de que seja digno de manter-se irrepreensível diante de vosso altar, anunciar o Evangelho de
vosso Reino, cumprir o ministério de vossa palavra de verdade, oferecer dons e sacrifícios
espirituais, renovar vosso povo pelo banho da regeneraço, de forma que ele próprio se
encaminhe para o grande Deus e Salvador Jesus Cristo, vosso Filho único, no dia de sua segunda
vinda, e que receba de vossa imensa bondade a recompensa de uma fiel administraço de sua
ordem.
1588 Quanto aos diáconos, “a graça sacramental lhes concede a força necessária
para servir ao povo de Deus na 'diaconia' da liturgia, da palavra e da caridade, em comunhão
com o Bispo e seu presbitério”.
1589 Diante da grandeza da graça e da missão sacerdotais, os santos doutores sentiram
o urgente apelo à conversão, a fim de corresponder através de toda a sua vida Aquele de
quem são constituídos ministros pelo sacramento. Neste sentido, São Gregório Nazianzeno, ainda
jovem sacerdote, não pôde deixar de exclamar:
É preciso começar a purificar -se antes de purificar os outros, é preciso ser instruído para
poder instruir, é preciso tomar-se luz para iluminar, aproximar -se de Deus para aproximar dele os
outros, ser santificado para santificar, conduzir pela mão e aconselhar com perspicácia. Sei muito
bem de quem somos ministros, em que nível nos encontramos e quem é aquele para o nos
dirigimos. Conheço a sublimidade de Deus e a fraqueza homem, mas também sua força. [Quem
é, pois, o sacerdote ?] É o defensor da verdade, eleva-se com os anjos, glorifica os com arcanjos,
leva ao altar celeste as vítimas do sacrifício, partilha do sacerdócio de Cristo, remodela a
criatura, restabelecendo (nela) a imagem (de Deus), recria-a para o mundo do alto e, para dizer
o que há de mais sublime, é divinizado e diviniza.
E o Santo Cura d’Ars: “ É o sacerdote que continua a obra de redenço na terra”... “Se
soubéssemos o que é o sacerdote terra, morreríamos não de espanto, mas de amor”... “O
sacerdócio é o amor do coraço de Jesus”.

RESUMINDO
1590 São Paulo disse a seu discípulo Timóteo: “Eu te exorto a reavivar o dom de Deus
que há em ti pela imposiço de minhas mão, (2Tm 1,6), e “se alguém aspira ao episcopado, boa
obra deseja” (1 Tm 3,1). A Tito dizia ele: “Eu te deixei em Creta para cuidares da organizaço e
ao mesmo tempo para que constituas presbíteros em cada cidade, cada qual devendo ser
como te prescrevi” (Tt 1,5).
1591 Toda a Igreja é um povo sacerdotal. Graças ao Batismo, todos os fiéis participam do
sacerdócio de Cristo. Esta participaço se chama “sacerdócio comum dos fiéis”. Baseado nele e
a seu serviço existe outra participaço na missão de Cristo, a do ministério conferido pelo
sacramento da Ordem, cuja tarefa é servir em nome e na pessoa de Cristo Cabeça no meio da
comunidade.
1592 O sacerdócio ministerial difere essencialmente do sacerdócio comum dos fiéis
porque confere um poder sagrado para o serviço dos fiéis. Os ministros ordenados exercem seu
serviço com o povo de Deus por meio ensinamento (múnus docendi: “encargo de ensinar”), do
culto divino (múnus liturgicum: “encargo litúrgico”) e do governo pastoral (múnus regendi:
“encargo de governar”).
1593 Desde as origens, o ministério ordenado foi conferido e exercido em três graus: o
dos bispos, o dos presbíteros e o dos diáconos. Os ministérios conferidos pela ordenaço são
insubstituíveis na estrutura orgânica da Igreja. Sem o bispo, os presbíteros e os diáconos, não só
pode falar de Igreja.
1594 O Bispo recebe a plenitude do sacramento da ordem que o insere no Colégio
episcopal e faz dele o chefe visível da Igreja particular que lhe é confiada. Os Bispos, como


sucessores dos apóstolos e membros do Colégio, participam da responsabilidade apostólica e da
missão de toda a Igreja, sob a autoridade do papa, sucessor de São Pedro.
1595 Os presbíteros estão unidos aos bispos na dignidade sacerdotal e ao mesmo tempo
dependem deles no exercício de suas junçes pastorais; são chamados a ser atentos
cooperadores dos Bispos; formam em torno de seu Bispo o “presbitério”, que com ele é
responsável pela Igreja particular. Recebem do Bispo o encargo de uma comunidade paroquial
ou de uma junço eclesial determinada.
1596 Os diáconos são ministros ordenados para as tarefas de serviço da Igreja; não
recebem o sacerdócio ministerial, mas a ordenaço lhes confere junçes importantes no
ministério da Palavra, do culto divino, do governo pastoral e do serviço da caridade, tarefas que
devem cumprir sob a autoridade pastoral de seu Bispo.
1597 O sacramento da Ordem é conferido pela imposiço das mãos, seguida de uma
solene oraço consecratória que pede a Deus, para o ordenando, as graças do Espírito Santo,
necessárias para exercer seu ministério. A ordenaço imprime um caráter sacramental indelével.
1598 A Igreja só confere o sacramento da ordem a homens (viris) batizados, cujas
aptidões para o exercício do ministério foram devidamente comprovadas. Cabe à autoridade
da Igreja a responsabilidade e o direito de chamar alguém para receber as Sagradas Ordens.

ARTIGO 7
O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO

1601 “A aliança matrimonial, pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma
comunhão da vida toda, é ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à geraço e
educaço da prole, e foi elevada, entre os batizados, à dignidade de sacramento por Cristo
Senhor.”

I. O MATRIMÔNIO NO DESÍGNIO DE DEUS
1602 A sagrada Escritura abre-se com a criaço do homem e da mulher à imagem e
semelhança de Deus se fecha-se com a visão das “núpcias do Cordeiro” (cf. Ap 19,7). De um
extremo a outro, a Escritura fala do casamento e de seu “mistério”, de sua instituiço e do
sentido que lhe foi dado por Deus, de sua origem e de seu fim, de suas diversas realizaçes ao
longo de história da salvaço, de suas dificuldades provenientes do pecado e de sua renovaço
“no Senhor” (1Cor 7,39), na Nova Aliança de Cristo e da Igreja.

O MATRIMÔNIO NA ORDEM DA CRIAÇO
1603 “A íntima comunhão de vida e de amor conjugal que o Criador fundou e dotou
com suas leis [...] O próprio [...] Deus é o autor do matrimônio. “A vocaço para o Matrimônio
está inscrita na própria natureza do homem e da mulher, conforme saíram da mão do Criador. O
casamento não é uma instituiço simplesmente humana, apesar das inúmeras variaçes que
sofreu no curso dos séculos, nas diferentes culturas, estruturas sociais e atitudes espirituais. Essas
diversidades não devem fazer esquecer os traços comuns e permanentes. Ainda que a
dignidade desta instituiço não transpareça em toda parte com a mesma clareza, existe,
contudo, em todas as culturas, um certo sentido da grandeza da união matrimonial. “A salvaço
da pessoa e da sociedade humana está estreitamente ligada ao bem-estar da comunidade
conjugal e familiar.”
1604 Deus, que criou o homem por amor, também o chamou para o amor, vocaço
fundamental e inata de todo ser humano. Pois o homem foi criado à imagem e semelhança de
Deus, que é Amor. Tendo-os Deus criado homem e mulher, seu amor mútuo se torna uma


imagem do amor absoluto e indefectível de Deus pelo homem. Esse amor é bom, muito bom,
aos olhos do Criador, que “ amor” (1Jo 4,8.16). E esse amor abençoado por Deus é destinado a
ser fecundo e a realizar-se na obra comum de preservaço da criaço: “Deus os abençoou e
lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28).
1605 Que o homem e a mulher tenham sido criados um para o outro, a sagrada Escritura
o afirma: “Não é bom que O homem esteja só (Gn 2,18). A mulher, “carne de sua carne”, é,
igual a ele, bem próxima dele, lhe foi dada por Deus como um “auxilio”, representando, assim,
“Deus, em quem está o nosso socorro”. “Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à
sua mulher, e eles se tornam uma só carne” (Gn 2,24). Que isto significa uma unidade indefectível
de suas duas vidas, o próprio Senhor no-lo mostra lembrando qual foi, 'na origem”, o desígnio do
Criador (Cf Mt 19,4): “De modo que já não são dois, mas uma só carne” (Mt 19,6).

O CASAMENTO SOB O REGIME DO PECADO
1606 Todo homem sofre a experiência do mal, à sua volta e em si mesmo. Esta
experiência também se faz sentir nas relaçes entre o homem e a mulher. Sua união sempre foi
ameaçada pela discórdia, pelo espírito de dominaço, pela infidelidade, pelo ciúme e por
conflitos que podem chegar ao ódio e à ruptura. Essa desordem pode manifestar -se de maneira
mais ou menos grave, e pode ser mais ou menos superada, segundo as culturas, as épocas, os
indivíduos. Tais dificuldades, no entanto parecem ter um caráter universal.
1607 Segundo a fé, essa desordem que dolorosamente constatamos não vem da
natureza do homem e da mulher, nem da natureza de suas relaçes, mas do pecado. Tendo
sido uma ruptura com Deus, o primeiro pecado tem, como primeira conseqüncia a ruptura da
comunhão original do homem e da mulher. Sua relaçes começaram a ser deformadas por
acusaçes recíprocas sua atraço mútua, dom do próprio Criador transforma-se relaçes de
dominaço e de cobiça[ag19] ; a bela vocaço do homem e da mulher para ser fecundos,
multiplicar-se e sujeitar a terra é onerada pelas dores de parto e pelo suor do ganha-pão.
1608 Não obstante, a ordem da criaço subsiste, apesar de gravemente perturbada. Para
curar as feridas do pecado, o homem e a mulher precisam da ajuda da graça que Deus, em sua
misericórdia infinita, jamais lhes recusou. Sem esta ajuda, homem e a mulher não podem chegar
a realizar a união de suas vidas para a qual foram criados “no princípio”.

O CASAMENTO SOB A PEDAGOGIA DA LEI
1609 Em sua misericórdia, Deus não abandonou o homem pecador. As penas que
acompanham o pecado, “as dores da gravidade de dar à luz (Cf Gn 3,16), o trabalho “com o
suor de teu rosto” (Gn 3,19) constituem também remédios que atenuam os prejuízos do pecado.
Após a queda, o casamento ajuda a vencer a centralizaço em si mesmo, o egoísmo, a busca
do próprio prazer, e a abrir-se ao outro, à ajuda mútua, ao dom de si.
1610 A consciência moral concernente à unidade e à indissolubilidade do Matrimônio
desenvolveu-se sob a pedagogia da lei antiga. A poligamia dos patriarcas e dos reis ainda não
fora explicitamente rejeitada. Entretanto, a lei dada a Moisés visava proteger a mulher contra o
arbítrio é a dominaço pelo homem, apesar de também trazer, segundo a palavra do Senhor, os
traços da “dureza do coraço” do homem, em razão da qual Moisés permitiu o repúdio da
mulher.
1611 Examinando a aliança de Deus com Israel sob a imagem de um amor conjugal
exclusivo e fiel, os profetas prepar aram a consciência do povo eleito para uma compreensão
mais profunda da unicidade e indissolubilidade do Matrimônio. Os livros de Rute e de Tobias dão
testemunhos comoventes do elevado sentido do casamento, da fidelidade e da ternura dos
esposos. A Tradiço sempre viu no Cântico dos Cânticos uma expressão única do amor humano,
visto que é reflexo do amor de Deus, amor “forte como a morte”, que “as águas da torrente
jamais poderão apagar” (Ct 8,6-7).



O CASAMENTO NO SENHOR
1612 A aliança nupcial entre Deus e seu povo Israel havia preparado a nova e eterna
aliança na qual o Filho de Deus, encarnando-se e entregando sua vida, uniu-se de certa maneira
com toda a humanidade salva por ele, preparando, assim, “as núpcias do Cordeiro (Cf Ap 19,7
e 9).
1613 No limiar de sua vida pública, Jesus opera seu primeiro sinal a pedido de sua Mãe por
ocasião de uma festa de casamento. A Igreja atribui grande importância à presença de Jesus
nas núpcias de Caná. Vê nela a confirmaço de que o casamento é uma realidade boa e o
anúncio de que, daí em diante, ser ele um sinal eficaz da presença de Cristo.
1614 A Celebraço do Mistério Cristão Os Sete Sacramentos da igreja. Em sua pregaço,
Jesus ensinou sem equívoco o sentido o original da união do homem e da mulher, conforme quis
o Criador desde o começo. A permissão de repudiar a própria mulher, concedida por Moisés, era
uma concessão devida à dureza do coraço; a união matrimonial do homem e da mulher é
indissolúvel, pois Deus mesmo a ratificou: “O que Deus uniu, o homem não dev e separar” (Mt
19,6).
1615 É provável que esta insistência sem equívoco na indissolubilidade do vínculo
matrimonial deixasse as pessoas perplexas e aparecesse como uma exigência irrealizável.
Todavia, isso não quer dizer que Jesus tenha imposto um fardo impossível de carregar e pesado
demais para os ombros dos esposos, mais pesado que a Lei de Moisés. Como Jesus veio para
restabelecer ordem inicial da criaço perturbada pelo pecado, ele mesmo dá a força e a graça
para viver o casamento na nova dimensão do Reino de Deus. E seguindo a Cristo, renunciando a
si mesmos e tomando cada um sua cruz que os esposos poderão “compreender” o sentido
original do casamento e vivê-lo com a ajuda de Cristo. Esta graça do Matrimônio cristão é um
fruto da Cruz de Cristo, fonte de toda vida cristã.
1616 É justamente isso que o apóstolo Paulo quer fazer entender quando diz: “E vós,
maridos, amai vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de
purificá-la” (Ef 5,25-26), acrescentando imediatamente: “Por isso de deixar o homem seu pai e
sua mãe e se ligar à sua mulher, e serão ambos uma só carne. E grande este mistério: refiro-me à
relaço entre Cristo e sua Igreja” (Ef 5,31-32).
1617 Toda [§40] a vida cristã traz a marca do amor esponsal de Cristo e da Igreja. Já o
Batismo, entrada no Povo de Deus, é um mistério nupcial: é, por assim dizer, o banho das núpcias
que precede o banquete de núpcias, a Eucaristia. O Matrimônio cristão se torna, por sua vez,
sinal eficaz, sacramento da aliança de Cristo e da Igreja. O Matrimônio entre batizados é um
verdadeiro sacramento da nova aliança, pois significa e comunica a graça.

A VIRGINDADE POR CAUSA DO REINO

1618 Cristo é o centro de toda a vida cristã. O vínculo com Ele está em primeiro lugar, na
frente de todos os outros vínculos, familiares ou sociais. Desde o começo da Igreja, houve
homens e mulheres que renunciaram ao grande bem do Matrimônio para seguir o Cordeiro onde
quer que fosse, para ocupar -se com as coisas do Senhor, para procurar agradar-lhe, para ir ao
encontro do Esposo que vem. O próprio Cristo convidou alguns para segui-lo neste modo de
vida, cujo modelo continua sendo ele mesmo:
Há eunucos que nasceram assim do ventre materno. E há eunucos que foram feitos
eunucos pelos homens. E há eunucos que se fizeram eunucos por causa do Reino dos Céus.
Quem tiver capacidade para compreender compreenda! (Mt 19,12).
1619 A virgindade pelo Reino dos Céus é um desdobramento da graça batismal, um
poderoso sinal da preeminência do vínculo com Cristo, da ardente expectativa de seu regresso,


um sinal que também lembra que o Matrimônio é uma realidade da figura deste mundo que
passa.
1620 Ambos, o sacramento do Matrimônio e a virgindade pelo Reino de Deus, provêm
do próprio Senhor. É Ele que lhes dá sentido e concede a graça indispensável para vivê-los em
conformidade com sua vontade. A estima da virgindade por causa do Reino e o sentido cristão
do casamento são inseparáveis e se ajudam mutuamente:
Denegrir o Matrimônio é ao mesmo tempo minorar a glória da virgindade; elogiá-lo é
realçar a admiraço que se deve à virgindade... Porque, afinal, o que não parece um bem
senão em comparaço com um mal não pode ser verdadeiramente um bem, mas o que é
ainda melhor que bens incontestáveis é o bem por excelência.

II. A CELEBRAÇO DO MATRIMÔNIO

1621 No rito latino, a celebraço do Matrimônio entre dois fiéis católicos normalmente
ocorre dentro da santa missa, em vista de vínculo de todos os sacramentos com o mistério pascal
de Cristo. Na Eucaristia se realiza o memorial da nova aliança, na qual Cristo se uniu para sempre
à Igreja, sua esposa bem-amada, pela qual se entregou. Portanto, é conveniente que os esposos
selem seu consentimento de entregar -se um ao outro pela oferenda de suas próprias vidas,
unindo-o à oferenda de Cristo por sua Igreja que se toma presente no Sacrifício Eucarístico, e
recebendo Eucaristia, a fim de que, comungando no mesmo Corpo e no mesmo Sangue de
Cristo, eles “formem um só corpo” nele.
1622 “Como gesto sacramental de santificaço, a celebraç ão litúrgica do Matrimônio ...
deve ser válida por si mesma, digna e frutuosa.” Convém, pois, que os futuros esposos se
disponham à celebraço de seu casamento recebendo o sacramento da Penitência.
1623 Segundo a tradiço latina, são os esposos que, como ministros da graça de Cristo, se
conferem mutuamente o sacramento do Matrimônio, expressando diante da Igreja seu
consentimento. Nas tradiçes das Igrejas Orientais, os sacerdotes, Bispos ou presbíteros, são
testemunhas do consentimento recíproco dos esposos, mas também é necessária a bênço
deles para a validade do sacramento.
1624 As diversas liturgias são ricas em oraçes de bênço e de epiclese para pedir a Deus
a graça e a bênço sobre o novo casal, especialmente sobre a esposa. Na epiclese deste
sacramento, os esposos recebem o Espírito Santo como comunhão de amor de Cristo e da Igreja
(Cf Ef 5,32). É Ele o selo de sua aliança, a fonte que incessantemente oferece seu amor, a força
em que se renovar a fidelidade dos esposos.

III. O CONSENTIMENTO MATR IMONIAL
1625 Os protagonistas da aliança matrimonial são um homem e uma mulher batizados,
livres para contrair o Matrimônio e que expressam livremente seu consentimento. “Ser livre” quer
dizer:
ü não sofrer constrangimento;
ü não ser impedido por uma lei natural ou eclesiástica.
1626 A Igreja considera a troca de consentimento entre os esposos como elemento
indispensável “que produz o matrimônio”. e faltar o consentimento, não há casamento.
1627 O consentimento consiste num “ato humano pelo qual os cônjuges se doam e se
recebem mutuamente”: “Eu te recebo por minha mulher” - “Eu te recebo por meu marido. Este
consentimento que liga os esposos entre si encontra seu cumprimento no fato de “os dois se
tomarem uma só carne”.


1628 O consentimento deve ser um ato da vontade de cada um dos contraentes, livre
de violência ou de medo grave externo. Nenhum poder humano pode suprir esse
consentimento. Se faltar esta liberdade, o casamento será inválido.
1629 Por esta razão (ou por outras razões que tornam nulo e inexistente o Matrimônio),
a Igreja pode, após exame da situaço pelo tribunal eclesiástico competente, declarar “a
nulidade do casamento”, isto é, que o casamento jamais existiu. Neste caso, os contraentes
ficam livres para casar-se, respeitando as obrigaçes naturais provenientes de uma união
anterior.
1630 O sacerdote (ou o diácono) que assiste à celebraço do Matrimônio acolhe o
consentimento dos esposos em nome da Igreja e dá a bênço da Igreja. A presença do ministro
da Igreja (e também das testemunhas) exprime visivelmente que o casamento é uma realidade
eclesial.
1631 É por esta razão que a Igreja normalmente exige de seus fiéis a forma eclesiástica
da celebraço do casamento. Diversas razões concorrem para explicar esta determinaço:
ü casamento-sacramento é um ato litúrgico. Por isso, convém que seja celebrado na
liturgia pública da Igreja.
ü Matrimônio foi introduzido num ordo eclesial, cria direitos e deveres na Igreja, entre os
esposos e relativos à prole.
ü Sendo o Matrimônio um estado de vida na Igreja, é necessário que haja certeza a seu
respeito (daí a obrigaço de haver testemunhas).
ü caráter público do consentimento protege o mútuo “Sim” que um dia foi dado e
ajuda a permanecer-lhe fiel.
1632 Para que o “sim” dos esposos seja um ato livre e responsável e para que a aliança
matrimonial tenha bases humanas e cristãs sólidas e duráveis, a preparaço para o casamento é
de primeira importância:
O exemplo e o ensinamento dos pais e da família continuam sendo o caminho
privilegiado desta preparaço.
O papel dos pastores e da comunidade cristã como “família de Deus” é indispensável
para a transmissão dos valores humanos e cristãos do Matrimônio e da família, e mais ainda
porque em nossa época muitos jovens conhecem a experiência dos lares desfeitos que não
garantem mais suficientemente esta iniciaço (feita dentro da família):
Os jovens devem ser instruídos convenientemente e a tempo sobre a dignidade, a funço
e o exercício do amor conjugal, a fim de que, preparados no cultivo da castidade, possam
passar, na idade própria, do noivado honesto para as núpcias.

OS CASAMENTOS MISTOS E A DISPARIDADE DE CULTO
1633 Em muitos países, a situaço do casamento misto (entre católico e batizado não-
católico) se apresenta com muita freqüncia. Isso exige uma atenço particular dos cônjuges e
dos pastores. O caso dos casamentos com disparidade de culto (entre católico e não-batizado)
exige uma circunspecço maior ainda.
1634 A diferença de confissão entre os cônjuges não constitui obstáculos insuperável para
o casamento, desde que consigam pôr em comum o que cada um deles recebeu em sua
comunidade e aprender um do outro o modo de viver sua fidelidade a Cristo. Mas nem por isso
devem ser subestimadas as dificuldades dos casamentos mistos. Elas se devem ao fato de que a
separaço dos cristãos é uma questão ainda não resolvida. Os esposos correm o risco de sentir o
drama da desunião dos cristãos no seio do próprio lar. A disparidade de culto pode agravar
ainda mais essas dificuldades. As divergências concernentes à fé, à própria concepço do
casamento, como também mentalidades religiosas diferentes, podem constituir uma fonte de


tensões no casamento, principalmente no que tange à educaço dos filhos. Uma tentaço
pode então apresentar -se: a indiferença religiosa.
1635 Conforme o direito em vigor na Igreja Latina, um casamento misto exige, para sua
liceidade, a permissão expressa da autoridade eclesiástica[ag79] . Em caso de disparidade de
culto, requer-se uma dispensa expressa do impedimento para a validade do casamento. Esta
permissão ou esta dispensa supõem que as duas partes conheçam e não excluam os fins e as
propriedades essenciais do casamento, e também que a parte católica confirme o empenho,
com o conhecimento também da parte não-católica, de conservar a própria fé e assegurar o
batismo e a educaço dos filhos na Igreja católica.
1636 Em muitas regiões, graças ao diálogo ecumênico, as comunidades cristãs envolvidas
conseguiram criar uma pastoral comum para os casamentos mistos. Sua tarefa é ajudar esses
casais a viver sua situaço particular à luz da fé. Deve também ajudá-los a superar as tensões
entre as obrigaçes que um tem para com o outro e suas obrigaçes para com suas
comunidades eclesiais, além de incentivar o desabrochar daquilo que lhes é comum na fé e o
respeito por tudo que os separa.
1637 Nos casamentos com disparidade de culto, o cônjuge católico tem uma missão
particular: “Pois o marido não-cristão é santificado pela esposa, e a esposa não-cristã é
santificada pelo marido cristão” (1Cor 7,14). Ser uma grande alegria para o cônjuge cristão e
para a Igreja se esta “santificaço” levar o cônjuge à livre conversão à fé cristã. O amor conjugal
sincero, a humilde e paciente prática das Virtudes familiares e a oraço perseverante podem
preparar o cônjuge não-cristão a acolher a graça da conversão.

IV. OS EFEITOS DO SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO
1638 “Do Matrimônio válido origina-se entre os cônjuges um vínculo que, por sua natureza,
é perpétuo e exclusivo; além disso, no Matrimônio cristão, os cônjuges são robustecidos e como
que consagrados por um sacramento especial aos deveres e à dignidade de seu estado.”

O VÍNCULO MATRIMONIAL
1639 O consentimento pelo qual os esposos se entregam e se acolhem mutuamente é
selado pelo próprio Deus. De sua aliança “se origina também diante da sociedade uma
instituiço firmada por uma ordenaço divina”. A aliança dos esposos é integrada na aliança de
Deus com os homens: “O autêntico amor conjugal é assumido no amor divino”.
1640 O vínculo matrimonial é, pois, estabelecido pelo próprio, Deus, de modo que o
casamento realizado e consumado entre batizados jamais pode ser dissolvido. Este vínculo que
resultado ato humano livre dos esposos e da consumaço do casamento é uma realidade
irrevogável e dá origem a uma aliança garantida pela fidelidade de Deus. Não cabe ao poder
da Igreja pronunciar -se contra esta disposiço da sabedoria divina.

A GRAÇA DO SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO
1641 “Em seu estado de vida e função, (os esposos cristãos) têm um dom especial dentro
do povo de Deus.” Esta graça própria do sacramento do Matrimônio se destina a aperfeiçoar o
amor dos cônjuges, a fortificar sua unidade indissolúvel. Por esta graça “eles se ajudam
mutuamente a santificar-se na vida conjugal, como também na aceitaço e educaço dos
filhos”.
1642 Cristo é a fonte desta graça. “Como outrora Deus tomou a iniciativa do pacto de
amor e fidelidade com seu povo, assim agora o Salvador dos homens, Esposo da Igreja, vem ao
encontro dos cônjuges cristãos pelo sacramento do Matrimônio[ag93] .” Permanece com eles,
concede-lhes a força de segui-lo levando sua cruz e de levantar -se depois da queda, perdoar-se
mutuamente, carregar o fardo uns dos outros, “submeter -se uns aos outros no temor de Cristo” (Ef


5,21) e amar-se com um amor sobrenatural, delicado e fecundo. Nas alegrias de seu amor e de
sua vida familiar, Ele lhes dá, aqui na terra, um antegozo do festim de núpcias do Cordeiro.
Onde poderei haurir a força para descrever satisfatoriamente a felicidade do Matrimônio
administrado pela Igreja, confirmado pela doaço mútua, selado pela bênço? Os anjos o
proclamam, o Pai celeste o ratifica... O casal ideal não é o de dois cristãos unidos por uma única
esperança, um único desejo, uma única disciplina, o mesmo serviço? Ambos filhos de um mesmo
Pai, servos de um mesmo Senhor. Nada pode separá-los, nem no espírito nem na carne; ao
contrário, eles são verdadeiramente dois numa só carne. Onde a carne é uma só, um também é
o espírito.

V. OS BENS E AS EXIGÊNCIAS DO AMOR CONJUGAL
1643 “O amor conjugal comporta uma totalidade na qual entram todos os
componentes da pessoa apelo do corpo e do instinto, força do sentimento e da afetividade,
aspiraço do espírito e da vontade; O amor conjugal dirige-se a uma unidade profundamente
pessoal, aquela que, para além da união numa só carne, não conduz senão a um só coraço e
a uma só alma; ele exige a indissolubilidade e a fidelidade da doaço recíproca definitiva e
abre-se à fecundidade. Numa palavra, trata-se das características normais de todo amor
conjugal natural, mas com um significado novo que não só as purifica e as consolida, mas eleva-
as, a ponto de torná-las a expressão dos valores propriamente cristãos.”

A UNIDADE E A INDISSOLUBILIDADE DO MATRIMÔNIO
1644 O amor dos esposos exige, por sua própria natureza, a unidade e a indissolubilidade
da comunidade de pessoas que engloba toda a sua vida: “De modo que já não são dois, mas
uma só carne” (Mt 19,6). “Eles são chamados a crescer continuamente nesta comunhão por
meio da fidelidade cotidiana à promessa matrimonial do dom total recíproco.” Esta comunhão
humana é confirmada, purificada e aperfeiçoada pela comunhão em Jesus Cristo, concedida
pelo sacramento do Matrimônio . E aprofundada pela vida da fé comum e pela Eucaristia
recebida pelos dois.
1645 “A unidade do Matrimônio é também claramente confirmada pelo Senhor mediante
a igual dignidade do homem e da mulher como pessoas, a qual deve ser reconhecida no amor
mútuo e perfeito.” A poligamia é contrária a essa igual dignidade e ao amor conjugal, que é
único e exclusivo.

A FIDELIDADE DO AMOR CONJUGAL
1646 O amor conjugal exige dos esposos, por sua própria natureza, uma fidelidade
inviolável. Isso é a conseqüncia do dom de si mesmos que os esposos fazem um ao outro. O
amor quer ser definitivo. Não pode ser “até nova ordem”. “Esta união íntima, doaço recíproca
de duas pessoas e o bem dos filhos exigem perfeita fidelidade dos cônjuges e sua indissolúvel
unidade.”
1647 O motivo mais profundo se encontra na fidelidade de Deus à sua aliança, de Cristo à
sua Igreja. Pelo sacramento do Matrimônio, os esposos se habilitam a representar esta fidelidade
e a testemunhá-la. Pelo sacramento, a indissolubilidade de casamento recebe um novo e mais
profundo sentido.
1648 Pode parecer difícil e até impossível ligar -se por toda a vida a um ser humano. Por isso
é de suma importância anunciar a Boa Nova de que Deus nos ama com um amor definitivo e
irrevogável, que os esposos participam deste amor, que Ele os apóia e mantém e que, por meio
de sua fidelidade, podem ser testemunhas do amor fiel de Deus. Os esposos que, com a graça
de Deus, dão esse testemunho, não raro em condiçes bem difíceis, merecem a gratidão e o
apoio da comunidade eclesial.


1649 Mas existem situaçes em que a coabitaço matrimonial se torna praticamente
impossível pelas mais diversas razões. Nestes casos, a Igreja admite a separaço física dos
esposos e o fim da coabitaço. Os esposos não deixam de ser marido e mulher diante de Deus;
não são l
ivres para contrair uma nova união. Nesta difícil situaço, a melhor soluço seria, se
possível, a reconciliaço. A comunidade cristã é chamada a ajudar essas pessoas a viverem
cristãmente sua situaço, na fidelidade ao vínculo de seu casamento, que continua indissolúvel.
1650 São numerosos hoje, em muitos países, os católicos que recorrem ao divórcio
segundo as leis civis e que contraem civicamente uma nova união. A Igreja, por fidelidade à
palavra de Jesus Cristo (“Todo aquele que repudiar sua mulher e desposar outra comete
adultério contra a primeira; e se essa repudiar seu marido e desposar outro comete adultério”:
Mc 10,11-12), afirma que não pode reconhecer como válida uma nova união, se o primeiro
casamento foi válido. Se os divorciados tornam a casar -se no civil, ficam numa situaço que
contraria objetivamente a lei de Deus. Portanto, não podem ter acesso à comunhão eucarística
enquanto perdurar esta situaço. Pela mesma razão não podem exercer certas
responsabilidades eclesiais. A reconciliaço pelo sacramento da Penitência só pode ser
concedida aos que se mostram arrependidos por haver violado o sinal da aliança e da
fidelidade a Cristo e se comprometem a viver numa continência completa.
1651 A respeito dos cristãos que vivem nesta situaço e geralmente conservam a fé e
desejam educar cristãmente seus filhos, os sacerdotes e toda a comunidade devem dar prova
de uma solicitude atenta, a fim de não se considerarem separados da Igreja, pois, como
batizados, podem e devem participar da vida da Igreja:
Sejam exortados a ouvir a Palavra de Deus, a freqüentar o sacrifício da missa, a perseverar
na oraço, a dar sua contribuiço às obras de caridade e às iniciativas da comunidade em
favor da justiça, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de penitência para
assim implorar, dia a dia, a graça de Deus.

A ABERTURA • FECUNDIDADE
1652 O instituto do Matrimônio e o amor dos esposos estão, por sua índole natural,
ordenados à procriaço e à educaço dos filhos, e por causa dessas coisas (a procriaço e a
educaço dos filhos), (o instituto do Matrimônio e o amor dos esposos) são como que coroados
de maior glória.
Os filhos são o dom mais excelente do Matrimônio e contribuem grandemente para o bem
dos próprios pais. Deus mesmo disse: “Não convém ao homem ficar sozinho” (Gn 2,18), e “criou
de início o homem como varão e mulher” (Mt 19,4); querendo conferir ao homem participaço
especial em sua obra criadora, abençoou o varão e a mulher dizendo: “Crescei e multiplicai-vos”
(Gn 1,28). Donde se segue que o cultivo do verdadeiro amor conjugal e toda a estrutura da vida
familiar que daí promana, sem desprezar os outros fins do Matrimônio, tendem a dispor os
cônjuges a cooperar corajosamente como amor do Criador e do Salvador que, por intermédio
dos esposos, quer incessantemente aumentar e enriquecer sua família.
1653 A fecundidade do amor conjugal se estende aos frutos vida moral, espiritual e
sobrenatural que os pais transmitem seus filhos pela educaço. Os pais são os principais e
primeiros educadores de seus filhos. Neste sentido, a tarefa fundamental do Matrimônio e da
família é estar a serviço da vida.
1654 Os esposos a quem Deus não concedeu ter filhos podem, no entanto, ter uma vida
conjugal cheia de sentido, humana e cristãmente. Seu Matrimônio pode irradiar uma
fecundidade de caridade, acolhimento e sacrifício.



VI. A IGREJA DOMÉSTICA
1655 Cristo quis nascer e crescer no seio da Sagrada Família José e Maria. A Igreja não
é outra coisa senão a “família de Deus”. Desde suas origens, o núcleo da Igreja era em geral
constituído por aqueles que, “com toda a sua casa”, se tomavam cristãos. Quando eles se
convertiam, desejavam também que “toda a sua casa” fosse salva. Essas famílias que se
tomavam cristãs eram redutos de vida cristã num mundo incrédulo.
1656 Em nossos dias, num mundo que se tornou estranho e até hóstia à fé, as famílias
cristãs são de importância primordial, como lares de fé viva e irradiante. Por isso, o Concílio
Vaticano II chama a família, usando uma antiga expressão, de “Ecclesia domestica”. E no seio
da família que os pais são “para os filhos, pela palavra e pelo exemplo... os primeiros mestres da
fé. E favoreçam a vocaço própria a cada qual, especialmente a vocaço sagrada”.
1657 E na família que se exerce de modo privilegiado o sacerdócio batismal do pai de
família, da mãe, dos filhos, de todos os membros da família, “na recepço dos sacramentos, na
oraço e aço de graças, no testemunho de uma vida santa, na abnegaço e na caridade
ativa”. O lar é, assim, a primeira escola de vida cristã e “uma escola de enriquecimento
humano”. E aí que se aprende a resistência à fadiga e a alegria do trabalho, o amor fraterno, o
perdão generoso e mesmo reiterado e, sobretudo, o culto divino pela oraço e oferenda de sua
vida.
1658 Não podemos esquecer também certas pessoas que, por causa das condiçes
concretas em que precisam viver – muitas vezes contra a sua vontade -, estão particularmente
próximas do coraço de Jesus e merecem uma atenciosa afeiço e solicitude da I
greja e
principalmente dos pastores: o grande número de pessoas celibatárias. Muitas dessas pessoas
ficam sem família humana, muitas vezes por causa das condiçes de pobreza. Há entre elas
algumas que vivem essa situaço no espírito das bem-aventuranças, servindo a Deus e ao
próximo de modo exemplar. A todas elas é preciso abrir as portas dos lares, “Igrejas domésticas”,
e da grande família que é a Igreja. “Ninguém está privado da família neste mundo: a Igreja é
casa e família para todos, especialmente para quantos 'estão cansados e oprimidos.”

RESUMINDO
1659 São Paulo diz: “Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a igreja... E
grande este mistério: refiro -me à relaço entre Cristo e sua Igreja” (Ef 5,25.32).
1660 O pacto matrimonial, pelo qual um homem e uma mulher constituem entre si uma
íntima comunidade de vida e de amor, foi fundado e dotado de suas leis próprias pelo Criador. -
uma natureza, é ordenado ao bem dos cônjuges, como também à geraço e educaço dos
filhos. Entre os batizados, f oi elevado, por Cristo Senhor, à dignidade de sacramento.
1661 O sacramento do Matrimônio significa a união de Cristo com igreja. Concede aos
esposos a graça de amarem-se com o mesmo amor com que Cristo amou sua Igreja; a graça do
sacramento leva à perfeiço o amor humano dos esposos, consolida unidade indissolúvel e os
santifica no caminho da vida eterna.
1662 O Matrimônio se baseia no consentimento dos contraentes, isto é, na vontade de
doar-se mútua e definitivamente para viver uma aliança de amor fiel e fecundo.
1663 Como o Matrimônio estabelece os cônjuges num estado público de vida na Igreja,
convém que sua celebraço seja pública no quadro de uma celebraço litúrgica diante do
sacerdote (ou de testemunha qualificada da Igreja), das testemunhas e da assembléia dos fiéis.
1664 A unidade, a indissolubilidade e a abertura à fecundidade essenciais ao Matrimônio.
A poligamia é incompatível com unidade do matrimônio; o divórcio separa o que Deus uniu; a
recusa da fecundidade desvia a vida conjugal de seu ma is excelente”: a prole.


1665 O novo casamento dos divorciados ainda em vida do legítimo cônjuge contraria o
desígnio e a lei de Deus que Cristo ensinou. Eles não estão separados da Igreja, mas não têm
acesso à comunhão eucarística. Levarão vida cristã principalmente educando seus filhos na fé.
1666 O lar cristão é o lugar em que os filhos recebem o primeiro anúncio da fé. Por isso, o
lar é chamado, com toda razão, de “Igreja doméstica”, comunidade de graça e de oraço,
escola das virtudes humanas e da caridade cristã.

CAPÍTULO IV
AS OUTRAS CELEBRAÇES LITÚRGICAS
ARTIGO I - OS SACRAMENTAIS

1667 “A santa mãe Igreja instituiu os sacramentais, que são sinais sagrados pelos quais, à
imitaço dos sacramentos, são significados efeitos principalmente espirituais, obtidos pela
impetraço da Igreja. Pelos sacramentais os homens se dispõem a receber o efeito principal dos
sacramentos e são santificadas as diversas circunstâncias da vida.”

OS TRAÇOS CARACTERÍSTICOS DOS SACRAMENTAIS
1668 São instituídos pela Igreja em vista da santificaço de certos ministérios seus, de
certos estados de vida, de circunstâncias muito variadas da vida cristã, bem como do uso das
coisas úteis ao homem. Segundo as decisões pastorais dos bispos, podem também responder às
necessidades, à cultura e à história próprias do povo cristão de uma região ou época.
Compreendem sempre uma oraço, acompanhada de determinado sinal, como a imposiço
da mão, o sinal-da-cruz ou a aspersão com água benta (que lembra o Batismo).
1669 Dependem do sacerdócio batismal: todo batizado é chamado a ser uma “bênço
” e a abençoar. Eis por que os leigos podem presidir certas bênços; quanto mais uma bênço
se referir à vida eclesial e sacramental, tanto mais sua presidência ser reservada ao ministério
ordenado (bispo presbíteros - “padres” - ou diáconos
1670 Os sacramentais não conferem a graça do Espírito Santo à maneira dos
sacramentos, mas, pela oraço da Igreja preparam para receber a graça e dispõem à
cooperaço com ela. “Para os fiéis bem-dispostos, quase todo acontecimento vida é santificado
pela graça divina que flui do mistério pascal da paixão, morte e ressurreiço de Cristo, do qual
todos os sacramentos e sacramentais adquirem sua eficácia. E quase não há uso honesto de
coisas materiais que não possa ser dirigido à finalidade de santificar o homem e louvar a Deus.

AS DIVERSAS FORMAS DE SACRAMENTAIS
1671 Entre os sacramentais, figuram em primeiro lugar as bênço (de pessoas, da mesa,
de objetos e lugares). Toda bênço é louvor Deus e pedido para obter seus dons. Em Cristo, os
cristãos abençoados por Deus, o Pai “de toda a sorte de bênços espirituais” (Ef 1,3). E por isso
que a Igreja dá a bênço invocando o nome de Jesus e fazendo habitualmente o sinal sagrado
da cruz de Cristo.
1672 Certas bênços têm um alcance duradouro: têm por efeito consagrar pessoas a
Deus e reservar para o uso litúrgico objetos e lugares. Entre as destinadas a pessoas não
confundi-las com a ordenaço sacramental - figuram a bênço do abade ou da abadessa de
um mosteiro, a consagraço das virgens e das viúvas, o rito da profissão religiosa e as bênços
para certos ministérios da Igreja (leitores, acólitos, catequistas etc.). Como exemplos daquelas
que se referem a objetos podemos citar a dedicaço ou a bênço de uma igreja ou altar, a
bênço dos santos óleos, de vasos e vestes sacras, de sinos etc.


1673 Quando a Igreja exige publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo,
que uma pessoa ou objeto seja protegido contra a influência do maligno e subtraído a seu
domí nio, fala-se de exorcismo. Jesus o praticou, é dele que a Igreja recebeu o poder e o
encargo de exorcizar. Sob uma forma simples, o exorcismo é praticado durante a celebraço do
Batismo. O exorcismo solene, chamado “grande exorcismo”, só pode ser praticado por um
sacerdote, com a permissão do bispo. Nele é necessário proceder com prudência, observando
estritamente as regras estabelecidas pela Igreja. O exorcismo visa expulsar os demônios ou livrar
da influência demoníaca, e isto pela autoridade espiritual que Jesus confiou à sua Igreja. Bem
diferente é o caso de doenças, sobretudo psíquicas, cujo tratamento depende da ciência
médica. É importante, pois, verificar antes de celebrar o exorcismo se se trata de uma presença
do maligno ou de uma doença.

A RELIGIOSIDADE POPULAR
1674 Além da liturgia sacramental e dos sacramentais, a catequese tem de levar em
conta as formas da piedade dos fiéis e da religiosidade popular. O senso religioso do povo cristão
encontrou, em todas as épocas, sua expressão em formas div ersas de piedade que circundam a
vida sacramental da Igreja, como a veneraço de relíquias, visitas a santuários, peregrinaçes,
procissões, via-sacra, danças religiosas, o rosário, as medalhas etc.
1675 Estas expressões prolongam a vida litúrgica da Igreja, mas não a substituem:
“Considerando os tempos litúrgicos, estes exercícios devem ser organizados de tal maneira que
condigam com a sagrada liturgia, dela de alguma forma derivem, para ela encaminhem o
povo, pois que ela, por sua natureza, em muito os supera”.
1676 Há necessidade de um discernimento pastoral para sustentar e apoiar a religiosidade
popular e, se for o caso, para purificar e retificar o sentido religioso que embasa essas devoçes
e para fazê-las progredir no conhecimento do mistério de Cristo (cf. CT 54). Sua prática está
sujeita ao cuidado e julgamento dos bispos e às normas gerais da Igreja.
A religiosidade do povo, em seu núcleo, é um acervo de valores que responde com
sabedoria cristã às grandes incógnitas da existência. A sabedoria popular católica tem uma
capacidade de síntese vital; engloba criativamente o divino e o humano, Cristo é Maria, espírito
e corpo, comunhão e instituiço, pessoa e comunidade, fé e pátria, inteligência e afeto. Esta
sabedoria é um humanismo cristão que afirma radicalmente a dignidade de toda pessoa como
filho de Deus, estabelece uma fraternidade fundamental, ensina a encontrar a natureza e a
compreender o trabalho e proporciona as razões para a alegria e o humor, mesmo em meio a
uma vida muito dura. Essa sabedoria é também para o povo um princípio de discernimento, um
instinto evangélico pelo qual capta espontaneamente quando se serve na Igreja ao Evangelho
e quando ele é esvaziado e asfixiado com outros interesses.

RESUMINDO
1677 Chamamos de sacramentais os sinais sagrados instituídos pela Igreja, cujo objetivo é
preparar os homens para receber o fruto dos sacramentos e santificar as diferentes
circunstâncias da vida.
1678 Entre os sacramentais, ocupam lugar destacado as bênços. Compreendem ao
mesmo tempo o louvor a Deus por suas obras e seus dons e a intercessão da Igreja, a fim de que
os homens possam fazer uso dos dons de Deus segundo o espírito do Evangelho.
1679 Além da liturgia, a vida cristã se nutre de formas variadas da piedade popular,
enraizadas em suas diferentes culturas. Velando para esclarecê-las à luz da fé, a Igreja favorece
as formas de religiosidade popular que exprimem um instinto evangélico uma sabedoria humana
e que enriquecem a vida cristã.



ARTIGO 2
OS FUNERAIS CRISTÃOS
1680 Todos os sacramentos, principalmente os da iniciaço cristã, têm por finalidade a
última Páscoa do Filho de Deus, aquela que, pela morte, o fez entrar na vida do Reino. Agora se
realiza o que o cristão confessa na fé e na esperança: “Espero a ressurreiço dos mortos e a vida
do mundo que há de vir.

I. A ÚLTIMA PÁSCOA DO CRISTÃO
1681 O sentido cristão da morte é revelado à luz do mistério pascal da Morte e
Ressurreiço de Cristo, em que repousa nossa única esperança. O cristão que morre em Cristo
Jesus “ deixa este corpo para ir morar junto do Senhor”.
1682 O dia da morte inaugura para o cristão, ao final de sua vida sacramental, a
consumaço de seu novo nascimento iniciado no Batismo, a “semelhança” definitiva à “imagem
do Filho”, conferida pela unção do Espírito Santo, e a participaço na festa do Reino,
antecipada na Eucaristia, mesmo necessitando de últimas purificaçes para vestir a roupa
nupcial.
1683 A Igreja que, como mãe, trouxe sacramentalmente em seu seio o cristão durante
sua peregrinaço terrena, acompanha-o, ao final de sua caminhada, para entregá-lo “s mãos
do Pai”. Ela oferece ao Pai, em Cristo, o filho de sua graça e deposita na terra, na esperança, o
germe do corpo que ressuscitar na glória. Esta oferenda é plenamente celebrada pelo Sacrifício
Eucarístico. As bênços que a precedem e a seguem são sacramentais.

II. A CELEBRAÇO DOS FUNERAIS
1684 Os funerais cristãos são uma celebraço litúrgica da Igreja. O ministério da Igreja tem
em vista aqui tanto exprimir a comunhão eficaz com o defunto como fazer a comunidade
reunida participar das exéquias e lhe anunciar a vida eterna.
1685 Os diferentes ritos dos funerais exprimem O caráter pascal da morte cristã e
respondem às situaçes e tradiçes de cada região, mesmo com relaço à cor litúrgica.
1686 O Ordo exsequiarum (rito das exéquias) (OEx) da liturgia romana propõe três tipos
de celebraço dos funerais, correspondendo aos três lugares onde acontece (a casa, a igreja, o
cemitério) e segundo a importância que a ele atribuem a família, os costumes locais, a cultura e
a piedade popular. Este esquema é, aliás, comum a todas as tradiçes litúrgicas e compreende
quatro momentos principais:
1687 O acolhimento da comunidade. Uma saudaço de fé abre a celebraço. Os
familiares do defunto são acolhidos com uma palavra de consolaço” (no sentido do Novo
Testamento: a força do Espírito Santo na esperança). A comunidade orante que se reúne escuta
também “as palavras de vida eterna”. A morte de um membro da comunidade (ou o dia de
aniversário, o sétimo ou o trigésimo dia) é um acontecimento que deve fazer ultrapassar as
perspectivas “deste mundo” e levar os fiéis às verdadeiras perspectivas da fé em Cristo
ressuscitado.
1688 A Liturgia da Palavra, por ocasião dos funerais, exige um preparaço bem
atenciosa, pois a assembléia presente ao ato podem englobar fiéis pouco assíduos à liturgia e
também amigos do falecido que não sejam cristãos. A homilia em especial deve “evitar gênero
literário de elogio fúnebre” e iluminar o mistério da morte cristã com a luz de Cristo Ressuscitado.
1689 O Sacrifício Eucarístico. Se a celebraço se realizar na igreja, Eucaristia é o coraço
da realidade pascal da morte cristã. É então que a Igreja exprime sua comunhão eficaz com o
defunto: oferecendo ao Pai, no Espírito Santo, o sacrifício da morte e ressurreiço de Cristo, ela
lhe pede que seu filho seja purificado de seus pecados e de suas c seqüncias e que seja


admitido à plenitude pascal da mesa do Reino. É pela Eucaristia assim celebrada que a
comunidade dos fiéis, especialmente a família do defunto, aprende a viver em comunhão com
aquele que dormiu no Senhor”, comungando do Corpo de Cristo, do qual é membro vivo, e
rezando a seguir por ele e com ele.
1690 O adeus (“a Deus”) ao defunto é sua “encomendaço a Deus” pela Igreja. Este é
o “ltimo adeus pelo qual a comunidade cristã saúda um de seus membros antes que o corpo
dele seja levado à sepultura”; tradiço bizantina o exprime pelo beijo de adeus ao falecido:
Com esta saudaço final “canta-se por causa de sua partida desta vida e por causa de
sua separaço, mas também porque há uma comunhão e uma reunião. Com efeito, ainda que
mortos, não estamos separados uns dos outros, pois todos percorremos o mesmo caminho e nos
reencontraremos no mesmo lugar. Jamais estaremos separados, pois vivemos por Cristo, e agora
estamos unidos a Cristo, indo em sua direço... estaremos todos reunidos em Cristo”.

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